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tornaram-se evidentes na atitude de Broch em relação ao fato de ser um poeta;
converteu-se num, à sua revelia, e com sua relutância deu expressão
pessoalmente válida e adequada tanto ao traço fundamental de sua natureza
como ao conflito fundamental de sua vida.
Em termos da biografia de Broch, a expressão “poeta relutante”, na medida em
que expressa um conflito, provavelmente se aplica de modo primário ao período
posterior a A morte de Virgílio. Nesse livro, o caráter dúbio da arte em geral se
converteu no conteúdo temático de uma obra de arte em si; e como a conclusão
da obra coincidiu com o maior impacto da época, a revolução dos massacres nos
campos de extermínio, Broch desde então se proibiu prosseguir com textos
criativos, e assim se separou de seu modo habitual de resolver todos os conflitos.
Em relação à vida, ele concedeu primazia absoluta à ação, e em relação à
criatividade, ao conhecimento. Assim, a tensão entre literatura, conhecimento e
ação o assediava diariamente, quase todas as horas, afetando permanentemente
sua vida cotidiana e seu trabalho diário. (Voltaremos à base objetiva dessa
tensão, que brotava da concepção de Broch sobre a ação em termos de um
trabalho orientado para objetivos, e sobre o pensamento em termos de um
conhecimento produtor de resultados.)
Isso teve certas conseqüências práticas notáveis. Sempre que um conhecido —
não só um amigo, o que manteria as coisas dentro de limites razoáveis, mas
qualquer conhecido — estava em dificuldades, doente, sem dinheiro ou à morte,
era Broch quem cuidava de tudo. (E as dificuldades, evidentemente, eram
ubíquas num círculo de amigos e conhecidos constituído em grande parte de
refugiados.) Parecia implícito que todo auxílio viria de Broch, que não tinha
dinheiro nem tempo. Só ficava isento de tais responsabilidades — que
inevitavelmente ampliavam seu círculo de conhecidos, assim impondo novas
exigências ao seu tempo — quando ele próprio ia para o hospital (não sem uma
pitada de alegria malévola) e lá conseguia um pouco de descanso, que não se
pode muito negar a um braço ou a uma perna quebrada.
Mas é claro que essa foi apenas a fase mais inocente do conflito que
determinou sua vida nos Estados Unidos. Incomparavelmente mais pesado para
ele era o fato de que seu passado como poeta e novelista arrastava-se atrás de si,
e, como de fato ele era um poeta, não poderia escapar a essa obrigação. Isso
começou com Die Schuldlosen [O inocente], que teve de ser escrito quando um
editor alemão, após a guerra, quis republicar na forma original algumas velhas
histórias semi-esquecidas de Broch. Para impedi-lo, ele escreveu o livro, isto é,
revisou as histórias até se adequarem à narrativa “estrutural”, e acrescentou