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edição de 21 de março de 2022

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Cris Camargo, do IAB Brasil: “Não ao fim da publicida<strong>de</strong> digital”<br />

Anúncios<br />

segmentAdos<br />

respon<strong>de</strong>m por<br />

90% dos r$ 23 bi<br />

dA publicidA<strong>de</strong><br />

digitAl<br />

cativa para <strong>de</strong>sastres e comportamentos<br />

hostis. Como em outras<br />

invenções perpetradas na<br />

história, o ser humano distorce<br />

o fogo amigo soprado pelas<br />

inovações. Atrás das telas, anônimos<br />

preferem atirar palavras<br />

para agredir, estimular o ódio e<br />

reforçar preconceitos passíveis<br />

até <strong>de</strong> virar realida<strong>de</strong>.<br />

O dilema das re<strong>de</strong>s é inegável.<br />

“Eventos como Cambridge<br />

Analytics e a invasão ao Capitólio<br />

<strong>de</strong>ixaram o lado negativo<br />

evi<strong>de</strong>nte. Pressionados por diferentes<br />

governos do mundo,<br />

as plataformas começaram um<br />

processo <strong>de</strong> autorregulamentação,<br />

passando a ter esforços<br />

maiores sobre os conteúdos e a<br />

privacida<strong>de</strong> dos usuários”, observa<br />

Felipe Bogéa, professor<br />

do MBA executivo em marketing<br />

da ESPM.<br />

Mas excluir pessoas e grupos,<br />

especialmente figuras públicas<br />

como Trump, Bolsonaro<br />

ou Lula, não é tão simples.<br />

Questões ligadas a políticas e<br />

opinião tornam a linha entre a<br />

censura e a proteção mais tênue.<br />

“Estamos tratando <strong>de</strong> milhares<br />

<strong>de</strong> contas produzindo<br />

conteúdos todos os dias. Simplesmente<br />

banir uma não é a<br />

solução a<strong>de</strong>quada para resolver<br />

um problema <strong>de</strong> discurso <strong>de</strong><br />

ódio ou fake news. A natureza<br />

dispersa e difusa da internet e<br />

das mídias sociais torna o controle<br />

muito mais difícil”, atesta<br />

o professor Bogéa.<br />

Regras <strong>de</strong> conduta adiantam?<br />

Em 2019, o Batalhão Azov<br />

foi banido do Facebook. Agora<br />

contrário à Rússia na guerra<br />

contra a Ucrânia, o grupo extremista<br />

outrora consi<strong>de</strong>rado uma<br />

organização perigosa voltou a<br />

receber comentários. O especialista<br />

em direito digital Maurício<br />

Tamer, do Machado Meyer<br />

Advogados, reflete se o conteúdo<br />

<strong>de</strong>ve ser questionado ou os<br />

mecanismos <strong>de</strong> produção e veiculação.<br />

“Não se trata <strong>de</strong> dizer<br />

se concordamos ou não com a<br />

postura. No cenário regulatório<br />

atual, é possível dizer que<br />

o posicionamento do Facebook<br />

está <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua livre iniciativa<br />

operacional”, esclarece o<br />

advogado.<br />

O Facebook ainda permitiu<br />

que mo<strong>de</strong>radores mantenham<br />

pedidos <strong>de</strong> violência e morte<br />

contra “invasores da Rússia”,<br />

soldados e até dos presi<strong>de</strong>ntes<br />

da Rússia e <strong>de</strong> Belarus, Vladimir<br />

Putin e Aleksan<strong>de</strong>r Lukashenko.<br />

“Como resultado da<br />

invasão russa na Ucrânia, temporariamente<br />

permitiremos<br />

formas <strong>de</strong> expressão política<br />

que normalmente violariam<br />

nossas regras, incluindo discurso<br />

violento como ‘morte<br />

aos invasores da Rússia’. Mas<br />

não permitiremos pedidos <strong>de</strong><br />

violência contra civis russos”,<br />

escreveu em comunicado um<br />

porta-voz da Meta, holding que<br />

controla o Facebook. Vale burlar<br />

as próprias políticas mesmo<br />

com um inimigo em comum?<br />

Como lidar com o po<strong>de</strong>r nas<br />

mãos das bigtechs? Leis conseguirão<br />

equilibrar forças?<br />

<strong>de</strong>dos cruzados<br />

O contexto global encontra<br />

no Brasil uma discussão que se<br />

arrasta entre idas e vindas arbitradas<br />

por alterações da Câmara<br />

dos Deputados no texto original<br />

do senador Alessandro Vieira<br />

(Cidadania-SE), autor do Projeto<br />

<strong>de</strong> Lei 2630/20, que institui<br />

a Lei Brasileira <strong>de</strong> Liberda<strong>de</strong>,<br />

Responsabilida<strong>de</strong> e Transparência<br />

na Internet, conhecido<br />

como PL das Fake News. O texto,<br />

relatado pelo <strong>de</strong>putado Orlando<br />

Silva (PCdoB-SP), segue<br />

em apreciação.<br />

Há quem avente a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> que a votação ocorra<br />

ainda neste mês <strong>de</strong> março.<br />

Mas não há consenso. Um lado<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> mais rigi<strong>de</strong>z, enquanto<br />

o outro quer um texto mais<br />

genérico. A resistência faz coro<br />

no Planalto. O PL prevê que as<br />

plataformas digitais tenham<br />

representação no país, o que<br />

não acontece com o Telegram,<br />

re<strong>de</strong> adotada pelo presi<strong>de</strong>nte<br />

Jair Bolsonaro. Um eventual<br />

banimento já foi alertado pelo<br />

ministro Luís Roberto Barroso,<br />

ex-presi<strong>de</strong>nte do Tribunal Superior<br />

Eleitoral (TSE).<br />

No dia 15 <strong>de</strong> fevereiro, Facebook,<br />

Google, YouTube, Instagram,<br />

Twitter, TikTok, Whats-<br />

App e Kwai assinaram um acordo<br />

com o TSE para combater<br />

a <strong>de</strong>sinformação nas eleições<br />

<strong>de</strong> <strong>2022</strong>. O Telegram foi o único<br />

ausente, e o LinkedIn também<br />

firmou um memorando<br />

<strong>de</strong> entendimento. Canais <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>núncias, avisos <strong>de</strong> conteúdo<br />

in<strong>de</strong>vido, relatórios <strong>de</strong> transparência<br />

e treinamentos para autorida<strong>de</strong>s<br />

eleitorais estão entre<br />

os compromissos assumidos.<br />

O tema permanece no encalço<br />

dos ministros Edson Fachin e<br />

Alexandre <strong>de</strong> Moraes, empossados<br />

no dia 22 <strong>de</strong> fevereiro como<br />

presi<strong>de</strong>nte e vice-presi<strong>de</strong>nte da<br />

Corte Eleitoral, respectivamente.<br />

“O PL 2630/2020 trata questões<br />

sensíveis. Medos e ameaças<br />

parecem ser sensações que<br />

<strong>de</strong>correm <strong>de</strong>ssa complexida<strong>de</strong><br />

e do momento em que muitas<br />

<strong>de</strong>finições ainda precisam ser<br />

feitas, sobretudo tratando-se<br />

Felipe Bogéa, da ESPM: “Lado negativo evi<strong>de</strong>nte”<br />

Fotos: Divulgação<br />

<strong>de</strong> um ano eleitoral”, comenta<br />

o advogado Maurício Tamer. O<br />

ministro Alexandre <strong>de</strong> Moraes<br />

será o presi<strong>de</strong>nte do TSE durante<br />

as eleições <strong>de</strong> outubro e<br />

é também relator do inquérito<br />

das fake news no Supremo.<br />

Embora haja conversas com<br />

representantes <strong>de</strong> partidos<br />

para apressar a votação do PL,<br />

o ritmo <strong>de</strong> tramitação coloca<br />

em dúvida a sua eficácia até<br />

o tilintar das urnas. A brecha<br />

é esgarçada pelos players do<br />

mundo digital. No último dia 3<br />

<strong>de</strong> março, o Facebook publicou<br />

anúncio na Folha <strong>de</strong> S.Paulo,<br />

Estadão e O Globo dizendo que<br />

“o PL das Fake News <strong>de</strong>veria<br />

combater fake news. E não a<br />

lanchonete do seu bairro”. Antes<br />

disso, Google, Meta, Twitter<br />

e Mercado Livre já haviam<br />

assinado uma carta conjunta<br />

alegando que o PL representa<br />

uma “ameaça à publicida<strong>de</strong> digital”.<br />

O setor argumenta que o<br />

projeto impe<strong>de</strong> a segmentação<br />

<strong>de</strong> anúncios, o que prejudicaria<br />

principalmente pequenas e médias<br />

empresas.<br />

Boca no tromBone<br />

A polêmica vai da ban<strong>de</strong>ira<br />

legítima ao cinismo. “Não é<br />

uma preocupação do Facebook<br />

o bem-estar dos empreen<strong>de</strong>dores<br />

por diversos motivos. Sabemos,<br />

por exemplo, que o anúncio<br />

<strong>de</strong> uma loja po<strong>de</strong> não ser<br />

entregue caso as métricas arbitrárias<br />

impostas pela própria<br />

plataforma não sejam alcançados”,<br />

acusa Yasmin Curzi, pesquisadora<br />

do Centro <strong>de</strong> Tecnologia<br />

e Socieda<strong>de</strong> (CTS) da FGV<br />

Direito Rio. Sobram críticas<br />

jornal propmark - <strong>21</strong> <strong>de</strong> março <strong>de</strong> <strong>2022</strong> <strong>21</strong>

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