Revista Analytica Edição 117
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Introdução<br />
Um dos maiores problemas enfrentados pela<br />
sociedade contemporânea é o crescimento e<br />
o acúmulo de resíduos gerados pelas diversas<br />
atividades industriais devido ao progresso<br />
econômico. O crescente volume de resíduos<br />
gerados, entre eles, os resíduos sólidos, causa<br />
preocupações relacionadas, principalmente,<br />
com a disposição final de tais resíduos. De<br />
fato, o acúmulo de resíduos, mesmo que seja<br />
em depósitos controlados, tais como aterros<br />
sanitários, não é uma solução muito aceitável<br />
pela sociedade. Cada vez mais os consumidores e<br />
as autoridades têm buscado informações sobre os<br />
impactos ambientais relacionados aos processos<br />
produtivos, uso e descarte final adequado dos<br />
produtos e, principalmente, dos resíduos (1-3).<br />
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS<br />
– Lei nº 12.305/2010) instituída no Brasil<br />
aborda a reutilização/reaproveitamento como<br />
uma das principais opções no que diz respeito<br />
ao gerenciamento dos resíduos. Os elevados<br />
custos referentes aos processos de tratamento e<br />
disposição final têm levado o setor industrial a<br />
buscar novas alternativas que possam promover<br />
o reaproveitamento cada vez maior dos resíduos<br />
gerados. Esse reaproveitamento deve permitir<br />
que os resíduos se tornem novamente matériasprimas<br />
e retorne ao processo produtivo (4).<br />
Estudos já demonstraram com sucesso que a<br />
indústria cerâmica pode atuar como grande<br />
aliada para consumir alguns tipos de resíduos.<br />
Dentre os fatores que tornam a indústria cerâmica<br />
atrativa para a este fim, tem-se: i) a indústria<br />
cerâmica utiliza enormes quantidades de<br />
matérias-primas naturais; ii) as matérias-primas<br />
usadas na fabricação de produtos cerâmicos,<br />
principalmente, os produtos usados na<br />
construção civil apresentam larga variabilidade<br />
química e mineralógica; iii) o processo de<br />
fabricação não é alterado com a utilização dos<br />
resíduos; e iv) a matriz cerâmica é capaz de<br />
promover o encapsulamento dos resíduos (5,6).<br />
Diante do que foi mencionado até aqui,<br />
uma alternativa relevante e interessante<br />
é o reaproveitamento de resíduos sólidos<br />
industriais tais como o resíduo de construção<br />
e demolição (RCD) e o resíduo de serragem<br />
de madeira (RSM) para obtenção de materiais<br />
cerâmicos ecológicos (tijolo solo-cimento)<br />
utilizados na construção civil.<br />
O tijolo solo-cimento tem sido considerado<br />
como um importante material de construção,<br />
principalmente, em países em desenvolvimento.<br />
Ele apresenta vantagens do ponto de vista<br />
técnico e econômico em relação ao tijolo de base<br />
argilosa sinterizado. Entre essas vantagens podese<br />
citar, o baixo custo, propriedades técnicas<br />
melhoradas, e a eliminação da etapa de queima,<br />
a qual apresenta alto consumo de energia (7).<br />
Estudos visando a investigação de vários<br />
tipos de resíduos sólidos como componentes<br />
alternativos em formulações para tijolo<br />
solo-cimento tem apresentado resultados<br />
interessantes e promissores (7,8). Verifica-se<br />
que a maioria dos trabalhos busca basicamente<br />
determinar se o traço cerâmico formulado<br />
está apto ou não para a fabricação de tijolo<br />
solo-cimento. Estes trabalhos apresentam<br />
somente valores experimentais médios das<br />
propriedades tecnológicas usadas para a<br />
especificação do material, principalmente, a<br />
resistência mecânica a compressão. Entretanto,<br />
poucos são os trabalhos que tratam da<br />
reprodutibilidade e confiabilidade (qualidade)<br />
dos tijolos solo-cimento incorporados com<br />
resíduos sólidos levando em consideração a<br />
dispersão dos resultados experimentais da<br />
resistência a compressão utilizando método<br />
estatístico adequado.<br />
Por ser um material cerâmico, a resistência a<br />
compressão do tijolo solo-cimento depende da<br />
microestrutura e, principalmente, da distribuição<br />
e tamanho dos defeitos (poros e trincas)<br />
presentes. Como esta distribuição é na maioria<br />
das vezes aleatória, a resistência mecânica<br />
avaliada experimentalmente apresenta uma<br />
dispersão. Desse modo, apresentar somente o<br />
valor médio da resistência a compressão não<br />
é suficiente. É de vital importância levar em<br />
consideração a dispersão dos resultados (9,10).<br />
Quantitativamente a dispersão da resistência<br />
a compressão pode ser obtida através de um<br />
método estatístico que foi desenvolvido pelo<br />
físico sueco Wallodi Weibul. Este método<br />
estatístico é capaz de predizer o comportamento<br />
mecânico de materiais frágeis. A equação 1<br />
apresentada a seguir é conhecida como função<br />
de distribuição de probabilidade de fratura de<br />
Weibull. Pode ser observado que a equação<br />
relaciona a probabilidade de sobrevivência<br />
de uma peça (P(x)), com a carga a que está<br />
submetida (x) (9-12):<br />
Onde: x é a carga aplicada, x0 é um fator de<br />
escala, valor característico da distribuição, tal<br />
como o tempo de vida, m é o parâmetro de forma<br />
da distribuição, conhecido como coeficiente<br />
ou módulo de Weibull e xu é o parâmetro de<br />
localização, que é o mínimo valor característico<br />
da carga obtida (resistência característica) –<br />
corresponde a tensão no qual a probabilidade de<br />
falha é 63,2%.<br />
<strong>Revista</strong> <strong>Analytica</strong> | Março 2022<br />
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