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Gestão Hospitalar N.º 27 2022

Editorial #Opções Memórias da Saúde Memórias da Informática do Ministério da Saúde Gestão CAAH: Accountability Opinião O voluntariado em saúde em contexto de pandemia Agentes Comunitários Cinco séculos de experiência e visão futura de um modelo centrado na pessoa Estudo APAH O que pensam e sentem os portugueses sobre o estado atual da saúde em Portugal Saúde em Dia O acesso dos portugueses aos cuidados de saúde: impacto da pandemia e resposta do SNS Iniciativa APAH | Survey Saúde Que prioridades para a saúde em Portugal? Legislativas 2022 Análise de programas eleitorais às eleições legislativas História APAH Segunda década da APAH: a riqueza do debate num clima adverso Comunicação em Saúde A missão do profissional de comunicação ao serviço da saúde pública Prémios ACIB Projetos de capacitação de centros de investigação clínica Iniciativa APAH APAH E SEDISA promoveram 1.º Fórum Ibérico de Contratação Pública Bolsa Capital Humano Centro de (des)envolvimento humano para a saúde Bolsa Capital Humano Impacto da comunicação como fator crítico de sucesso no desempenho dos profissionais Iniciativa APAH | Prémio Healthcare Excellence Clínica APIC: admissão pré internamento cirúrgico Iniciativa APAH | Prémio Healthcare Excellence Prémio Healthcare Excellence reconheceu melhores práticas em saúde Estudo APAH Index Nacional do Acesso ao Medicamento Hospitalar 2021 Iniciativa APAH Fórum do Medicamento promoveu debate sobre novas oportunidades no acesso a medicamentos Estudo APAH Impacto da Covid-19 na gestão da diabetes nos hospitais do SNS Iniciativa APAH | PRR Diabetes Acesso da pessoa com diabetes aos cuidados de saúde primários em tempos de pandemia Iniciativa APAH | PRR Diabetes Menos pessoas com diabetes, mais acesso e melhores resultados em saúde Publicações APAH Um livro como incentivo à reprodução de bons exemplos Publicações APAH Transformação digital em saúde - contributos para a mudança Iniciativa APAH 44.º Congresso do IHF : Visita de estudo a hospitais de Barcelona Informação empresarial Automatização de atendimento telefónico com voicebot na saúde Informação empresarial Tecnologia ao serviço da Saúde

Editorial #Opções
Memórias da Saúde Memórias da Informática do Ministério da Saúde
Gestão CAAH: Accountability
Opinião O voluntariado em saúde em contexto de pandemia
Agentes Comunitários Cinco séculos de experiência e visão futura de um modelo centrado na pessoa
Estudo APAH O que pensam e sentem os portugueses sobre o estado atual da saúde em Portugal
Saúde em Dia O acesso dos portugueses aos cuidados de saúde: impacto da pandemia e resposta do SNS
Iniciativa APAH | Survey Saúde Que prioridades para a saúde em Portugal?
Legislativas 2022 Análise de programas eleitorais às eleições legislativas
História APAH Segunda década da APAH: a riqueza do debate num clima adverso
Comunicação em Saúde A missão do profissional de comunicação ao serviço da saúde pública
Prémios ACIB Projetos de capacitação de centros de investigação clínica
Iniciativa APAH APAH E SEDISA promoveram 1.º Fórum Ibérico de Contratação Pública
Bolsa Capital Humano Centro de (des)envolvimento humano para a saúde
Bolsa Capital Humano Impacto da comunicação como fator crítico de sucesso no desempenho dos profissionais
Iniciativa APAH | Prémio Healthcare Excellence Clínica APIC: admissão pré internamento cirúrgico
Iniciativa APAH | Prémio Healthcare Excellence Prémio Healthcare Excellence reconheceu melhores práticas em saúde
Estudo APAH Index Nacional do Acesso ao Medicamento Hospitalar 2021
Iniciativa APAH Fórum do Medicamento promoveu debate sobre novas oportunidades no acesso a medicamentos
Estudo APAH Impacto da Covid-19 na gestão da diabetes nos hospitais do SNS
Iniciativa APAH | PRR Diabetes Acesso da pessoa com diabetes aos cuidados de saúde primários em tempos de pandemia
Iniciativa APAH | PRR Diabetes Menos pessoas com diabetes, mais acesso e melhores resultados em saúde
Publicações APAH Um livro como incentivo à reprodução de bons exemplos
Publicações APAH Transformação digital em saúde - contributos para a mudança
Iniciativa APAH 44.º Congresso do IHF : Visita de estudo a hospitais de Barcelona
Informação empresarial Automatização de atendimento telefónico com voicebot na saúde
Informação empresarial Tecnologia ao serviço da Saúde

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OUTUBRO NOVEMBRO DEZEMBRO 2021

Edição Trimestral

Nº 27

GESTÃO

HOSPITALAR

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA aSSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE ADMINISTRADORES HOSPITALARES

LEGISLATIVAS

Estudo APAH/EY

Programas para a saúde

ESTUDO

Index nacional

do acesso ao medicamento

hospitalar 2021

CONGRESSO IHF 2021

Visita de estudo

a hospitais

da Catalunha

QUE PRIORIDADES

PARA A SAÚDE EM PORTUGAL?


GH cabeça

TÍTULO

novo

GH SUMÁRIO

outubro novembro dezembro 2021

4

6

12

Editorial

#Opções

Memórias da Saúde

Memórias da Informática do Ministério da Saúde

Gestão

CAAH: Accountability

14

Opinião

O voluntariado em saúde em contexto de pandemia

GESTÃO

HOSPITALAR

16

Agentes Comunitários

Cinco séculos de experiência e visão futura de um modelo centrado na pessoa

Autor

Cargo

NAlictem. Et eostibus volesecatur as a

ide dolorerfero consequia debis des

am hicium nos preptatquo vel esto tem

aut latquam, iur, omnim is porit eos re

vendipieni vel iducimusapit ut utam vent

utem dignam accabor eptatem quam et ute non re molor

sandam et haribus aboribus.

Debitas utemolu ptaspie ntibus molesci mintius si dit,

necus et officid emperibus, con eatusam volorum quidusam

abore cus dolorem aceperibus, quaerrum aut

qui con reprovid que poresti ut aut lictota turiam ra

cum repellabo. Aperum accum eatissi ncilla sam, ium

res sam voluptae pa cones doluptatus nimillor rerisciae.

Gentibu sandae molum, quident quo qui autent de in

prate demporro tempore stiuntem nimus et doluptaque

con et voles consequis nescius, eost ipsae corum

reptatquae sa solupta eperum, odipsum estrum si dolor

modi comnimporia sum, sitaectiat platuri tasseque es a

si tecae eatur audam laut doluptatur sum quiatur, accatur,

odit dipsum et volorum reiur, ut laccatem ut denditio

moluptaquas atuscipsam ad eum iunt rem voluptate

maximil lesenim agnatur, velitat adiorroviti tecture ptasitiae

eostrume nem quo ius et volorem aciis nonsed

eum vene veni beario ipsus mos eatumquo et dolum

re, sequaturere nulpa inctum faccumq uaeritatesti autat

fuga. Ut officia nossi aut ut faccabo ribusae eatur, cus

escium voloruptas ab iunt eaqui omnime quatia dolor

ad ut as quam facepe mo blaccabo. Ibus qui culpa aut

aliquos utempore laccum et maxim res nat eaquaec

aborporaes sum rest, sam fuga. Axim consecu llendunt

landi officimos et in pa voluptae laborrum fuga. Con est

rero imin re pariam qui ommodi conserovit, consequia

porum quat ea que et a consed unto inctem ea volectecerro

omnim venis et molorro voles nonestiVelicae.

Ovitio veliatur, temolut dollique volorio. Ita dis quidebis

PROPRIEDADE

APAH - Associação Portuguesa

de Administradores Hospitalares

Parque de Saúde de Lisboa Edíficio, 11 - 1º Andar

Avenida do Brasil, 53

1749-002 Lisboa

secretariado@apah.pt

www.apah.pt

DIRETOR

Alexandre Lourenço

DIRETORA-ADJUNTA

Bárbara Sofia de Carvalho

COORDENAÇÃO EDITORIAL

Catarina Baptista, Miguel Lopes

COORDENAÇÃO TÉCNICA

Alexandra Santos, Sofia Marques

EDIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO

Bleed - Sociedade Editorial e Organização

de Eventos, Ltda

Av. das Forças Armadas, 4 - 8B

1600 - 082 Lisboa

Tel.: 217 957 045

info@bleed.pt

www.bleed.pt

PROJETO GRÁFICO

Sara Henriques

DISTRIBUIÇÃO

Gratuita

PERIODICIDADE

Trimestral

DEPÓSITO LEGAL N.º

16288/97

ISSN N.º

0871- 0767

TIRAGEM

6.000 exemplares

IMPRESSÃO

Grafisol, Lda

Rua das Maçarocas

Abrunheira Business Center, 3

2710-056 Sintra

Esta revista foi escrita segundo as novas regras

do Acordo Ortográfico

Estatuto Editorial disponível em www.apah.pt

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98

Estudo APAH

O que pensam e sentem os portugueses sobre o estado atual da saúde em Portugal

Saúde em Dia

O acesso dos portugueses aos cuidados de saúde: impacto da pandemia e resposta do SNS

Iniciativa APAH | Survey Saúde

Que prioridades para a saúde em Portugal?

Legislativas 2022

Análise de programas eleitorais às eleições legislativas

História APAH

Segunda década da APAH: a riqueza do debate num clima adverso

Comunicação em Saúde

A missão do profissional de comunicação ao serviço da saúde pública

Prémios ACIB

Projetos de capacitação de centros de investigação clínica

Iniciativa APAH

APAH E SEDISA promoveram 1.º Fórum Ibérico de Contratação Pública

Bolsa Capital Humano

Centro de (des)envolvimento humano para a saúde

Bolsa Capital Humano

Impacto da comunicação como fator crítico de sucesso no desempenho dos profissionais

Iniciativa APAH | Prémio Healthcare Excellence

Clínica APIC: admissão pré internamento cirúrgico

Iniciativa APAH | Prémio Healthcare Excellence

Prémio Healthcare Excellence reconheceu melhores práticas em saúde

Estudo APAH

Index Nacional do Acesso ao Medicamento Hospitalar 2021

Iniciativa APAH

Fórum do Medicamento promoveu debate sobre novas oportunidades no acesso a medicamentos

Estudo APAH

Impacto da Covid-19 na gestão da diabetes nos hospitais do SNS

Iniciativa APAH | PRR Diabetes

Acesso da pessoa com diabetes aos cuidados de saúde primários em tempos de pandemia

Iniciativa APAH | PRR Diabetes

Menos pessoas com diabetes, mais acesso e melhores resultados em saúde

Publicações APAH

Um livro como incentivo à reprodução de bons exemplos

Publicações APAH

Transformação digital em saúde - contributos para a mudança

Academia APAH

Iniciativa APAH

44.º Congresso do IHF: Visita de estudo a hospitais de Barcelona

Informação empresarial

Automatização de atendimento telefónico com voicebot na saúde

Informação empresarial

Tecnologia ao serviço da Saúde

3



GH EDITORIAL

Alexandre Lourenço

Presidente da APAH

# opções

Adefinição de políticas de saúde será

sempre uma área de intervenção

dos administradores hospitalares.

Neste contexto, os administradores

hospitalares têm uma consciência

política apurada e atenta, sendo natural que expressem

as suas opções como qualquer outro cidadão.

Contudo, parece claro que não devem utilizar os seus

lugares na administração pública para alimentar a querela

partidária. No mesmo alinhamento, a APAH deve

manter-se equidistante dos partidos e, particularmente,

da dialética partidária. Assim, não é desejável que os

membros dos corpos sociais alimentem políticas de

fação, instrumentalizando a APAH para promover interesses

individuais, partidos ou candidatos. Por um lado,

alienam-se parte dos associados que não se revêm

nesse posicionamento. Por outro, descredibiliza-se o

caráter técnico-profissional da associação, reduzindo o

seu espaço de intervenção com graves consequências

no médio-longo prazo. Não que a APAH deva ser

uma entidade muda.

Ao longo dos últimos anos, a APAH afirmou-se como

uma voz incontornável no setor da saúde em Portugal.

Este posicionamento não foi atingido através de uma

voz cómoda ou alinhada com interesses do setor. A

APAH assumiu posições corajosas em momentos difíceis.

Quando seria mais simples criticar por criticar, a

APAH optou sempre por apresentar propostas e alternativas

concretas. Quando seria mais confortável o

silêncio, a APAH falou e apontou caminhos. Quando o

espaço público se transformou num “fungágáˮ, a APAH

escolheu o silêncio. Se porventura existiram falhas no

posicionamento da APAH, elas decorreram da condescendia

perante os nossos - aqueles que após tantas

promessas e compromissos não os souberam honrar.

Esta Revista Gestão Hospitalar (RGH) é precisamen-

te publicada na semana que precede as eleições legislativas

em Portugal. Neste contexto, apresentamos

um breve resumo dos programas eleitorais para a área

da saúde (em parceria com a Associação Portuguesa

para a Economia da Saúde) e um estudo sobre “Que

prioridades para a saúde em Portugal?” realizado com

a EY. Apresentamos ainda mais cinco estudos APAH:

- “O que pensam e sentem os portugueses sobre o

estado atual da saúde em Portugal”;

- “Saúde em Dia: O acesso dos portugueses aos cuidados

de saúde: impacto da pandemia e resposta do SNS”;

- “Index Nacional do Acesso ao Medicamento Hospitalar

2021”;

- “Impacto da Covid-19 na gestão da diabetes nos hospitais

do SNS”; e

- “Acesso da pessoa com diabetes aos cuidados de

saúde primários em tempos de pandemia”.

Não nos ficamos pelos estudos e apresentamos propostas

concretas de melhoria, atividades de capacitação das

unidades de saúde como a Bolsa Capital Humano, visitas

de estudo a hospitais em Barcelona, ações de formação,

e destaque aos melhores através do Healthcare Excellence.

Damos nota do lançamento de mais dois livros

APAH: “Transformação digital em saúde - contributos

para a mudança” e “Cuidados de Saúde de Proximidade

- Um Roteiro para a Humanização e Integração”.

A RGH não se esquece da sua história e da construção

do Serviço Nacional de Saúde. Convido-vos a ler atentamente

“As memórias da informática do Ministério

da Saúde” pelo sócio de mérito José António Menezes

Correia, e a “Segunda década da APAH: a riqueza do

debate num clima adverso” pela jornalista Carla Pedro.

No dia 30 de janeiro cabe a cada cidadão expressar as

suas opções nas urnas. A APAH cá estará livre e equidistante

a defender o desenvolvimento dos serviços de

saúde em Portugal. Ã

4



GH memórias da saúde

Memórias da Informática

do Ministério da Saúde

José Meneses Correia

Sócio de Mérito APAH

ßáIBM 1401

Em 18 de fevereiro de 1968, iniciei funções

no Ministério da Saúde, como Chefe de

Serviços Administrativos e Gerais (Arquivo

e Estatística) dos Hospitais da Universidade

de Coimbra (HUC).

As estatísticas de movimento de doentes eram obtidas

através da classificação e contagem sucessivas de dois conjuntos

de “papeletas” (resumos da alta) de cores diferentes:

as “rosa” relativas ao sexo feminino e as “azuis” correspondentes

ao sexo masculino.

Como os dados estatísticos deviam ser obtidos mensalmente

e alguns resumos de alta eram, com frequência, retidos

pelos serviços, tinha sido adotada uma solução pragmática:

as “papeletas” do mês “n” que fossem recebidas

no mês “n+x” serviam de base à estatística deste último.

As tarefas atrás descritas eram repetitivas e informatizáveis.

Numa dependência dos HUC estava provisoriamente

instalado o Centro Mecanográfico do SUCH 1 . No

Centro não havia lista de espera para o início de novos

trabalhos. Salvaguardada a adesão do Serviço de Pessoal ao

cálculo automático de vencimentos, havia responsáveis por

Serviços administrativos que se vangloriavam de impedir a

entrada do computador no respetivo setor. E invocavam,

para tal, terríveis fantasmas alimentados pelos resultados da

infeliz intervenção duma inspeção feita ao Hospital que começara

por mandar suspender toda a mecanização administrativa,

implementada por gestores de grande qualidade

técnica, muito antes de aparecerem computadores.

Responsável pelo Arquivo Administrativo, tive ocasião

de ler relatórios excelentes, que repousavam empoeirados

em inestéticas prateleiras de madeira do Arquivo

Administrativo. No CM encontrei o melhor acolhimento

e o maior apoio. O Centro dispunha dum IBM - 1401 H,

um equipamento com 4k de memória central, rodeado

de máquinas que perfuravam, triavam e classificavam

enormes ficheiros de míticos cartões de 80 colunas e

uma impressora que funcionava à velocidade de 300 linhas

minuto.

Naquele tempo, as firmas fornecedoras punham à disposição

dos clientes Analistas com bastante experiência.

Trabalhar com esses Analistas era uma tarefa aliciante,

um excelente meio para a aprendizagem de instrumentos

adequados à análise dos procedimentos existentes e

para conceber e implementar novos métodos baseados

na utilização do computador. Em pouco tempo a tarefa

ficou concluída, e os HUC puderam beneficiar de estatísticas

mais oportunas, mais precisas e mais extensas.

De janeiro a dezembro de 1969 frequentei o Curso de

Administração Hospitalar em Rennes. Após o Curso, fui

reclassificado como técnico de 1ª classe do Serviço de

Promoção Hospitalar, sediado na Comissão Inter-Hospitalar

da Zona Centro, em Coimbra, mas desde logo

em contacto com a Comissão Instaladora do Hospital de

Beja, onde iria exercer funções de Administrador.

Em Beja tivemos a preocupação de utilizar sempre que

possível a informática, tendo sido naturalmente feito o

contacto com o Centro Mecanográfico dos Hospitais

Civis, que servia a Zona Sul. Este Centro possuía um

computador mais evoluído, o Sistema 360 modelo 20

da IBM, com um input ainda a cartões, mas com memória

em disco e com uma programação em linguagem de

alto nível - o RPGII (Report Program Generator) dirigida às

aplicações administrativas.

Em 26 de junho de 1971 tomei posse do lugar de Diretor

de Serviço de Aprovisionamento do Hospital de São

João (HSJ).

A informatização dos stocks era indispensável para ter dados

razoavelmente atualizados, apoiar a gestão material e

introduzir noções da gestão económica de stocks (Análise

ABC, Taxa de rotação, Stock de segurança, Ponto de

EM JULHO DE 1973, A SECRETARIA GERAL

DO MINISTÉRIO DA SAÚDE DECIDIU

MANDAR ELABORAR UM PLANO

encomenda e Quantidade económica de encomenda),

desconhecidas do responsável dos Armazéns.

Acresce que a Administração estava muito interessada

em implementar a Contabilidade Analítica e, portanto, na

imputação aos serviços dos valores dos consumos e isso

só seria possível com a mecanização dos stocks.

No CM do HSJ que mais tarde passaria para o SUCH,

passando a servir toda a Zona Norte, estava instalado um

Gamma 10 da Bull, uma máquina em tudo idêntica à de

Coimbra, e também não havia lista de espera. O Centro

processava os vencimentos do pessoal e a estatística de

movimento de doentes, e estava interessado em estender

a sua atividade a outras funções, pelo que o pedido

de informatização dos stocks de material se enquadrava

na sua estratégia.

De novo tive o privilégio de fazer a Análise Funcional com

um Analista muito bem preparado, nomeadamente com

experiência na informatização de stocks de empresas privadas.

À Análise Funcional seguia-se a Análise Orgânica, a

cargo exclusivo do Analista de Sistemas, e a programação.

Encarregavam-se da programação três programadores

do CM. A linguagem de programação, tal como em

Coimbra, era de “baixo nível”, muito próxima da lingua-

DIRETOR DE INFORMÁTICA

gem máquina, tendo os programadores que gerir a própria

memória, apesar dos 4K de que dispunham.

De novembro de 1973 a 1 de julho de 1976, desempenhei

as funções de Vogal da Comissão Instaladora do

IANT e Administrador, primeiro do Sanatório D. Manuel

II e depois do Centro Hospitalar de Gaia. Regressei ao

HSJ com funções de adjunto do Administrador.

Entretanto, em julho de 1973, a Secretaria Geral do Ministério

da Saúde decidiu mandar elaborar um Plano Diretor

de Informática, uma decisão pioneira na Administração

Pública Portuguesa, com o objetivo de:

• Definir os grandes eixos de desenvolvimento da informática;

• As políticas relativas a aplicações, equipamentos, pessoal

e estrutura de enquadramento.

A elaboração do Plano foi adjudicada a uma firma francesa.

Desenvolvido em 1973/1974, o Plano viria a ser

aprovado em novembro de 1974.

O diagnóstico formulado pelo PDI/S orientou-se para três

vetores essenciais: aplicações, equipamento e pessoal.

A propósito das aplicações, considerava o relatório:

• Terem sido desenvolvidas independentemente por vários

Centros; }

6 7



GH memórias da saúde

Aplicações Nº Utilizadores Nº Centros Cobertura

N.º Camas %

Gestão de Stocks 20 4 12.900 36

Vencimentos 18 5 13.600 38

Contabilidade 18 1 4.100 11,5

Estatística de Doentes 17 4 12.900 36

Faturação 12 3 8.800 24,5

Gestão de Pessoal 8 2 9.000 25

Inventário 4 1 1.300 3,5

Tabela 1: Aplicações dos Centros Mecanográficos

• Não haver qualquer normalização;

• Não estarem documentadas, exigindo grande peso de

manutenção.

Daí a conclusão que não seria desejável uma evolução a

partir das aplicações existentes.

Quanto aos equipamentos, eram obsoletos, de pequena

dimensão e estavam saturados.

Os Recursos Humanos eram dramaticamente insuficientes,

referindo expressamente o Relatório a enorme carência

de técnicos com perfil necessário para dirigir projetos

e assegurar o respetivo estudo e conceção.

Quanto às aplicações a desenvolver, deveriam obedecer

a princípios de desenvolvimento gerais e técnicos:

Integração: A recolha e dados deveria efetuar-se uma

única vez, devendo também existir uma estreita interdependência

e ligação entre as diferentes aplicações.

Modularidade: as aplicações deveriam poder comportar,

a partir dum nível base, vários níveis de automatização.

Multiplicidade de input: possibilidade de utilizar diversos

suportes físicos para gravar os dados a fornecer ao sistema

(nomeadamente por via telefónica).

Linguagem de alto nível: Cobol e Fortran.

Industrialização de software: as aplicações deveriam ser

desenvolvidas uma única vez, procedendo-se posteriormente

à respetiva generalização.

Quanto aos equipamentos, previa-se a instalação de equipamentos

de médio porte nos três Centros Regionais de

Lisboa, Coimbra e Porto, com terminais nos hospitais.

E, quanto ao Pessoal, estava previsto um ambicioso programa

de formação.

O Plano Diretor previa ainda a criação dum serviço encarregado

de coordenar e promover a execução das medidas

aprovadas.

Tal serviço só viria a ser criado pelo Dec. Lei 496/79 de

21 de dezembro, quase cinco anos depois da aprovação

do Plano Diretor, quando este já devia estar cumprido.

Durante esses cinco anos houve uma verdadeira revolução

ao nível das componentes eletrónicas com o aparecimento

dos circuitos altamente integrados - LSI que tiveram

reflexos importantes no custo dos equipamentos.

Em 1965 poucas pessoas terão dado importância a um

artigo de Gordon Moore publicado na revista Electronics,

onde o autor desenvolvia um tema que viria a ser

conhecido como a Lei de Moore:

“A capacidade do chip iria duplicar a cada novo ano, paralelamente

a um decréscimo dos custos proporcional a

esse aumento.”

Pouco importa se esse lapso de tempo foi posteriormente

corrigido para 18 ou mesmo 24 meses, a verdade

é que, enquanto em 1975 se podiam comprimir 65.000

componentes num único chip, poucos anos mais tarde

a Intel, de que Moore foi um dos cofundadores, conseguiria

comprimir 6 milhões de componentes num único

microprocessador.

“A eletrónica integrada tornará as técnicas eletrónicas

facilmente acessíveis a toda a sociedade”, preconizava

Moore. Se a indústria informática tivesse compreendido

toda a extensão da Lei de Moore teria previsto que o

processamento centralizado iria, cada vez mais, dar lugar

ao processamento distribuído.

Um plano diretor de informática não é um produto acabado.

Ao longo do tempo o plano deve ser revisto, para

ter em atenção o desenvolvimento tecnológico, ou pontos

críticos que afetem os resultados finais. Sem revisões

que permitam a sua atualização o plano transforma-se

num documento estático, deixando de constituir um

verdadeiro instrumento de apoio à decisão. Foi o que

aconteceu com o PDI/S que, ainda por cima, acabou por

se tornar um obstáculo a qualquer mudança de equipamentos,

mesmo os que se justificariam em termos de

custo/benefício. A aquisição de equipamentos informáticos

tinha que merecer parecer favorável da Direção

Geral de Organização Administrativa (DGOA) que, invariavelmente,

mandava aguardar pela criação do Serviço

de Informática da Saúde!

Em 1978, a Secretaria Geral do Ministério convidou o

colega que desempenhava funções de Administrador

Regional de Informática do Norte para frequentar um

Seminário de Informática de Gestão que decorreria de

janeiro a meados de julho, do ano seguinte, no CEPIA

(Centre d’Ètudes Pratiques d’Informatique e d’Automatique),

com uma bolsa do Governo Francês.

O colega não aceitou e a bolsa foi-me atribuída. No regresso

da frequência do Seminário, como o Administrador

Regional de Informática se tivesse demitido, fui contactado

pela Coordenadora do GIS (Grupo de Informática

da Saúde) 2 no sentido de saber da minha disponibilidade

para ser Coordenador Regional. Com a concordância

do Conselho de Gerência do HSJ, a resposta da minha

parte foi favorável.

Em 30 de junho de 1979 fui nomeado Coordenador

Regional de Informática e, em 6 de setembro seguinte,

como representante do SUCH, responsável pelo Centro

Mecanográfico Hospitalar da Zona Norte (CMHZN).

Existiam dois Centros no Porto. O CMHZN e o Centro

do Hospital de Santo António. O Hospital de Santo António

conseguira fugir ao controle da DGOA, através da

Misericórdia do Porto, entidade gestora do Hospital. O

Centro dispunha dum Sistema/3 da IBM com input também

a cartões de 92 colunas, com memória em disco

magnético e programável em RPG II.

Antecipando uma solução futura, decidi concentrar os

Serviços num só deles. Como o equipamento do Hospital

Geral de Santo António era o mais evoluído escolhi,

apesar das instalações serem muito más, o HGSA.

Depois das aplicações que corriam no CMHZN serem

reconvertidas, o Pessoal foi transferido.

Em dezembro de 1978 era aprovado o Plano Diretor

dos Serviços Médico Sociais que se tinha baseado nos

mesmos princípios do PDI/S. Perspetivando a futura integração

dos Serviços Médico Sociais no Ministério da Saúde,

foi decidido integrar os dois Planos. Essa integração,

de que resultou um novo PDI/S, consubstanciou-se, na

prática, pela revisão das prioridades das aplicações.

Em 10 de março de 1980 foi, finalmente, nomeada a

Comissão Instaladora do Serviço de Informática da Saúde,

de que fiz parte como Vogal, tal como viria posteriormente

a acontecer com os Administradores Regionais

do Centro e do Sul.

O trabalho realizado pela CI pode resumir-se através da

listagem que adiante se refere:

• Instalação física do CRIS e do CRIN;

• Aquisição dos equipamentos;

• Desenvolvimentos das aplicações previstas no PDI/S;

• Mapa de Pessoal e aplicação das “Carreiras de Informática”;

• Formação do Pessoal;

• Recrutamento, seleção e formação de novos técnicos;

• Reconversão das aplicações existentes em cada Centro

para os novos equipamentos;

• Extensão destas aplicações a novos utilizadores.

Estas ações constavam do Plano de Ação da CI e estavam

devidamente calendarizadas, muito embora o contexto

á Gamma 10 da Bull

UM PLANO DIRETOR DE INFORMÁTICA

NÃO É UM PRODUTO ACABADO.

AO LONGO DO TEMPO O PLANO

DEVE SER REVISTO.

em que desenvolveu o trabalho do SIS fosse pouco favorável

à atividade programada.

Havendo que resolver problemas de instalações, equipamentos

e recursos humanos, a execução do Plano ficou

a depender de quatro Ministérios: Saúde, Obras Públicas,

Plano e Finanças, cada um perseguindo as suas próprias

finalidades e apenas o primeiro motivado pelos objetivos

do PDI/S.

O GIS já tinha adiantado o trabalho de instalação dos

Centros Regionais de Informática (CRI). No caso do

CRIN tinha sido comprado um edifício em tosco na Rua

do Breiner, um processo que envolveu as Construções

Hospitalares, o Serviço de Instalações e Equipamento da

Secretaria Geral do MS (SIE da SG) e o Executivo do GIS,

e foi objeto de despacho Ministerial em agosto de 1978.

O SUCH foi a entidade adquirente do imóvel, mediante

financiamento público.

O programa preliminar da adaptação do edifício tinha sido

elaborado pelo GIS, com o apoio do SIE da SG e remetido,

através deste último serviço para Direção Regional

do Norte (DRN) da Direção Geral dos Edifícios e }

8 9



GH memórias da saúde

á IBM 4300

Monumentos Nacionais (DGEMN), entidade que veio a

ser responsável pelas obras de finalização do edifício.

Refira-se que as dotações previstas pela DGEMN para

os CRI e inscritas no PIDAC/80 tinham sofrido acentuados

cortes, o que obrigou a CI a procurar outras fontes

de financiamento.

Relativamente aos equipamentos, o GIS já tinha aberto

concurso e adjudicado a uma firma de serviços, a SEMAP,

o estudo de Seleção e Avaliação das propostas. Foram

selecionadas três firmas: NCR, IBM e BULL. O relatório

da SEMAP era favorável à adjudicação à NCR. Logo a

seguir à posse da CI, estava previsto um benchmark do

equipamento proposto, com base num programa de testes

elaborado pela firma de serviços. O equipamento respondeu

muito bem a esses testes mas eu, particularmente,

estava preocupado com a conversão das aplicações

que corriam no Sistema 3, pois que, das aplicações definitivas,

só tinha acabado de arrancar a Gestão de Pessoal.

A NCR não compilava o RPG2, linguagem em que estavam

escritos os programas dos Centros dos Hospitais

Civis e do Hospital de Santo António.

A solução da NCR passava pela reconversão automática,

em COBOL, feita nos EUA, paga por linha de programa.

A reconversão automática, porém, só garantia 80%

da passagem do RPG2 a COBOL. Os restantes tinham

de ser reconvertidos por programadores. Os programadores

dos Centros não conheciam o COBOL e os da

NCR não conheciam os programas. Por isso, a solução

foi condicionar a adjudicação definitiva à demonstração,

pela NCR, de que a sua solução funcionava, a partir dos

suportes dos programas a reconverter.

Nunca a NCR apresentou qualquer resultado, pelo que

se passou aos restantes concorrentes. Quer a IBM quer

a BULL tinham facilidade em reconverter os programas.

A ambos os concorrentes se pediu a mesma demonstração.

A Comissão Técnica, constituída pelos Chefes dos

Centros, foi de opinião que a que melhor respondeu foi

a IBM, a quem acabou por ser feita a adjudicação.

O GIS já tinha assegurado o arranque das aplicações definidas

como prioritárias, com uma metodologia de desenvolvimento

que apontou para a adjudicação de chefia

de projetos a empresas de serviços de informática, enquadrando

técnicos dos Centros Mecanográficos e dos

SMS, com a vantagem deste pessoal fazer a formação

em serviço.

Relativamente ao CRIN, as obras do edifício da Rua do

Breiner atrasaram-se imenso, estando inclusivamente a

entrega dos computadores prevista para uma data anterior

à sua conclusão. A solução foi recorrer ao HGSA

que cedeu uma área no CICAP (Centro de Instrução de

Condutores Auto do Porto). Num edifício construído

no século XIX foi preciso substituir um piso de madeira

em mau estado por uma laje em betão e fazer pequenas

obras de adaptação para instalar o computador e uma

sala de trabalho de alguns técnicos, obras que decorreram

a cargo do SIS. O pessoal do CRIN esteve repartido

por três edifícios: HGSA, CICAP e duas salas cedidas pela

IBM na Rua Sá da Bandeira.

A reconversão das aplicações foi rápida, estando o IBM

Sistema 3 e o IBM 4300 a funcionar em paralelo muito

pouco tempo e tendo sido assegurado, tal como nos outros

Centros, a continuidade de prestação de serviço aos

utilizadores, durante a fase de transição entre sistemas.

O CRIN foi o Centro que apostou mais fortemente no

recrutamento de licenciados e sofreu as consequências

disso. Depois de criado o SIS, foram necessários mais dez

anos para ser publicada a sua Lei Orgânica. Vivendo em

regime de instalação, os cíclicos atrasos na repristinação

do diploma da sua criação tiveram como consequência

que o Serviço estivesse mais tempo em situação de inexistência

jurídica do que em regime normal.

Sucedeu, por isso, que durante largos períodos de tempo,

não foi possível admitir pessoal e os novos técnicos

viram os prazos normais de progressão nas carreiras

substancialmente dilatados.

Num sector de atividade com forte procura no mercado

de pessoal formado, houve uma rotação muito grande

de pessoas que constituiu o principal constrangimento

no desenvolvimento do plano.

No CRIN essas dificuldades tiveram demasiada expressão.

A formação dos novos técnicos era feita na IBM. O

4300 IBM foi das primeiras máquinas, senão a primeira, a

ser instalada no Porto. Como tal, foram várias as saídas de

programadores, com as consequências que se adivinham.

Referindo-se à situação da informática no Ministério da

Saúde, o PDI/S mencionava o facto de a Informática

Médica ser inexistente, mas também era omisso quanto

ao assunto.

No primeiro Plano de Ação do SIS - curiosamente não

houve mais nenhum - transcrevia-se uma afirmação de

Funck Brentano:

“A iniciativa das ações médicas em informática não poderia

resultar, no estado atual do desenvolvimento embrionário

de informática médica, da prescrição de programas

estabelecidos à escala nacional ou mesmo regional

por uma instância ministerial centralizada. A iniciativa

das ações médicas em informática só tem hipóteses de

ser coroada de sucesso se for periférica. Ela deve resultar

da decisão espontânea de médicos, informáticos e economistas

desejosos de unir os seus esforços para tratar

um tema seletivo segundo as vias que eles próprios tenham

escolhido”.

Em nota de rodapé, referia-se que esta afirmação estava

incluída no texto “L’ íntroduction de l’informatique dans

les activités Médicales et de Santé - Document contribuitif

nº 4ˮ do Relatório Nora-Minc.

O Relatório, porém, não faz nenhuma referência à Informática

Médica, o que não surpreende.

Em novembro de 1976, Giscard d´Estaing confiou a Simon

Nora a missão de redigir um relatório administrativo

sobre a informatização da sociedade. Nora não era um

amigo do Presidente da República, mas tinham em comum

ter frequentado o ENA e pertencido à prestigiada

Inspeção de Finanças. Nora tinha sido conselheiro junto

de Edgar Faure, Pierre Mendès France, Jacques Chaban-

Delmas, diretor geral da Livraria Hachette e administrador

da Companhia luxemburguesa de teledifusão. Nora

juntou a si o jovem Inspetor de Finanças Alain Minc, que

em 1975 tinha sido o primeiro classificado da promoção

Léon Blum da Ena.

O Relatório Nora Minc, foi um bestseller mas, como é

óbvio, suscitou muitas críticas. Fora dos meios universitários

contestava-se a escolha duma telemática pesada e

“jacobina” em detrimento duma microinformática “convivial”

ferozmente defendida por Bruno Lussato, especialista

das organizações e teórico do management.

As reações dos meios universitários vieram sobretudo

APOSTANDO NUMA

INFORMÁTICA CENTRALIZADA,

NÃO ADMIRA QUE OS AUTORES

DO RELATÓRIO TENHAM

EVITADO FALAR DE

INFORMÁTICA MÉDICA

á IBM 4300 ”

de sociólogos, nomeadamente Michel Crozier, que denunciavam

o “enciclopedismo superficial do Relatório e

questionavam a ideologia subjacente, relevando duma ingenuidade

tipicamente tecnocrática e científica, herdada

do Iluminismo e do século XIX”.

Apostando numa Informática centralizada, não admira

que os autores do Relatório tenham evitado falar de Informática

Médica.

O binómio centralização/descentralização também teve

reflexos no SIS, a começar pelo próprio serviço. A Comissão

Instaladora era constituída por um Presidente e

quatro Vogais, um dos quais residente na Sede do Serviço,

e por três Administradores Regionais, residentes,

obviamente, neste Centros. A organização dos serviços

centrais coube, fundamentalmente, ao Vogal da sede, oriundo

dos Serviços Médico-Sociais, onde era fácil o recrutamento

de funcionários. Face à perspetiva da criação nos

serviços centrais duma estrutura pesada e burocrática,

nós, os Administradores Regionais, reagimos e pedimos

a exoneração das funções. O SIS passou por uma curta

face confusa e veio a ser integrado no IGIF entrando para

a Comissão Instaladora o Diretor do IGIF como Presidente

e o Subdiretor como Vogal, mantendo-se como

Vogais os Administradores Regionais.

O funcionamento da CI entrou na normalidade, desaparecendo

as tentações de centralização e de criação duma

estrutura pesada, com o evidente propósito de controlar

os Centros Regionais, na forma clássica da Administração

Pública.

Na Comissão Instaladora do SIS passei muito mais anos

do que pensava. Era tempo de regressar às funções de

Administrador Hospitalar. Ã

10 11



GH Iniciativa APAH | gestão

CAAH: ACCOUNTABILITY

Altino Sá de Almeida

José Abrantes Afonso

José M Gonçalves André

Comissão Avaliação dos Administradores Hospitalares (2020 - 2021)

P

ara além do controlo interno que lhe incumbe,

a prestação de contas, traduzida

no dever de demonstrar que a sua gestão

é conforme com as normas jurídicas

aplicáveis, com os orçamentos aprovados,

com os sistemas contabilísticos aplicáveis e com os

princípios de economia, de eficácia e eficiência, de integridade

e ética, a prestação de contas, dizíamos, é uma

das principais obrigações dos gestores hospitalares, nos

termos legais, designadamente, do DL nº 18/2017 de

10 de fevereiro, LEO e disposições e recomendações

do Tribunal de Contas.

Também à Comissão de Avaliação dos Administradores

Hospitalares (CAAH), que terminou o seu mandato

em 11 de agosto de 2021, incumbe prestar contas

do trabalho realizado.

De fato, foram muitos os administradores hospitalares

(AH) que manifestaram interesse em progredir na sua

carreira (CAH), nos vários graus que a compõem, possibilitando

dessa forma uma maior dinâmica e robustez

à própria carreira, conforme se pode verificar no quadro

seguinte, disponibilizado pela ACSS:

Decisão da CAAH

Total

AH não integrados no Quadro Único 6

Indeferido 6

AH integrados no Quadro Único 88

Indeferido 3

Com 2º grau 1

Com 3º grau 2

Deferido 85

Com proposta de transição para 1.º grau 7

Com proposta de transição para 2.º grau 65

Com proposta de transição para 3.º grau 13

Total Geral de Pedidos 94

Não pretendendo ser exaustivo, a demonstração do

interesse dos AH pela CAH, nos termos do art. 8º do

DL 101/80 de 08.05., pode evidenciar-se quer no número

de pedidos de mudança de grau (94), quer no

número de pareceres positivos dados pela Comissão

(85), e, em especial aos seis AH que apresentaram para

discussão um trabalho para o efeito (o 7º já tinha sido

objeto de avaliação positiva pela CAAH anterior).

É justo realçar quer a qualidade quer a diversidade dos

temas apresentados, como sejam:

• Enquadramento jurídico/factual do trabalho do júri no

âmbito dos procedimentos hospitalares de aquisição de

bens e serviços ao abrigo do CCP;

• Financiamento dos hospitais, dos SPA às E.P.E.;

• Estrutura organizacional e desafios em saúde;

• Integração de cuidados;

• Gestão descentralizada no CHUSJ, E.P.E. - O caso da

Unidade Autónoma de Gestão da Cirurgia e por último

(the last but not the least) a Proteção de dados na saúde

- a implementação do RGPD no CHUP, E.P.E.

Temas que enobrecem não só os seus autores, mas

também a própria CAH.

Mau grado não terem sido realizados nos últimos anos

concursos de ingresso e de acesso (porque não lançar

o desafio à ACSS para que os concursos de colocação

nos serviços de saude sejam institucionais e não nacionais,

por forma a adequar melhor a oferta à procura?), e

a própria CAH carecer de revisão, mas cujo projeto foi

já apresentado ao Ministério da Saúde pela direção da

APAH, os administradores têm hoje mais motivos para

continuar a acreditar que vale a pena crescer e valorizar

o seu percurso profissional.

Finalmente, e não tendo ficado nenhuma situação pendente

para a próxima CAAH, é justo realçar o apoio

dado pela ACSS e em particular das técnicas do GT

criado para o efeito, que muito contribuiu para a eficácia

e eficiência dos trabalhos da Comissão. Ã

12



GH opinião

O VOLUNTARIADO EM SAÚDE

EM CONTEXTO DE PANDEMIA

Carlos Pinto Ribeiro

Presidente da Direção da Federação Nacional

de Voluntariado em Saúde

OVoluntariado em Saúde e tudo o que

ele representa para os Doentes, para os

seus Familiares, para os Profissionais de

Saúde e para as Instituições de Saúde

foi fortemente condicionado pela pandemia

provocada pelo SARS-CoV-2.

A prática do Voluntariado nos Hospitais e nos Centros de

Saúde que se pautava pela proximidade com o Doente,

pelo acolhimento cordial, fraterno e solidário, pelo apoio

ao Doente na organização tantas vezes labiríntica das Instituições

de Saúde e pela delicada capacidade para ouvir lamentos

e infortúnios, foi interrompida drasticamente, contribuindo,

entre outros fatores, para uma percecionada diminuição

da qualidade dos Cuidados de Saúde.

O trabalho Voluntário no apoio integrado com a atividade

dos Profissionais de Saúde era real, planificado e importante

na gestão da atividade assistencial e, por via das

condições higieno-sanitárias impostas para controlo da

pandemia, também foi descontinuado.

A humanização das Instituições de Saúde sofreu um rude

revés pelo facto de o Doente ter deixado de ter a seu lado

o Voluntário, para ele o elo mais importante na ligação

com a Instituição, enquanto doente fragilizado e angustiado.

A idade média dos Voluntários em Saúde é

alta, tendo em conta que 70% têm mais de 65 anos. Assim,

e porque o risco de a doença pelo SARS-CoV-2 pode

agravar as comorbilidades mais frequentes nas pessoas

deste escalão etário, foi entendido ser prudente retirá-las

do contacto com os Doentes, tendo cessado a oportunidade

de ajudar e apoiar os Doentes, especialmente os

mais vulneráveis, os mais carenciados e os mais excluídos.

As sucessivas vagas da pandemia não têm permitido programar

e preparar a retoma do Voluntariado em Saúde

e, quase dois anos depois da sua interrupção, não se vis-

lumbra o tempo do regresso em pleno ao exercício da

fraternidade, da solidariedade e da compaixão.

Porque a formação dos Voluntários em Saúde é fundamental

para a sua capacitação e competência no desempenho

da sua ação voluntária, e para que não desvanecesse

o espírito Voluntário, foram realizadas ações de

Formação um pouco por todo o País, em temas como

O Voluntário e a Humanização da Instituição de Saúde, A

comunicação com o Doente e seus familiares, O Voluntário

e os Cuidados paliativos, O Voluntário e a resiliência,

A Gestão do Luto e O Voluntário: da admissão à avaliação

e à perceção do grau de satisfação.

Foram praticadas iniciativas que visaram apoiar os Doentes

fora do contexto da Instituição de Saúde, nomeadamente

levando ao domicílio medicamentos prescritos

por esta ou em renovação de medicação habitual ou

crónica. Também pelo telefone os Voluntários contactaram

regularmente os Doentes mais sós e isolados, e assistimos,

com satisfação a relatos de Ligas de Voluntários

que nunca deixaram de falar com os seus Voluntários,

num exemplo genuíno de que cuidar de quem cuida será

sempre cuidar de nós.

Os Voluntários mais jovens e os capacitados nas tecnologias

de informação usaram as redes sociais para manterem

o contacto com os Doentes que tinham a capacidade

para nelas participar, e pode estar aqui uma forte possibilidade

de praticar o Voluntariado de uma forma inovadora

e de proximidade.

A atividade voluntária mais significativa e relevante durante

a pandemia foi a colaboração e presença em massa dos

Voluntários nos Centros de Vacinação, um pouco por

todo o País, onde foi realizado um trabalho diário, inestimável

e valioso, que, se realizado por Profissionais de

Saúde ou por Contratados se reverteria numa despesa

enorme para o Estado. O acolhimento, a orientação na

geografia do Centro, o apoio no preenchimento do inquérito

e a ajuda a pessoas mais debilitadas e com mobilidade

reduzida foi sempre feito com afabilidade, cortesia e

fraternidade. Das Autoridades de Saúde nacionais nunca

veio o mais simples gesto de reconhecimento. Continuaremos

empenhados nessa tarefa até ao limite da nossa

capacidade e sempre focados no concidadão e no contributo

para melhorar o seu bem-estar.

Ao longo deste tempo de exclusão da atividade do Voluntariado

em Saúde, e não obstante a Federação Nacional

de Voluntariado em Saúde (FNVS) ter solicitado

às Autoridades de Saúde, por várias vezes, que nos ajudassem

a enquadrar a retoma do Voluntariado nas Instituições

de Saúde, nunca foi dada qualquer resposta.

Em alguns Hospitais foi possível, ainda que timidamente,

colocar em prática alguma atividade voluntária, com regras

bem definidas de proteção e de interação com o

Doente, depois de alguma insistência com as Administrações

e comprovada que está a importância e a relevância

do Voluntariado.

A vacinação de 87% da população

vai, seguramente, fazer

TUDO O QUE SE PERDE É O QUE NÃO SE DÁ

Madre Teresa de Calcutá

abrandar a gravidade da pandemia

e favorecer o regresso

a alguma normalidade social e,

consequentemente, à retoma

do Voluntariado em Saúde.

Mas foi com perplexidade que

os Voluntários em Saúde não integraram o contingente de

Grupos com prioridade para a Vacinação, como o foram,

e a nosso ver bem, as Forças de Segurança, os Bombeiros,

os Profissionais de Saúde, entre outros. Não se entende

porque os Voluntários em Saúde, nomeadamente os mais

jovens e sem morbilidades, não foram vacinados para poderem

continuar a ser úteis aos Doentes e às Instituições.

Com explicações sobre os motivos de exclusão das prioridades

dos Voluntários em Saúde para a vacinação já seria

difícil de entender, mas sem a mais singela e mais primária

explicação somos remetidos para o esquecimento e

para a indiferença. Mas é sabido que nos basta muito pouco,

tão pouco como um sorriso ou um apertar de mão

como recompensa. O Estado não cuida de quem cuida.

E é tão mais grave quando quem nos esquece e ignora

é quem devia fazer o que o Voluntariado em Saúde faz:

cuidar do Doente mais frágil, mais excluído e mais vulnerável,

numa visão holística e humanista da Pessoa Doente.

Estamos fortemente empenhados no regresso do Voluntariado

em Saúde porque temos a consciência de que,

ao doar tempo, competência e afeto, acrescentamos valor

aos Cuidados de Saúde e valorizamos o nível de perceção

desses mesmos Cuidados.

A disponibilidade dos Voluntários tem de encontrar

correspondência na Direção das Instituições no sentido

de encontrar soluções de compromisso que permitam,

com as regras tidas por convenientes e suficientes, a retoma,

mesmo que progressiva, da atividade voluntária.

Os Grupos de Coordenação Local do Programa de Prevenção

e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos

têm um papel fundamental, não fundamentalista,

na definição e enquadramento das diretivas

a cumprir por Doentes e seus Familiares, Profissionais

de Saúde e Voluntários.

Tendo em conta a relevância por demais conhecida, referida

e documentada do Voluntariado em Saúde, parecenos

evidente e justificada toda a prioridade que todos os

atores e intervenientes possam dispensar à construção

de um documento com as regras que se adequem a cada

momento da pandemia e a cada Instituição e, obviamente,

redimensionado sempre que a realidade pandémica o

justifique, quer no seu agravamento, quer na sua melhoria.

Pelo facto de o Voluntariado em Saúde ser uma atividade

gratuita e voluntária não pode nem deve ser encarada

como uma atividade menor, desprovida de organização

e de compromisso e realizada

por quem não tem mais que fa-

zer. Deve antes ser entendida

como o exercício da cidadania

por quem, sensível às múltiplas

e débeis condições sociais, se

foca nas pessoas mais fragilizadas,

mais carentes e excluídas.

A pandemia agravou o isolamento e a exclusão de muitos

dos nossos concidadãos, nomeadamente os mais idosos e

os internados nos Hospitais. Quantos destes doentes internados

tinham como única visita no Internamento o

Voluntário, que sempre se dispunha a ouvir, a mimar, a

confortar e, inúmeras vezes, a ser o elo de ligação com os

Profissionais de Saúde. Urge retomar esta atividade de relevante

significado social, sempre respeitando as regras higieno-sanitárias

que a cada momento forem entendidas

como recomendáveis. As dificuldades são quase sempre

oportunidades para mudar para melhor e para encontrar

soluções que nunca antes tinham sido pensadas e

equacionadas. Em muitos setores estas oportunidades

trazem benefícios e ganhos. Equacionam-se outros meios

para exercer o Voluntariado, tais como o contacto telefónico

e as redes sociais. São métodos que podem minimizar

o isolamento e a solidão, a doença e angústia,

mas ficam muito aquém do verdadeiro Voluntariado em

Saúde que vive muito assente na proximidade, na cumplicidade

do olhar, na ternura do dar a mão, no conforto

da palavra amiga dita sussurrando e nos sentimentos

da compaixão e da fraternidade que envolvem todo o

diálogo. O Voluntariado em Saúde necessita muito mais

de ser retomado do que reinventado. As emoções e os

sentimentos fazem parte do dia a dia da prática do Voluntariado

em Saúde e do seu ADN e dificilmente são

exprimíveis, transmissíveis e captáveis através da nuvem.

A pandemia recrudesceu a necessidade de apoio aos

Doentes e seus Familiares, agravou a dificuldade de acesso

aos Cuidados de Saúde, realçou a insuficiente comunicação

entre o Doente e a Instituição e prejudicou a orientação

dentro da Instituição e o acesso aos vários Departamentos

Clínicos e não Clínicos. O Voluntário em Saúde

é uma peça incontornável na recuperação dos níveis

de excelência do SNS anteriores à pandemia. Ã

14 15



GH agentes comunitários

CINCO SÉCULOS DE EXPERIÊNCIA

E VISÃO FUTURA DE UM MODELO

CENTRADO NA PESSOA

Tânia Matos

Diretora da Saúde - Santa

Casa da Misericórdia de Lisboa

Oenvelhecimento progressivo da população,

o aumento da esperança média de

vida e o incremento de patologias de

carácter crónico colocam um conjunto

de desafios económicos e sociais de relevo,

com consequências diretas na política de saúde. Exigem-se

pois, respostas globais e compreensivas, multidisciplinares

e intersectoriais, naturalmente estruturadas ao

longo do ciclo de vida, em cenários tendencialmente sustentáveis

e que, no seu sentido mais amplo, contribuam

para o bem-estar e qualidade de vida das populações.

A Economia Social representa progressivamente um maior

peso financeiro na Economia Europeia e, mais especificamente,

na economia de cada país, ao qual Portugal não

é alheio. Aliado a este facto, vive-se atualmente uma conjuntura,

em que as necessidades do terceiro sector são cada

vez mais prementes, dado não só o aumento da longevidade,

como também a existência de redes familiares

menores, mais complexas e geograficamente mais dispersas

que determinam, na maioria das situações, a incapacidade

de os agregados familiares prestarem cuidados informais,

sendo os cuidados de longa duração a opção mais

viável. É neste contexto, que as Instituições de Economia

Social, pela sua rede de proximidade, pela sua flexibilidade

e pelo prestígio que assumem junto das comunidades,

se apresentam como necessárias num quadro de cooperação

e de complementaridade com o Estado. Valoriza-

-se, assim, um modelo de prestação de cuidados e de gestão

personalizada das necessidades globais do utente e das

respetivas famílias, designadamente as de maior vulnerabilidade,

cuja complexidade de cuidados e de acompanhamento

determina uma exigência de permanente adapta-

Tiago Nascimento

Enfermeiro Coordenador na Unidade de Saúde Santa Casa Dr.

José Domingos Barreiro - Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

ção às novas necessidades e desafios. Garantidos estes

pressupostos, o setor social pode efetivamente ser um

grande contributo para o apoio ao doente, dando resposta

a uma necessidade comunitária cada vez mais premente.

O facto de hoje termos um Serviço Nacional de Saúde

tendencialmente hospitalocêntrico cria um hiato que

deixa o doente sem um apoio intermédio consolidado

que consiga resolver simultaneamente a sua situação clínica

e social. Da mesma forma, não deve também ser de

vocação hospitalar a resolução de situações crónicas e de

cariz mais abrangente, reiterando mais uma vez o emergir

das organizações do terceiro setor, sem fins lucrativos,

mas com uma missão estratégica claramente vocacionada

para a transição segura entre os vários níveis de cuidados.

Este maior acompanhamento representa, também, maiores

desafios para utentes e profissionais, na medida em

que progressivamente potencia o nível de literacia do cidadão

e, logo, uma maior responsabilidade na perspetiva

da gestão da sua saúde, bem como na participação social

inerente. Desta forma, o setor social deve aqui também

complementar a capacitação de utentes e cuidadores,

formando-os e informando-os acerca dos seus direitos,

deveres e perspetivas de gestão do seu percurso de vida.

O empowerment será, assim, uma ferramenta para promover

a modificação positiva dos determinantes em

saúde, ou seja, um cidadão mais informado e capacitado

para a melhor tomada de decisão relativamente ao seu

projeto de saúde, será uma mais-valia futura e, por extensão,

influenciará positivamente a sua comunidade, no

exercício de uma cidadania participativa.

Assim, o setor social e a saúde devem complementar-se,

de forma articulada e integrada, assumindo uma abordagem

holística, mais personalizada e humanizada. Acima

de tudo, o setor social, conhecendo a realidade do utente,

deve ter uma atitude mais pedagógica e interventiva,

propondo consequentemente estratégias adequadas à

sua condição, mobilizando recursos, envolvendo-o, juntamente

com a sua família e a sua comunidade.

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), desde

há mais de cinco séculos, tem procurado manter o seu

desiderato de acompanhar e apoiar a população mais vulnerável

da cidade de Lisboa, tratando essencialmente de

um cluster cuja situação socioeconómica é desfavorecida,

os níveis de literacia são baixos e as necessidades em saúde

são maiores. Esta ação assenta numa perspetiva altruísta

e solidária, valorizando a proximidade na ação e tentando,

sempre que possível, encontrar as melhores soluções

para que mais pessoas tenham o apoio que precisam.

Tendo em conta que a saúde é, efetivamente, uma área

transversal a todos os aspetos de vida das pessoas e que

a instituição privilegia manter um conjunto de respostas

integradas que abrangem várias vertentes, desde a área

social, à da saúde, à da formação, ao do acolhimento

institucional e residencial, pode afirmar-se que a Santa

Casa da Misericórdia de Lisboa agrega um universo de

possibilidades face a uma globalidade de necessidades do

indivíduo, da família e da comunidade.

Este acompanhamento ainda hoje visa, essencialmente,

promover o envolvimento e a participação ativa dos

utentes na gestão da sua saúde, de forma a capacitá-los

para a autodeterminação nas melhores decisões nesta

área, para que possam melhorar as suas condições de

vida, de acordo com o seu nível cultural, a realidade envolvente

e a sua natureza.

O setor social e a saúde complementam-se, assim, durante

todo o ciclo de vida, tendo uma perspetiva claramente

mais vocacionada para a promoção da saúde, mas

também tem uma efetiva intervenção na prevenção de

complicações. Esta prevenção de complicações assenta

no acompanhamento da gestão da doença crónica que

pode e deve ser monitorizada em contexto comunitário,

permitindo a redução de acessos ao serviço de urgência,

internamentos e/ou reinternamentos por causas claramente

evitáveis.

Importa também reforçar que estas dimensões de promoção

e prevenção se revestem de especial importância,

quando falamos de saúde mental, ou seja, o bem-estar

físico é indissociável do bem-estar mental.

Este tem sido um dos desígnios da nossa instituição, garantindo

um trabalho multidisciplinar, pioneiro, próximo e

contínuo, para que doença seja vivida com saúde, e para

que o envelhecimento seja verdadeiramente ativo.

É, assim, nossa obrigação garantir os recursos essenciais

para que o cidadão consiga tomar uma decisão informada

sobre a sua saúde e que estes recursos sejam o mais

céleres possível, garantindo uma compliance do cidadão

face à gestão da sua saúde, evitando o esquecimento,

ou o desencantamento com aquilo que poderia ser uma

garantia de maior qualidade e de maior conforto para

o seu dia-a-dia. Este trabalho em articulação, envolvendo

os vários recursos organizacionais, não se esgota no

mero apoio clínico ou social, envolve também apoio comunitário

e integração nas estruturas de apoio à comunidade,

ou seja, uma vida mais ativa é também conseguida

trabalhando para um sentimento de gratificação e reconhecimento

social.

A SCML, enquanto entidade do terceiro setor, tem assim

ainda uma função mais abrangente, que passa também

por agregar os esforços e criar sinergias entre os

vários setores que contribuem para um Serviço Nacional

de Saúde mais eficaz, eficiente e sustentável. Esta agregação

passa por aliar os esforços da saúde e do setor

social, mas também das autarquias e da academia. Considerando

as organizações como entidades aprendentes,

estas parcerias permitem-nos estar um passo à frente

na rentabilização de recursos, na investigação, no pensamento

e planeamento estratégico que permita, em

primeira e última instância, a melhoria da qualidade dos

cuidados que prestamos e a melhoria da qualidade de

vida de quem cuidamos.

Devem os utentes fazer parte desta intersetorialidade para

dar resposta à questão fulcral: o que precisa o cidadão?

Como podemos garantir a resposta às suas necessidades?

Só com o seu envolvimento teremos garantia de

transparência e de reconhecimento pelo papel de cada

instituição, seja ela social ou de saúde.

A pandemia veio reforçar a mais-valia da necessidade de

uma aproximação contante na gestão dos contextos, para

garantir fatores essenciais como o acesso, a equidade

e a segurança dos utentes, bem como uma gestão eficaz

dos recursos.

A governação clínica na SCML assentará no futuro numa

valorização das políticas sociais associadas à longevidade,

sustentadas em processos de melhoria contínua da

qualidade e gestão do risco, seja por via de intervenções

de saúde ou intervenções sociais, investindo, ainda, numa

efetiva gestão do conhecimento, como paradigma da

instituição e garantia de inovação e de competitividade.

Temos consciência que para mantermos a nossa vitalidade

temos de inovar, e tem sido esse o nosso apanágio ao

longo dos séculos: encontrar novas soluções e melhorar

aquelas que existem. Fomos pioneiros no momento da

nossa criação e mantemos esse pioneirismo ao longo dos

séculos, antecipando, planeando e disponibilizando as respostas

mais adequadas no máximo interesse das pessoas

mais frágeis e vulneráveis, sendo estes os valores que dão

expressão à nossa singularidade e que materializam a nossa

missão. Ã

16 17



GH ESTUDO APAH

O QUE PENSAM E SENTEM OS

PORTUGUESES SOBRE O ESTADO

ATUAL DA SAÚDE EM PORTUGAL

António Gomes

Managing Director GfK Metris

No âmbito do projeto Saúde em Dia, promovido

pela APAH em parceria com a

Ordem dos Médicos e com a Roche, pretendeu-se

auscultar vários stakeholders sobre

o estado da Saúde em Portugal, bem

como o impacto que a pandemia Covid-19 teve no Serviço

de Saúde e na qualidade dos cuidados de saúde prestados

aos portugueses. Assim, foram entrevistados médicos,

administradores hospitalares e associações de doentes,

sendo consenso generalizado que o SNS carece de

investimento em meios e em profissionais.

Chegados às entrevistas à população, em vez de colocar

o enfoque nos problemas atuais do SNS, optou-se por

dirigir a reflexão para o relacionamento que os portugueses

têm com as instituições de saúde, e perceber aquilo

que desejam da Saúde em geral, e do SNS em particular,

não fazendo tabula rasa do impacto da pandemia na Saúde,

mas aproveitando as necessidades criadas ou agudizadas

pala emergência pandémica para modelar o futuro do

acesso aos cuidados de saúde a um modelo que melhor

sirva os seus utentes.

A situação atual

O ponto de partida não é negativo: 56% dos portugueses

avaliam positivamente o Serviço Nacional de Saúde,

e a quase totalidade dos restantes sente uma certa indiferença

face ao mesmo (“nem bom nem mau”). Mas, não

sendo negativo, também é percetível uma certa falta de

Avaliação

do SNS

Ns/ Nr

Muito mau

(0+1)

Mau

(2+3)

Avaliação SNS

entusiasmo da população face ao SNS. Analisando com

maior detalhe as razões deste relativo descontentamento,

percebe-se que as críticas tem a ver, não com uma suposta

falta de qualidade dos seus Profissionais de Saúde

ou dos cuidados prestados, mas mais com as dificuldades

sentidas pelos utentes no acesso aos serviços. Estas carências

ficam em evidência no exercício de comparação

entre público e privado: embora os hospitais privados fiquem

à frente em toda a linha, é no atributo da competência/conhecimento

dos Profissionais de Saúde que a diferença

é menor. Por oposição, a diferença é maior quando

se considera o “tempo de espera para marcação de

consultas e/ou exames”.

Assim, quando se pergunta pelos principais problemas do

SNS, as respostas tendem a agrupar-se em duas grandes

áreas, não totalmente independentes entre si: por um lado,

a falta de Profissionais de Saúde, cuja solução passa invariavelmente

pela contratação de mais médicos e enfermeiros,

e, por outro, o funcionamento administrativo, isto

é, a perceção de que o relacionamento com as instituições

é difícil e, especialmente, moroso, pelo que medidas

que contribuam para agilizar o acesso aos cuidados de

saúde são universalmente bem recebidas. Naturalmente,

a contratação de novos Profissionais de Saúde será uma

medida que terá um efeito positivo também nesta área,

mas os portugueses consideram que seria importante

complementar este investimento com intervenções ao nível

organizativo e administrativo, que simplifiquem e melhorem

o acesso aos cuidados de saúde. Outra solução

que merece grande recetividade é a criação de parcerias

entre o SNS e os privados, como forma de encurtar as listas

de espera para o acesso a atos médicos.

Reinventar a roda?

Olhando então para o futuro, o que fazer? Carece o SNS

de uma reinvenção que o transfigure face ao modelo

atual? Os portugueses não parecem convencidos que tal

seja necessário. Desde logo, quando se lhes pede que

Nem bom nem mau

(4+5+6)

Bom

(7+8)

Muito bom

(9+10)

1% 2,5% 4,7% 35,6% 41,8% 14,3%

Principais problemas do SNS

Falta de médicos/ Profissionais de Saúde 37,3% 1

Tempo de espera para marcação de atos 27,5% 3

médicos

Tempos de espera (em geral) 9,6% 2

Dificuldade no acesso a exames/consultas 6,6% 12

da especialidade

Tempo de espera no atendimento 6,3% 4

Mau atendimento/ Pessoal administrativo 5,4% 5

Má organização 3,8% 6

Mau acesso não-presencial (telefone, 3,8% 11

SMS, email)

Qualidade dos médicos/ Qualidade 3,2% 7

dos cuidados médicos prestados

Falta de médico de família 3% 9

Instalações/Equipamento pouco moderno 2,9% 8

Falta de investimento 2,1% 13

Só se preocupam com o Covid-19 1,8% 10

Nenhum problema/Tudo bem 4,9% 15

Outras respostas 2% 98

Ns/Nr 3,9% 99

Amostra 8251

apresentem ideias para o futuro, poucos são aqueles que

apresentam sugestões revolucionárias ou com forte pendor

tecnológico. Poder-se-á argumentar que não cabe à

população em geral pensar a fundo o funcionamento da

Saúde em Portugal e, muito menos, apresentar soluções

para o mesmo, mas mesmo quando lhes são sugeridos

possíveis caminhos para investimento, as soluções mais

populares tendem a colocar o enfoque mais nas pessoas

e nos procedimentos que já existem, do que em tecnologias

futuristas ou modelos disruptivos.

Começando pelo modelo geral de acesso aos cuidados

de saúde: Os portugueses tendem a ser favoráveis a um

modelo de acesso a cuidados médicos no qual, num primeiro

momento, se dirigem ao seu Médico de Família

que, posteriormente e em caso de necessidade, os reencaminha

para outros cuidados de saúde (especialidades,

hospital, exames, etc.). Ou seja, os portugueses não veem

necessidade em que se revolucione o modelo, mas

insistem que é preciso melhorá-lo. Desde logo, porque

quase 1 milhão de portugueses não tem Médico de Família,

a maioria porque não lhes foi atribuído (ou nunca tiveram,

ou o que tinham reformou-se/mudou-se e nunca

foi substituído), e só muito poucos por opção. E, de resto,

porque como no caso do SNS em geral, o acesso é difícil

e demorado, sendo preciso encontrar estratégias para

agilizar as marcações.

Alargando o âmbito para a Saúde em geral, além da contratação

de mais profissionais de saúde e da diminuição

dos tempos de espera no acesso a cuidados de saúde, os

portugueses também apontam como prioridade que se

facilitem o acesso a consultas de especialidade, a exames

complementares de diagnóstico e a rastreios ou medidas

de sensibilização. Apoios sociais a doentes desfavorecidos

são também referidos, bem como um maior apoio na

área da saúde mental.

De onde vem o dinheiro?

Quase 6 milhões dos portugueses consideram que o valor

atribuído à Saúde no Orçamento de Estado é insuficiente.

No entanto, quase metade destes não consegue

apresentar sugestões de áreas às quais deveria ser retirado

financiamento a encaminhar para a Saúde. Entre os

restantes, as sugestões recaem frequentemente naquilo

que poderemos chamar de “aparelho do Estado”.

Outro caminho seria o de aumentar os custos para o

utente. Esta solução é, no geral, menos popular, com a

maioria dos portugueses a rejeitar a opção de pagar mais

por um SNS melhor. Ainda assim, uma minoria (com alguma

expressão) afirma-se disponível para aderir a soluções

deste género: 19% dos portugueses não se opõem a

um aumento das taxas moderadoras, e 1 em cada 3 não

se importaria de descontar mais 5,00€ por mês se tivessem

a garantia de que esse dinheiro seria canalizado para

a Saúde (esta percentagem baixa para os 23% se a contribuição

fosse de 10,00€, e para 19% se fosse 20,00€).

Em resumo, um aumento do financiamento da área da

Saúde é uma medida que os portugueses veem como

positiva e até necessária, mesmo que tenham uma ideia

pouco clara sobre a possível origem dessas verbas adicionais.

Este dinheiro deve ser aplicado naquilo que os portugueses

entendem ser as maiores carências atuais do SNS,

ou seja, na contratação de mais Profissionais de Saúde e

na redução dos tempos de espera. Num segundo plano

de importância, os portugueses entendem que se deve facilitar

o acesso a consultas da especialidade, a meios complementares

de diagnóstico e insistir na medicina de prevenção

(com rastreios e ações de sensibilização). Ã

Ficha Metodológica

O universo é constituído por indivíduos com 18 ou mais anos, residentes

em Portugal Continental. A recolha foi realizada através de inquérito

presencial, utilizando o sistema CAPI (Computer Assisted Personal Interviewing),

com os respondentes a serem entrevistados na privacidade do

seu lar por entrevistadores recrutados e treinados pela GfK Metris. Foram

realizadas 1000 entrevistas. Os respondentes foram selecionados aleatoriamente

a partir de uma matriz que cruza quotas de sexo, idade, região

e habitat, garantindo proporcionalidade face à população. Os resultados

foram posteriormente ponderados o total da população (8.251.000).

As entrevistas foram realizadas entre os dias 20 de setembro a 6 de outubro

de 2021.

18 19



GH SAÚDE EM DIA

O ACESSO DOS PORTUGUESES

AOS CUIDADOS DE SAÚDE:

IMPACTO DA PANDEMIA

E RESPOSTA DO SNS

Figura 1: Consultas Médicas nos Cuidados de Saúde Primários

Diogo Marques

Consultor Moai

Oprimeiro caso confirmado de Covid-19

em Portugal registou-se a 2 de março

de 2020. Dias mais tarde, e à semelhança

da maior parte dos países europeus,

adotou-se, em Portugal, um conjunto

de medidas com o objetivo de reduzir a propagação da

infeção e de se preparar o sistema de saúde para uma

possível maior necessidade de cuidados.

Estas medidas procuraram, sobretudo, direcionar a prestação

de cuidados de saúde para a resposta emergente

aos doentes Covid-19 com a alocação de um elevado

número de profissionais de saúde à prevenção da infeção,

testagem, tratamento e seguimento dos doentes

com Covid-19.

Mais tarde, quando era já evidente o impacto da pandemia

na atividade do Serviço Nacional de Saúde (SNS), e

Portugal está já na fase descendente da primeira onda

de casos, é emitido um novo despacho do Gabinete da

Ministra da Saúde com o objetivo de assegurar a identificação

e reagendamento da atividade assistencial programada

não realizada devido à Covid-19. Mesmo com

a retoma gradual da atividade programada por parte das

instituições de saúde, os portugueses pareciam evidenciar

alguma falta de confiança nos cuidados de saúde por

risco de contaminação, pelo que a retoma se fez a uma

velocidade inferior à prevista.

Neste sentido, e com o objetivo de alertar para a importância

de não descurar as outras doenças no contexto

da pandemia de Covid-19, é lançado, em setembro de

2020, o movimento Saúde em Dia. Esta foi uma iniciativa

da Ordem dos Médicos e da Associação Portuguesa de

Administradores Hospitalares com o apoio da Roche.

No âmbito deste movimento, a MOAI Consulting foi

desafiada a compreender o impacto da pandemia na

resposta do SNS, através da análise do acesso dos portugueses

aos cuidados de saúde. Desde então, e com

um carácter regular, a MOAI tem vindo a analisar os dados

do Portal da Transparência do SNS em diferentes

áreas de prestação como os cuidados de saúde primários,

cuidados hospitalares, cuidados continuados, saúde

mental, adições e dependências, emergência médica,

acesso ao medicamento, rastreios oncológicos e resultados

em saúde.

Com o início do novo ano, começam a ficar disponíveis

para consulta os dados relativos a 2021. Quase dois anos

depois do início da pandemia, e depois de avanços e recuos

na retoma da atividade assistencial programada

motivada pelas sucessivas ondas de casos, estes dados

permitem-nos compreender de que forma a atividade

do SNS foi moldada por esta situação.

Os dados que aqui se apresentam foram extraídos do

Portal da Transparência do SNS a 03 de janeiro deste

ano e abrangem a atividade dos Cuidados de Saúde Primários,

Cuidados Hospitalares, Meios Complementares

de Diagnóstico e Terapêutica e dos Rastreios Oncológicos

nos Cuidados de Saúde Primários. Em todos os

indicadores foram utilizados os últimos dados disponíveis

(Cuidados de Saúde Primários - outubro de 2021; Cuidados

Hospitalares - novembro de 2021; MCDTs - setembro

de 2021; Rastreios Oncológicos - outubro de

Figura 2: Utentes Inscritos em Cuidados de Saúde Primários sem médico de família atribuído

2021). De forma a facilitar a comparação anual, procedeu-se

a uma estimativa da atividade realizada nos meses

em falta, através do crescimento médio entre os valores

observados de 2019 e 2020, ponderado ao volume destes

mesmos anos.

Cuidados de Saúde Primários

Nos Cuidados de Saúde Primários analisaram-se consultas

e contactos não presenciais médicos e contactos

de enfermagem presenciais e não presenciais. Relativamente

às consultas médicas presenciais, observa-se que

o valor estimado para 2021 é superior ao ano de 2020.

No entanto, apesar deste aumento, estima-se que o

número de consultas médicas presenciais realizadas em

2021 seja inferior em 30% ao realizado em 2019. Para tal

contribui o elevado número de contactos médicos não

presenciais - que mais do que duplicaram comparativamente

com 2019 - motivados pelo acompanhamento }

20 21



GH SAÚDE EM DIA

Figura 3: Contactos de Enfermagem nos Cuidados de Saúde Primários

Figura 4: Consultas Médicas Hospitalares

dos doentes com Covid-19. As consultas médicas ao

domicílio apresentam uma redução de 22% face a 2019.

Estes dados podem ser visualizados na Figura 1.

No total dos dois últimos anos, deixaram de ser realizadas

mais de 14,5 milhões de consultas médicas nos

Cuidados de Saúde Primários. Para além da maior dedicação

dos médicos de Medicina Geral e Familiar ao

acompanhamento dos doentes infetados com o SARS-

CoV-2, a diminuição do número de médicos de família

- demonstrada pelo número de utentes sem médico de

família atribuído - pode também ajudar a explicar esta

diminuição de atividade.

Os últimos dados disponíveis demonstram que em dezembro

de 2021 existiam 1,14 milhões de portugueses

sem médico de família atribuído (Figura 2).

É preciso retornar ao ano de 2016 para encontrar valores

tão elevados de doentes sem médico de família atribuído.

Relativamente aos cuidados de enfermagem, estima-se

que os contactos presenciais cresçam cerca de 30% face

a 2019. Esta situação é motivada pelo esforço inerente à

vacinação dos portugueses contra a Covid-19.

Os contactos não presenciais, depois do crescimento

substancial em 2020 motivados pela pandemia, voltam

agora a valores mais conservadores, registando um aumento

de 4% face a 2019 (Figura 3).

Cuidados Hospitalares

De forma a compreender o impacto na atividade dos

Hospitais e Centros Hospitalares do SNS, analisaram-se

os dados relativos às consultas médicas, cirurgias e episódios

de urgência.

Depois do decréscimo sentido em 2020, estima-se que

o número de consultas hospitalares atinja novamente os

valores de 2019 tanto nas primeiras consultas como nas

consultas subsequentes. Apesar dos esforços de recuperação

da atividade assistencial não realizada, ficaram por

realizar neste período mais de seiscentas mil primeiras

consultas e seiscentas mil consultas subsequentes (Figura

4). Esta situação é motivada pela redução acentuada nas

consultas nos primeiros 6 meses de 2020.

À semelhança do que acontece com as consultas médicas,

verifica-se, também, nas cirurgias programadas um

acréscimo substancial da atividade face a 2020 e um aumento

de 2% face a 2019 (Figura 5). Este crescimento

da atividade cirúrgica é fortemente motivado por maior

recurso a intervenções em ambulatório.

Este esforço de recuperação das listas de espera, ainda

que notório, poderá ser insuficiente para as reais necessidades

da população portuguesa, uma vez que desde

2020 se tem verificado uma diminuição no número de

inscrições em SIGIC (Sistema Integrado de Gestão de

Inscritos para Cirurgia). Esta diminuição, motivada pela

menor referenciação proveniente dos Cuidados de Saúde

Primários - derivada da menor realização de consultas

presenciais - e pela diminuição do número de primeiras

consultas ao nível hospitalar poderá esconder um agravamento

de condições existentes, que poderão começar

a ser visíveis num futuro próximo.

Em relação às cirurgias urgentes, o número de cirurgias

realizadas em 2021 aproxima-se daquele realizado em

2019, evidenciando uma maior retoma à normalidade.

Se ao longo dos primeiros meses de pandemia, a diminuição

do número de episódios de urgência funcionou

como um balão de oxigénio nas unidades hospitalares,

permitindo a dedicação dos profissionais ao tratamento

de doentes com Covid-19, desde março de 2021 o

número de episódios de urgência tem aumentado consecutivamente,

estando os valores muito próximos dos

níveis de 2019. Na Figura 6 é possível visualizar a queda

em março de 2020 e que se prolongou até fevereiro de

2021 e a aproximação consecutiva aos valores de 2019.

Embora a redução das urgências em mais de 3 milhões

de episódios possa ser encarada, à primeira vista, como

algo positivo - devido ao menor fluxo de doentes não

urgentes às unidades de saúde -, a verdade é que este

valor esconde 1,5 milhões de episódios urgentes (de acor-

do com as cores vermelha, laranja e amarela da Triagem

de Manchester) não realizados em 2020 e 2021 comparativamente

com 2019 (Figura 7).

Contabilizando consultas hospitalares, cirurgias programadas

e episódios de urgência graves, mais de 2,9 milhões

de contactos entre os portugueses e os serviços de

saúde não foram realizados nos últimos dois anos.

Meios Complementares de Diagnóstico

e Terapêutica

Os Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica

(MCDTs) desempenham um papel fundamental na

atividade clínica. De forma a compreender o impacto

da pandemia na sua realização, analisaram-se os exames

efetuados no setor convencionado por área de intervenção.

Na Figura 8 é possível visualizar os dados relativos a

2019, 2020 e 2021, bem como a sua variação absoluta e

relativa face a 2019.

Em 2020 observa-se uma redução de 25% nos exames

realizados, o que corresponde a mais de 25 milhões de

atos não prestados. As Análises Clínicas, a Medicina Física

e de Reabilitação e a Radiologia representam mais de

90% desta redução. Apesar de em 2021 se ter invertido

esta situação na maior parte das áreas clínicas - com um

aumento da atividade geral em 4% face a 2019 - ficam }

22 23



GH SAÚDE EM DIA

Figura 7: Atendimentos em Urgência Hospitalar por Triagem de Manchester

Figura 5: Intervenções Cirúrgicas nos Cuidados de Saúde Hospitalares

Figura 8: Exames Convencionados por Área MCDT

Figura 6: Atendimentos em Urgência Hospitalar por Triagem de Manchester

por realizar mais de 21 milhões de atos nos últimos dois

anos. Esta situação é visivelmente preocupante ao nível

da Medicina Física e Reabilitação dado que muitos dos

atos não realizados podem constituir oportunidades

perdidas na recuperação das pessoas com doença aguda

e crónica. Também as endoscopias são particularmente

graves, por serem exames fundamentais na deteção de

algumas patologias oncológicas. O atraso ou a não realização

destes exames poderá culminar num diagnóstico

mais tardio, e consequentemente com pior prognóstico,

de cancros situados no tubo digestivo.

Rastreios Oncológicos nos Cuidados

de Saúde Primários

Os Programas de Rastreio Oncológico têm como missão

intensificar a capacidade de deteção e identificação

precoce de pessoas com cancro do colo do útero, cancro

cólon retal e cancro da mama.

Relativamente ao cancro do colo do útero e da colpocitologia,

tão importante para o seu rastreio, estima-se que

mais de 180 mil mulheres entre 2019 e 2021 tenham

deixado de ter o seu exame atualizado. Em relação ao

cancro da mama, verifica-se que mais de 130 mil mulheres

deixaram de ter a sua mamografia realizada nos

últimos dois anos. Por fim, a estimativa de utentes sem

rastreio do cancro do cólon e reto efetuado no final de

2021 comparativamente com 2019 ascende os 78 mil.

À semelhança do referido para alguns MCDTs, a não

realização de rastreios leva a uma menor deteção precoce

destes tipos de cancro. Esta diminuição será provavelmente

visível num futuro próximo, resultando em

diagnósticos de cancros em estádios mais avançados e

com um impacto mais elevado quer no sistema de saúde

(uma maior necessidade de cuidados assistenciais a

um maior custo) quer nos próprios doentes (devido ao

pior prognóstico).

Os últimos dois anos têm provocado uma elevada pressão

sobre os serviços de saúde e sobre os seus profissionais.

Apesar da enorme dedicação dos profissionais,

os recursos não são ilimitados, pelo que uma maior dedicação

ao tratamento e acompanhamento dos doentes

com Covid-19 dificilmente pode ser acompanhada pelo

mesmo nível de atividade de prestação de cuidados verificados

em 2019.

Os dados aqui apresentados - e que são de domínio

público - refletem o impacto da pandemia na resposta

do SNS, medidos, fundamentalmente, pela dimensão do

acesso. Dada a sua importância, temos vindo a analisar e

publicar estes dados de forma regular e iremos continuar

a fazê-lo ao longo de 2022.

Para o futuro fica o desafio de compreender de que

forma é que a diminuição do acesso dos portugueses

às unidades de saúde e a exames de diagnóstico afetou

os níveis de saúde da população e de que forma os podemos

recuperar. Complementar esta informação com

informação do RON (Registo Oncológico Nacional) poderá

ajudar a entender de que forma é que um menor

acesso a este tipo de cuidados se materializa em resultados

em Saúde - e se esta pandemia veio deitar por terra

a tendência positiva na deteção, tratamento e acompanhamento

dos doentes oncológicos em Portugal. Ã

24 25



GH Iniciativa APAH | survey saúde

QUE PRIORIDADES PARA A SAÚDE

EM PORTUGAL?

Paulo Luís Silva

Health Sciences and Wellness Leader

Todos os momentos são bons para se refletir

e debater sobre quais devem ser as

prioridades de política pública em matéria

de Saúde. Após dois anos de pandemia,

em que todo o sistema de saúde, com destaque

para o Serviço Nacional de Saúde, esteve sob uma

pressão nunca antes vista, este debate tornou-se mais

premente. E quando nos aproximamos de um momento

eleitoral em que os candidatos a futuros governantes

apresentam as suas linhas de ação para os próximos

anos, é essencial que o debate se alargue e que seja dada

voz a quem trabalha no sistema público de saúde, ou seja,

quem sente de perto as dificuldades e tem presente

as oportunidades de melhoria.

Foi com o objetivo de promover este debate e de ouvir

os agentes do setor da saúde que a EY e a APAH promoveram

a realização de um survey com o título em epígrafe,

cujos principais resultados apresentamos neste artigo.

O questionário foi divulgado pela EY e pela APAH,

tanto de forma direta às suas bases de contactos como

através das redes sociais. O público alvo eram agentes do

sector, incluindo administradores hospitalares, profissionais

de saúde e associações representantes dos utentes,

tendo sido obtidas 141 respostas. Os respondentes da

área da administração hospitalar, das carreiras médica e

de enfermagem representaram 76% da amostra, que incluiu

também 11 associações de utentes. Mais de 80%

dos respondentes tinham 11 ou mais anos de experiência

no sector e a amostra assegurou uma cobertura alargada

do território nacional.

Globalmente, observa-se existir um consenso alargado

quanto aos temas que os respondentes gostariam de ver

nos programas eleitorais em matéria de Saúde. Detalhamos

de seguida as principais conclusões em cada um

destes pontos.

Talento

Em praticamente todas as economias avançadas e em

todos os sectores assiste-se atualmente ao que já se designou

por “guerra pelo talento”, com uma competição

feroz pelos recursos mais qualificados e uma crescente

preocupação com o equilíbrio entre a vida profissional e

pessoal. Como seria de esperar, num sector com uma

pressão física e psicológica muito elevada durante já dois

anos, esta é uma preocupação central para quem trabalha

em saúde. Assim, 66% dos respondentes consideram

essencial que os programas eleitorais apresentem as

medidas a tomar no sentido de reter e desenvolver os

profissionais do SNS.

Este tema é concretizado noutra questão, em que são

identificados três mecanismos considerados essenciais

por cerca de 70% da amostra: é importante rever os modelos

de compensação e benefícios dos profissionais do

SNS; é importante redefinir o papel de médicos e enfermeiros,

revisitando modelos de carreira, formação e retenção;

é importante criar mecanismos que deem maior

autonomia às unidades de saúde na contratação dos recursos

de que necessitam para cumprir a sua missão.

É de salientar que estas prioridades mais estratégicas se

sobrepuseram às opções de resposta que propunham

majoração do tempo de serviço ou a atribuição de subsídios

de risco durante a fase da pandemia. A mensagem

é clara: quem está no SNS prefere ver nos programas

eleitorais sinais claros de mudança estrutural do que vantagens

de curto prazo que não contribuem para resolver

os problemas de fundo.

Governação

Para 65% da amostra, os partidos políticos deviam apresentar

a sua visão em matéria de modelo organizativo

que defendem para o SNS, incluindo a definição do pa- }

26 27



GH Iniciativa APAH | survey saúde

pel das ARS. Praticamente a mesma importância é dada

ao modelo de integração da rede de cuidados de saúde,

selecionado como uma de três prioridades por 61% da

amostra, e para a definição do papel e prioridades de desenvolvimento

do SNS, escolhido por 59% da amostra.

Este ponto cobre aspetos centrais da organização da rede

global de cuidados de saúde, incluindo a articulação

entre cuidados primários, especializados e continuados.

Inclui também a clarificação do grau de descentralização

que se pretende em Saúde e da forma como serão alocadas

responsabilidades de gestão. Finalmente, envolve a

definição de prioridades em matéria de investimento, da

integração da oferta de cuidados e de inovação organizacional

e tecnológica.

Financiamento do SNS

Para 99% da amostra, o modelo de financiamento do

SNS deve constar dos programas eleitorais. De entre as

respostas possíveis, as duas mais escolhidas (por 30% e

29% da amostra, respetivamente) foram a que incluía a

referência à reforma do SNS, nomeadamente a melhoria

da articulação entre cuidados primários e secundários, e

a que propunha a ligação entre financiamento e resultados.

É de realçar a importância que a amostra atribui à

evolução de uma visão tradicional em que o financiamento

está associado à produção para uma perspetiva mais

próxima do utente, com um modelo de financiamento

baseado no valor que é gerado (Value-Based Healthcare),

medido em resultados para a saúde dos utentes.

Como segundas prioridades foram identificadas a necessidade

de uma ótica plurianual para os investimentos

em saúde e de uma definição clara do âmbito de

atuação do SNS, opções escolhidas por 16% e 14% da

amostra, respetivamente.

Estas escolhas mostram alinhamento com o ponto anterior

e parecem refletir uma postura dos agentes do

sector da saúde que pretende clareza quanto ao papel,

modelo de organização e grau de articulação do SNS,

dos quais possa resultar um modelo de financiamento

plurianual, desenhado em torno de prioridades estratégicas

e que inclua medidas claras em matéria de carreiras e

compensação dos profissionais de saúde.

Investimento

O questionário pedia aos participantes para identificarem,

numa escala de zero a cinco, o grau de importância

que atribuem a que os programas eleitorais identifiquem

medidas específicas sobre um conjunto de possíveis pri-

-oridades de investimento. Os resultados foram avaliados

com base na média das respostas.

As opções menos pontuadas foram o investimento em

pessoal auxiliar e em equipamentos ou meios complementares

de diagnóstico. Ainda assim, com uma pontuação

de 3,6, estas áreas são claramente vistas como

necessitando de investimento.

A principal prioridade foi atribuída aos investimentos em

pessoal médico e de enfermagem, com uma pontuação

de 4,05 e 4,04 (num máximo de cinco). Seguiram-se os

investimentos no alargamento e remodelação da rede

de cuidados de saúde e em tecnologia e sistemas de

informação, ambas pontuadas com 3,91.

Jornada do Utente

O estudo também mostrou uma grande motivação dos

inquiridos para conhecerem as propostas dos partidos

no que respeita a medidas com impacto na experiência

dos utentes. Para 79% da amostra é importante perceber

como se pretende criar uma experiência do utente

mais simples e intuitiva, com comunicação efetiva entre

utentes, profissionais de saúde e instituições de saúde.

Já para 67% da amostra é importante conhecer de que

forma pensam os partidos reduzir os tempos de espera

para consultas, cirurgias e exames, nomeadamente através

de articulação com a rede privada e social de cuidados

de saúde.

O corpo do estudo também dá voz a respostas abertas,

em que os participantes tiveram a oportunidade de partilhar

as suas perspetivas sobre as prioridades em matéria

de saúde, tendo sido abordadas questões como a necessidade

de se trabalhar a literacia em saúde, a autonomia

das administrações hospitalares, o modelo de nomeação

para cargos de liderança no SNS, a articulação com os

sectores social e privado, a exclusividade, o SIADAP ou

a importância da prevenção da doença.

Globalmente, os resultados apresentam de forma clara

as prioridades de quem conhece de forma muito próxima

a realidade do sector da saúde em Portugal, que são

pistas importantes para informar os próximos decisores

em matéria de política pública de saúde.

Para a EY e para a APAH, este estudo é um contributo

para ajudar a estruturar a discussão e para se ganhar

um melhor entendimento do que é importante para os

agentes do sector da saúde, incluindo administradores

hospitalares, profissionais de saúde e associações representantes

dos utentes. O passo seguinte cabe aos partidos

políticos, que devem ser claros quanto aos seus projetos

e à forma como querem dar resposta aos temas

levantados e às necessidades dos utentes. Depois disso,

cabe a todos avaliar qual a melhor visão para o futuro da

saúde em Portugal e, em consciência, votar. Ã

28 29



GH LEGISLATIVAS 2022

ANÁLISE DE PROGRAMAS ELEITORAIS

ÀS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS

A APES - Associação Portuguesa de Economia da Saúde realizou uma análise aos programas

eleitorais dos nove partidos com assento parlamentar, na qual procurou apurar as propostas relativas

ao Sistema de Saúde. Nas seguintes infografias, apresenta-se uma síntese das conclusões da análise.

* Partidos colocados por ordem de representatividade no Parlamento

30 31



GH LEGISLATIVAS 2022

32 33



GH LEGISLATIVAS 2022

Daniel G., Espanha

ABORDAR AS NECESSIDADES DE

INDIVIDUOS COM DOENÇA RENAL

CRÓNICA EM TODO O MUNDO

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prevalência até 13%, 1 que aumenta conforme a população envelhece.

A Vifor Pharma está empenhada em levar a inovação a doentes renais de todo

o mundo, disponibilizando a mais ampla variedade de produtos e soluções

nas inúmeras patologias relacionadas com o declínio da função renal.

Para saber mais, consulte viforpharma.com

34

Mais informações em: https://apes.pt/atividades/legislativas

1 Hill NR et al PLOS ONE, DOI:10.1371/journal.pone.0158765

PT-NA-2100002



GH HISTÓRIA APAH

SEGUNDA DÉCADA DA APAH: A RIQUEZA

DO DEBATE NUM CLIMA ADVERSO

EAHM 1999 - Convidados de honra

Carla Pedro

Jornalista

EAHM 1999 - Jantar de Gala

AAPAH inicia a sua segunda década de

existência em outubro de 1991, com

o Dr. Jorge Varanda na presidência

(mandato de 1988-1992), percorrendo-a

até outubro de 2001 - altura em

que era presidida pelo Dr. Manuel Delgado (1992-2008)

- com muitos debates e iniciativas, e com um permanente

contributo para o panorama da Saúde.

No domínio da Saúde, uma das novidades chegou logo

em 1993, quando se deu a aprovação do Estatuto do

SNS, que prevê a existência de Parcerias Público-Privadas

(PPP). A possibilidade de serem assumidas formas

inovadoras de gestão já vinha da Lei de Bases da Saúde

de 1990, que se inspirou num texto da autoria do Professor

Coriolano Ferreira, revisto por Jorge Varanda.

Após a abertura à iniciativa privada, em 1995, inicia-se no

ano seguinte o processo de criação de agências de contratualização

no seio das Administrações Regionais de

Saúde e uma nova etapa no sentido da “quase-empresarializaçãoˮ

dos hospitais do SNS. Nessa mesma altura, a

APAH participava também, de forma ativa, nas propostas

para um novo regime jurídico da gestão hospitalar 1 ,

tendo nos anos seguintes continuado a contribuir - com

audições nas devidas comissões parlamentares - para essas

importantes alterações introduzidas em 2002, que

implicaram, inclusivamente, ajustamentos na Lei de Bases

da Saúde.

Tudo isto se passou numa altura em que a legislação de

1988 2 continuava em vigor. Mas não foi isso que demoveu

os administradores hospitalares de continuarem a

marcar a sua posição, fazendo-se ouvir das mais variadas

formas. Esta segunda década da Associação foi “um período

rico no debate sobre políticas de saúde, com o

novo Estatuto do SNS, o abortado Seguro Alternativo

de Saúde, as primeiras PPP e a criação dos centros de

responsabilidade”, relembra Manuel Delgado, realçando

que “a Revista Gestão Hospitalar acompanhou de perto

esses processos e fez eco, quer em artigos de opinião,

quer nas declarações da direção, das diferentes posições

assumidas pelos administradores hospitalares”.

“No tempo em que fui presidente da Associação, tínhamos

forte oposição até dos Governos, muitas vezes.

Nós sempre nos opusemos, e essa foi uma das minhas

principais batalhas, às nomeações políticas para cargos de

gestão”, frisa Manuel Delgado. Com o tempo, essa “vontade

de pôr pessoas fora da saúde nos hospitais diminuiu”,

diz. “Hoje há mais pudor em fazer isso. E os hospitais,

todos eles ou grande parte deles, passaram a ter

administradores hospitalares no seu seio, na sua composição

dos órgãos de gestão, ou como presidentes ou como

vogais. Tudo isto tem permitido que a questão, que

para nós na altura era trágica e dramática, de abandono

dos administradores hospitalares, tenha ficado um bocadinho

para trás”. E isso deveu-se, realça, ao esforço feito

para colocar os administradores hospitalares “no sítio

onde eles mereciam estar”.

Apesar do contexto difícil, a APAH viveu uma segunda

década com muita intervenção. “Os administradores

hospitalares protagonizaram, ao longo desses dez anos,

um conjunto de iniciativas que marcaram a classe profissional

e que muito contribuíram para o seu reconhecimento

público”, salienta Manuel Delgado.

O Congresso Europeu em Lisboa

Um dos pontos altos foi o Congresso da Associação

Europeia de Gestores Hospitalares (EAHM), em 1999,

então pela segunda vez em Portugal. Depois de um primeiro,

que teve lugar em Espinho - em 1984, três anos

depois da constituição da APAH -, realiza-se em 1999 o

Congresso em Lisboa, na Culturgest.

Manuel Delgado presidia à Associação e conta que este

Congresso de Lisboa teve ocorrências, acontecimentos

e circunstâncias, todos eles favoráveis, para que pudesse

correr bem. “Mas ter como conferencista principal a Engenheira

Maria de Lurdes Pintassilgo, ter como presidente

de honra o Presidente da República, Jorge Sampaio, e

ter como facto político dominante da altura a questão

de Timor, e a autonomia do povo timorense, deu àquele

Congresso uma áurea, uma emoção, uma dimensão política

e social que eu não estava à espera, nem os meus

colegas da direção da Associação da altura estavam à

espera e, curiosamente, também os meus colegas europeus

não estavam à espera”, diz.

“Quando acabou o Congresso, todos os europeus mandaram

mensagens de agradecimento, ‘muito bem, parabéns’.

Quando fui à primeira reunião europeia, eles disseram-me:

‘o próximo presidente vais ser tu’. E eu: ‘porquê?’

- ‘Vocês organizaram isso tão bem lá em Lisboa,

aquilo foi uma coisa nunca vista’. E, portanto, foi um sucesso

enorme. Eu acho que devo muito a esse Congresso

o facto de ter sido depois presidente da Associação

Europeia”, conta Manuel Delgado.

A este propósito, também a Dr.ª Teresa Sustelo, que integrou

pela primeira vez os órgãos sociais da Associação

nos mandatos de 2001/08, como vogal da direção, salienta

que o congresso foi “um marco muito importante”

e aponta a importância do então presidente da APAH

para esse evento. “Foi com Manuel Delgado que nos

inscrevemos na EAHM, em 1994, e começámos a fazer

parte. Se assim não fosse, não teríamos conseguido organizar

o Congresso em Lisboa”.

As viagens de estudo

Outro destaque, nesta década, vai para as visitas de estudo

que a direção da APAH organizou aos sistemas de

saúde dos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido, onde

os administradores hospitalares portugueses foram adquirir

novos conhecimentos. “Na altura, considerámos

que estes três países representavam muito do que de

melhor se fazia em medicina na atualidade daquele tempo

- e ainda hoje. E tinha a curiosidade de representarem

modelos de saúde diferentes”, explica Manuel

Delgado, acrescentando que estas três viagens foram

paradigmáticas “porque constituíram momentos altos

do conhecimento e da aprendizagem dos administradores

hospitalares”.

O Dr. Francisco Guerreiro, que se iniciou como membro

da Assembleia-Geral da APAH no mandato de 1992-97

e que se manteve nos corpos sociais até 2013, dá igualmente

destaque a estas visitas e recorda, como muito

importante, a que se realizou em 2000 ao Canadá: “foi

uma viagem que integrou um seminário sobre Qualidade

e permitiu a visita a cerca de 20 instituições de saúde

canadianas, e na qual tive oportunidade de participar”.

Os ciclos de conferências na Gulbenkian

Manuel Delgado aponta igualmente uma importante

iniciativa conjunta da Fundação Calouste Gulbenkian,

APAH e ENSP: os ciclos anuais de conferências na Gulbenkian

com convidados estrangeiros.

Estes ciclos de encontros, integrados no Fórum Gulbenkian

da Saúde, iniciaram-se em 1997 e prolongaram-se

até 2005, já na terceira década de vida da APAH. O

Dr. José Carlos Lopes Martins - que, depois de integrar

as primeiras direções da APAH, foi seu presidente de

1986 a 1988 - recorda estes eventos como uma grande

realização, “com keynote speakers de elevada reputação

internacional”. “A Gulbenkian dava não só o seu patrocínio,

mas tinha também intervenção e participação efetiva

nesses ciclos de conferências que desenvolvia. Foram }

36 37



GH HISTÓRIA APAH

Homenagem Ex-Presidentes APAH - 20 anos

conferências com uma grande participação e entusiasmo

do Professor Vasco dos Reis neste processo - quer pela

via da ENSP, quer pela via da APAH”, salienta.

Os estágios na Mayo

Sobre as iniciativas em parceria entre a Fundação Calouste

Gulbenkian e a APAH, Manuel Delgado aponta

ainda as bolsas da Gulbenkian, uma ideia que conseguiu

negociar com a Fundação. “Porque era importante naquela

altura - e continua a ser hoje, digo eu - dar aos administradores

hospitalares uma visão mais abrangente do

que é a gestão e do que é a organização dos hospitais.

E nada melhor que podermos frequentar cursos ou estágios

fora do país”, considera. “Nós, no nosso curso de

administração hospitalar, temos estágios em hospitais

públicos portugueses e até em alguns hospitais privados.

Mas, aqui, o essencial da questão era passar as fronteiras

e ir ver o que de melhor se fazia, por exemplo, na clínica

Mayo (nos EUA) - que é uma clínica de referência,

quer do ponto de vista clínico, quer do ponto de vista da

gestão. E, portanto, nós, com a Fundação Calouste Gulbenkian,

organizámos na clínica Mayo um conjunto de

planos de estágio para diplomados em administração

hospitalar pela ENSP”.

Para Jorge Varanda, o ponto mais alto da sua

experiência profissional foi, precisamente,

o estágio realizado em 1997, sob a iniciativa

e patrocínio da Fundação Calouste

Gulbenkian (Professor Rodrigues Gomes),

no Mayo Health System - mais

concretamente, no Luther Midelfort

Hospital and Clinics, no Wisconsin -,

“por tudo o que vivenciei e pela absoluta

novidade que foi o programa

de melhoria contínua da qualidade

Medalha comemorativa 20 anos APAH

Jantar debate 1996 - Hotel Tivoli

do Mayo Health System, baseado na metodologia do

Juran Institute”.

O Prémio Coriolano Ferreira

e outras iniciativas de relevo

Outra iniciativa de relevo é o Prémio Coriolano Ferreira,

instituído em 1996, através de uma parceria entre a

APAH e os Laboratórios Sandoz. Mais tarde, em 2018,

numa iniciativa conjunta da APAH e da ENSP, deu-se o

relançamento deste Prémio - que pretende homenagear

o Professor Coriolano Ferreira e dinamizar a investigação

em Administração Hospitalar, distinguindo anualmente o

melhor aluno do Curso de Especialização em Administração

Hospitalar da ENSP.

Mas houve muito mais. Com efeito, tratou-se de uma segunda

década fértil na organização, pela APAH, de conferências,

fóruns, seminários e jantares-debate, que versavam

sobre os mais variados temas da área da Saúde.

Entre essas iniciativas conta-se, em dezembro de 1993,

numa organização conjunta da APAH com a NERLIS

(Associação Empresarial da Região de Lisboa), a realização

do Fórum “Gestão Hospitalar - Novos Rumos”.

Destaque também, em 1993-1994, para o Ciclo de

Encontros sobre “A Gestão da Saúde em Portugal”,

iniciativa que o Dr. Rui Moutinho -

que integrou a direção da APAH nos

mandatos de 1986-88 e 1988-92 -

aponta como uma das mais relevantes

da APAH nessa década.

Ainda em 1994, em 19 de novembro,

a APAH promoveu igualmente um almoço

de homenagem ao Professor

Augusto Mantas, assinalando a sua

passagem à reforma depois de

quase 42 anos ao serviço da Saúde.

Augusto Mantas foi “um dos homens que mais se

bateu pela profissionalização da gestão dos hospitais e

que teve um papel insuperável e inovador na história

do financiamento hospitalar”, referia a Revista Gestão

Hospitalar n.º 30 (dezembro 1994/janeiro 1995) no relato

deste acontecimento. O ano de 1995 trouxe mais

uma novidade. A 6 e 7 de dezembro realizaram-se as IX

Jornadas de Administração Hospitalar - até então organizadas

exclusivamente pela ENSP (desde finais da década

de 1970), mas desta vez também com a colaboração

da APAH. “Eram jornadas temáticas, com intervenções

bem preparadas - e marcantes, muitas delas - e com

um nível elevado de debate”, recorda Lopes Martins. E

“eram também a grande reunião - à medida que o número

de administradores hospitalares se alargava, eram

um ponto de reunião também necessário nestas circunstâncias

-, sendo hoje substituídas pelas Conferências de

Valor, igualmente interessantes, bastante mais abertas,

desafiantes do ponto de vista dos temas que abordam,

com participações alargadas e de qualidade”. De referir

ainda a realização da Conferência Internacional sobre

Administração de Saúde, realizada no Porto em 12 de

outubro de 2001, comemorativa dos 20 anos da APAH.

Outras conquistas da APAH

Sobre esta década da Associação, a Dr.ª Maria Armanda

Miranda - que começou por integrar a direção da

APAH no mandato de 1992-97, onde permaneceu até

2008 - considera que a sua maior conquista foi o desenvolvimento

do SNS e ajudar a que fosse progredindo

positivamente. Já Manuel Delgado afirma que aquilo

que mais o marcou e que lhe dá mais satisfação foi ter

posto os administradores hospitalares na agenda política.

No seu entender, a maior conquista durante os anos em

que presidiu à APAH foi talvez o facto de a comunicação

social ter percebido que os administradores hospitalares

eram um parceiro a ouvir. “Pode parecer de pouca monta,

mas, para quem está dentro do setor, é de grande

importância. De tal maneira - e isso também devemos ao

Alexandre Lourenço, ao Pedro Lopes e a outros dirigentes

da Associação - que hoje a Associação é uma presença,

eu diria constante, nos media. Eu acho que isto é

muito importante e endereço o meu muito obrigado e o

meu abraço solidário e orgulhoso ao Alexandre Lourenço

e a toda a equipa que trabalha com ele, que fizeram

desta Associação uma Associação absolutamente incontornável

quando se fala em Saúde em Portugal”, declara.

Decorrida a segunda década da sua existência, era altura

de a APAH avançar para a terceira. E novos ventos sopraram,

desde cedo, no panorama hospitalar. Ã

1. Lei n.º 27/2002, de 8 de novembro.

2. Decreto-Lei n.º 19/88, de 21 de janeiro.

38



GH comunicação em saúde

A MISSÃO DO PROFISSIONAL

DE COMUNICAÇÃO AO SERVIÇO

DA SAÚDE PÚBLICA

Jaime Soares

Assessor de Comunicação do Hospital

da Senhora da Oliveira - Guimarães, EPE

Sofia Gaio

Professora Doutora Auxiliar Universidade

Fernando Pessoa; Vice-Presidente APECOM

SÓ DEPOIS QUE A TECNOLOGIA INVENTOU O TELEFONE, O TELÉGRAFO, A TELEVISÃO, A INTERNET,

“FOI QUE SE DESCOBRIU QUE O PROBLEMA DE COMUNICAÇÃO MAIS SÉRIO ERA O DE PERTO.

no combate à pandemia se a comunicação não tivesse sido

globalmente esclarecedora, profissional e competente.

Ser um profissional da comunicação em saúde é acima

de tudo assumir uma responsabilidade efetiva de compromisso

com as diferentes instituições de saúde e dos seus

colaboradores, profissionais e públicos.

Enquanto doutorando em ciências da informação, a desenvolver

uma investigação sobre os gaps existentes entre

a informação veiculada pelas fontes e a informação transmitida

pelos media relativos à pandemia, perceciona-se

como absolutamente claro que, sem uma comunicação

agregadora, conhecedora e esclarecedora junto dos media

e consequentemente da população, não se consegue uma

mensagem de um sistema de saúde pleno, consistente,

assim como verdadeiramente focado na sua missão e no

seu objetivo; gerar informação assertiva e eficaz à comunidade

interna e externa, de forma célere.

Muitas vezes os profissionais da comunicação institucional

trabalham sem rotinas, onde todos os dias são um desafio

interno e externo para conseguirem conciliar informação

precisa e eficiente junto dos públicos de dentro e de fora

da instituição, em tempo útil, com o objetivo de que

esta se consiga apreender com sucesso. Isto exige uma

clara compreensão da instituição que servem, do serviço

que prestam, das suas valências, competências, propósitos,

missão e um sentido de responsabilidade e compromisso

para com a sociedade em geral, na atribuição e difusão

das notícias. Os profissionais desta área estão habituados

a trabalhar perante o inesperado, e o imediato, em vários

contextos e desafios. Esta última pandemia foi um deles,

que obrigou à sua superação em prol da sociedade e das

instituições que representam, nomeadamente o SNS.

Estes profissionais têm que trabalhar com os media, numa

perspetiva de promover literacia em saúde, porque estes

são vínculos de transmissão de informação por excelência

através dos seus canais de distribuição noticiosos, que

partilham, deste modo, a responsabilidade de ajudar os

profissionais que assumem estas funções nas instituições

de saúde a fazerem a ponte com os seus públicos. Com o

objetivo de trazerem, juntos, mais conhecimento útil à sociedade,

que precisa de ser informada sobre uma temática

tão importante como o é a saúde, e que pode fazer uma

grande diferença positiva se for bem vinculada junto das

sociedades em favor do seu letramento. Ã

Num mundo cheio de instrumentalização,

onde as redes sociais proliferam com informação

e desinformação, a veracidade

dos factos e a credibilidade das fontes de

informação devem apresentar-se como

garante da função informativa e pedagógica que a comunicação

em saúde deve preconizar.

Tratando-se a Covid-19 um problema de saúde pública, é

assustador pensar que desde o início da pandemia foram

retirados mais de 20 milhões de publicações no Facebook

e Instagram relativas a desinformação sobre a pandemia.

A OMS (2005) assume que é crucial “reconhecer que a

expertise em matéria de comunicação se tornou tão essencial

para o controlo de surtos como a formação epidemiológica

e análise laboratorial.ˮ

Para a OMS, a globalização que leva à difusão de notícias

ao minuto e muitas vezes a um estado de excesso de

informação e desinformação, leva a que a comunicação

surja como um dos aspetos mais difíceis de gerir numa

epidemia/pandemia.

Neste sentido, a OMS define cinco pilares para a comunicação

em saúde, em particular em contexto de pandemia:

• Confiança;

• Timming;

• Transparência;

Millôr Fernandes

• Target;

• Planeamento.

É neste contexto que a relevância da comunicação feita

de forma profissional com os diferentes stakeholders tem

levado a que a figura do assessor/coordenador/diretor de

comunicação ganhe relevância e esteja presente há já algum

tempo na visão que uns quantos acharam fundamental

os Hospitais Públicos terem profissionais especializados

nos processos informativos e comunicacionais com os

seus stakeholders.

A sua importância é manifesta na transmissão e divulgação

pública das diferentes atividades hospitalares, dotando

os seus públicos de um conhecimento claro e orientado

para o que é realmente importante, bem como

fazerem as pontes entre os vários elos desta cadeia, internamente

e externamente.

Este papel é manifestamente importante, pois é necessário

passar informação fidedigna e percetível aos diferentes

interlocutores, de modo a que se agilize com eficácia a

mensagem junto de quem de direito.

É do respeito destes princípios que se promove o equilíbrio

da informação do público aos níveis profiláticos; para

tal os comunicadores da saúde pública ajudam, em muito,

ao sucesso da sua eficácia.

Não teríamos, por exemplo, em Portugal, tanto sucesso

40



GH Prémios AICIB 2021

PROJETOS DE CAPACITAÇÃO DE

CENTROS DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA

Catarina Resende de Oliveira

Presidente da AICIB

Escrever sobre os Prémios AICIB (Agência

de Investigação Clínica e Inovação Biomédica)

é sempre algo que nos motiva a

todos porque os benefícios da investigação

clínica no quadro nacional e internacional

são, cada vez mais, de crucial importância para a

melhoria da prestação de cuidados de saúde aos cidadãos.

Contribuir para que os nossos Hospitais possam fazer

parte desta realidade com centros de investigação clínica

capacitados e profissionais motivados e empenhados

na realização de estudos clínicos é um dos fatores essenciais

para o cumprimento pleno da missão da AICIB.

Os Prémios AICIB 2021 foram criados para o cumprimento

deste desígnio, no âmbito da missão da AICIB de

promover, coordenar e apoiar as atividades nas áreas da

investigação clínica e de translação e inovação biomédica,

contribuindo para a otimização do potencial clínico,

científico e tecnológico de Portugal 1 .

O concurso destinou-se aos centros de investigação clínica

das unidades de saúde hospitalares do sistema de

saúde em Portugal, com o objetivo de apoiar e promover

a sua organização, profissionalização e de melhorar o

seu desempenho, aumentando a confiança dos promotores

e o reconhecimento internacional dos centros de

investigação clínica portugueses.

O prémio envolveu a seleção e avaliação dos projetos

candidatos pela AICIB, tendo em conta o parecer de um

júri independente, criado ao abrigo de um regulamento

específico, que fixou as condições de admissão, os critérios,

as regras e os prazos de avaliação 2 . Este júri foi composto

por quatro elementos, três dos quais da AICIB,

incluindo a respetiva Presidente e um membro do conselho

consultivo, e ainda um elemento externo à AICIB

de reconhecido mérito e experiência na área da investigação

clínica.

Na seleção dos projetos candidatos, com duração má-

xima de um ano, foi valorizada a sua relevância (para

o doente, centro de investigação, unidade de saúde e

sociedade), a respetiva metodologia, as parcerias estabelecidas

com entidades nacionais e/ou internacionais, e os

resultados esperados com a implementação dos projetos

em termos dos objetivos do concurso.

A avaliação dos resultados esperados com a implementação

dos projetos, foi feita com base em métricas e indicadores

requeridos na candidatura dos mesmos, que

eram objetivos do próprio concurso, nomeadamente:

• Aumento do número de estudos da iniciativa do investigador

(iniciados);

• Diminuição do tempo de tramitação interna dos processos,

desde a submissão do estudo pelo promotor até

à assinatura do respetivo contrato;

• Diminuição do tempo para recrutamento do primeiro

doente (número de dias que decorrem entre a visita de

início do estudo e a inclusão do primeiro doente);

• Aumento da taxa de recrutamento de doentes (número

de doentes planeado/número de doentes recrutados);

• Aumento do número de propostas de exequibilidade

dos estudos clínicos implementadas por referência às

avaliadas;

• Aumento do número de ensaios clínicos (iniciados).

A seleção dos objetivos qualitativos e quantitativos acima

referidos, baseou-se em aspetos que têm sido tradicionalmente

apontados como críticos para a promoção e

melhoria da investigação clínica no panorama nacional 3,6 .

Os prémios distinguiram um total de catorze projetos de

investigação, a par com a atribuição de menções honrosas

que contemplaram outros três projetos. A tabela 1

lista os centros de investigação clínica das instituições de

saúde e os respetivos projetos a que foram atribuídos os

Prémios AICIB 2021e as Menções Honrosas. Informações

mais detalhadas dos projetos premiados, nomeadamente

resumos e vídeos de apresentação dos mesmos,

estão disponíveis no website da AICIB.

Os projetos premiados visam todos criar ou reforçar a

capacitação dos centros de investigação clínica para a

prossecução das atividades necessárias à implementação

e coordenação da realização de estudos clínicos, em particular

ensaios clínicos, na respetiva instituição de saúde,

mas por recurso a diferentes estratégias para concretização

destes objetivos.

Assim, alguns projetos são dirigidos diretamente à criação

ou implementação de centros de investigação nas

instituições de saúde, enquanto outros ao desenvolvimento

ou expansão de centros já existentes. Há projetos

que apostam no desenvolvimento de software para a

criação de plataformas ou portais eletrónicos e de páginas

de internet. Destes, alguns visam promover a comunicação

a nível interno institucional, dando suporte aos

processos operacionais existentes, enquanto outros são

orientados para a comunicação externa, com os cidadãos

e em particular com os doentes. Ainda outros projetos

preveem o desenvolvimento de infra-estruturas dos centros

e de metodologias de suporte à atividade de investigação

clínica, enquanto outros estão focados na promoção

da comunicação e da literacia em investigação clínica,

incluindo da população pediátrica.

A entrega dos prémios teve lugar numa cerimónia que

contou com a presença de mais de duzentas pessoas e

que decorreu no auditório do INFARMED, no passado

dia 9 de novembro, em formato híbrido, presencial e

com transmissão online. Estiveram representadas todas

as instituições participantes, com as quais esta distinção

foi depois formalizada através de um protocolo de colaboração

e contrato financeiro celebrado entre a unidade

de saúde, o centro de investigação e a AICIB.

A AICIB irá agora monitorizar a execução dos projetos,

com base em relatórios trimestrais de progresso, em visitas

aos centros premiados e num relatório final de execução.

O elevado número de instituições que responderam

a este desafio, de norte a sul do País, num total de

vinte e duas candidaturas submetidas a concurso, bem

como a qualidade e a diversidade dos projetos apresentados,

testemunham o dinamismo crescente da área da

investigação clínica em Portugal.

Espera-se que o impacto destes projetos no panorama

científico a nível nacional e na criação de valor na área

da saúde, se traduza na sua sustentabilidade e na adoção

das melhores práticas estabelecidas a nível nacional e internacional

7 , cuja promoção a AICIB tem como objetivo

prosseguir. O desenvolvimento da investigação clínica em

Portugal tem sido progressivamente considerado um elemento

diferenciador da qualidade dos serviços de saúde

prestados e pretende-se que os Prémios AICIB deem

um importante contributo nesse sentido.

É com este propósito que a AICIB irá dar continuidade }

42 43



GH Prémios AICIB 2021

Centros de Investigação Clínica premiados

Prémios AICIB 2021

Centro de Investigação do Centro Hospitalar Universitário de

Lisboa Central, EPE

CIC2F(s) - Centro de Investigação Clínica do Hospital Distrital

da Figueira da Foz, EPE

Lusíadas Knowledge Center dos Hospitais do Grupo Lusíadas

Saúde

Departamento de Investigação Clínica do Centro Hospitalar de

Lisboa Ocidental, EPE

Unidade de Inovação e Desenvolvimento do Centro Hospitalar

e Universitário de Coimbra, EPE

Unidade de Investigação Clínica do Hospital Professor Doutor

Fernando Fonseca, EPE

Centro Académico e de Formação do Hospital da Senhora da

Oliveira - Guimarães, EPE

CUF “Academic Center” dos Hospitais do Grupo CUF

Centro de Investigação Clínica do Centro Hospitalar Universitário

Cova da Beira, EPE

Unidade de Investigação Clínica do Instituto Português de Oncologia

do Porto Francisco Gentil, EPE

Serviço de Investigação Clínica do Centro Hospitalar Universitário

do Porto, EPE

Centro de Investigação e Ensaios Clínicos do Centro Hospitalar

Universitário de São João, EPE

Gabinete de Investigação e Desenvolvimento do Centro Hospitalar

de Setúbal, EPE

Centro Clínico Champalimaud do “Champalimaud Centre for

the Unknown”

Centros de Investigação Clínica premiados

Menções Honrosas dos Prémios AICIB 2021

Centro de Estudos Clínicos do Centro Hospitalar de Entre o

Douro e Vouga, EPE

Centro de Investigação Clínica do Centro Académico de Medicina

de Lisboa do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte,

EPE

Unidade de Investigação Clínica do Centro Hospitalar Barreiro

Montijo, EPE

Designação do Projeto premiado

“Development of PLUMA - Platform for submission of clinical

trials”

“Creation of CIC2F(s)” - Centro de Investigação Clínica do

Hospital da Figueira”

“Seeking excellence in clinical research at Lusíadas Saúde”

“Development of the Clinical Research Department webpage

and creation of information about clinical research in the mobile

app “myCHLO”

“Development of an internal non-interventional research web-portal”

“Development of “CASCIFFO - Capacitacão de Software do

Centro de Investigação Fernando Fonseca”

“Create a Research Day-Hospital”

“Create an online platform for clinical trials and studies submission”

“Implementation of the Clinical Trial Visit Office”

“Creation of a multidisciplinary Molecular Tumor Board“

“Development of LEARN - Communicate clinical trials in a pediatric

environment”

“Development of INVICTUS: Patient-Centric Initiative for Voluntary

Inclusion in Clinical Trials”

“Development of CF Clinical Studies Platform”

Designação do Projeto premiado

“Expansion of the routine activity through training and the creation

of databases”

“Implementation of an internal regulation for clinical research

and a project to monitor the research activity”

“Training and support of healthcare professionals and services at

CHBM, for the development of clinical research”

Tabela 1: Centros de investigação clínica das instituições de saúde e respetivos projetos a que foram atribuídos Prémios e Menções Honrosas - AICIB 2021

a esta iniciativa, estando já previsto o lançamento dos

Prémios AICIB 2022, que serão oportunamente divulgados

no website e LinkedIn da AICIB.

Agradecimentos

Agradecemos aos investigadores e às unidades de saúde

hospitalares que responderam a este desafio. Endereçamos

um agradecimento a toda a equipa da AICIB, que

tornou possível a concretização deste projeto e, em particular,

às Doutoras Helena Beaumont, Liliana Guerra e

Teresa Machado Luciano pela sua contribuição na escrita

e revisão crítica deste manuscrito. Ã

1. Resolução do Conselho de Ministros n.º 27/2018.

2. Regulamento dos Prémios AICIB 2021, Projetos de Capacitação dos Centros

de Investigação Clínica, publicado em www.aicib.pt

3. Pereira, João e Escoval, Ana, “Ensaios clínicos em Portugal consensos e compromissos

- Relatório Final - 29-11-2016”, Estudo APIFARMA-ENSP/UNL..

4. PwC. Ensaios clínicos em Portugal. Fevereiro de 2019.

5. Artigo revista Gestão Hospitalar n.º 24, 2021: Como podemos ter mais

ensaios clínicos nos centros de investigação e tornar Portugal mais atrativo

nesta matéria?

6. Artigo revista Gestão Hospitalar n.º 25, 2021: Barómetro da I&D em Saúde.

7. Gehring M., Taylor R., Mellody M., Casteels B., Piazzi A., Gensini G., Ambrosio

G., “Factors influencing clinical trial site selection in Europe: The Survey

of Attitudes towards Trial sites in Europe (the SAT-EU Study)”, BMJ Open.

2013;3(11):1-10.

44



GH INICIATIVA APAH

APAH E SEDISA PROMOVERAM

1. 0 FÓRUM IBÉRICO DE

CONTRATAÇÃO PÚBLICA

Nos últimos anos, os países da União Europeia

tiveram de transpor a Diretiva Europeia

014/24/EU, relativa aos contratos

públicos, e o desafio de desenvolver um

quadro legislativo que estabeleça, entre

muitos outros aspetos, que os contratos públicos não

devem necessariamente ser guiados pela opção de menor

custo, mas por aquele que aporte mais valor em

termos de resultados obtidos.

Considerando o atual contexto de saúde pública, assim

como as alterações legislativas derivadas da transposição

da supra citada Diretiva Europeia, a par com a incorporação

de alternativas inovadoras à contratação pública baseadas

no valor, entenderam a Associação Portuguesa

de Administradores Hospitalares (APAH) e a Sociedad

Española de Directivos de la Salud (SEDISA), com o

apoio da IPSEN, promover a realização a 3 de novembro

de 2021, do 1.º Fórum Ibérico de Contratação

Pública tendo como objetivo principal a atualização do

conhecimento e partilha de boas práticas ibéricas.

á 1º Fórum Ibérico de Contratação Pública: Moderadores e Oradores

Nas palavras de José Soto Bonel, presidente da SEDISA,

“o conhecimento e formação dos administradores e gestores

de saúde na área da contratação pública é fundamental,

ao mesmo tempo que se conhecem experiências

de gestão nesta matéria noutros países europeus que

possam representar soluções para desafios comunsˮ.

É necessário estabelecer indicadores para

medir a compra baseada em valor e resultados

Nas palavras de José Manuel Pérez Gordo, membro da

Direção da SEDISA e vice-presidente do Grupo Territorial

da SEDISA na Andaluzia, “desaparece a ideia económica

dos contratos públicos apenas baseada na relação

qualidade/custo no momento da compra, para que sejam

também tidos em conta critérios sociais, ambientais

ou de investigação, que acrescentam valor à referida

compraˮ. A implementação nos hospitais da contratação

e pagamento por resultados é um desafio que abrange

diferentes vertentes, por exemplo ao nível do aumento

da carga administrativa de recolha e tratamento de

dados; na adequada comunicação com os

profissionais de saúde; na celebração de

acordos público-privados que impliquem

o investimento em infraestruturas tecnológicas;

e no desenvolvimento de métodos

de medição de resultados padronizados e

validados que ajudem a reduzir a carga de

trabalho a nível local.

Para concretizar a contratação pública baseada

em valor, José Manuel Pérez Gordo

destaca que em Espanha existem dois tipos

de desafios: internos e externos. “Em termos

de aspetos internos, é necessário estabelecer

indicadores ou unidades de medição

para poder medir aquilo a que chamamos

Compra por Valor ou por Resultados,

sendo fundamental chegar a acordo sobre

os processos ou técnicas em que é possível

falar sobre a contribuição do valor e ser

capaz de medi-lo para ir da compra de produtos

à compra de soluções/serviços que

acrescentem valor à compra, beneficiem

o doente e tragam maior sustentabilidade

ao sistemaˮ. Em relação aos externos, os

fornecedores devem estar convencidos de

que oferecem soluções em vez de produtos

e, para isso, é necessária uma maior inter-relação

com o hospital para conhecer

as suas reais necessidades e poder oferecer

estas soluções/serviços e proporcionar

maior valor à compra. “Além dissoˮ, acrescenta,

“a monitorização e acompanhamento

destes processos de compra deve ter

um papel na geração de conhecimento de

que estas soluções, e não o próprio produto,

contribuem para a melhoria dos cuidados

prestadosˮ.

Já em Portugal, o grande desafio para a adoção da compra

baseada no valor está em contrapor a falta de autonomia

de gestão e a opção por soluções contratuais

tradicionais baseadas em volume e preço ao invés de

procedimentos de médio/longo prazo com foco nos resultados

em saúde.

Para Rui Moreira, Coordenador do Grupo de Trabalho

para a Contratação Pública da APAH, a implementação

da diretiva europeia em Portugal tem contribuído para facilitar

a contratação pública baseada no valor, permitindo

“o acesso ao mercado europeu, bem como para uma

maior diversidade de empresas com dimensão e experiência

em soluções que acrescentem valor, mas ainda sem

grandes resultados práticos, devido aos bloqueios legais,

burocráticos e até culturais à gestão de contratos plurianuais

como opção estratégica natural e generalizadaˮ.

á 1º Fórum Ibérico de Contratação Pública: Programa

Como ficou demonstrado no 1.º Fórum Ibérico, nos últimos

anos, registaram-se progressos através da implementação

de modelos de compra baseados na partilha

de risco, na definição de um limite máximo de encargos

ou através pagamento de resultados, na celebração de

contratos públicos inovadores, ou no desenvolvimento

de alianças tecnológicas, etc., apesar de todos os esforços

há ainda muito a fazer em todos estes possíveis procedimentos

de compra e muito a aprender por todas as

partes envolvidas. Ã

Se não teve oportunidade de assistir à iniciativa

poderá faze-lo a todo o momento no Canal APAH no YouTube.

46 47



GH Bolsa Capital Humano

CENTRO DE (DES)ENVOLVIMENTO

HUMANO PARA A SAÚDE

Andreia Santa-Rita

Psicóloga Clínica

Cristiana Soares

Responsável pela implementação e plano de comunicação

Eunice Caracol

Psicóloga Clínica

Rita Neves

Diretora do Serviço de Capital Humano

João Coelho

Responsável pela implementação e plano de comunicação

Sara Cabrita

Coordenação da Unidade de

Valorização do Capital Humano

OCapital Humano (CH) do SNS tem

vivido dias de grande imprevisibilidade

e exigência, sendo evidente o quanto

a sua motivação, resiliência e espírito

de equipa são essenciais, sendo o CH

o grande pilar do SNS.

O bem-estar individual influencia as relações e a produtividade

dos colaboradores. Assim, “Nos dias de hoje, alcançar

a excelência é o principal objetivo das organizações e,

sendo os colaboradores elementos fundamentais para o

sucesso de qualquer organização, a estratégia organizacional

deve passar por dar prioridade a determinadas medidas

que contribuam positivamente para o seu bem-estar”

(Silva, 2018, p.11, citando Ribeiro & Santana, 2015).

A conjuntura que vivemos exige-nos a mudança. E a mudança

acontece no capital humano e para o capital humano.

“A gestão estratégica de recursos humanos (…) no que

diz respeito à satisfação dos trabalhadores, por se ter vindo

a perceber que trabalhadores motivados e satisfeitos

são cruciais para a eficácia e competitividade organizacional”

(Rato, 2019, p. 23 citando Caetano e Vala).

Destarte, o Órgão de Gestão do Centro Hospitalar Universitário

do Algarve, E.P.E. (doravante, CHUA) deliberou

que, de forma ativa, fossem analisadas as problemáti-

cas ao nível do seu CH, reconhecendo que este é a força

motriz do CHUA.

Caracterização do CHUA

É uma entidade pública empresarial de saúde, composta

por diferentes unidades dispersas pelo território algarvio,

com um total de 4.387 colaboradores, fruto de sucessivos

processos de fusão, tendo o CHUA o permanente

desafio de criar uma cultura organizacional que, respeitando

as diferenças, promova sinergias internas que gerem

melhores resultados em saúde.

SOZINHOS PODEMOS IR MAIS RÁPIDO, MAS JUNTOS VAMOS MAIS LONGE

Provérbio africano

O Projeto

O trabalho de investigação, auscultação e análise que motivou

a Candidatura do CHUA à Bolsa de Capital Humano

em Saúde, promovida pela APAH, sugeriu o problema:

como podemos contribuir para que os líderes,

os indivíduos e as equipas desenvolvam competências e

dinâmicas internas que potenciem a motivação e satisfação

de cada um, contribuindo para a missão do CHUA?

A exaustão, a depressão e a desmotivação foram também

identificados como questões cruciais - cuidar do

capital humano do CHUA é cuidar dos nossos utentes.

Como proposta de solução nasce o Centro de (Des)

envolvimento Humano para a Saúde. O “Centro” está

na dependência do Serviço de Capital Humano, com

estreita ligação com a área da Formação, da Saúde Ocupacional

e da Saúde Mental; é de “Desenvolvimento

Humano” por pretender o desenvolvimento dos colaboradores

numa visão integral; de “envolvimento” por

considerar a integração do indivíduo no grupo, na equipa

e na organização; e “para a Saúde” porque perspetiva o

impacto na melhoria da prestação de cuidados de saúde

(“colaboradores felizes, utentes felizes”).

Desenvolvimento do Projeto

Vencer a bolsa Capital Humano em Saúde foi o impulso

para promover a construção de uma organização mais

colaborativa, relacionalmente feliz e saudável.

Através de sessões de reflexão diagnóstica auscultaram-

-se (em focus groups) ativamente assistentes operacionais,

assistentes técnicos, técnicos superiores, terapeutas,

médicos, enfermeiros, administradores hospitalares,

coordenadores, diretores e os membros do Conselho

de Administração. Deu-se voz àqueles que, por vezes,

estão silenciados pela rotina de trabalho e em consequência

o projeto refinou-se em conjunto com (e para)

os profissionais auscultados. A esta fase corresponde o

“envolvimento ativo da comunidade na (re)conceção do

projeto”, etapa definida pelo modelo ADKAR (modelo

de gestão de mudança), pelo qual se guiou a implementação

do projeto, com a consultadoria da NOBOX.

Foi descortinado: a existência de conflitos intergrupais, }

48 49



GH Bolsa Capital Humano

Programas Participantes Temas Objetivo global Resultados

Comunic(ação) M.; Enf.;, AO, AT

Média ≈ 26 part./sessão

Literacia do Conflito

Bem-Estar para AOs

Prevenção Lesões

Músculo-esqueléticas

Relacionadas com

Trabalho

M.; Enf.;, AO, AT

Média ≈ 19 part./sessão

AO

Total = 53 AO

Todos os profissionais

do serviço.

- Estilos

Comunicacionais

- Comunicação não

verbal e a não violenta

- Feedback

- Clicar e Escrever.

Conflitos Intrapessoais/

Interpessoais e

Organizacionais;

Estratégias para

resolução de

Conflitos e Estratégias

de Comunicação

e Negociação

Interpessoal; Tipos

de Conflito.

Visita com sugestões

imediatas;

Relatório com

recomendações e

Ação de sensibilização.

Visita com sugestões

imediatas;

Relatório com

Recomendações para

o Serviço e Ação

de sensibilização.

Tabela 1: Caracterização dos Programas desenvolvidos no âmbito do Projeto Capital Humano

Legenda: AO - Assistentes Operacionais, M. - Médicos, Enf. - Enfermeiros, AT - Assistentes Técnicos

Desenvolver

competências

relacionadas com

a comunicação,

que estimulassem

a empatia na

comunicação

e atenuassem práticas

de comunicação

agressivas.

Estimular conflitos

saudáveis e com

impacto positivo no

serviço e Organização.

Estimular o

autocuidado;

Identificar elementos

em risco psicossocial,

para referenciação

para consulta

de Psicologia

Ocupacional.

Prestar apoio direto

aos profissionais do

serviço através da

observação direta;

Produção de relatório

com recomendações

no âmbito de

Ambientes Físico

Geral, Ergonómico,

Químico e Biológico;

Promoção de atitudes

preventivas e boas

práticas conforme as

suas tarefas no serviço.

Feedback muito positivo.

Segundo os participantes

estas sessões foram

verdadeiramente

importantes. Alguns relatos:

“Saber comunicar é essencial

na relação humana”; “Este

programa permitiu obter

ferramentas novas”; “De

grande aplicabilidade”.

Retorno muito positivo.

Alguns relatos: “A associação

entre o primeiro programa

e este faz todo o sentido,

sabendo comunicar saberei

gerir os conflitos”; “Muito

prático”; “Senti-me com

maior capacitação para

o meu dia-a-dia”.

Alguns dos participantes

estão a ser seguidos em

consulta de psicologia,

o que permite um

acompanhamento mais

individualizado e com

resultados profícuos.

Feedback bastante positivo.

“Gostei bastante, muito

dinâmico e despertou

para algumas coisas

que fazia mal”;

“ De grande utilidade”.

Assim, desenhou-se o Programa “Bem Vindo ao Próximo

Nível” para prestar apoio às lideranças. Será constituído

por dias formativos imersivos destacando-se o método

vivencial, com atividades e dinâmicas interativas de

role play e problem solving. Seguir-se-ão fóruns regulares,

bem como encontros de re-energização dos conceitos

formativos, proporcionando a partilha de experiências e

conhecimentos entre líderes. Será oferecido mentoring

para a resolução de problemas concretos, identificados

pelo líder e pela sua equipa, tornando os líderes dos serviços

agentes ativos da mudança.

Este programa será inovador no SNS, estando a equipa

de projeto a trabalhar no sentido de promover intercâmbios

hospitalares dos nossos líderes, até a nível internacional,

onde sejam reconhecidas boas práticas de

liderança, tal como no NHS.

Conclusões

A implementação do projeto Capital Humano em Saúde

no CHUA abriu campos de intervenção inovadores,

assentes nas melhores práticas de gestão em saúde. Reconhece-se

que o caminho possa ser longo, tendo em

conta a sua área de intervenção, as características do

CHUA, e a crónica carência e instabilidade das equipas.

A ressonância do CH do CHUA com o projeto tem sido

enorme, com a natural expetativa de que as mudanças

desejadas frutifiquem rapidamente. O Centro de (Des)

envolvimento Humano para a Saúde crescerá na sua

atuação com o programa “Bem-vindo ao Próximo Nível”,

no acompanhamento psicológico aos profissionais,

nas intervenções sistémicas promotoras de bem-estar,

nas práticas fomentadoras da união das equipas e em formações

nas áreas da gestão de conflitos e comunicação.

Considerando o comprometimento, a abertura, a motivação

e a elevada capacidade de autoanálise reveladas

pelas várias equipas do CHUA, projetamos sucesso, e

que no futuro possamos partilhar as nossas experiências

e modelos de intervenção com outros hospitais do SNS,

porque sozinhos vamos mais rápido, mas juntos vamos

mais longe. Ã

• Cunha, M., Marques, C., Gomes, J., Cardoso, C., Rego, A., & Cunha, R., (2015)

Manual de Gestão de Pessoas e do Capital Humano. Edições Sílabo.

• Rego, A., (2016) Comunicação Pessoal e Organizacional Teoria e prática. Edições

Sílabo.

lideranças desadequadas, falta de clareza na definição de

papéis que resulta no desenvolvimento de stress laboral,

burnout, ansiedade, depressão, que por vezes se traduz

no presentismo e absentismo.

Procedeu-se à estruturação do projeto, com criação de

timelines, objetivos, iniciativas e avaliação qualitativa; (re)

orientação das iniciativas para os públicos-alvo.

Implementação do Projeto Piloto

Considerando a envergadura e alcance da proposta inicial,

foi decidido, com a consultoria da NOBOX, a sua

inicial implementação no Serviço de Pediatria de Faro

e no Serviço de Cirurgia de Portimão. A essas equipas

muito agradecemos a abertura, disponibilidade e partilha

de experiências.

Em paralelo, a NOBOX proporcionou sessões formativas

à equipa de projeto e aos elementos dos serviços

piloto acerca dos temas Liderança, Compromisso e Delegação

Desenvolvimento de Pessoas e Gestão de Equipas.

Face ao diagnosticado implementaram-se os programas

versados na tabela infra apresentada.

Do projeto piloto retiraram-se importantes conclusões

para refinar a atuação futura: a carência das equipas nas

várias profissões e a impossibilidade de trabalhar com

toda a equipa de um serviço em simultâneo torna necessária

a flexibilidade, o ajustamento e por vezes repetição

das ações desenvolvidas. Uma vez que um processo de

mudança exige compromisso e continuidade, manter-se-

-á a colaboração com os serviços piloto.

Bem-Vindo ao Próximo Nível

Resultou dos focus group com líderes, de diferentes serviços,

que um plano direcionado às lideranças seria a medida

mais eficiente no processo de potenciação do CH.

50 51



GH Bolsa Capital Humano

IMPACTO DA COMUNICAÇÃO

COMO FATOR CRÍTICO DE

SUCESSO NO DESEMPENHO

DOS PROFISSIONAIS

António Taveira Gomes

Maria Cabral

Manuel Alexandre Costa

Isabel Fonseca

á Equipa Nuclear da Conciliação com as Equipas Locais de Conciliação

Jorge Oliveira

Maria João Marques

Resultante da vontade e visão estratégica

da Unidade Local de Saúde de Matosinhos,

EPE (ULSM), foi proposta a implementação

de um Sistema de Gestão

da Conciliação entre a Vida Profissional,

Familiar e Pessoal, tendo-se procurado para o efeito conhecer

a perceção do/as colaboradores/as, bem como

realizar uma autoavaliação das práticas já existentes neste

âmbito.

Em janeiro de 2020 foi realizada a autoavaliação às políticas

e práticas de conciliação, através de um questionário

respondido pelo órgão de gestão máximo da Instituição.

Em paralelo, foi enviado um questionário ao universo de

colaboradores da ULSM (2377) para a recolha de um

feedback direto e individual através de plataforma digital,

no qual se obtiveram 983 participações, o que corresponde

a uma amostra significativa de 41%.

De acordo com os resultados obtidos, a ULSM foi considerada

uma organização com boas práticas conso-

Lurdes Maia

Equipa da Qualidade e da Conciliação ULS Matosinhos

Cristina Ulisses

lidadas, que se preocupa em adotar políticas que vão

para além do que está estatuído legalmente sobre esta

matéria, vista por conseguinte como uma entidade familiarmente

responsável que, contudo, ainda detém alguns

pontos fracos, evidenciados nas respostas obtidas, aos

quais procurou responder, de modo a poder ser reconhecida

como organização de referência e, principalmente,

a aumentar o grau de conforto e satisfação dos

seus colaboradores.

Assim, destacando-se a comunicação e a motivação das

equipas, foram identificados os seguintes aspetos a melhorar,

que constam no Gráfico 1.

Atendendo aos pressupostos de que “é inegavelmente

reconhecida a consensualidade de que o mais importante

no mundo do sistema produtivo são as pessoas”

e que “as pessoas são únicas e o verdadeiro elemento

diferenciador que, pela forma como são geridas, pode

resultar no sucesso ou insucesso das organizações”,

considera-se premente alterar práticas que derivam da

lógica de entendimento assegurado em que a pessoa é

percebida como um mero recurso necessário na equação

da produção de serviços e vista num paralelismo

com outros recursos necessários para o mesmo fim,

numa procura de resultados financeiros ou produtivos,

para um visão de gestão estratégica de pessoas e do

seu bem-estar. Ciente que a vantagem competitiva que

advém deste paradigma resulta cada vez mais de uma

perspetiva coletiva: da aprendizagem, do trabalho em

rede, da navegação pela mudança, inovação e criatividade;

então a conciliação entre a vida profissional, familiar

e pessoal bem como a gestão de pessoas transforma-se

numa necessidade, deixando de ser uma mera ferramenta

de retenção de quadros.

Com o objetivo de aumentar a motivação e a satisfação

dos profissionais através da melhoria da comunicação,

tanto na forma de o fazer como nos canais disponíveis

para o efeito, e do incentivo à participação ativa como

fator crítico de sucesso no desempenho profissional, foram

definidos os seguintes objetivos:

• Melhorar a comunicação nomeadamente na forma de

comunicar e nos canais disponíveis. Obter um índice de

satisfação global dos profissionais na ULSM de 75% com

aspetos da comunicação até setembro de 2021;

• Implementar um Sistema de Gestão de Conciliação

entre a Vida Profissional, Familiar e Pessoal de acordo

com a norma NP 4552 a validar por auditor externo até

setembro de 2021.

No processo da implementação do Sistema de Gestão

da Conciliação da Vida Profissional, Familiar e Pessoal

mostrou-se muito oportuna a candidatura à Bolsa de Capital

Humano promovida pela APAH, e dinamizada pela

Nobox enquadrada na dimensão motivação, satisfação

e desempenho dos profissionais e visando a promoção

de iniciativas de sensibilização/formação aos profissionais

para fomentar a sua confiança, e a criação de dinâmicas

junto das chefias/superiores hierárquicos que potenciem

a eficácia da comunicação e por conseguinte o aumento

da satisfação e da motivação das equipas. Nesta

perspetiva, visou-se o enriquecimento e a crescente preocupação

com a componente humana, na certeza de que

o relacionamento interpessoal nas equipas de trabalho

nas organizações tem um papel crucial no desempenho

profissional e, como tal, no sucesso da organização.

Deve-se destacar que o programa de formação disponibilizado

no âmbito da Bolsa de Capital Humano, respondeu

totalmente às necessidades identificadas pela

ULSM no que respeita aos temas a abordar:

• Liderança pessoal e de equipas (Conhecer-se, ser líder

de si próprio e aos outros); }

52 53



GH Bolsa Capital Humano

Gráfico 1

• Liderança num novo paradigma (Construir uma cultura

de inovação (perspetiva bottom-up);

• Alinhamento organizacional (Conectar os projetos com

a visão da organização (perspetiva top-down e bottom-up).

A implementação deste programa teve como premissa

a adoção de princípios e valores visando a elevação dos

níveis de bem-estar, qualidade de vida e satisfação geral,

o que em muito reforçou e contribuiu para o sucesso

do processo de conciliação, não deixando contudo, de

se constar a existência de alguns obstáculos à sua implementação,

em especial os relacionados com a tipologia

jurídica da Instituição, e às suas limitações financeiras e

de autonomia de gestão. A situação de saúde pública

foi também geradora de maior insatisfação, cansaço, sobrecarga

dos profissionais, podendo ter em parte prejudicado

a avaliação da satisfação dos profissionais em

tempo útil por falta de disponibilidade dos mesmos e

por não terem usufruído do programa de medidas de

conciliação, sendo esta considerada por vezes até como

um potencial obstáculo.

A adoção de uma Política de Conciliação entre a Vida

profissional, familiar e pessoal veio contribuir para a Cultura

Organizacional da ULSM tornando-a mais sustentada

em complemento de uma cultura já existente baseada

na Qualidade e Governação Clínica, na Segurança, na

Humanização e na Igualdade, com foco na motivação

e a satisfação dos/as profissionais através da melhoria

da comunicação, nomeadamente na forma de o fazer,

nos canais disponíveis e no incentivo à participação ativa

como fator crítico de sucesso no desempenho profissional.

A certificação atribuída por entidade externa demonstra

um reconhecimento público interno e externo

que coloca a ULSM num patamar de referência, que se

espera que seja replicado em outras instituições congéneres,

fazendo uso das boas práticas adotadas, já que

o sistema implementado responde em conformidade

com um referencial normativo.

No âmbito do projeto Capital Humano, e da bolsa concedida

pela APAH, foram selecionados Serviços e Unidades

Piloto, designadas por Equipas Locais de Conciliação

e desenhado um percurso combinado de Projeto

e Mudança.

• UCSP São Mamede Infesta: Dr.ª Filipa Guimarães -

Coordenadora; Enf.ª Maria Fátima Ribeiro - Enfermeira

Responsável; Dr.ª Mariana Silva Ribeiro - Médica Interna;

Enf.ª Marlene Cavadas - Interlocutora da Conciliação;

• USF Oceanos: Dr.ª Susana Ribeira - Coordenadora

e Interlocutora da Conciliação; Enf.ª Joana Leão - Enfermeira

Responável; AT Pedro Gomes - Secretário Clínico;

Dr.ª Maria Inês Ferreira - Médica Interna; Dr. João

Nunes Sousa - Médico Interno; Dr.ª Maria Francisca

Amorim - Interlocutora da Conciliação;

• Serviço Cirurgia: Dr.ª Rita Peixoto - Médica de Cirurgia

- Interlocutora da Conciliação;

• Serviço Cirurgia C: Enf.ª Paula Camilo - Enfermeira

Gestora; Enf.ª Ângela Pontes - Interlocutora da Conciliação;

• Serviço Cirurgia B: Enf.ª Conceição Osório - Enfermeira

Gestora; Enf.ª Margarida Cardoso - Interlocutora

da Conciliação.

Este projeto permitiu que tanto estas equipas como

os responsáveis diretos do processo de certificação na

ULSM usufruíssem de formação técnica e especializada

nas áreas da liderança e da comunicação, o que facilitou

a capacitação das partes no âmbito deste processo e

resultou em ganhos mensuráveis de bem-estar e de relacionamento

interpares e dentro da cadeia hierárquica.

Para além de ser de ressalvar neste âmbito a elevada

contribuição da empresa formadora Nobox, como é natural,

é também de louvar o interesse demonstrado por

todos os profissionais de saúde que integram estas equipas

piloto, uma vez que assumiram o projeto em pleno,

mesmo com prejuízos de disponibilidade pessoal numa

altura de forte pressão dos seus Serviços.

No fim deste projeto, e decorrente da formação ministrada,

outras medidas de conciliação surgiram nos diferentes

domínios:

• Boas Práticas: Possibilidade das chefias assinalarem no

horário as preferências utilizando a letra P;

• Serviços e Benefícios: Serviços de bem-estar e lazer

para os/as colaboradores/as e suas famílias;

• Apoio Profissional e Desenvolvimento Pessoal: Formação

e capacitação (Teambuilding, Coaching, Mindfullness,

Gestão do Stress); Criação de um novo separador

de Conciliação na newsletter “Uma experiência por mês

na 1ª Pessoa”; Cultivar relações: convidar antigos/as colaboradores/as

a partilhar experiências, participar em atividades/iniciativas

da ULSM; Envio de email de Parabéns

aos/às aniversariantes; Carta de boas vindas a novos/as

colaboradores/as.

A avaliação final do impacto do projeto foi realizada

através de um inquérito aplicado às Equipas Locais de

Conciliação.

Os resultados obtidos refletem:

• 71% tem conhecimento de práticas que a ULSM e o

Serviço/Unidade promove e que permitem equilibrar a

vida profissional, familiar e pessoal;

• 48,5% utiliza as medidas de conciliação;

• 62,3% tem informação regular sobre as práticas e medidas

e sabe onde as encontrar;

• 86,8% está satisfeito com os canais de comunicação

utilizados (intranet, email, BI, newsletter);

• 65,7% está satisfeito com as medidas que a ULSM

disponibiliza para ajudar os colaboradores a equilibrar as

responsabilidades no trabalho com as responsabilidades

na vida pessoal e familiar;

• 69,1% considera que a integração da sua Unidade/

Serviço neste projeto, como unidade piloto, promoveu

uma maior divulgação/disponibilização de medidas neste

âmbito, e com isso contribuiu positivamente para a sua

satisfação no local de trabalho;

• 73,5% entende que a Instituição tem abertura para

ouvir/procurar soluções para casos de desequilíbrio vida

profissional, familiar e pessoal;

• 62,7% sabe a quem recorrer em caso de situação de

desequilíbrio na vida profissional, familiar e pessoal.

Havendo ainda espaço de melhoria e de reforço às

Equipas Locais de Conciliação, este projeto permitiu-

-nos ter uma perceção do impacto nestas Equipas Piloto

porquanto as respostas à questão livre de apresentação

de sugestões e comentário final nos incentivam a continuar,

a reforçar e a replicar a outras Unidades e Serviços

da ULSM.

No local de trabalho, assim como nas restantes dimensões

da vida humana, a comunicação é uma chave mestra

para o sucesso. Nesta perspetiva, o trabalho desenvolvido

com o apoio da Nobox foi essencial na dinâmica

de equipas e arranque deste novo projeto, cujos resultados

obtidos incentivaram a continuidade do projeto

e a concretização da replicação futura noutras áreas. Ã

54 55



GH Iniciativa APAH | Prémio Healthcare excellence

CLÍNICA APIC: ADMISSÃO

PRÉ INTERNAMENTO CIRÚRGICO

Joaquim Manuel Fonseca Moreira

Enfermeiro Gestor

Diamantina Maria Melo Fernandes

Enfermeira Especialista

Paula Alexandra Pinheiro Neto

Enfermeira

Teresa do Carmo Nunes Pinto Meireles

Enfermeira

A

garantia da sustentabilidade do Centro

Hospitalar Tâmega e Sousa, EPE

(CHTS) passa pela utilização dos seus

recursos disponíveis de forma eficaz e

eficiente, facto a que a capacidade de

internamento não é exceção. Numa lógica de obtenção

de sinergias e ganhos de eficiência, visando a garantia de

níveis elevados de satisfação, de humanização, da qualidade

dos cuidados e segurança do doente, tornou-se necessário

reorganizar a admissão do doente para cirurgia

convencional eletiva, simplificando circuitos e interligando

as ações a desenvolver através da admissão centralizada

de doentes no próprio dia da cirurgia.

Gráfico 1

A Clínica APIC (Admissão Pré Internamento Cirúrgico),

inaugurada em setembro de 2020, é uma unidade de admissão

centralizada de doentes para cirurgia convencional

eletiva, pensada e idealizada para tornar o processo de admissão

e preparação dos doentes mais ágil e seguro, criando

as condições para que, num único momento e num

espaço próprio, se centralizem todos os procedimentos

administrativos de admissão e cuidados de enfermagem

que incluem a avaliação inicial, preparação do doente para

a cirurgia e transporte do doente para o bloco operatório

e do recobro para o serviço de internamento.

Apresenta como objetivos: otimização dos recursos humanos

e dos serviços hospitalares; redução de custos

com aumento da eficiência; otimização da ocupação das

salas do bloco operatório e recobro; redução da demora

média antes da cirurgia; redução da demora média do internamento;

otimização da taxa de ocupação hospitalar;

melhorar a satisfação dos doentes e a humanização em

ambiente hospitalar.

A Clínica APIC é constituída por oito unidades compostas

por uma cama e um cadeirão, e está localizada na

proximidade do bloco operatório. Dispõem ainda de um

entreposto de camas, constituído por seis camas, que se

encontram num espaço próximo da Clínica, o que permite

a eficácia do circuito do doente entre a clínica, o bloco

operatório e o internamento. O funcionamento, de

segunda a quinta-feira, das 7 horas às 19 horas, é assegurado

por uma equipa dedicada de três enfermeiros,

quatro assistentes operacionais e um assistente técnico,

este último, em tempo parcial.

Assim, foi possível oferecer aos doentes propostos para

cirurgia convencional eletiva um planeamento da sua

estadia hospitalar, que permite, independentemente da

patologia, do tipo de cirurgia ou das co-morbilidades do

doente, o internamento no próprio dia em que a intervenção

cirúrgica está programada, contribuindo para uma

eficácia no processo e promovendo uma maior humanização

e satisfação dos doentes e profissionais.

A tudo isto acrescem benefícios para a segurança do doente,

uma menor taxa de complicações e uma menor

probabilidade de risco de infeções. O doente tem a possibilidade

de permanência de um acompanhante na Clínica

e daqui até à entrada do Bloco Operatório e após a

saída do recobro, até ao internamento.

Durante a permanência na Clínica Apic o doente encontra-se

num ambiente seguro e tranquilo, com música

ambiente relaxante, televisão e acesso a WI-FI, com acolhimento

personalizado, contribuindo para uma relação

de proximidade reduzindo a ansiedade.

A iluminação adequada, ruído diminuído e ambiente sem

interrupções e/ou distrações frequentes contribui para

Fonte: Administração Central do Sistema de Saúde, IP (ACSS)

uma diminuição de eventos adversos associados à cirurgia

segura.

A Clínica APIC permitiu uma maior eficiência hospitalar,

uma vez que a alocação dos doentes às camas das altas

do próprio dia faz com que aquela cama esteja sempre

ocupada, otimizando a gestão de um recurso hospitalar

escasso no CHTS, assim como os profissionais dos internamentos

cirúrgicos ficam com mais tempo disponível

para prestarem cuidados de qualidade aos doentes internados

e agilizarem as altas.

A implementação da Clínica Apic teve como resultado

a diminuição da demora média antes da cirurgia e da demora

média de internamento que se traduz num número

significativo de camas dia/ano vagas, aumentando a rentabilidade

do internamento (Gráfico1).

A Clínica APIC foi o grande vencedor da 8.ª edição do

Prémio Healthcare Excellence, iniciativa da Associação

Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH),

em parceria com a biofarmacêutica AbbVie, que distingue

projetos de melhoria da qualidade dos serviços de

cuidados de saúde prestados aos utentes. Apresenta um

elevado grau de replicabilidade, podendo ser implementado

em diferentes instituições hospitalares com “apenas

uma reorganização de serviços”. Ã

56 57



GH Iniciativa APAH | Prémio Healthcare excellence

PRÉMIO HEALTHCARE EXCELLENCE

RECONHECEU MELHORES PRÁTICAS

EM SAÚDE

á 8.ª edição do Prémio Healthcare Excellence: Assistência do evento

á 8.ª edição do Prémio Healthcare Excellence: Foto de grupo com os vencedores

Pelo oitavo ano consecutivo, a Associação

Portuguesa de Administradores Hospitalares

(APAH) e a biofarmacêutica AbbVie

promoveram o Prémio Healthcare Excellence.

A iniciativa visa reconhecer projetos

nacionais desenvolvidos e implementados no âmbito

da melhoria do acesso, da qualidade, da integração, da

eficiência, da segurança, dos resultados e da gestão de

respostas às necessidades dos utentes no atual contexto

de pandemia. Para além de reconhecer as boas práticas,

a iniciativa pretende acima de tudo promover a sua partilha

e incentivar a sua propagação.

Na edição de 2021 foram rececionadas 36 candidaturas,

uma demonstração da resiliência e inovação por parte

das organizações de saúde públicas, sociais e privadas

em Portugal. O júri do prémio, presidido por Delfim

Rodrigues, da APAH, e que integrou Dulce Salzedas,

jornalista da SIC, Victor Herdeiro, Presidente da Administração

Central do Sistema de Saúde (ACSS), e Carla

Nunes, Presidente da Escola Nacional de Saúde Pública

(ENSP), avaliou todas as candidaturas e selecionou as 8

finalistas. Na reunião final do Prémio Healthcare Exce-

llence 2021, que decorreu a 20 de outubro, no Hotel

Vila Galé Coimbra, foram apresentados os projetos finalistas

e anunciados os grandes vencedores. Para além da

qualidade da apresentação final dos projetos candidatos,

a inovação e a replicabilidade em outras instituições de

saúde foram os critérios de avaliação.

A Clínica APIC - Admissão Pré Internamento Cirúrgico

do Centro Hospitalar Tâmega e Sousa, foi o grande

vencedor da 8.ª edição do Prémio Healthcare Excellence.

A criação desta Unidade, que começou a funcionar

no início de setembro de 2020, teve como objetivo

melhorar todo o processo de admissão pré-internamento

cirúrgico e permitiu reduzir o tempo médio de internamento

cirúrgico e a taxa de ocupação hospitalar,

introduzindo um melhor planeamento do internamento

hospitalar antes da intervenção cirúrgica. Destacam-se

ainda como benefícios uma maior humanização dos cuidados

e a disponibilização de acompanhamento e contacto

personalizado entre os familiares e os enfermeiros

ao longo de todo o processo. São também de destacar

o aumento da satisfação dos doentes e profissionais de

saúde envolvidos. A tudo isto acrescem ainda os benefícios

para a segurança do doente, a redução da taxa de

complicações e da probabilidade de risco de infeções. O

painel de jurados assinalou ainda que este projeto tem

um elevado grau de replicabilidade no SNS.

Entre os finalistas, o júri do Prémio decidiu ainda atribuir

a 1.ª menção honrosa ao projeto Cirurgia de ambulatório

& hospitalização domiciliária em doentes em idade

geriátrica com cancro da mama, do Centro Hospitalar

Universitário de São João. Este projeto consubstancia

uma abordagem inovadora ao doente oncológico em

idade geriátrica e permitiu desmistificar paradigmas e

limites respeitantes à idade cronológica e à cirurgia oncológica

em regime de ambulatório. O projeto foi muito

bem acolhido pelas doentes elegíveis e conjuga a conversão

da cirúrgica para um modelo de ambulatório acoplado

ao acompanhamento em hospitalização domiciliária

ao invés do tratamento convencional, com todos os benefícios

que lhe estão associados.

Excecionalmente, e face à qualidade e impacto das candidaturas,

o júri entendeu premiar este ano dois projetos

com a 2.ª menção honrosa. Uma das menções honrosas

foi atribuído ao Sistema de Rastreabilidade Têxtil, do

Centro Hospitalar Universitário de São João, um projeto

inovador que alia a tecnologia RFID e um sistema

automático de monitorização logística do fardamento

e roupa hospitalar que permite uma gestão atempada,

segura, flexível, consistente e adequada às necessidades

operacionais, com ganhos significativos em termos

de gestão de stocks e redução de desvios e perdas de

materiais. A sua replicabilidade em outras instituições e

a outras tipologias de bens é um dos aspetos mais relevantes

deste projeto.

Também premiado com a 2.ª menção honrosa foi o

programa Prevenção de Quedas. O projeto, iniciado em

2019 na Unidade Local de Saúde de Matosinhos, envolve

a Unidade de Cuidados na Comunidade de S. Mamede

de Infesta em articulação com o Hospital Pedro

Hispano e as Unidades de Saúde Familiar, e tem como

objetivo identificar, caracterizar e estratificar a população

com risco de quedas. Identificados os utentes, são trabalhados

os objetivos de uma melhoria funcional e de

equilíbrio de forma a prevenir quedas. Após avaliação

e trabalho específico, os utentes são encaminhados para

diversas atividades com que se identifiquem, como }

58 59



GH Iniciativa APAH | Prémio Healthcare excellence

á 8.ª edição do Prémio Healthcare Excellence: 1.ª Menção Honrosa

á 8.ª edição do Prémio Healthcare Excellence: 2.ª s Menções Honrosas

caminhada ou hidroginástica, por exemplo.

Entre os finalistas da edição de 2021 estiveram ainda os

projetos: Chegar mais longe da ANDAR - Associação

Nacional de Doentes com Artrite Reumatoide; Portal

de Agendamento Online Para Vacinação Contra a Covid-19

dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde

(SPMS); Programa de Recondicionamento ao Esforço

para Doentes Pós-Covid-19 da Unidade Local de Saúde

de Matosinhos e o projeto Just in Time do Centro

Hospitalar de Setúbal.

Na ocasião Alexandre Lourenço, Presidente da APAH,

destacou que “Vivemos tempos de dificuldades, mas

sabemos que temos competências e capacidades para

fazer melhor e fazer com excelência. É isto que pretendemos

com esta iniciativa, enaltecer o que já se faz no

nosso país e estimular os nossos profissionais a fazer cada

vez melhor”. Também Antonio Della Croce, Diretor

Geral da AbbVie Portugal, reiterou que “esta iniciativa

simboliza o dinamismo, a capacidade de resiliência da

organização em Portugal, principalmente em tempo de

pandemia. Este Prémio pretende distinguir instituições

que procuram implementar boas práticas e têm uma

boa gestão na saúde, regendo-se por valores como a

criatividade, resiliência e inovação”. E reforçou também

“a necessidade de se realizar uma reflexão profundada

sobre a sustentabilidade do setor da saúde e a necessidade

de maiores investimentos nesta área”. Ã

APAH LANÇA LIVRO COMEMORATIVO “A EXCELÊNCIA DA SAÚDE EM PORTUGAL”

Em 7 edições, passaram pelo Prémio Healthcare Excellence perto de duas centenas de projetos candidatos.

A participação e adesão à iniciativa deixa-nos extremamente satisfeitos, mas mais do que a quantidade, importa

realçar a qualidade dos projetos. Todos eles são a prova viva do dinamismo e da qualidade do trabalho que todos

os dias é desenvolvido pelos nossos profissionais de saúde nas organizações de saúde em Portugal.

E porque a divulgação e promoção de boas práticas é parte integrante do caminho para a excelência e melhoria

contínua, considerou pertinente a APAH e a AbbVie promover a compilação e publicação num livro comemorativo,

dando a conhecer os projetos premiados e a evolução que registaram

ao longos dos últimos anos, na esperança que estes sirvam de

inspiração para todos nós.

São, muitas vezes, ideias aparentemente simples para a resolução de

problemas muitas vezes comuns às várias instituições de saúde, fáceis

de adaptar, que exigem pouco ou nenhum investimento financeiro, mas

que permitem simultaneamente contribuir para a sustentabilidade da

saúde em Portugal e assegurar ganhos com grande impacto e valor para

a qualidade de vida dos doentes e das suas famílias.

Que as boas práticas se propaguem e que daqui possam emergir novas

grandes ideias e, quem sabe, novos candidatos ao Prémio Healthcare

Excellence. Queremos que no futuro se criem cada vez mais sinergias

entre as instituições para que as boas ideias se propaguem com determinação

pelo sistema de saúde português. A Excelência na Saúde em

Portugal existe - temos a prova, e recomenda-se!

60



GH ESTUDO APAH

INDEX NACIONAL DO ACESSO AO

MEDICAMENTO HOSPITALAR 2021

Sofia de Oliveira Martins

Professora Auxiliar, Departamento de Farmácia, Farmacologia

e Tecnologias em Saúde, Faculdade de Farmácia

da Universidade de Lisboa

Ana Margarida Advinha

Professora Auxiliar Convidada, Escola de Saúde e Desenvolvimento

Humano da Universidade de Évora; Investigadora Integrada, CHRC

- Comprehensive Health Research Centre

Introdução

São inúmeros os estudos que demonstram que

o medicamento tem sido o maior responsável

pelo aumento da esperança de vida e melhoria

da qualidade de vida 1 . É também reconhecido

que os medicamentos inovadores tiveram na última década,

um papel crucial nos ganhos alcançados 2 .

Os dados apontam para que desde 1990, em Portugal,

os medicamentos inovadores tenham sido responsáveis

pelo acréscimo de dois milhões de anos de vida saudável

(DALY). De acordo com o estudo “O valor do

medicamento”, realizado pelos consultores da McKinsey

& Company, graças à utilização dos medicamentos inovadores

foram evitadas mais de 110 mil mortes e a esperança

de vida foi prolongada até dez anos 3 .

Dado o elevado contributo da inovação em medicamentos

para a melhoria dos resultados em saúde, é hoje

também reconhecido a nível mundial que o acesso à inovação

terapêutica é um direito do cidadão 4,5 .

Em Portugal, o atraso no acesso a medicamentos inovadores

é particularmente marcante, sendo que o país

passou a ser aquele onde o período que medeia a obtenção

da Autorização de Introdução no Mercado (AIM)

e o acesso efetivo dos doentes ao medicamento é o

mais longo da Europa (2019) 6 . Face à realidade nacional,

mas não só, o estudo “Índex de Acesso ao Medicamento

Hospitalar 2019” 7 explorou este acesso, sendo agora

importante monitorizar a situação, de forma a identificar

as barreiras existentes, nomeadamente no seio do Serviço

Nacional de Saúde (SNS), promovendo boas práticas

e minimizando/eliminando as barreiras existentes.

Objetivos

A segunda edição deste estudo (2021) teve três obje-

tivos principais:

• Determinar o nível de acesso ao medicamento hospitalar

e analisar os modelos de gestão, mecanismos de

criação de evidência e de medição de resultados que lhe

estão associados;

• Identificar as barreiras e/ou problemas existentes associados

à equidade de acesso, gestão e dispensa do medicamento

nas unidades hospitalares do SNS;

• Promover o benchmarking e o desenvolvimento de

ações concertadas de melhoria contínua.

Metodologia

Foi realizado um estudo observacional, transversal, cujo

período em análise foi o ano de 2021.

Para a recolha de dados foi desenvolvido um questionário

pelos investigadores da Faculdade de Farmácia da Universidade

de Lisboa, em colaboração com a Associação

Portuguesa dos Administradores Hospitalares e com validação

científica da Ordem dos Farmacêuticos, com base

nos objetivos do estudo.

A construção do questionário e elaboração da fórmula

de cálculo do Índex incluiu uma fase de auscultação e validação

do questionário. Para tal, constituiu-se um grupo

de consenso integrado pelos seguintes peritos externos:

Francisco Ramos, Professor da Escola Nacional de Saúde

Pública; Hélder Mota Filipe, Professor da Faculdade

de Farmácia da ULisboa; Humberto Martins, Diretor da

Área Profissional da Associação Nacional de Farmácias;

Maria do Céu Machado, Professora da Faculdade de Medicina

da ULisboa; Ondina Martins, Membro do Colégio

de Farmácia Hospitalar da Ordem dos Farmacêuticos;

Rosário Trindade, Diretora de Acesso ao Mercado da

AstraZeneca e Tamara Milagre, Presidente da Associação

Evita. }

62



GH ESTUDO APAH

APENAS 30% DAS INSTITUIÇÕES EFETUA

UMA GESTÃO DE DADOS RELATIVOS

À UTILIZAÇÃO DOS MEDICAMENTOS

EM CONTEXTO DE VIDA REAL,

MAS QUANDO EXISTE, OS RESULTADOS

OBTIDOS NESTAS ANÁLISES TÊM

EM 100% DOS CASOS CONSEQUÊNCIAS

PRÁTICAS AO NÍVEL DA ESCOLHA

DOS MEDICAMENTOS

Na reunião de consenso foi pedido aos peritos que definissem

quais as dimensões que deveriam integrar esta

segunda edição do Índex, qual a ponderação a atribuir a

cada dimensão e como poderiam ser operacionalizadas,

de forma a obter um indicador mais objetivo e robusto.

O questionário passou a abordar sete tópicos principais:

• Caracterização da instituição de saúde;

• Acesso a medicamentos (pré-AIM, pós-AIM sem financiamento

e pós-financiamento);

• Monitorização e geração de evidência da utilização;

• Acesso ao medicamento baseado no valor;

• Distribuição de proximidade/consulta farmacêutica;

• Barreiras no acesso a medicamentos;

• Índex Global de Acesso à Inovação.

A recolha de dados realizou-se através de questionário

eletrónico, enviado a todos os hospitais do SNS para resposta

entre 15 de setembro e 15 de outubro de 2021,

sendo a participação voluntária.

Resultados e Discussão

Obteve-se uma taxa de resposta de 61%, superior à

obtida em 2019 (47%). Em termos geográficos, respondeu

uma maior percentagem de instituições da região

Norte (37%), seguida pela região de Lisboa e Vale do

Tejo (33%), Região Centro (20%), Alentejo (7%) e Algarve

(3%).

De acordo com a classificação das instituições hospitalares

constante na Portaria n.º 82/2014, a maioria das

instituições pertenciam ao grupo I (53%), 17% ao grupo

II, 13% ao grupo III, 7% ao grupo IV-a e 10% ao grupo

IV-b/c.

Acesso ao medicamento em fase anterior à decisão

de financiamento

A quase totalidade das instituições respondentes

(86,6%) utilizaram em 2020, medicamentos numa fase

anterior à decisão de financiamento (fases pré-AIM/

AIM sem financiamento).

Acesso ao medicamento na fase pré-AIM

Verificou-se que 54% das instituições utilizaram medicamentos

que ainda não dispunham de AIM, via pedido

de Autorização de Utilização Excecional (AUE). Em

79% dos casos, a utilização está dependente da existência

de um Programa de Acesso.

No entanto, 58% das instituições envolvem pelo menos

seis órgãos neste tipo de pedido antes de ser submetido

ao INFARMED, levando a que o tempo médio

entre o momento do pedido pelo médico até à comunicação

do INFARMED seja de quinze dias (vinte e um

dias em 2018), e de treze dias o tempo médio entre a

aprovação do INFARMED e a compra do medicamento

(doze dias em 2018). Dos pedidos submetidos, 83%

foram aprovados pelo INFARMED.

Acesso ao medicamento na fase pós-AIM, sem decisão

de financiamento pelo SNS

A grande maioria das instituições participantes (85%)

reportaram utilizar novos medicamentos aprovados,

que aguardam decisão de financiamento. Nesta fase,

91% das instituições envolvem cinco/seis órgãos neste

tipo de pedido, sendo de dezasseis dias o tempo médio

entre o momento do pedido pelo médico até à comunicação

do INFARMED (vinte e seis dias em 2018),

e de catorze dias o tempo médio entre a aprovação

do INFARMED e a compra do medicamento (vinte e

cinco dias em 2018). Dos pedidos submetidos, 74,4%

foram aprovados pelo INFARMED.

Acesso ao medicamento após decisão de financiamento

pelo SNS

A esmagadora maioria dos hospitais (96%), utiliza procedimentos

prévios à introdução de um novo medicamento,

após decisão positiva de financiamento pelo

INFARMED. Na emissão do parecer, a Comissão de

Farmácia e Terapêutica está sempre envolvida. Mais,

para 80% das instituições a inclusão no Formulário Nacional

do Medicamento é condição fundamental para

desencadear o processo.

O impacto terapêutico e financeiro de um novo medicamento

é avaliado em 91% e 100% das instituições

respetivamente, e em 78% das instituições é revisto o

algoritmo de decisão terapêutica para a doença a tratar,

incluindo o novo fármaco.

Monitorização e geração de evidência da utilização

No que concerne aos mecanismos de monitorização e

geração de evidência, 47% das instituições não possui

mecanismos de monitorização dos resultados das novas

terapêuticas (70% em 2018), tendo-se aqui verificado

melhoria.

Quando realizadas, as monitorizações incidem sobre- }

64



GH ESTUDO APAH

tudo nos dados de consumo (83%) e no número de

doentes tratados (63%) - valores similares aos de 2018.

Mesmo no caso de medicamentos em que o financiamento

se baseia em mecanismos de partilha de risco e

monitorização de resultados associados a essa partilha,

27% das instituições não monitoriza esses resultados,

algo preocupante que pode pôr em causa este modelo

de financiamento.

Apenas 30% das instituições efetua uma gestão de dados

relativos à utilização dos medicamentos em contexto

de vida real, mas quando existe, os resultados obtidos

nestas análises têm em 100% dos casos consequências

práticas ao nível da escolha dos medicamentos.

Dispensa de proximidade

A grande maioria das instituições possui um programa

de dispensa de medicamentos de proximidade (87%),

sendo que em 54% dos casos este programa foi implementado

no contexto da pandemia. Os medicamentos

chegam ao doente predominantemente via farmácia

comunitária (29%) ou hospital SNS de proximidade

(27%), sendo que as terapêuticas mais frequentemente

abrangidas são para a artrite reumatoide (80%), a esclerose

múltipla (76%) e os antineoplásicos hormonais.

No âmbito da dispensa de proximidade, 46% das instituições

têm implementada consulta farmacêutica, em

58% dos casos para todos os doentes que o desejarem,

e em formato presencial; e em 42% sob a forma de tele

e/ou vídeo consulta.

Barreiras no acesso a medicamentos

Quando questionados sobre o processo de aquisição

dos medicamentos, 57% dos inquiridos consideram

que este processo nunca é desencadeado atempadamente

(78% em 2018).

As três principais barreiras identificadas no processo de

aquisição de medicamentos foram as mesmas que em

2018: carga administrativa (70%), ineficiência dos Serviços

Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) (50%) e falta de

verbas disponíveis (37%). No entanto, apenas 10% consideraram

que o fator preço/modelo de financiamento

foi barreira para o acesso a algum medicamento.

Os resultados mostram também que as roturas continuam

a ser um problema, dado que em 77% dos casos

(100% em 2018) são identificadas como um problema

grave, parecendo, no entanto, ser menos frequentes

que em 2018. Roturas de fornecimento diárias foram

reportadas por 15% dos hospitais, semanais por 30% e

mensais por 50%.

Relativamente à aquisição de medicamentos por via de

negociação europeia, 83% considera que faria sentido,

87% que poderia acelerar o acesso à inovação e 83%

que poderia levar à obtenção de preços mais baixos.

Índex Global de Acesso à Inovação

Como já referido na metodologia, o Índex Global passou

em 2021 a integrar seis dimensões, sendo que apenas

a primeira dimensão se manteve de 2018 para 2021.

Nesta dimensão, foi solicitado aos inquiridos que classificassem

numa escala de 0-100, de acordo com a sua

perceção e experiência nos últimos doze meses, o acesso

a novos medicamentos na sua instituição (0 - sem

acesso a novas terapêuticas; 100 - com acesso a todas

as novas terapêuticas).

O Índex Global de Acesso à Inovação foi classificado

por 67% das instituições (65% em 2018) com um valor

de 80-100%, com uma média de 74,2% (77% em 2018).

O valor médio do Índex, integrando as seis dimensões,

foi em 2021 de 66%, sendo os valores médios por tipo

de instituição (conforme Portaria n.º 82/2014) de 64%

para os hospitais do grupo I e II, de 69% para os do

grupo III, de 92% para os do grupo IVa e de 58% para

os do grupo IVb/c, parecendo indicar diferentes níveis

de acesso em função do tipo de instituição hospitalar.

Conclusões

O Índex Global de Acesso ao Medicamento relativo a

2020 foi de 66%, sendo a existência de roturas graves e

o facto da utilização de medicamentos não ser baseada

em resultados, as dimensões que apresentaram valores

mais baixos.

Face aos resultados, deixam-se as seguintes recomendações

para os decisores:

• Necessidade de criação de mecanismos de avaliação

dos resultados (efetividade e segurança) da utilização

dos medicamentos e de geração de evidência em contexto

de vida real;

• Necessidade de uniformização/convergência dos procedimentos

internos nos hospitais, de forma a reduzir

tempos de acesso e carga burocrática;

• Definição de um enquadramento legal definitivo para

a distribuição de proximidade;

• Exploração da via europeia como via de negociação e

aquisição dos medicamentos inovadores. Ã

1. Frank R Lichtenberg, How many life-years have new drugs saved? A three-

-way fixed-effects analysis of 66 diseases in 27 countries, 2000-2013, International

Health, Volume 11, Issue 5, September 2019, Pages 403-416, https://doi.

org/10.1093/inthealth/ihz0032

2. Boston Consulting Group. Inovação como um Direito dos Portugueses. Perspetivas

sobre o acesso à inovação farmacológica em Portugal e Recomedações

estratégicas para garantir a sua existência. Rev Port Farmacoter, 2016;8:66-67.

3. https://www.apifarma.pt/homepage/valor-do-medicamento

4. Access to Medicines - Overcoming the Barriers. WHO 2015.

5. Godman Brian, Bucsics Anna, Vella Bonanno Patricia, et al. Barriers for Access

to New Medicines: Searching for the Balance Between Rising Costs

and Limited Budgets. Frontiers in Public Health, 2018, vol 6. DOI=10.3389/

fpubh.2018.00328.

6. deloitte-uk-patient-access-to-innovative-medicine-in-europe.pdf

7. https://apah.pt/wp-content/uploads/2019/11/Index-nacional-do-acesso-ao-medicamento-hospitalar-Relat%C3%B3rio_Nov2019.pdf

66



GH Iniciativa APAH | fórum do medicamento

FÓRUM DO MEDICAMENTO PROMOVEU

DEBATE SOBRE NOVAS OPORTUNIDADES

NO ACESSO A MEDICAMENTOS

Durante a pandemia, ocorreram alterações

na resposta hospitalar no que diz

respeito ao acesso aos medicamentos

hospitalares. Neste âmbito, torna-se relevante

perceber que fatores condicionam

este acesso e que oportunidades de melhoria existem

que o possam tornar mais eficiente. Este foi o mote

para a edição de 2021 do Fórum do Medicamento, que

decorreu no dia 19 de novembro, na Academia das

Ciências, em Lisboa, sob o tema Acesso ao Medicamento:

Novas Oportunidades.

Na 13.ª edição desta iniciativa promovida pela Associação

Portuguesa de Administradores Hospitalares

(APAH), em parceria com a AstraZeneca, foi realizada

uma reflexão sobre os modelos de acesso aos medicamentos

hospitalares a nível nacional e europeu. Para

o efeito, foram examinadas e discutidas as oportunidades

e desafios na decisão de financiamento da inovação,

com recurso à partilha dos resultados do Patient W.A.I.T.

Indicator, estudo realizado pela European Federation of

Pharmaceutical Industries and Associations, e ainda uma

análise dos impactos a nível nacional da aplicação do

á 13.ª edição do Fórum do Medicamento: Painel de convidados

novo Regulamento Europeu para a Avaliação de Tecnologias

de Saúde, realizada pelo INFARMED, I.P..

Para além da discussão das oportunidades e desafios

na decisão de financiamento da inovação, foi também

realizada a apresentação pública dos resultados da 2.ª

edição do Índex Nacional de Acesso ao Medicamento

Hospitalar 2021, um estudo promovido pela APAH,

com coordenação científica da Faculdade de Farmácia

da Universidade de Lisboa, e o apoio do Colégio de Farmácia

Hospitalar da Ordem dos Farmacêuticos, que teve

como objetivos quantificar e analisar o nível de acesso

ao medicamento hospitalar; os modelos de gestão

que suportam esse acesso; os mecanismos de criação

de evidência e de medição de resultados; as barreiras e/

ou problemas associados à equidade de acesso; a gestão

e dispensa do medicamento nas unidades hospitalares

do SNS e a promoção de benchmarking com vista ao

desenvolvimento de ações conjuntas e concertadas de

melhoria contínua (ver artigo com os resultados do estudo

nesta edição).

À semelhança das edições anteriores, a iniciativa foi presidida

por Francisco Ramos, sócio de mérito da APAH,

que na apresentação das conclusões do Fórum do Medicamento

deixou as seguintes reflexões e recomendações:

1. Realça-se a elevada importância que o Índex aporta

ao nível da geração de evidência, conhecimento e evolução

no acesso à inovação em Portugal, destacando-se

os seguintes resultados e sugestões de melhoria para

futuras edições do estudo:

• Ficou comprovado que o preço dos medicamentos

não é em 90% das situações condição limitante à decisão

ao acesso ao medicamento nos hospitais;

• Deve ser visto como preocupante o facto de a consulta

farmacêutica ser uma realidade em apenas 46% dos

hospitais. Pelo valor acrescentado que aporta aos doentes,

sugere-se que esta prática deva estar associada à

dispensa de proximidade de forma vinculativa;

• Recomenda-se uma melhor definição do conceito de

roturas de medicamentos;

• Recomenda-se o desenvolvimento de novos indicadores

de avaliação do acesso à inovação terapêutica.

2. Regista-se ainda como extremamente positivo, na dimensão

da inovação organizacional, a aprovação do Regulamento

Europeu para a Avaliação de Tecnologias de

Saúde, do qual se destacam como aspetos relevantes:

• A obrigatoriedade da avaliação económica da eficiência

dos medicamentos, mantendo a decisão económica

em cada Estado membro; e

• A participação obrigatória dos representantes dos doentes,

sendo que neste âmbito se alerta de que esta participação,

de nível europeu, pode afastar a influência das

associações dos próprios doentes. Deixa-se ainda uma

recomendação à reflexão quanto à organização e estruturação

das associações de doentes em - função de pa-

tologias (ICD10) vs interesses globais dos doentes na

evolução das respostas do sistema de saúde.

3. Por último, importa deixar uma reflexão sobre o impacto

da inovação terapêutica nos doentes em termos

de sobrevivência, tendo por base os dados disponibilizados

no Health at a Glance 2020, que introduziu um

novo indicador - Mortalidade por causa tratável - que

demostra que Portugal se posiciona comparativamente

aos restantes países a um nível satisfatório face ao que

aparentemente podem ser consideradas de forma genérica

como barreiras ao acesso. Ã

68 69



GH ESTUDO APAH

IMPACTO DA COVID 19 NA GESTÃO

DA DIABETES NOS HOSPITAIS DO SNS

Hugo Lopes

Consultor Sénior IASIST/IQVIA

Ovírus da SARS-CoV-2 teve um impacto

significativo na utilização dos serviços

hospitalares públicos por parte de

doentes com diabetes, durante o ano

de 2020.

É nesse contexto que, em parceria com a Associação

Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH),

analisámos os doentes com alta hospitalar em 2020, considerando

para o efeito duas sub-populações: os doentes

cujo motivo de admissão no hospital foi a diabetes

e aqueles que, independentemente do seu motivo de

ingresso, tinham diabetes como comorbilidade associada.

Embora o objetivo principal do estudo fosse avaliar

o impacto da Covid nestas duas sub-populações, tendo

por base um conjunto alargado de dimensões: casuística,

complexidade/gravidade, custo médio por doente tratado,

tempos de internamento, mortalidade, complicações

e na conjugação de doentes com diabetes e acidente

vascular cerebral, assim como enfarte agudo do miocárdio

- foi igualmente analisada a variabilidade nos meses

homólogos entre 2019 e 2020, de forma a compreendermos

bem a evolução desta pandemia nos doentes

com diabetes.

Metodologia

Este estudo teve por base a análise dos doentes com

diabetes, identificados como diagnóstico principal ou

secundário, saídos entre 2019 e 2020 dos hospitais do

SNS. De modo a garantir todas as questões de confidencialidade

e proteção de dados, toda a extração de

dados foi realizada pela Administração Central do Sistema

de Saúde, I.P., tendo em conta a seleção dos diversos

códigos de ICD-10 que permitiram a identificação das

diversas sub-populações em análise.

No próximo capítulo, apresentaremos os principais resultados

em cada uma das dimensões analisadas.

Manuel Delgado

Consultor IASIST/IQVIA

Resultados

Casuística

O número de doentes com diagnóstico principal de diabetes

objeto de tratamento hospitalar em internamento

diminuiu na ordem dos 14,5%, verificando-se que as mai-

-ores reduções, entre períodos homólogos, registaram-se

em abril (-40%) e maio (-25%). Tais resultados podem dever-se

a diversos fatores, como concentração dos hospitais

nos doentes Covid, receio dos doentes em procurar

serviços de saúde e a política geral de confinamento.

Todavia, o peso relativo dos doentes diabéticos no contexto

da atividade de internamento hospitalar aumentou

em cerca de 5% no mesmo período. Admite-se que

a súbita falha na resposta dos serviços poderá ter tido

uma repercussão mais negativa em doentes diabéticos,

provocando descompensações que motivaram a procura

hospitalar.

Complexidade

No que diz respeito ao nível de complexidade dos

doentes com diagnóstico principal de diabetes, verificou-se

um aumento em 2020 de 14,4%. Neste sentido,

em média, o consumo de recursos em ambiente hospitalar

desta tipologia de doentes traduziu-se num aumento

dos custos médios por doente tratado de 2.900€ em

2019 para 3.330€ em 2020. Quando comparado com

um “doente padrão” com alta hospitalar nos hospitais

do SNS em 2020, os doentes com diagnóstico principal

de diabetes apresentaram um custo médio de recursos

30% superior. Já nos meses homólogos de abril e maio

esta diferença foi mais significativa, chegando aos 44% e

47% superior, respetivamente.

Tempos de internamento

Embora se tenha verificado uma diminuição do número

de doentes com diabetes em 2020, a sua maior carga de

morbilidade fez com que o tempo médio de tratamento

hospitalar tenha aumentado 2,5% para os doentes com

PARECE INQUESTIONÁVEL QUE OS DOENTES

DIABÉTICOS FORAM LARGAMENTE AFETADOS

COM AS CONSEQUÊNCIAS DA PANDEMIA

diabetes como diagnóstico principal e 3,8% nos casos em

que a diabetes foi diagnóstico secundário. Parece confirmar-se

a maior complexidade dos doentes portadores de

diabetes, pois isso implica geralmente uma estadia mais

prolongada nos hospitais (demoras médias, neste caso, de

13,1 dias para diagnóstico principal e 11,2 dias para diagnóstico

secundário de diabetes).

Mortalidade

Verificou-se, com a pandemia, uma redução de 2,2% na

mortalidade dos doentes saídos nos hospitais do SNS.

Todavia, no caso dos doentes com diabetes, quer como

diagnóstico principal quer como diagnóstico secundário,

a mortalidade intra-hospitalar subiu 6,9% e 5,1%, respetivamente.

Em linha com esta evolução tivemos também

um aumento de óbitos por diabetes no total de óbitos

no SNS (9,3% com diagnóstico principal e 7,4% com

diagnóstico secundário).

Mas a evolução mais significativa resulta da análise da

letalidade da doença, ou seja, o número de óbitos face

aos doentes internados. Essa taxa aumentou 24,9%

nos doentes com diabetes como diagnóstico principal

e 22,6% nos doentes com diabetes como diagnóstico

secundário. Parece assim evidente que estivemos, em

2020, perante uma casuística com diabetes mais severa,

com uma letalidade francamente superior, quer como

diagnóstico principal quer como diagnóstico secundário.

Complicações

Neste estudo foram analisados dois tipos de complicações:

por pé diabético e amputações.

Nas complicações por pé diabético, embora se tenha

registado uma redução generalizada de casos nos doentes

com diagnóstico principal (-18,6%), já nos casos de

diabetes como diagnóstico secundário, registou-se um

aumento de 5,5%. Tal situação pode dever-se ao facto

de que, quando a diabetes se apresenta como uma comorbilidade

associada a uma outra patologia, aumenta a

gravidade do doente e, consequentemente, o risco de

desenvolver mais complicações intra-hospitalares.

No caso específico das amputações, é particularmente

relevante o crescimento de 1,9% nas amputações major

em doentes diabéticos como diagnóstico principal,

ao contrário do que se passou a nível nacional (redução

de 8,1%), e nos doentes com diabetes como diagnóstico

secundário (redução de 7,6%). É de assinalar o aumento

verificado logo em março, no início da pandemia, de

55% no número de amputações, face a mês homólogo

do ano de 2019.

Associação entre a Diabetes e o Acidente Vascular Cerebral

(AVC)

Ao analisarmos os doentes com diabetes e AVC, embora

o número de doentes tenha diminuído em 12%, rondando

em 2020 os 6.700 doentes, dada a maior gravidade

destas situações, verificaram-se consequências significa-

NA REDUÇÃO DA ATIVIDADE HOSPITALAR

tivas na mortalidade e no tempo médio de internamento.

Na mortalidade, não só se verificou um aumento de

8,6% no número total de óbitos, como a letalidade passou

de 12,4% em 2019 para 15,4% em 2020.

Já no tempo médio de internamento, este aumentou em

2,7%, situando-se nos 16 dias em 2020.

Associação entre a Diabetes e o Enfarte Agudo do

Miocárdio (EAM)

Finalmente, já nos doentes com diabetes e com EAM, os

5.500 doentes identificados em 2020, representam uma

diminuição de 15% face ao número de casos em 2019.

Embora o número total de óbitos tenha sido similar entre

os dois períodos (750 óbitos), houve um aumento de

17% na letalidade.

Conclusões

Parece inquestionável que os doentes diabéticos foram

largamente afetados com as consequências da pandemia

na redução da atividade hospitalar em 2020: menos

doentes tratados, mas mais complexos e mais graves,

com mais dias de internamento e maior peso relativo na

atividade hospitalar.

Cumulativamente, registamos um aumento da mortalidade

hospitalar do doente diabético, ao contrário do

que se verificou na mortalidade geral - fenómeno ainda

não devidamente estudado, mas que terá a ver com a

redução da procura e o confinamento, que provocaram

mais mortalidade no domicílio e nas Estruturas Residenciais

para Idosos, contrariando até a ideia de que a Covid

teria induzido uma maior mortalidade hospitalar - o que

parece confirmar a maior gravidade destes doentes.

A reforçar esta ideia, registou-se em 2020 um significativo

aumento da taxa de letalidade dos doentes diabéticos

e um crescimento de 2% nas amputações major, quando

as mesmas se reduziram em termos nacionais.

Nestas circunstâncias, importará avaliar prospectivamente

todos os doentes diabéticos seguidos nos hospitais,

sobretudo com formas mais severas da doença e com

interrupção de visitas ou consultas no ano de 2020. Esta

reavaliação, que deverá estudar bem as situações de

doença agravada e as suas causas, será decisiva para recuperar

a qualidade de vida de muitos doentes diabéticos

e, nalguns casos, poupar vidas. Ã

70 71



GH Iniciativa APAH | PRR DIABETES

ACESSO DA PESSOA COM DIABETES

AOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS

EM TEMPOS DE PANDEMIA

Gráfico 1: Proporção

de utentes com

determinação de risco

para DM2, com registo

nos últimos 3 anos (%).

Fonte: BICSP.

João Diogo

Senior Business Analyst, MOAI Consulting

Joana Sousa

Partner, MOAI Consulting

Eduarda Silva

Junior Business Analyst, MOAI Consulting

Oficialmente declarada pela OMS em

março de 2020, a pandemia de Covid-19

desde cedo fez sentir o seu impacto

e consequências em múltiplos

setores de atividade, o primeiro dos

quais foi inevitavelmente o sistema de saúde e, em particular,

toda a rede SNS.

No que aos cuidados de saúde primários (CSP) diz respeito,

por força do seu caráter e condição de proximidade

com a comunidade, esse impacto decorreu da necessidade

de muscular o dispositivo de Saúde Pública e

de monitorização da evolução epidemiológica da Covid-

-19, bem como posteriormente da alocação de recursos

humanos ao processo de vacinação. A esta realidade

desafiante acresceu, naturalmente, o efeito dos períodos

de confinamento e da sensação generalizada de incerteza

na dinâmica de interação do cidadão com a respetiva

unidade de saúde que, ainda que parcialmente

compensada pelo regime de teleconsulta, sofreu um impacto

considerável.

De entre as várias áreas de atuação na esfera dos cuidados

primários, é importante avaliar o potencial impacto

da pandemia na atividade de prevenção e gestão da

doença crónica, pelo peso epidemiológico significativo

que representa na sociedade portuguesa (41% dos adultos

tem uma doença crónica 1 ). A este nível, facilmente

destacamos uma das dimensões de patologia que mais

carga de doença, impacto económico e impacto social

representa no universo de doenças crónicas não transmissíveis

e que, sem surpresa, constitui também uma das

que mais recursos absorve a nível dos CSP: a diabetes.

A diabetes afeta mais de 1 milhão de portugueses, sendo

que 90% desta realidade corresponde a casos de diabetes

tipo 2, fortemente associados a um histórico de

estilos de vida pouco saudável e, em particular, a casos

de obesidade. Estima-se, por isso, que outros 1,7 milhões

de portugueses estejam em risco de a vir a desenvolver

ao longo da vida 2 . Estes números triplicaram nas últimas

duas décadas, colocando hoje Portugal no lugar de segundo

país europeu com maior prevalência de diabetes,

logo a seguir à Alemanha 3 . Perante uma realidade, já de si

preocupante e com desafios crónicos, a que se acrescentam

as sequelas organizacionais decorrentes da gestão da

pandemia, a APAH e a Novo Nordisk promoveram nos

últimos meses, com o apoio técnico da MOAI Consulting,

a iniciativa “Um PRR para a Diabetes - A Oportunidade

é Agora!” 4 , no âmbito da qual se pretendeu sinalizar

a necessidade de assumir a reconstrução inovadora da

gestão da diabetes como prioridade de saúde pública em

Portugal. Ora, para se construir um caminho robusto de

mudança, é fundamental conhecer com o maior detalhe

possível que cenário enfrentamos ao dia de hoje e, no

contexto atual, compreender concretamente de que forma

a pandemia terá comprometido o acesso da pessoa

com diabetes à rede de cuidados de saúde.

Reconhecendo que a diabetes tem nos cuidados primários

o seu pilar central de prevenção e acompanhamento,

foi levada a cabo uma análise ao conjunto de indicadores

relevantes para a diabetes que constam do Portal

BI-CSP 5 , com enfoque nos últimos 3 anos de modo a

que fosse possível capturar o potencial impacto da pandemia

neste domínio, tendo como referencial comparativo

uma janela de atividade pré-pandemia. Foram analisados

dados referentes a um total de 29 indicadores de

desempenho, que permitiram apurar efeitos significativos

ao nível das quatro dimensões essenciais da gestão

da diabetes: prevenção, diagnóstico, gestão terapêutica e

gestão de complicações.

Prevenção

Dada esta fortíssima correlação com fatores de risco associados

a estilos de vida pouco saudável - sedentarismo,

obesidade, hipertensão arterial - resulta clara a importância

da intervenção de caráter preventivo na comunidade,

papel que progressivamente tem recaído sob a alçada

das unidades funcionais da rede CSP. Num país em que

mais de metade da população tem excesso de peso ou

obesidade, e em que 2 em cada 3 pessoas não pratica

atividade física de forma regular 6 - circunstâncias agravadas

pela pandemia - é preocupante constatar que o último

ano levou a uma inversão da tendência crescente de

cobertura de utentes com avaliação de risco para diabetes

tipo 2, chegando mesmo a registar um decréscimo

de 10% entre março de 2020 e junho de 2021.

Gráfico 2: Proporção

(em ‰) de novos

utentes com diagnóstico

de Diabetes Mellitus

nos últimos 12 meses.

Fonte: BICSP.

Diagnóstico

No domínio do diagnóstico, recai a capacidade de identificar

devida e atempadamente quadros confirmados de

doença, de modo a maximizar a efetividade da intervenção

terapêutica. Como se pode perceber pelo facto de

haver em Portugal praticamente 3 pessoas em situação

de pré-diabetes para cada pessoa com doença confirmada,

esta é uma vertente crucial do acesso a cuidados de

saúde e que sofreu igualmente impacto significativo nos

últimos meses. Embora, entretanto, se tenha verificado

uma significativa recuperação, no final de 2020 a taxa de

incidência de diabetes registava um decréscimo de 23%.

Muito dificilmente esta quebra refletirá uma efetiva diminuição

da carga de doença, sendo possivelmente fruto

da conjugação entre uma limitada capacidade de vigilân- }

72 73



GH Iniciativa APAH | PRR DIABETES

Gráfico 3: Proporção de utentes diabéticos com

registo de acompanhamento adequado (em %).

Fonte: BICSP.

Gráfico 5: Proporção de utentes diabéticos

com exame aos pés realizado nos últimos

12 meses (em %).

Fonte: BICSP.

Gráfico 4: Proporção de utentes diabéticos

com registo efetivo de Gestão de Regime

Terapêutico (em %).

Fonte: BICSP.

Gráfico 6: Proporção de utentes diabéticos

com exame oftalmológico realizado

nos últimos 12 meses (em %).

Fonte: BICSP.

cia e o receio instalado de interação com as unidades de

CSP. Uma vez em fase de recuperação, importará agora

avaliar se a suspensão de atividade traduzida por este indicador

terá conduzido, ou não, a um aumento real dos

novos casos de diabetes em Portugal.

Gestão Terapêutica

Quando incidimos na componente da gestão terapêutica,

falamos de um conjunto bastante alargado de intervenções

(farmacológicas e não farmacológicas) que concorrem

sinergicamente não só para o controlo de indicadores

clínicos específicos mas também para a promoção

da qualidade de vida da pessoa com diabetes. A eventual

perda de contacto ou disrupção de periodicidade

de interação do utente com a equipa de saúde, ainda

que parcialmente compensada pela teleconsulta, poderá

ter comprometido dimensões relevantes deste controlo,

desde logo a nível da adesão à terapêutica particularmente

em subpopulações mais idosas e/ou isoladas e

com o consequente risco de descontrolo de determinados

parâmetros clínicos. A este nível, destacam-se essencialmente

dois indicadores compostos que agregam

várias intervenções e permitem monitorizar de uma forma

global a gestão terapêutica da pessoa com diabetes:

1. Por um lado, a proporção de utentes diabéticos com

acompanhamento adequado (pressupõe registo de IMC,

peso, estatura, pressão arterial, HbA1c, microalbuminúria,

colesterol total, exame aos pés e consulta de enfermagem

de vigilância), onde se verificava em dezembro de 2020

um decréscimo de 56% face a igual momento de 2019.

2. A proporção de utentes com registo de GRT (gestão

de regime terapêutico adequado), o qual compreende

monitorização de regime medicamentoso, hábitos alimentares

e exercício físico e que, na mesma janela temporal,

registou um declínio de 14,5%.

Gestão de complicações

A diabetes é responsável por mais de 4.000 mortes

anuais em Portugal, tendo sido em 2020 a 5.ª causa de

morte no nosso país, se excluirmos as mortes causadas

por Covid-19 1 . No quadro da evolução natural da

doença, antes de conduzir a um desfecho fatal a diabetes

propicia o desenvolvimento de complicações graves no

organismo, de entre as quais se destaca o pé diabético (8

pessoas são amputadas por dia) e a retinopatia diabética

(3 pessoas perdem a visão diariamente). O rastreio à

retinopatia e as consultas do pé diabético constituem,

por isso, elementos altamente relevantes de atividade

nos cuidados primários. Segundo demonstram os dados,

ambas as intervenções sofreram igualmente uma quebra

significativa a partir de março de 2020 (16,5% e 19,1%,

respetivamente) e que se prolongou até fevereiro de

2021, altura a partir da qual se iniciou uma recuperação

consistente. Importará, posteriormente, avaliar de que

forma esta quebra de vigilância terá impactado, ou não,

o volume de efetivas complicações.

Constata-se, em suma, que as circunstâncias proporcionadas

pela pandemia tiveram um impacto considerável

nas várias dimensões que concorrem para uma efetiva

prevenção e gestão da diabetes ao nível da rede CSP,

traduzindo-se na prática num acesso mais dificultado à

globalidade de intervenções acima abordadas. Pese embora

os dados não sejam, por si só, elucidativos quanto

ao peso dos diversos fatores que terão influenciado a

sua evolução ao longo dos últimos meses, parece razoável

inferir que esta limitação de acesso aos cuidados

de saúde resulte de uma conjugação desfavorável entre

uma alocação extraordinária da capacidade instalada para

resposta direta à atividade Covid-19 e uma retração

por parte quer do utente, quer da pessoa com diabetes,

em interagir com a respetiva unidade fundamentalmente

por insegurança. Com maior ou menor fulgor, a generalidade

dos indicadores iniciou uma tendência de recuperação

a partir do final do primeiro trimestre de 2021.

Espera-se agora que, por um lado, seja recuperada na íntegra

a atividade que até aqui terá ficado comprometida

e, por outro, que no futuro próximo sejam dados passos

no sentido de quantificar com maior detalhe o potencial

impacto desta quebra no controlo e qualidade de vida

das pessoas com diabetes. Ã

1. OCDE. State of Health in the EU - Portugal Country Profile. 2021.

2. Observatório Nacional da Diabetes. Relatório “Diabetes em Números

2019”.

3. OCDE. Health at a Glance 2021. Diabetes prevalence among adults, age-standardised

ratio (2019).

4. Website da iniciativa: umprrparaadiabetes.pt

5. SNS. Portal BI dos Cuidados de Saúde Primários. Acedido para o efeito em:

agosto de 2021.

6. INE. Inquérito Nacional de Saúde 2019.

74 75



GH Iniciativa APAH | PRR DIABETES

MENOS PESSOAS COM DIABETES,

MAIS ACESSO E MELHORES

RESULTADOS EM SAÚDE

Em pleno contexto de recuperação multidimensional

dos nefastos impactos causados

pela pandemia, Portugal e os demais

países da União Europeia (UE) enfrentam

hoje uma conjuntura não apenas alicerçada

num ímpeto de recuperação, mas também de reconstrução.

Uma conjuntura alimentada pela motivação de

transformar aquele que será certamente um dos maiores

momentos de adversidade do último século num ponto

de partida firme para um conjunto de reconfigurações estruturais

na nossa sociedade, da Economia à Saúde. O setor

da Saúde, por força de acumulação crónica de pontos

de constrangimento e no rescaldo de uma sequência de

meses de pressão organizacional sem precedentes, evidencia

hoje argumentos e elementos em várias das suas

dimensões que justificam a sua priorização neste quadro

de pensamento e investimento setorial estratégico.

A diabetes é atualmente uma das doenças crónicas não

transmissíveis com maior impacto na sociedade a nível

mundial, sendo que Portugal figura como um dos países

da UE em que a sua prevalência e os indicadores relacionados

com os fatores de risco que lhe estão associados

- como a obesidade, o sedentarismo e a hiper-tensão arterial

- apresentam valores mais elevados.

Importa, por isso, assumir a inovação na sua gestão como

prioridade de saúde pública e é precisamente por

isso que surge a iniciativa “Um PRR para a Diabetes

- A Oportunidade é Agora”, promovida pela Associação

Portuguesa de Administradores Hospitalares

(APAH) e a Novo Nordisk, com o apoio técnico da

MOAI Consulting, inspirada na filosofia de construção

do PRR português, que propõe sinalizar e fazer estimular

a discussão e implementação de intervenções que, por

um lado, fortaleçam valências já existentes e, por outro,

potenciem intervenções inovadoras.

É com este enquadramento e com o objetivo de definir

um plano de ação/reconstrução, que altere o paradigma

da resposta aos desafios da diabetes em Portugal, que

contribua para a identificação daqueles que se consideram

ser os eixos de intervenção prioritários nesta área.

A iniciativa, que juntou 20 especialistas do ecossistema

de saúde (Steering Committee e Task Force) e do universo

da diabetes - estruturas governamentais, profissionais de

saúde, associações de doentes, investigadores, administradores

hospitalares - pretendeu constituir-se como uma

Plataforma de contributo e estímulo à reflexão em torno

das várias necessidades objetivas na área da diabetes, face

às quais possam ser criadas respostas inovadoras por via

de potenciais oportunidade de financiamento disponíveis

a nível nacional e europeu.

Educação, prevenção, capacidade resolutiva, governação

e cooperação operacional, inovação digital

e novos modelos de financiamento são as seis

áreas de intervenção do “Plano de Reconstrução

para a Diabetes”

Para alcançar estes objetivos, o Steering Committee e a

Task Force apresentaram no passado dia 26 de novembro

de 2021 uma proposta de “Plano de Reconstrução para

a Diabetes”, estruturado em três níveis:

• 3 objetivos fundamentais: menos pessoas com diabetes,

mais acesso a melhores cuidados de saúde e melhores

resultados em saúde;

• 6 áreas prioritárias: educação, prevenção, capacidade

resolutiva, governação e cooperação operacional, inovação

digital e modelos de financiamento;

• 16 linhas de ação subordinadas a cada uma das áreas

prioritárias, às quais se procurou associar um conjunto de

métricas passíveis de avaliar o seu respetivo sucesso de

implementação, bem como ideias concretas para materializar

a resposta pretendida para cada uma delas.

A jornada desta extraordinária equipa de trabalho culminou

na produção deste documento, que objetivamente

á Iniciativa “Um PRR para a Diabetes - A Oportunidade é Agora”: Painel de convidados

se propõe ser o “PRR ideal para a diabetes” no contexto

português. Mas esta missão e a sua expectativa de valor

acrescentado não se esgotam aqui. Pela sua natureza multidisciplinar

e face ao espírito de dinamismo, proatividade,

motivação, inovação e cooperação que esta plataforma

gerou e testemunhou, não só no seio do grupo de trabalho

mas através de abordagens e manifestações de

interesse por parte de várias unidades de saúde e organizações

da sociedade civil, pretende-se que esta iniciativa

possa, no futuro próximo, alavancar junto destes intervenientes

a implementação de projetos que se alinhem

com a visão que aqui se apresenta e suportar, para esse

efeito, o exercício de identificação de potenciais linhas de

financiamento que o permitam.

Ambicionando ainda que este “Plano de Reconstrução

para a Diabetes” se possa constituir como um suporte útil

e um estímulo objetivo à dinamização de iniciativas concretas

e inovadoras nesta área são apresentadas, no âmbito

das áreas de ação identificadas, diversas propostas de

iniciativas que poderão, a nível local, regional ou nacional,

contribuir para a concretização dos objetivos assumidos.

A expectativa de impacto do presente “Plano” é elevada

e é alimentada pela ambição de que em 2030 Portugal

possa estar num outro patamar de prevenção proativa,

acesso, efetividade e inovação no que à gestão da diabetes

diz respeito. Em 2030, a cultura de integração e cooperação

entre níveis de cuidados e outros agentes relevantes

da sociedade civil deverá ser um elemento disseminado

e consolidado na prevenção e abordagem à pessoa

com diabetes ou outra doença crónica; os modelos

de financiamento terão como base uma perspetiva de

intervenção populacional, preventiva e de impacto a longo-prazo

no sistema de saúde; as respostas assistenciais

serão equiparáveis em qualidade e efetividade de acesso

em qualquer ponto do país, estando alicerçadas num

robusto planeamento de recursos humanos e técnicos

entre tutela e governação local; o sistema de saúde estará

munido e capacitado para colocar o potencial da inovação

digital em saúde ao serviço de si próprio e, acima de

tudo, do cidadão e da pessoa com diabetes. Ã

PROPOSTA DE “PLANO DE

RECONSTRUÇÃO PARA A DIABETES”

Queremos fazer deste “Plano” uma proposta pragmática,

com sólida visão de futuro, realista, mas ambiciosa.

A proposta de “Plano de Reconstrução

para a Diabetes” estará em consulta pública até

ao dia 30 de janeiro de 2022, e está recetiva aos

contributos de todos os que queiram colaborar para

o seu fortalecimento. A versão final do documento

será entregue à tutela da Saúde do próximo Governo

de Portugal. Faça-nos chegar o seu contributo através

do endereço geral@umprrparaadiabetes.pt. Mais

informações sobre a iniciativa e acesso ao “Plano

de Reconstrução para a Diabetes” está disponível

em www.umprrparaadiabetes.pt e no website da

APAH em www.apah.pt. A oportunidade é agora

e não pode ser mais adiada!

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GH publicações apah

UM LIVRO COMO INCENTIVO À

REPRODUÇÃO DE BONS EXEMPLOS

João Araújo Correia

Presidente Cessante da SPMI

Devemos prestar tributo àqueles que

ousam iniciar algo novo. É preciso fazer

mais, sair da comodidade da rotina,

mesmo quando trabalhada com profissionalismo

e competência. A força da

inércia é enorme, e há sempre quem ponha mais dificuldades,

sem trazer nenhumas soluções, para que tudo

fique na mesma.

Podemos continuar a orgulharmo-nos do nosso SNS

após os 40 anos que decorreram desde a sua criação.

Mas, temos de ver o quanto Portugal mudou, para nos

apercebermos das respostas em saúde que as pessoas

agora exigem, que devem garantir qualidade e equidade

entre as várias regiões do País. Envelhecemos muito, o

que é um bem, porque resulta das melhores condições

higiénico sanitárias e da evolução da ciência e dos cuidados

de saúde. Mas, o aumento da esperança de vida

traz consigo uma população que padece de várias doenças

crónicas, por vezes em simultâneo, com necessidade

do uso de múltiplos medicamentos. A Saúde Pública, os

Cuidados Primários e os Hospitais, servem as pessoas

como se fossem linhas de serviços paralelos, que quase

nunca se cruzam. A própria Segurança Social tem de estar

interligada com os Serviços de Saúde, porque a doença

é quase sempre física e social.

O livro “Cuidados de Saúde de Proximidade - Um Roteiro

para a Humanização e Integração” homenageia

os mentores de várias Unidades de tratamento, que se

inquietaram e quiseram responder aos anseios das pessoas

de hoje. O paradigma do tratamento do doente de

certa gravidade obrigar ao internamento hospitalar está

ultrapassado. A doença crónica específica (insuficiência

cardíaca, doença pulmonar crónica, doença hepática

crónica, etc.), tem de ter uma porta aberta no hospital,

com a equipa de saúde competente e que o conhece,

que não obrigue ao recurso ao Serviço de Urgência. A

descompensação aguda, não tem dia nem hora marcada,

como na consulta externa a que nos habituamos.

Acreditamos que a descrição pormenorizada das Unidades

de tratamento de “Medicina de Proximidade”,

feita com as palavras entusiásticas dos responsáveis pela

sua criação, aliada à visão operacional do Administrador

Hospitalar, pode contribuir para a reprodução desses

bons exemplos, conseguindo-se uma cobertura nacional,

tão justa como necessária. É claro que as grandes

mudanças só ocorrem com a conjugação da vontade

política, com um sólido modelo de financiamento, que

não dependem de nós. Faça cada um a sua parte, que

as coisas acontecem e perduram no tempo, para além

da vida dos iniciadores, a bem dos doentes e do SNS! Ã

78



GH publicações apah

TRANSFORMAÇÃO DIGITAL EM SAÚDE

CONTRIBUTOS PARA A MUDANÇA

AAssociação Portuguesa de Administradores

Hospitalares (APAH) apresentou

no passado dia 13 de dezembro,

em Lisboa, o seu mais recente livro

“Transformação digital em saúde

- Contributos para a mudançaˮ, uma obra inserida na

coleção “Gestão em Saúde em Portugal” com a chancela

das Edições Almedina.

Com coordenação de Teresa Magalhães, esta obra pretende

ser um guia que incentiva a procura de soluções

na área da saúde e ao mesmo tempo um espaço de partilha

e de aprendizagem. A transformação digital é essencialmente

uma transformação cultural, de mentalidades

e de uma forma de estar na sociedade, percebendo o

que podemos fazer para tornarmos melhor os nossos

ambientes de trabalho e com quem nos relacionamos,

tornando o sistema de saúde mais eficaz, mais eficiente,

mais rápido, com mais qualidade e abrangência. Para este

fim, o Grupo de Trabalho de Gestão de Informação

em Saúde (GTGIS) da APAH contou com a participação

de um largo conjunto de intervenientes do sistema de

saúde, num conjunto de 88 autores, desde os prestadores

públicos e privados, as instituições governamentais na

área da saúde, as ordens profissionais, as associações de

doentes, a academia, as empresas de tecnologia e outras,

e também organizações internacionais como a OCDE,

o Ministério da Saúde do Brasil e a Rede D’Or no Brasil.

Recorde-se que o Grupo de Gestão de Informação em

Saúde da APAH foi criado em 2017, com o intuito de

elaborar recomendações e propostas de melhoria na

gestão da informação em saúde. Este livro resulta de

um trabalho conjunto deste Grupo com o objetivo de

responder a uma lacuna de informação e de partilha de

boas práticas nesta área. No seu conjunto o livro tem dez

capítulos, cada um deles coordenados por elementos do

GTGIS e um prefácio da autoria do Secretário de Estado

para a Transição Digital, André de Aragão Azevedo.

“… esta 4.ª Revolução Industrial - que se convencionou

chamar de revolução digital - distingue-se das anteriores

pela combinação de dois fatores até aqui incompatíveis:

Escala e Personalização. Pela primeira vez na história - e

em resultado do avanço e maturidade tecnológicos - é

hoje possível oferecer virtualmente a toda a população

um serviço de saúde de base tecnológica, que responde

simultaneamente à especificidade concreta de cada indivíduo.

A análise do potencial de interseção destas duas

áreas (Tecnologia e Saúde) é tão relevante para o debate

sobre o futuro da Saúde em geral e, concretamente,

em Portugal. Não nos devemos abster de manter a nossa

atenção focada nos desafios e nas oportunidades que

o nosso sistema de Saúde enfrenta nesta era digital e que

este livro de alguma forma vem responder” defende o

Secretário de Estado para a Transição Digital, André de

Aragão Azevedo, no editorial do livro.

Também o Presidente da APAH, Dr. Alexandre Lourenço,

em referência ao Capítulo 1 do livro, na abertura

da sessão de lançamento, sublinha que “entramos numa

nova era, uma era digital de prestações de cuidados de

saúde. ...A forma como prestamos cuidados vai sofrer

uma enorme transformação. ...Não é uma matéria de digitalizarmos

os processos atuais, mas sim enquadrarmos

estes processos numa nova realidade, sendo que esses

processos vão sofrer grandes alterações e vão permitir

aumentar o acesso, a integração de cuidados e a qualidade

dos serviços prestados”. Para este fim exige-se uma

estratégia e liderança efetivas exigindo a colaboração de

todos os intervenientes, para que uma nova filosofia de

QUANDO TUDO É DIGITAL, A SAÚDE NÃO PODE SER UMA EXCEÇÃO

“André de Aragão Azevedo, Secretário de Estado para a Transição Digital,

durante o lançamento do livro

prestação de cuidados digitais possa acontecer.

Durante o debate da sessão de lançamento conduzida

por Dulce Salzedas, foram discutidos alguns temas como

a regulação, a resposta atual e futura dos sistemas de

informação em saúde, a participação dos diversos atores

no desenvolvimento de soluções, entre outras.

A propósito, o Presidente dos Serviços Partilhados do

Ministério da Saúde (SPMS), Dr. Luís Goes Pinheiro refere

que “os SPMS gerem mais de 85 sistemas de informação

e falam pouco uns com os outros com custos elevados

de manutenção”. “E é cada vez mais exigente por

parte dos profissionais e cidadãos a forma como olham

para o digital e aquilo que exigem dos próprios sistemas,

sendo a capacidade de resposta limitada”. Mas de facto

temos de refletir como nos queremos posicionar para

o futuro como resposta a necessidades prementes de

resposta ao cidadão e profissionais. Desafios como de

quem são os dados, como aceder tanto para investigação

como o direito enquanto cidadão a possuir a sua

informação de forma rápida e transparente são alguns

pontos para refletir. Porque a capacidade de inovação

passa em primeiro lugar por estas questões.

Portugal tem condições para continuar a liderar um processo

de inovação no âmbito do digital na saúde, através

da concentração e desenvolvimento de talento nesta

área, em particular na saúde digital, alavancando as vantagens

que o país tem na transição digital e na história

do seu Serviço Nacional de Saúde de elevada qualidade.

Este livro é um pequeno contributo, pretendendo ser

inspirador, para que possa fazer acontecer. Ã

80 81



GH academia apah

Leadership Healthcare Delivery in a VUCA World

REFLEXÃO SOBRE OS DESAFIOS DA

LIDERANÇA EM SAÚDE PARA O MODELO

DA PRESTAÇÃO DOS CUIDADOS DE SAÚDE

Diogo Saudade Vieira

Longe vão os tempos em que um líder era

reconhecido unicamente pelas suas aptidões

intrínsecas para tomar decisões. Um

bom gestor era, pois, aquela pessoa que

a cada situação tomava intuitivamente e

rapidamente, e quase sem esforço, uma decisão (nas palavras

de Daniel Kahneman, “pensar depressa”).

Todavia, se bem que esta forma de pensar consegue funcionar

bem na maior parte das vezes, certo é que quando

as questões se tornam demasiado complexas, ou que exigem

uma ponderação complicada, decidir intuitivamente

pode levar o gestor a tomar decisões erradas. É, por isso,

necessário, nestas circunstâncias, “pensar devagar”.

Para tal, um gestor tem de ter ferramentas adequadas,

isto é, formação adequada e atualizada que lhe permita

garantir o sucesso da sua organização. E se isto é verdade

na generalidade das organizações de tipo empresarial,

maior enfoque ganha nas organizações de saúde, face

à sua reconhecida e especial complexidade. Aliás, Peter

Drucker, considerado o pai da administração moderna,

chegou mesmo a afirmar que os hospitais representam a

forma mais complexa de organização humana que alguma

vez se tentou gerir (Drucker, 1989).

Deste modo, nas organizações de saúde, a qualificação

dos profissionais com responsabilidade de as dirigirem

é um dos pilares fundamentais para a garantia do seu

desempenho, e consequentemente, um fator crítico para

o sucesso do próprio Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Foi neste espírito que tivemos oportunidade de frequentar

o Programa “Leadership Healthcare Delivery in a

VUCA Worldˮ, na sequência de uma bolsa de formação

atribuída pela Associação Portuguesa de Administradores

Hospitalares (APAH). Este Programa resultou de

uma parceria entre a Nova School of Business & Eco-

Rosário Reis

á Programa “Leadership Healthcare Delivery in a VUCA World”: Foto de grupo

nomics - Executive Education, a Roche e a APAH, teve

início no dia 28 de fevereiro de 2020, e tinha como data

prevista para conclusão o dia 5 de junho do mesmo ano.

Todavia, a pandemia provocada pela Covid-19 encarregar-se-ia

de postergar o fim do curso para um ano depois,

precisamente para o dia 21 de setembro de 2021.

O Acrónimo VUCA, pretende descrever a volatilidade

(Volatility), a incerteza (Uncertainty), a complexidade

(Complexity) e a ambiguidade (Ambiguity) das condições

atuais do mundo em que vivemos, termo que se

veio a revelar totalmente aplicável às vicissitudes (pandémicas)

ocorridas durante o curso, que obrigaram a

adiamentos e constantes adaptações curriculares. Nem

por isso o curso perdeu a sua matriz original, tendo, pelo

contrário, visto a sua aplicabilidade prática reforçada, numa

perspetiva de integração e progressivo ajustamento

aos acontecimentos.

O programa formativo do curso, cujos conteúdos, refira-se,

eram muito atuais e ministrados por profissionais

com várias experiências profissionais e académicas, revelou

ter, também, uma estrutura pedagógica estimulante,

por permitir que os formandos identificassem o seu

perfil e os seus desafios, por não assumir uma vertente

meramente expositiva, mas acima de tudo por utilizar

dinâmicas atraentes, motivadoras, heterogéneas e otimizadas

de apreensão do conhecimento. Para tal, foram

combinadas diferentes abordagens e metodologias formativas,

sempre com uma forte componente eminentemente

prática, potenciando e capitalizando a experiência

profissional dos participantes, como foram os trabalhos

de grupo, o estudo de casos, os debates e as entrevistas

que, dessa forma, permitiram aprofundar os pontos de

vista e projetar os conhecimentos adquiridos.

De facto, as técnicas de simulação utilizadas aprofundaram

a já referida componente prática do programa que

permitiu a aplicação concreta dos conhecimentos. É, pois,

de realçar a atualidade e aplicabilidade imediata de muitos

dos conhecimentos adquiridos ou, em alguns casos,

recordados. No âmbito do curso, muitos dos formandos

aplicaram as metodologias aprendidas na sua prática

profissional. Por outro lado, a partilha de experiências

e a reflexão, quer individual, quer conjunta, enriqueceu

decisivamente a experiência vivida.

Conforme já foi referido, a riqueza do curso em muito

se deveu à elevada capacidade de os formadores nos

relembrarem que as organizações, especialmente as de

saúde, têm que ser adaptativas e ágeis e que o foco, não

sendo possível prever o futuro, como aliás a pandemia

fez questão de nos mostrar, tem de incidir na constituição

e manutenção de equipas e estruturas capazes de

lidar com o inesperado, qualquer que ele seja. A aprendizagem

à convivência com um mundo que é VUCA, a

capacidade de identificar e formular estratégias diferentes,

novos processos, incorporando a nova cultura e encarando

os desafios como oportunidades de mudança,

são aptidões que os gestores devem possuir. Potenciar

o sentido de urgência que, em determinadas alturas, se

cria é saber tirar proveito das circunstâncias e usá-las para

implementar a mudança, constituindo este o primeiro

passo para se criarem as condições necessárias para ultrapassar

os obstáculos.

O curso deu um enfoque muito particular à questão da

comunicação nas suas diversas aceções: a comunicação

dentro da organização; e a comunicação externa, com o

público, com os stakeholders, com os media, etc. Neste

âmbito, pudemos constatar que o mais importante para

uma comunicação eficaz será, porventura, a simplicidade

do conteúdo da informação, a credibilidade (do mensageiro

e da mensagem), a coerência (entre a ação e

a mensagem) e a autenticidade: “Be yourself; everyone

else is already taken!” - Oscar Wilde.

Por último, mas não menos importante, gostaríamos de

enaltecer o espírito de camaradagem com que decorreu

todo o Programa, desde os formadores, aos demais

profissionais da Nova SBE Executive Education que foram

inexcedíveis no apoio que nos foi dado e estiveram

sempre prontos a colaborar. Naturalmente, uma palavra

de apreço e genuína amizade aos colegas com quem

tivemos o prazer e privilégio de privar, pela partilha, pelo

apoio e pelos convívios inesquecíveis.

Finalmente, queríamos deixar também um agradecimento

especial à APAH e à Roche pela oportunidade que

nos deram de participarmos neste programa de formação

executiva tão enriquecedor, que contribuiu não só

para o nosso crescimento e desenvolvimento pessoal,

como também impactará diretamente no próprio crescimento

organizacional tanto da Administração Regional

de Saúde do Centro, IP como do Centro Hospitalar

e Universitário de Coimbra, EPE, contribuindo, desse

modo, para um melhor, mais eficiente e efetivo SNS. Ã

• Drucker, P. F. (1989) The New Realities: In Government and Politics, in Economics

and Business, in Society and World View, New York, Harper & Row.

• Kahneman, D. (2015) Pensar, depressa e devagar, 12ª edição, Temas e Debates:

Círculo de Leitores, Lisboa.

82 83



GH academia apah

A MUDANÇA É UM PROCESSO CONTÍNUO

REFLEXÃO SOBRE OS DESAFIOS DA

LIDERANÇA EM SAÚDE IN A VUCA WORLD

Leadership Healthcare Delivery in a VUCA World

No mundo do século XXI, em permanente

mutação, onde impera a inovação, digitalização

e comunicação, a necessidade de

liderança nas organizações é fulcral para

acompanhar as mudanças impostas

por uma globalização “supersónica”. Na saúde, a interação

entre estes diversos fatores exige uma elevada capacidade

de gestão dos diversos intervenientes e forte

capacidade de liderança dos seus decisores.

Em Portugal, os desafios da liderança em saúde são vários,

mas sem dúvida os mais relevantes são o financiamento,

o futuro do perfil das doenças e as suas implicações financeiras,

o acesso à inovação e à tecnologia. A estes desafios

juntam-se a otimização da cultura organizacional, o

acesso e acompanhamento do digital das instituições, os

dados em saúde e o acesso aos cuidados de saúde pela

população, de forma equitativa, célere e humanizada.

Outro grande desafio é a promoção da saúde e, por

consequência, a prevenção da doença, a gestão da doença

crónica e a gestão da doença assente num modelo

de personalização de cuidados.

Por outro lado, os desafios têm de ser vistos como

oportunidades de criar valor para a área da saúde. A

curto prazo, a aposta deve assentar nas profissões, na

gestão com autonomia no Serviço Nacional de Saúde

(SNS) e na renovação de equipamentos e arquitetura

das instituições. A médio prazo, os cuidados de saúde

primários devem reforçar o seu papel de pivot da saúde

e os hospitais o de cuidados com alta diferenciação, de

relevância e com sustentabilidade na aplicação da tecnologia

e dos mais inovadores sistemas de informação.

O debate deverá ainda passar pela relação através de

outros instrumentos, as PPP, o setor privado e o respeito

pelas decisões individuais nas escolhas. Por último, a longo

prazo, estará a aposta em condições de vida saudável.

Devido à sua especial complexidade, a pandemia relevou

uma profunda capacidade de adaptabilidade e ajustamento

contínuos por parte dos profissionais e das instituições

num cenário de incerteza, que rapidamente de-

Marlene Gonçalves

ram resposta às necessidades das suas populações. Precisamos

de acompanhar essa energia social, presente na

prestação de cuidados, com a adoção de processos focados

nos recursos humanos e na inovação, mais simplificados

e tecnologicamente mais desafiantes, de apoio às

melhores práticas e à melhoria contínua da qualidade.

É necessário abraçar esta etapa e entendê-la como uma

oportunidade. O impacto da pandemia vai revelar-se também

através de outros desafios: a mudança e a organização

na área da saúde vai depender da reabilitação económica

do País, da adaptação e organização das instituições

de saúde aos novos cenários e exigências, também através

da regulação e normativo muito claros e da definição

de políticas públicas no reforço das estruturas na comunidade,

nomeadamente através do processo de descentralização.

Ao pensarmos o futuro temos a oportunidade

de o reconstruir, podemos e devemos fazê-lo como se

se tratasse de um trabalho de uma equipa só, com sentimento

de empatia, unidade e positividade com todas

as entidades que intervêm na área da saúde, em estreita

colaboração entre o SNS, instituições públicas e privadas,

instituições governamentais e da área do apoio social, reforçando

as estruturas de cuidados continuados. Juntos

com um único objetivo, que é o propósito basilar da saúde:

prestar os melhores cuidados de saúde aos utentes e

ter a comunidade interna do setor saudável e produtiva.

Com este tema falamos de pessoas, falamos em criar valor

para as pessoas para quem trabalhamos e em motivar

pessoas para desenvolver trabalho. A liderança é definitivamente

um processo de comunicação e de valorização

dos profissionais e da cultura organizacional que tem de

ser existente e permanente nas organizações de saúde.

A mudança é um processo contínuo. Devemo-nos concentrar

no valor que vamos gerar em saúde. Numa conjuntura

de incerteza, há que gerar melhorias de rentabilidade

sustentável. Uma liderança assertiva neste contexto

pode fazer a diferença se conseguir motivar e capitalizar

equipas e estruturas capazes de lidar com a imprevisilidade,

com qualquer futuro. Ã

Isabel Pita

Agradeço à APAH a oportunidade concedida

para a frequência da 7ª edição

do Programa “Leadership Healthcare

Delivery in a VUCA Worldˮ na

Nova SBE Executive Education, onde

foram abordadas várias temáticas críticas para a gestão

das organizações e fomentada a reflexão sobre princípios

orientadores e estruturantes da liderança na Saúde. Experiência

enriquecedora pela qualidade dos professores e

preletores convidados, a atualidade dos temas e dinâmica

do grupo de participantes.

Introdução

O conceito VUCA (sigla que significa Volatilidade, Incerteza,

Complexidade e Ambiguidade) foca-se na necessidade

da formulação de uma estratégia rapidamente ajustável

a contextos imprevisíveis, à mudança de cenários.

Efetivamente, a atual pandemia provocou uma transformação

num curto espaço de tempo na sociedade.

Todo o conjunto de mudanças e disrupções desencadeadas

provocaram nos cidadãos novos comportamentos no

acesso e aquisição de serviços e produtos, que poderão

indiciar alterações mais profundas.

Por um lado, a necessidade de permanecer em casa na

sequência das restrições à circulação, fomentou o uso das

tecnologias digitais nas relações económicas e sociais, e

permitiu o desenvolvimento de novos modelos de cooperação

e organização de trabalho.

Por outro, a perceção do valor dos produtos e serviços

progrediu, resultante da conjuntura económica, tornando

os indivíduos mais exigentes com as organizações.

Neste cenário de mudança, aos líderes será exigido princípios

de atuação como Visão Estratégica, Compreensão,

Simplicidade e Agilidade para enfrentar os desafios

a surgir.

Tendências

Simplificação dos processos de aquisição de serviços e

produtos pelos cidadãos, permitindo-lhes controlar o

processo de aquisição e torná-lo mais fácil e intuitivo.

Crescimento do fluxo de informação, sociedade em rede,

os indivíduos procuram aconselhamento e respostas

rápidas às questões que pretendem ver esclarecidas, para

fazerem uma escolha mais acertada.

Amadurecimento da economia da confiança assente na

transparência, privacidade, credibilidade e proximidade,

decorrente da problemática relativa à gestão e posse dos

dados pessoais e ao poder da informação. Incremento do

valor percebido pelo cliente, isto é, o consumidor quer

os maiores benefícios do produto ou serviço pelo menor

custo (Valor = Benefício - Custo).

Evolução da utilização integrada de múltiplos canais físicos

e digitais para criar uma experiência de cliente fluída e

consistente - mundo omnicanal.

No setor da saúde, as interações virtuais tornaram-se

uma necessidade, verificou-se uma aceleração na utilização

da telemedicina para prestação de cuidados em casa,

consultas online; utilização de aplicativos digitais para

a monitorização em tempo real da saúde do paciente;

utilização da inteligência artificial para atingir melhores resultados

clínicos através da prevenção e identificação de

problemas de saúde. A informação de saúde chega de

novas formas, a experiência do paciente é física e digital.

Desafios da liderança em Saúde

Desenvolver e executar uma estratégia centrada no paciente

e nas suas necessidades de forma integrada.

Valorizar e melhorar a experiência e participação do paciente

no processo de prestação de cuidados em todos

os pontos de contacto, tornando-a mais simples e intuitiva.

Desenvolver estratégias de envolvimento, transparência e

comunicação objetiva.

Inovar e criar capacidade para promover a mudança recorrendo

ainda mais à tecnologia de informação e comunicação

e outras tecnologias emergentes.

Valorizar, qualificar e requalificar os recursos humanos,

através do desenvolvimento de novas competências, capacitando-os

e motivando para a transformação. Ã

• Deloitte, (2020), Patient engagement 2.0, How life sciences companies can

take patient engagement to the next level, Lush et al., Deloitte Review, julho.

• David C. Edelman, Marc Singer, (2015), Competing on Customer Journeys,

Harvard Business Review, November.

• Rohit Deshpandé, (2014), Customer Centricity Core Curriculum Reading,

Harvard Business Publishing.

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GH academia apah

SIMULAÇÃO SOBRE GESTÃO

ESTRATÉGICA DE OPERAÇÕES

Simulação sobre Gestão Estratégica de Operações

O

serviço de urgência hospitalar (SU) é um

elemento fundamental no acesso ao sistema

de saúde e nesse sentido um sensor

privilegiado do grau de abrangência,

coordenação e integração de cuidados

disponibilizados à população.

A sobrelotação registada em muitas urgências e os elevados

tempos de espera para atendimento, de atendimento

ou de espera para internamento, são motivo

frequente de desconforto e insatisfação para doentes e

famílias, explicando a pressão, muitas vezes mediática,

sentida pelas instituições.

Os riscos em termos de qualidade, segurança e equidade

dos cuidados prestados neste contexto podem ser

menos aparentes: da irreversibilidade de situações mais

graves que não são oportunamente atendidas à possível

deterioração clínica e perda de saúde sofrida por aqueles

que não conseguem esperar para ser atendidos; da utilização

de testes desnecessários ao tratamento de sintomas

sem adequada coordenação e integração das causas

e raízes dos problemas.

Como corolário destes dilemas resulta um profundo cansaço,

desmotivação e perda de moral dos profissionais;

e um consumo perdulário de recursos que prejudica a

eficiência e a sustentabilidade necessárias para garantir a

melhoria futura do sistema.

Haverá soluções para o SU? É possível melhorar? A resposta

é inequivocamente sim. Vem este tema a propósito

do interessantíssimo jogo da Gestão em Serviço de

Urgência em que tive o privilégio de participar e que nos

permite, de forma interativa e em equipa interdisciplinar,

simular muitos dos problemas e testar, de forma competitiva,

muitas das soluções com que podemos otimizar o

funcionamento dos SU.

Neste jogo, o espirito de corpo e a cultura organizacional

Filipe Basto

de cada equipa constroem-se de uma forma lúdica, conciliando

elementos racionais e emocionais. Esta dinâmica

permite um entendimento comum dos processos ou recursos

que estrangulam a operação, condição necessária

a um ciclo de melhoria bem-sucedido. O sucesso das

intervenções é aferido através de indicadores que comparam

a atividade e a complexidade do desempenho de

cada equipa.

Liderança clínica forte e comunicação, permanente e eficaz,

na relação entre os profissionais e no handover de

cada doente, são outras das pedras de toque deste jogo,

que permite simular através da variável “tempo”,

a pressão que realmente existe nos SU. É interessante

constatar que a adoção de novos comportamentos

pelos membros da equipa é reforçada pelo espírito de

corpo construído e pela observação imediata e in loco

do seu impacto.

De forma interativa, podem ensaiar-se diferentes modelos

administrativos e de registo (admissão e alta), de

triagem, de avaliação médica, de processamento de recursos

(por exemplo laboratoriais ou imagiológicos), valorizando

a interligação e entreajuda entre diferentes

profissionais bem como a importância da arquitetura de

espaços e da flexibilização de competências dentro da

organização. Tudo isto através de mudanças estruturais

simples e utilizando recursos já existentes.

As melhorias que o jogo permite antecipar na dinâmica

do SU são importantes e a experiência adquirida é extremamente

positiva. Contudo, o SU não funciona de

forma isolada e determinantes como a pressão da procura

que o sistema de saúde determina a montante e as

barreiras e disfunções organizacionais a jusante (dentro

do próprio hospital ou rede hospitalar) são fatores interdependentes

e decisivos, a equacionar em qualquer

restruturação. Ã

á Workshop de “Simulação sobre Gestão Estratégica de Operações”: Foto de grupo

ENSINAMENTOS PARA A PRÁTICA

DA GESTÃO HOSPITALAR

Manuela Almeida

A

APAH disponibilizou em setembro de

2021 algumas bolsas formativas para

os seus associados, em articulação com

a AESE. No âmbito desse projeto,

surgiu a possibilidade de frequentar o

“Workshop de Simulação sobre Gestão Estratégica de

Operações”, realizado em 15 e 16 de setembro do corrente

ano. O workshop dividiu-se em duas partes teóricas

e uma parte prática, a saber:

• “Motivação dos Profissionais de Saúde” lecionada pelo

Professor João Fonseca Pires;

• “Conceitos Fundamentais de Gestão de Operações”

lecionada pelo Professor Nuno Biga Almeida;

• “Jogo da Urgência”.

A palestra sobre “Motivação dos Profissionais de Saúde”,

foi iniciada com a constatação de que a generalidade

dos projetos e o funcionamento dos serviços depende

da contribuição de várias pessoas, o que é muito

acentuado na área da prestação de cuidados de saúde,

a qual reúne caraterísticas de elevada complexidade e

depende do mix de competências de todos os grupos

profissionais intervenientes.

Ainda no âmbito da motivação dos profissionais de saúde,

foram abordadas as várias teorias da motivação que

surgiram ao longo do século XX. A este nível, foram

identificados os fatores que geram motivação, nomeadamente

o enriquecimento das tarefas e a procura de

um sentido/propósito altruísta das mesmas, bem como,

noutra vertente, as necessidades expressas na pirâmide

de Maslow, entre outras. Já no século XXI, a evolução

das teorias sobre a motivação assentou na necessidade

de atribuir autonomia e propósito ao exercício das }

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Simulação sobre Gestão Estratégica de Operações

funções, bem como de continuar a aprender e a desenvolver-se.

Por fim, a teoria tripartida da motivação identifica

motivos extrínsecos (ligados a remuneração), intrínsecos

(de valorização profissional) e transcendentes

(relacionados com a necessidade de servir/contribuir).

Sobre os “Conceitos Fundamentais de Gestão de Operações”

foi abordada a imprescindibilidade de se identificar

a unidade de produção de cada serviço, de se repartir

o processo de produção nas várias fases/tarefas e

de se individualizar claramente os recursos envolvidos

em cada fase, a respetiva sequência e o tempo de ocupação

dos recursos em cada uma. A identificação das

várias fases/recursos da tarefa e do tempo/recursos envolvidos,

permitirá calcular a capacidade de produção

num determinado período de tempo.

Durante a execução do “Jogo da Urgência”, simulouse

o funcionamento de uma urgência, distribuindo as

diversas funções pelos participantes e partindo de uma

estrutura física e de circuitos pré-definidos pelas regras

SIMULAÇÃO NUM SERVIÇO

DE URGÊNCIA

Marta Bacelar

do “Jogo”. No decurso da execução dessas regras de

partida, foi possível evidenciar as fases de estrangulamento

do processo e as tarefas que não tinham valor

acrescentado para o doente e para o circuito do mesmo

na Urgência.

Considerando que a estrutura física e os circuitos prédefinidos

poderiam ser alterados pelas equipas no decurso

do “Jogo”, foram realizadas modificações em prol

da melhoria da eficiência e da eficácia dos processos.

Dessa forma, reduziu-se substancialmente o tempo de

atendimento dos doentes, aumentando a capacidade de

produção da urgência (traduzida no número de doentes

atendidos e com alta), assegurando-se que se mantinham

os mesmos níveis de qualidade na prestação de

cuidados de saúde.

Podemos, assim, concluir que o workshop se revelou um

processo de aprendizagem com benefícios evidentes na

transposição dos ensinamentos para a prática da gestão

hospitalar, em concreto dos Serviços de Urgência. Ã

Temos vários provérbios que nos dizem

que devemos atuar com calma, como

“Depressa e bem não há quem” e “Devagar

se vai ao longe”.

No entanto, em contexto de urgência,

não é fácil trabalhar devagar, mas também fazê-lo depressa

demais tem os seus perigos, e esta formação

promovida pela AESE de simulação num Serviço de Urgência

fez-me vivenciar a situação da pressão de fazer

muito e rápido. Apesar de no dia-a-dia percorrer o

Serviço de Urgência ou os Serviços dos Meios Complementares

de Diagnóstico e Terapêutica e verificar

a intensidade com que se trabalha, também sabemos

que um pequeno erro pode ter um enorme impacto

no resultado final, o que faz com que se Certifiquem

e Acreditem os Serviços, sendo imprescindível estarmos

focados, cumprindo as normas e procedimentos

instituídos, de forma a garantir a qualidade dos serviços

prestados e minimizar o erro.

Temos de garantir que as Urgências são para atender

doentes urgentes e emergentes, pois quando a Urgência

está repleta de doentes, os profissionais têm de trabalhar

ainda de forma mais célere, o que aumenta a

possibilidade de erro.

A título de exemplo, apresento duas situações que

aconteceram enquanto estava no papel de Técnica Superior

de Diagnóstico e Terapêutica (TSDT), de onde

se podem tirar algumas conclusões sobre a rapidez, a

formação on the job e o erro:

• Na função de TSDT de Análises tinha um pino para

representar o doente que estava na sala de espera (local

próprio em cima da mesa). Depois da colheita, ti-

C

M

Y

CM

MY

CY

nha de colocá-lo no envelope para ir para a outra sala

de espera, colocando a colheita numa rack. O que me

aconteceu é que, por ter muitas colheitas e por uma pequena

distração, coloquei o tubo da amostra colhida no

envelope porque era oval e semelhante ao pino e deixei

o doente na “minha” sala de espera, ou seja, tratou-

-se de uma troca, de um erro. Vamos imaginar quantos

“pormenores” podem acontecer na Urgência. Muitos!

Trabalhar numa Urgência é difícil, tem se de trabalhar

de forma rápida e eficiente, mas para trabalhar sem erro

é preciso uma enorme capacidade de concentração e

foco, bem como cumprir as normas instituídas.

• Outro exemplo passou-se com um colega na área

de exames. Para nos prepararmos para a nossa função,

tínhamos de estudar as tarefas no dia anterior. Mas a

meio do jogo, a equipa decidiu reafectar os recursos

humanos, ou seja, um dos TSDT de Exames passou a

ser Médico. Implicou que o TSDT de Exames me transmitisse

todo o seu conhecimento na hora (formação

on the job), passando a acumular a função de TSDT de

Análises e Exames. A explicação foi rápida e sumária,

identificando os valores, os tempos e os cronómetros

que tinham de ser utilizados. E transmitiu-me que um

dos exames ainda estava a decorrer e que eram 20 minutos.

Como entretanto começaram a chegar outros

exames, assumi que o que me tinha transmitido estava

correto e que o próximo exame seria de 30 minutos.

Considerando que o jogo era cerca de 40 minutos,

questionei-me como é que um exame poderia ser 30

minutos. O colega entretanto já estava na outra sala e

o senhor que não pertencia ao jogo alertou-me que

o exame não era de 30 minutos mas de 3 minutos.

O meu colega assumiu que eram 30 minutos e não 3

minutos porque leu mal o símbolo dos minutos e horas.

Eu também não verifiquei nas instruções. Recebi as

instruções, repeti e não fui confirmar. E porque não fui

AF_Anuncio_Inst_OCP_Final.pdf 1 11/03/2021 18:12

CONSIDERANDO QUE A ESTRUTURA

FÍSICA E OS CIRCUITOS PRÉ-DEFINIDOS

PODERIAM SER ALTERADOS PELAS

EQUIPAS NO DECURSO DO “JOGO”,

FORAM REALIZADAS MODIFICAÇÕES

EM PROL DA MELHORIA DA EFICIÊNCIA

E DA EFICÁCIA DOS PROCESSOS.

DESSA FORMA, REDUZIU-SE O TEMPO

DE ATENDIMENTO DOS DOENTES,

AUMENTANDO A CAPACIDADE

DE PRODUÇÃO DA URGÊNCIA.

confirmar? Porque não tinha tempo dado que também

tinha de assegurar a outra função de TSDT de Análises.

Este jogo de simulação foi uma excelente oportunidade

para vivenciar, ainda que por muito pouco tempo, o que

se sente em contexto de urgência e o que pequenas

distrações podem causar: erro.

Agradeço à AESE e à APAH a oportunidade de participar

nestes dois dias de intensa formação, onde também

foi possível assistir à excelente palestra síntese do

doutoramento do Dr. Fonseca Pires sobre as “Motivações

intrínsecas, extrínsecas e transcendentais dos recursos

humanos”. Ã

CMY

88

K

www.ocp.pt



GH academia apah

LIDERANÇA E HUMANIZAÇÃO

DOS CUIDADOS DE SAÚDE

Liderança e Humanização de Cuidados de Saúde

A

Humanização de Cuidados abraça,

numa perspetiva holística, tanto as necessidades

em saúde de cada doente,

de forma individual, como também as

suas necessidades enquanto pessoa,

considerando o seu percurso de vida. Além da centralização

no doente, o processo de humanização foca-se

em todos os stakeholders e nas suas interações. Engloba

assim aspetos relacionais, organizacionais e estruturais

direcionando-os para as necessidades tanto dos doentes,

como dos familiares ou dos profissionais de saúde.

A procura pela Humanização de Cuidados implica, inevitavelmente,

a implementação de mudanças.

Quem marca e define a qualidade assistencial são as

pessoas. Porque uma unidade de saúde é muito mais do

que as suas paredes, são as equipas que emprestam a

sua identidade às organizações tal como são as equipas

que criam novos projetos e implementam as mudanças.

E em qualquer processo de mudança, as lideranças são

fundamentais. “Que um fraco Rei faz fraca a forte gente”

já escrevia Luís de Camões.

O fator chave para liderar a mudança é equilíbrio, ou seja:

é necessário promover a mudança mas também acomodar

o período de transição, reconhecendo os seus

aspetos pessoais e emocionais; mostrar a necessidade

de ação mas também uma paciência realista; tomar decisões

difíceis sem hesitação mas também ser empático

e ter as perspetivas dos outros em atenção; transmitir

otimismo mas também ser realista e admitir os próprios

erros; ser autoconfiante mas confiar nos outros; capitalizar

os pontos fortes da equipa mas mostrar vontade de

aprender e de tentar novas abordagens.

Na resposta emocional de cada um à mudança, são quatros

as fases de transição: Recusa, Resistência, Aceitação

Condicional, Compromisso. Cada um dos colaborado-

Hugo Quintino

res evolui entre estes quatro estados ao seu próprio

ritmo. Ninguém pode ser deixado para trás, por isso,

principalmente aos mais resistentes, importa enfatizar

os resultados que vão sendo alcançados. A inteligência

emocional é, assim, uma das característica mais relevantes

nos líderes que implementam processos de mudança.

É necessário dar sentido à mudança porque as

pessoas vão até ao limite nas causas em que acreditam.

Um projeto de Humanização de Cuidados pode seguir

vários caminhos e procurar vários objetivos. Ainda assim,

os processos de mudança associados terão que se

focar em três vetores:

• Melhorar o bem-estar do doente tanto no sentido

físico como no psicológico, ambiental e espiritual;

• Aumentar a participação dos familiares nos cuidados

ao doente, apoiando também as suas necessidades específicas;

• Conseguir um ambiente de trabalho positivo através

da valorização dos colaboradores: não são profissionais

que trabalham connosco, são pessoas.

Por mais pequeno que possa ser o seu contributo, quem

dedica a sua vida a “cuidar do outro”, fará sempre a diferença

no mundo desse “outro”. Ã

• Managing Change: Winning Hearts and Minds, Jayme De Lima.

• Sirkin H, Keenan P and Jackson A. The Hard Side of Change Management,

HBR out 2005.

• Lusíadas, Canto III.

• Drucker, Peter et al., Liderança 10 Artigos Essenciais 2, jun 2018.

• Isolde Busch et al., The Patient-patient Centeres Out. Res (2019) 12:461-474.

• Seijts G and Gandz J., Transformational change and leader character.

á “Legenda”: Foto de grupo

90



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O PERCURSO DA TARKETT

PARA A ECONOMIA CIRCULAR

Na Tarkett, acreditamos que juntos podemos causar um impacto positivo nas pessoas

e no planeta. Como uma das nossas principais iniciativas de economia circular,

o nosso programa global de recolha e reciclagem, ReStart ® , oferece a oportunidade

de devolução do pavimento reciclável para fabricarmos pavimentos novos. Ajudamos

a gerir o desperdício e a transformá-lo num recurso precioso, a obter certificações

de construção sustentável e a desenvolver os nossos objetivos de sustentabilidade.

O percurso da Tarkett para reciclar os nossos produtos - para reiniciar o ciclo de vida dos nossos produtos

- começou em 1957. Para conceber produtos que pudessem ser reciclados e transformados em

matérias-primas para novos produtos, adotámos o design Cradle to Cradle® em 2010. Otimizamos os

nossos materiais em parceria com os nossos fornecedores e especialistas em salubridade do material

e inovamos para superar os desafios envolvidos na reciclagem de pavimento. Por fim, procuramos

conceber pavimentos 100% recicláveis, oferecendo a mesma durabilidade, estética e desempenho.

A reciclagem também nos ajuda a preservar os recursos naturais. O nosso objetivo é que 75% das

nossas matérias-primas sejam recicladas, rapidamente renováveis ou disponíveis em abundância na

natureza. Até 2030, a nossa meta é aumentar a percentagem de materiais reciclados que adquirimos

como matérias-primas (em volume) para 30%. Ao fazer isto, estamos a ajudar a combater as alterações

climáticas reduzindo as enormes quantidades de energia e água necessárias para extrair e processar

matérias-primas virgens.

Os nossos esforços apoiam os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (SDG) e as ambições de

eficiência de recursos da União Europeia, incluindo o seu objetivo de reutilizar ou reciclar 70% dos

resíduos de construção até 2030.

RECOLHA E RECICLAGEM DE PAVIMENTO ATRAVÉS DO PROGRAMA RESTART®

Qualquer instalação de pavimento em rolo dá origem a resíduos de corte, equivalendo aproximadamente

a 10% da área instalada. Tradicionalmente, tem sido mais fácil eliminar o pavimento após a instalação

ou utilização, com poucas opções disponíveis para reciclagem. Mas estamos a mudar as regras do

jogo de ciclo fechado em relação a pavimento.

Com a Tarkett, existe uma opção mais sustentável: devolver o pavimento reciclável através do nosso

programa de recolha e reciclagem ReStart ® , para evitar o envio de resíduos de pavimento pós-instalação

ou pós-consumo para aterros sanitários ou incineração mas sim transformando-o em matérias

primas de alta qualidade para novos produtos de pavimento.

RECICLAGEM DE ALTA QUALIDADE

A Tarkett melhora continuamente as credenciais de salubridade e ambiente dos nossos materiais para

que a reciclagem seja possível. Também estamos a investir na tecnologia mais recente para desmontar

os componentes e reciclar o nosso pavimento, de modo a manter a máxima pureza do material e criar

matérias-primas secundárias com desempenho e durabilidade igualmente bons.

Desde o final do ano passado que começámos a realizar os primeiros testes piloto com alguns dos

nossos parceiros locais, tendo a receptividade deste projecto sido muito positiva, não só por parte das

empresas de instalação, mas também por parte de clientes finais e arquitectos.

Ainda que distante da realidade nórdica no que toca à temática da sustentabilidade, a Tarkett Portugal

está fortemente empenhada em fazer a diferença e começar o seu contributo para a construção de um

melhor planeta para todos.



GH Iniciativa APAH | visita de estudo

44. 0 CONGRESSO DO IHF: VISITA

DE ESTUDO A HOSPITAIS DE BARCELONA

No âmbito do 44.º congresso do IHF, tivemos

a oportunidade de visitar um conjunto

de hospitais de Barcelona, criteriosamente

escolhidos em função das suas

áreas de inovação e desenvolvimento.

As visitas começam pelo Hospital de la Santa Creu y

Sant Pau. Este hospital data de 1901 e resultou da fusão

de seis hospitais que existiam em Barcelona. Foi

projetado e construído pelo arquiteto Lluís Domènech

i Montaner para servir a população carenciada de Barcelona,

e é Património Mundial da Unesco desde 1997.

Frequentemente referido como o “mais bonito hospital

do mundo”, esta unidade encontra-se atualmente desativada,

tendo sido convertido num espaço museológico.

Foi interessante perceber a forma com o Hospital foi inovador

nas decisões arquitetónicas e infraestruturais: separação

de circuitos logísticos e de profissionais de saúde

com a construção de túneis subterrâneos, escolha inteligente

de material para os diferentes fins como a limpeza

e desinfeção, desenho dos pavilhões de internamento

com prossecução do que hoje em dia chamamos healing

architecture/environment, criação de um bloco cirúrgico

otimizado para a entrada de luz solar. Foi igualmente inspirador

perceber a capacidade que o Hospital teve de

acompanhamento do crescimento da cidade e da região,

á Hospital de la Santa Creu y Sant Pau

como da evolução das práticas médicas ao longo dos diferentes

anos.

No Instituto de Oncologia Vall D´Hebron, pudemos discutir

com os seus administradores e responsáveis clínicos

o modelo que adotaram para a construção de um instituto

de referência no tratamento do cancro, integrando,

na mesma unidade, quer as atividades de prestação de

cuidados, como as áreas de investigação e desenvolvimento.

Analisamos em detalhe quer a sua organização interna,

como o seu modelo de sustentabilidade económico financeira.

Refira-se que este Hospital, se encontra constituído

como uma fundação privada, financiada quer por fundos

públicos (através dos Departamentos da Saúde e da Inovação

da Generalitat de Catalunha), como pelo apoio de

entidades privadas (Fundação FERO, Fundação 'La Caixa',

Fundação BBVA e outras). Trata-se de um centro oncológico

de excelência, onde os seus cientistas e médicos adotam

um modelo de investigação puramente translacional,

trabalhando em conjunto como equipas multidisciplinares

para acelerar e avançar terapias personalizadas e direcionadas

contra o cancro. Foi uma visita verdadeiramente

inspiradora, quer pelos resultados clínicos, como pelos resultados

económico financeiros que nos foram apresentados.

Refira-se a propósito disto, que 1/3 das receias deste

Instituto são provenientes de ensaios clínicos.

No Hospital Vall D´Hebron tivemos a oportunidade

de visitar três áreas que se têm destacado pelos seus

resultados: Serviço de Cuidados Intensivos, Laboratório

de Patologia Clínica e Serviço de Hospitalização Domiciliária.

Três áreas fundamentais no âmbito do combate à

pandemia, que se têm destacado pela implementação de

soluções inovadoras. O Dr. Ricard Ferrer, Diretor daquela

que, durante a primeira onda pandémica, foi a maior

unidade de cuidados intensivos de Espanha (200 camas),

explicou-nos a forma como se adaptaram para responder

ao enorme aumento de procura, as metodologias que

adotaram e a forma como se reinventaram para fazer face

ao desafio. Na visita à Unidade, pudemos ver em detalhe

a forma como implementaram o conceito de smart

UCI. Nesta UCI, todos os dispositivos estão conectados,

quer com um smart display global, como uma central de

BIG data, permitindo antecipar alterações de estado dos

doentes e priorizar as intervenções dos profissionais. Este

conceito tem permitido melhorar a segurança dos doentes,

facilitando também os fluxos de trabalho entre os

diferentes profissionais da unidade.

á A delegação portuguesa realizou uma visita de estudo a hospitais de Barcelona, criteriosamente selecionados pelas suas áreas de inovação e conhecimento

No laboratório de patologia Clínica, pudemos observar

quer as diferentes linhas de produção, como os diferentes

fluxos e circuitos do serviço. Refira-se que neste laboratório

se concentram as análises quer do complexo hospitalar

Vall D’Hebron, como das unidades de cuidados

primários da sua área de influência. Foi particularmente

interessante observar o circuito logístico que foi criado para

permitir esta centralização das análises e a forma como

o mesmo é permanentemente controlado pelo Serviço.

No Serviço de hospitalização domiciliária foi possível discutir,

quer com os seus responsáveis, como com os profissionais

diretamente envolvidos nas operações, a forma

como se organizam para responder à sua área de influência,

num cenário de crescente procura por este tipo de

cuidados. Pudemos debater e comparar este modelo

com aquele adotado em Portugal, quer em termos dos

recursos alocados a esta atividade, como no que respeita

ao seu âmbito e resultados.

No Hospital Clinic, a visita foi muito focada na análise e

discussão dos seus diferentes projetos de integração com

outros níveis de cuidados, particularmente com os cuidados

primários. Nesta sessão, onde nos foram apresentados

vários projetos de integração em curso, pudemos

analisar em detalhe as metodologias que têm usado (criação

de percursos clínicos partilhados, consultas de especialidades

descentralizadas, metodologias para a partilha

de informação clínica, criação de vias verdes, entre outras)

e os resultados que têm obtido com estas intervenções.

Foi possível perceber que o Hospital Clinic encara esta

dimensão como sendo de central importância no desenvolvimento

estratégico, alocando recursos e envolvendo

toda a gestão de topo na sua prossecução.

O Hospital Sant Joan de Déu (HSJD) é um hospital pediátrico

privado, o primeiro de Espanha, fundado a 14

de dezembro de 1867, dedicado à causa pública e sem

fins-lucrativos, altamente especializado para o tratamento

da mulher, da grávida e da criança. O hospital tem sabiamente

incorporado a inovação no seu desenvolvimento,

não só a inovação tecnológica e digital, obrigatória para

um centro altamente especializado, mas também a inovação

ao nível organizacional.

Nesta visita pudemos observar um hospital que tem no

centro de mudança organizacional o Doente e a sua Família:

desde a decoração e a infraestrutura, com espaços

para cuidados integrados e multidisciplinares, passando

pela criação de novos processos clínicos para melhorar a

experiência do doente, pelo crescimento da oferta com

mais oportunidades de tratamento, por exemplo, uma

sala para tratamento com animais de estimação, passando

ainda na clara aposta de incorporação de novos perfis de

profissionais, que culmina na mudança de cultura organizacional.

Tudo isto foi-nos transmitido pelo Diretor Clínico

Miquel Pons i Serra, que nos falou da missão e da estratégia

de gestão, uma clara aposta no Cuidado Integral

360º, e pelos representantes do gabinete de Qualidade,

Humanização e Experiência do Doente, que nos apresentaram

o Modelo de Excelência desenvolvido inhouse

e que integra a fórmula global: E = mc2 (Excelência =

método.conhecimento.cliente). }

Figura 1: Modelo de Excelência do HSJD

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GH Iniciativa APAH | visita de estudo

informação empresarial GH

A virtual tour em direto que nos foi proporcionada reflete

bem esta cultura de humanização e proteção da privacidade

do doente e da sua família. Acompanhámos o nosso

anfitrião Francesco Schiraldi, do Serviço de Comunicação

e Marketing do HSJD, num percurso pelo Átrio Principal,

Centro de Gestão “Cortex”, Centro de Imagiologia, Bloco

Operatório e Unidade de Cuidados Intensivos. Uma

experiência incrível que nos permitiu visitar áreas de trabalho

que de outra forma, e em contexto pandémico,

não seria possível conhecer em grupo. Das várias áreas

“visitadas” destacam-se as características e particularidades

das seguintes:

1. O centro de gestão do HSJD, designado por “Cortex”,

inclui três áreas que incorporam na perfeição uma

cultura de inovação, investigação e desenvolvimento:

• Command Center - nesta área monitorizam em tempo

real os principais indicadores de atividade: número de

admissões na urgência, o cumprimento dos agendamento

do bloco operatório (planeado vs realizado) e respetivo

ponto de situação de cada cirurgia, a taxa de ocupação

do internamento e eventuais MCDT’s pendentes de realização,

as necessidades de transferência de doentes e a

aguardar internamento na urgência, etc.

• eCare - área que se dedica exclusivamente à monitorização

em tempo real dos sinais vitais das crianças

internadas no Serviço de Cardiologia, com uma equipa

multidisciplinar (data scientist, bioengenharia, cardiologia,

etc). Agregam atualmente 66 variáveis para desenvolver

um algoritmo que permita prever descompensações e

assim reorganizar e realocar recursos. A ideia é ampliar o

projeto a outras especialidades/áreas.

• Contact Center - área exclusivamente dedicada e

equipada para teleconsulta médica e de enfermagem.

Realizam, em média, 100 contatos diariamente.

2. No Bloco Operatório foi-nos apresentado todo o

circuito da criança no bloco operatório, desde a sua admissão

até à alta. Todo o espaço do bloco está cuidadosamente

pensado para reduzir o stress e ansiedade da

criança. Inclui elementos alusivos à natureza no sentido

á Hospital Sant Joan de Déu (HSJD)

á Hospital Sant Joan de Déu (HSJD)

de transmitir calma e segurança à criança antes da cirurgia,

nomeadamente a figuração de pássaros (símbolo do bloco

operatório) nos tectos dos corredores que traduzem

o “voo” no percurso até à sala de bloco e que culmina

com a anestesia, a localização de televisões em todos os

espaços (tectos e paredes) com desenhos animados para

desviar a atenção da criança para o processo a que será

sujeita. Todo o circuito é totalmente desmaterializado e

sem papel. Há igualmente neste espaço uma crescente

preocupação pelas famílias das crianças, proporcionando-lhes

as condições para acompanhar todo o processo

(não cuidam apenas das crianças, mas também das suas

famílias). O BOC tem ainda salas com luz natural, traduzindo

igualmente uma preocupação com o bem-estar

dos profissionais.

3. O Átrio Principal do hospital, luminoso e colorido, foi

cuidadosamente concebido para que, no primeiro contato

da criança, esta tivesse à disposição um conjunto de

experiências sensoriais, como por exemplo, um sistema

de arcos a simular uma coluna vertebral que à medida

que é percorrido emite luz nos vários arcos que o compõem,

um sistema de dois cilindros com bolas a simular

os dois pulmões que à medida que são contornados simulam

a circulação do ar pela movimentação das bolas,

um escorrega entre o piso -1 e 0 que simula o tubo digestivo

e um sistema de digital suspenso no teto a simular

o cérebro que transmite as mensagens que o visitante

regista num ecrã na sua base.

Pudemos testemunhar na primeira pessoa por parte de

quem trabalha no hospital a cultura bem enraizada de

foco na experiência do doente.

O HSJD é um claro exemplo de como a prestação de

cuidados de saúde pode ser humanizada, não descurando

a componente da eficiência e sustentabilidade tão

relevante para a gestão, e a componente da inovação,

investigação e desenvolvimento tão atrativa e crucial para

a especialização e diferenciação dos profissionais de saúde.

Cada área do hospital resulta numa perfeita simbiose

entre tecnologia e humanização dos cuidados de saúde. Ã

AUTOMATIZAÇÃO DE ATENDIMENTO

TELEFÓNICO COM VOICEBOT NA SAÚDE

José Manuel Oliveira

CEO Decunify

A

tecnologia digital tem criado ferramentas

poderosas que permitem melhorar

o acesso aos serviços de saúde e otimizar

os recursos da área.

A evolução dos serviços de saúde, nomeadamente

através dos Voicebots, podem facilitar a interação

com os utentes, proporcionando diversas vantagens

como o aumento dos acessos às plataformas e ainda

proporcionar maior acessibilidade, dado que não exige

que o utente tenha que adquirir novas habilidades ou

competências para ter acesso aos serviços.

Com mais de 70% do volume de chamadas a serem perdidas,

algumas unidades hospitalares já decidiram recorrer à

implementação da Solução de Voicebot (Assistente Virtual),

com recurso a técnicas de Inteligência Artificial (AI),

para automatizar os processos de atendimento, por voz,

24 horas por dia, 7 dias por semana, sendo capaz de atender

um número ilimitado de chamadas simultaneamente.

O problema

A insatisfação demonstrada pelos clientes, que não viam as

suas chamadas atendidas, nem retornadas, numa área tão

delicada como a da saúde, bem como a pressão e frustração

sentida junto dos serviços de atendimento telefónico,

como resultado do elevado volume de chamadas perdidas,

levaram à procura de uma solução rápida e eficaz para

automatizar e otimizar o atendimento telefónico, e desta

forma, assegurar o tratamento de todas as chamadas.

A solução

A solução encontrada passou pela implementação de tecnologia

com recurso a técnicas de Inteligência Artificial,

o Assistente Virtual da marca IPBRICK, numa parceria

da Decunify e da Glintt. Desta forma, foi possível colocar

um ponto final na elevada percentagem de chamadas

perdidas, e os colaboradores passaram a dedicar-se exclusivamente

a tarefas que necessitam efetivamente de intervenção

humana. No caso de o sistema não conseguir dar

resposta à questão que deu origem à chamada, recolhe a

informação necessária para que posteriormente o cliente

seja contactado.

Como funciona?

A solução de Voicebot consegue entender a linguagem

utilizada pelo cliente, compreende a sua intenção e dá-lhe

uma resposta, sem longos tempos de espera. Esta revolução

no atendimento aumenta a satisfação dos clientes que

estão cansados de passar horas ao telefone para resolver

questões, como a marcação de uma consulta, e as empresas/instituições

asseguram que os seus colaboradores

se mantêm dedicados ao atendimento de questões mais

complexas. Graças a esta tecnologia, é possível manter

uma conversa direta entre o utilizador e o sistema, que reconhece

as suas dúvidas, encontra as respostas e transmite-as

de imediato ao cliente, imprimindo uma enorme agilidade

à comunicação. Além disso, esta tecnologia permite

também a interação com aplicações internas e externas,

para obter e consultar informação que pode definir o seguimento

a dar à chamada.

Vantagens

• Reduz o tempo de espera das chamadas;

• Rápida interação com os clientes;

• Reduz os custos;

• Melhora a gestão do tempo das equipas;

• Melhora a inclusão social;

• Aumenta a satisfação do cliente;

• Facilita a gestão do atendimento ao cliente ;

• Personalizável.

Esta tecnologia pode ser utilizada em diferentes áreas de

negócio, nomeadamente na área da saúde, onde pode facilitar

as seguintes tarefas:

• Marcação de consultas;

• Marcação de exames;

• Pesquisar agenda;

• Campanhas de vacinação. Ã

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GH informação empresarial

TECNOLOGIA AO SERVIÇO DA SAÚDE

Começamos por dar os parabéns à APAH

pelos 40 anos de existência, ao INEM e a

todos os parceiros que têm participado

no desenvolvimento do SIEM em Portugal.

As conquistas, quer do Serviço Nacional de

Saúde, quer do SIEM deveram-se, também, aos esforços

fundamentais que a APAH e outras instituições sempre

tiveram nestas últimas quatro décadas. Recebam o nosso

sincero agradecimento, e o desejo de que todos nós continuemos

nesta caminhada para que os objetivos comuns

sejam alcançados e vidas continuem a serem salvas.

Para a Iberdata, é um privilégio fazer parte de um setor

imprescindível à sociedade, e que durante os últimos 34

anos ajudou a melhorar a vida e tratamento dos pacientes

assistidos em unidades médicas e hospitalares.

Ao longo dos anos, fomos um parceiro incontornável do

SNS e do SIEM, oferecendo a mais recente e inovadora

tecnologia, num abrangente portfólio de produtos.

Introduzimos na Pré-Hospitalar os primeiros desfibrilhadores,

realizando os primeiros projetos para o INEM e

ARS`s e instalámos a primeira central para recolha de dados

dos mesmos, no INEM. Para além de outros equipamentos

que têm evoluído muito nos últimos anos, como

a ventilação invasiva e não invasiva, onde o ventilador

Monnal T60 é um exemplo.

Anualmente, mais de 700.000 adultos na Europa morrem

de doença cardiovascular, sendo a principal causa

de morte. E estas situações podem ocorrer em qualquer

lado, em qualquer altura. Pela imprevisibilidade da ocorrência,

é no local da mesma que começa o sucesso no

tratamento, e mesmo da salvação da vítima. Este sucesso

obriga, não só, que os serviços de urgência cheguem o

mais rápido possível à vítima, mas que existam, no local,

os equipamentos adequados à prestação do socorro.

Para a sequência de passos que visam estabilizar a vítima,

garantir a continuidade dos cuidados de emergência e a

tentativa de diminuição da mortalidade, a Iberdata dispõe

de diferentes tipos de equipamentos.

Os DAE`s Zoll Plus, com ecrã LCD, visualização de men-

à AED Zoll Plus

á ZOLL R Series

sagens, o tempo decorrido, a contagem de choques e um

gráfico de compressões, também possuem um sistema

de emissão de comandos sonoros que informa do resultado

da análise do ritmo, alertam para as condições de

segurança e guiam o reanimador relativamente aos passos

do algoritmo que deve seguir, durante o processo de

suporte básico de vida e reanimação/desfibrilhação.

O registo electrocardiográfico da ocorrência, pode ser

visto e analisado, posteriormente, através do software de

análise gratuito, Rescue Net.

Outro sistema, o ZOLL AutoPulse, permite fornecer uma

RCP de alta qualidade enquanto o operador pode efetuar

outras tarefas essenciais na ressuscitação, como iniciar

terapia IV, administrar medicação, ventilação ou efetuar

a intubação. Tudo com interrupções mínimas, pois

estas podem ser mortíferas para a vítima.

Estes equipamentos podem ser operados por pessoal treinado

mas não especializado, desde que integrados num

PNDA, (Programa Nacional de Desfibrilhação Automática).

Assim, DAE`s de qualidade, instalados em locais públicos,

representam sempre uma mais valia no salvamento

de vidas humanas.

Para as últimas fases da emergência, no transporte e no

tratamento em unidade de saúde, a Iberdata dispõe de

Desfibrilhadores Manuais - o Serie R ou Serie X -, para

equipar hospitais e/ou Viaturas Médicas de Emergência e

Reanimação (VMER). Com leitura de todos os parâmetros

vitais, como pacing, ECG, SpO2, PNI, PI e EtCO2 e visualização

dos traçados. Também possui regulação manual

dos níveis de energia de desfibrilhação. Estes, no entanto,

só podem ser usados por pessoal médico habilitado.

Equipamentos de emergência adequados, são apenas um

dos elos vitais da cadeia de sobrevivência. É a eficácia do

conjunto de procedimentos do Sistema Integrado de

Emergência Médica (SIEM), que permite recuperar uma

vítima de paragem cardiorrespiratória (PCR). Ã

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