Territorio Mulher Floripa ed. 04
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RECONSTRUÇÃO
MAMÁRIA PÓS CÂNCER:
A LEI E A REALIDADE
TEXTO: Dr. Carlos Breda - Mastologista Especialista em
Reconstrução Mamária
Há cerca de 30 anos, a
cirurgia considerada
“padrão-ouro” para o
tratamento do câncer
de mama era a temida MASTEC-
TOMIA. Esta cirurgia, naquele
tempo, consistia da retirada
completa da mama, dos músculos
peitorais (menor e maior)
e ainda, retirada completa dos
gânglios (linfonodos) da axila
acometida. Perceba: era algo
extremamente radical e mutilante,
deixando cicatrizes enormes
no tórax e em alguns casos,
surgimento de inchaço irreversível
do braço.
A cirurgia por câncer de mama
vem evoluindo nas últimas décadas,
tornando-se menos radical,
menos agressiva e, principalmente,
menos mutilante. Sempre
que possível, o cirurgião optará
pela cirurgia CONSERVADORA
de mama. Ou seja, lançará mão
de técnicas e estratégias que
o permitam retirar a doença e
“conservar” (preservar) a mama
da paciente, sem grandes prejuízos
estéticos. Esse seria o
“mundo ideal” se…
Se os casos de câncer de
mama AVANÇADO reduzissem
com as estratégias de rastreamento
adotadas. Isto quer
dizer que, apesar das estratégias
e campanhas para realização
de mamografias salvarem
vidas, o número de pacientes
com DOENÇA AVANÇADA
(Estágios III e IV- figura 1) não
tem mudado! Isso ainda ocorre
por razões socioeconômicas,
falhas no acesso ao tratamento e
questões culturais. Assim, apesar
dos avanços do tratamento, um
número muito grande de mastectomias
ainda é realizado.
Mas vamos direto à questão:
se os casos avançados são praticamente
uma “constante”, isso
quer dizer que inúmeras mulheres
são submetidas a mastectomias
anualmente. Mas, após
retirarem a mama, como ficam
estas mulheres?
- Qual a porcentagem de
mulheres que conseguem realizar
a reconstrução mamária?
- O que diz a LEI?
- Quantas realmente estão
APTAS ao procedimento?
E indo mais além, quantas
estão realmente SATISFEITAS
com o resultado?
Sabe-se do enorme prejuízo
psicossocial para a paciente que
retira uma mama (ou ambas).
Inúmeros trabalhos correlacionam
este fato ao surgimento de
depressão, ausência de libido,
entre outras questões.
Segundo o último Censo da
Sociedade Brasileira de Cirurgia
Plástica (SBCP), no Brasil, o
percentual da taxa de reconstrução
mamária (razão de reconstruções
pelo número total de
mastectomias, multiplicados por
100, a cada ano), que em 2008
foi de 14,9%, continuou estável
até 2012; em 2014 era de 29,3%;
e passou a aumentar a partir da
implantação da lei de reconstrução
mamária, em 2013. Em
2017, aproximadamente 34% das
mulheres realizaram a reconstrução
mamária.
Para se ter uma ideia, no
Estado de Santa Catarina, dados
do Ministério da Saúde apontam
que 2.334 mulheres catarinenses
fizeram mastectomia entre
os anos de 2014 e 2019, porém
apenas 346 fizeram a cirurgia de
reconstrução, ou seja, aproximadamente
15% dos casos.
Mas o que diz a Lei??
Em 2013, a Lei nº 12.802,
declara que a paciente tem
direito a realizar o procedimento
através do Sistema Único
de Saúde (SUS) imediatamente
após a retirada da mama com
câncer, na mesma cirurgia, se
houver condições clínicas, ou
assim que a paciente apresentar
os requisitos necessários. Em
sua mais recente alteração, em
20
Dezembro | 2021