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Estrela de David no Cruzeiro do Sul

Único livro que aborda a memória de judeus fardados no Brasil, desde Cabral até as Forças de Paz no Haiti, inclui os precursores cristãos-novos e descendentes, passando pelo Brasil Colônia, Bandeirantes, Império, Guarda Nacional, chegando aos dias atuais. Um capítulo à parte é dedicado aos que deram a vida pelo Brasil e àqueles condecorados por bravura integrando a Marinha do Brasil, Marinha Mercante, Exército Brasileiro, FEB – Força Expedicionária Brasileira e FAB – Força Aérea Brasileira. O lançamento nacional realizou-se no Museu Histórico do Exército e Forte Copacabana em 11 maio 2015.

Único livro que aborda a memória de judeus fardados no Brasil, desde Cabral até as Forças de Paz no Haiti, inclui os precursores cristãos-novos e descendentes, passando pelo Brasil Colônia, Bandeirantes, Império, Guarda Nacional, chegando aos dias atuais.

Um capítulo à parte é dedicado aos que deram a vida pelo Brasil e àqueles condecorados por bravura integrando a Marinha do Brasil, Marinha Mercante, Exército Brasileiro, FEB – Força Expedicionária Brasileira e FAB – Força Aérea Brasileira.

O lançamento nacional realizou-se no Museu Histórico do Exército e Forte Copacabana em 11 maio 2015.

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Estrela de David no Cruzeiro do Sul 101

dia 11 de julho de 1932 eu me alistei – e foi uma experiência tremenda na minha

vida. Eu morava na Rua Abílio Soares e havia um posto de alistamento aqui no

Largo Ana Rosa. Eu tinha feito Tiro de Guerra em 1931, um ano antes, então

tinha todo fardamento, tinha tudo aquilo. Eu me fardei, e eu e meu irmão saímos

para nos alistar no dia 11 de julho. Justamente eu me entusiasmei talvez

porque... Sempre nós discutíamos isso... Houve aquela mortandade na Praça da

República, morreram aqueles quatro estudantes, então, isso sempre trazia aquela

revolta, aquele mal-estar. Se falei com minha mãe quando me alistei? Não contei

para a mamãe – falei com o meu pai. O que ele disse? Não disse nada... ‘Vocês

podem ir.’ Meu irmão foi para o Sul e eu fui incorporado ao Terceiro Batalhão,

do lado de Caçapava. Fui para a Barra Funda num depósito onde iria embarcar

de trem. Quando saímos lá da Barra Funda – se não me engano foi num

Grupo Escolar que acampamos – nos mandaram aguardar e eu fiquei de sentinela.

Tinha um frio desgraçado, eu não tinha comido, não comia direito, não

dormia direito... Fiquei andando lá e de repente o sargento me deu um safanão:

‘Ei! Está de plantão aí e está dormindo?’ Em Caçapava também foi uma experiência

única. Primeiro eu vi... Não vi morto nenhum, só vi um companheiro que

levou um tiro no pescoço; a bala atravessou aqui e foi arrebentar o braço dele.

Chamava-se Vasconcelos, era advogado – uma vez encontrei com ele depois de

muitos anos e ele já era juiz numa cidade do interior.

Se sabiam que eu era judeu? Não, não. Ninguém perguntava nada. Éramos

voluntários, ninguém sabia quem era, quem não era... Nós fomos andando em

direção a Resende, onde estava o confronto entre os legalistas e nós. De lá, fomos

recuando... fomos recuando. E aconteceu um fato engraçado. Eu estava olhando

um avião que era um tal de ‘vermelhinho’ 17 , e me deram uma espingarda para

atirar no avião... Era espingarda pra matar tico-tico! Numa das recuadas, na

retirada, me lembro que tinha um córrego e eu parei lá. O pessoal tinha sumido.

Nesse córrego tinha um descampado com uma casa; eu comecei a andar devagar,

um dia bonito, sol... Então comecei a ver uma poeira perto das minhas pernas

e me dei conta que provavelmente era tiro de metralhadora. Quando percebi

aquilo, eu corri e me meti num bananal que havia ali. Me meti no mato e lá

encontrei um companheiro. O companheiro chamava-se Eugênio Beltran – está

enterrado aqui no Obelisco. Aí passamos a noite lá, vimos o tal do trem blindado

passar e começamos a andar no sentido de São Paulo. Chegamos na beira do Rio

Paraíba e começamos a fazer sinal: ‘Nós somos paulistas!’ Aí veio um sujeito,

atravessou com a barca o Rio Paraíba – tinha uma correnteza forte –, ele atravessou

direitinho e fomos parar em Queluz, do outro lado do rio. Eu estava tiritando

de frio e estava molhado... uma noite de julho, um frio desgraçado. Ele viu que

eu estava tremendo assim e disse: ‘Toma isso daqui’, e me deu um copo com um

negócio. Depois eu soube que era pinga. Bom, eu não tinha comido todo aquele

tempo. Chegamos na estação de Queluz e lá tinha uns caldeirões grandes – eu

abri uma tampa, não tinha comida nenhuma lá. Abri outra e havia uns restos

de comida, uns nacos de alguma coisa... Peguei aquilo lá e disse: ‘Morrer de

fome eu não vou!’ Depois de muitos anos eu fui comer uma feijoada na casa de

um amigo, fui comer uma carne e vi que era aquela lá. Então eu perguntei:‘Que

carne é essa?’ Era carne de porco!

17

Avião de observação do governo, pintado de vermelho.

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