Sapeca n° 33
Misto de sapo e perereca Nº 33– Dezembro/2021– Editor: Tonico Soares e-mail: ajaimesoares@hotmail.com
Misto de sapo e perereca
Nº 33– Dezembro/2021– Editor: Tonico Soares
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Bethânia canta Benito
Estranha figura, o mesmo em relação à voz, Beta estreou no Rio (show
Opinião, um libelo contra a ditadura recém-instalada), substituindo Nara Leão,
que a ouvira na Bahia. Ficou famosa da noite para o dia, caindo nas graças da ala
mais sofisticada da MPB, o pessoal egresso da bossa nova, chegando a dividir
disco com Edu Lobo, que não mais a requisitou. Depois, saiu pelada (palavras
dela) do banho e quebrou um abajur na cara de seu empresário Guilherme Araújo,
que implicava com as músicas bregas de seu repertório. Aí, contratou Benil Santos,
que lhe deu carta branca e entregou-se de corpo e alma ao gênero sentimentaloide.
Aqui e ali, um Chico, um Caetano, um poema, que dão um verniz de cultura,
enquanto Nara era a própria cultura, até ressuscitando modinhas imperiais.
Uma vez vi Beta saindo do Teatro da Praia num Mercedes dourado e achei
a cor muito “cheguei”, coisa de novo rico – “Muito Shangai”, diria Ibrahim Sued.
Agora, a vi cantando “Você cortou o barato do meu amor...”, de Benito di Paula,
mais uma apelação, na linha sucesso a qualquer preço. E o defendeu, alegando
que a crítica não sacou a delicadeza da letra. Há controvérsias, pois Nana Caymmi
disse que o nível das letras tem que ser de Dorival, seu pai, para cima, e Benito
não pode ser mais para baixo. O sempre polêmico mano Caetano grava músicas
“controversas”, mas melhora o original, ela apenas dá um toque de butique.
Em música, não se usa mais aquela postura dramática no palco, à Bibi Ferreira,
voz “poderosa”, como na ópera. Quem ainda bate nessa tecla é o pessoal
descartável do breganejo, aquele(a)s que têm avião e se cobrem de luxos, a turma
que, musicalmente, voa para trás, soltando o gogó, numa pretensa dor de cotovelo
que só faz multiplicar a conta bancária. Não se tocam que “o amor é um samba
tão diferente”, canção de Ary Barroso que Sílvio Caldas lançou e João Gilberto
espalhou pelo mundo civilizado. Beta sabe disso, mas faz ouvidos de mercador.
Num momento dos mais palpitantes, a era dos festivais de música, em que
mesmo o “rei” (põe aspas nisso) Roberto Carlos participou, Beta ficou de fora.
Teria que encarar um público imprevisível, até agressivo, o equivalente a ser atirada
às feras, o que aconteceu uma vez com o citado Caetano, que só faltou ser
linchado, como também, um ano antes, Sérgio Ricardo. Idem, a possibilidade de
perder para as colegas que cantavam mais, sem desafinar. Melhor continuar no
bem-bom com aquele público conformista, que a idolatra feito uma rainha.
Não nego que gosto dela em entrevistas, falando da Bahia, da família, dos
amigos. E achei interessante ela contar que sempre que vai a Paris reserva uma
suíte num hotel em Saint-Germain-des-Prés. Motivo: tem ducha no banheiro, o
que não é muito comum na Europa. E uma vez em que lá estava, pediram-na para
se transferir para outra suíte, pois aquela ducha fora custeada por Marcello Mastroianni,
que estava chegando de Roma. Coisa de gente chique, o que ela também
é, tipo falar francês, o que é cada vez mais raro entre nós. Desde que não cante.
Também no filme Vinicius, de Miguel Faria Jr., em que conta, rindo, que
levou Jesse, amiga baiana, para viver com ela no Rio. Toda noite iam ao Pizzaiolo,
na rua Montenegro (hoje Vinicius de Moraes), lugar mais frequentado por
mulheres. E lá encontraram o poetinha, que se encantou por Jesse. E Bethânia
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