Sapeca n° 33
Misto de sapo e perereca Nº 33– Dezembro/2021– Editor: Tonico Soares e-mail: ajaimesoares@hotmail.com
Misto de sapo e perereca
Nº 33– Dezembro/2021– Editor: Tonico Soares
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Academias de leras, para quê?
Antônio Jaime Soares
A Academia Brasileira de Letras voltou ao noticiário com as eleições de
Fernanda Montenegro e Gilberto Gil. Sobre a atriz, seu amigo Millôr Fernandes,
estivesse vivo, cairia de pau, como fez com o também amigo Antônio Houaiss. E
quanto a Gil, Chico Anysio deitaria na sopa, no papel de Zelberto Zel. O que ele
gozava era justamente o falar empolado do baiano, como um Rui Barbosa do
candomblé, um falar sem nada dizer, bem típico das hostes acadêmicas. Deixo
claro que continuo gostando do compositor e da “ímpar atriz”, como disse o “ímpar
atroz”, o já citado Millôr, num cartão que vi pregado na parede da casa dela.
Assim como o hábito não faz o monge, o fardão acadêmico não faz o escritor.
Se for ruim, não será melhor. Também porque, ao entrar, já é “quase uma
vaga”, como disse Erico Verissimo de si mesmo, na hipótese de ser candidato.
Drummond era uma unanimidade, mas descartou a ideia. Para um Mário Quintana,
que morava de favor num hotel de propriedade do jogador Falcão, o dindim
da ABL poderia garantir uma velhice mais folgada; para a maioria dos postulantes,
contudo, é por pura vaidade, a mesma que mantém lá o execrável José Ribamar
Sarney, de quem Millôr (sempre ele) revelou a total insignificância.
O crítico José Veríssimo, que muito lutou pela criação daquele “silogeu”,
foi, creio, o único dissidente, depondo as armas em 1912, com a eleição do político
Lauro Müller. Começou ali a puxação de saco. Pegou mal também a eleição
de Getúlio Vargas (1943), um ditador em pleno exercício da ditaduragem. Idem,
em 1970, ao acolher o general Lira Tavares, que havia integrado a junta militar –
os três patetas, no dizer de Yolanda Costa e Silva –, que governou quando o marido
dela adoeceu, dando uma banana para o vice, Pedro Aleixo. Lira foi acadêmico
por ter escrito um livro de poemas assinado com o pseudônimo Adelita.
Portanto, não é uma instituição séria. Muito menos, suas afiliadas, Brasil
afora e, já faz tempo, Cairu Teles Nunes me falou que pós-carnaval explodiria
uma bomba em Cataguases. E fez segredo. Depois soltou a bomba: foi fundada a
Academia Cataguasense de Letras. De cara, recusei o convite e a mesma reação
tiveram Francisco Marcelo Cabral, Joaquim Branco e Ronaldo Werneck. Obteve
apenas três ou quatro adesões e o negócio não ficou de pé. Entanto, estamos cercados,
pois Leopoldina, Muriaé e Ubá têm suas academias. Só sei que, na última,
uma “poetisa” cunhou o epíteto “cidade carinho” para o seu torrão natal.
O objetivo da ABL é o cultivo da língua portuguesa e da literatura nacional.
A língua, pelo jeito, está mal cultivada, com esse acordo ortográfico que só o
Brasil adotou. Sobre literatura, ela edita “obras de grande valor histórico e literário,
e atribui diversos prêmios”. Aí, depende do gosto de quem edita e um dos
trabalhos publicados há algum tempo se chama O estudo da fraseologia na obra
de João Ribeiro. Não deve ser do interesse de muita gente, para dizer o mínimo.
A língua e a literatura têm dinâmica própria e atrás dessa vitalidade só não vai
quem já morreu. Ou ficou perdido nos salões “século XVIII” da Academia. Não
digo que essa dinâmica dê a quem escreve o direito de desrespeitar as normas
gramaticais e dessas pode se encarregar o Ministério da Educação.
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