06.12.2021 Views

NBE POA DEZEMBRO 2021

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Matéria de Capa<br />

diferente – que é tudo o que é externo<br />

a nós, desde as pessoas até as nuvens.<br />

Afinal, só eu vivo o meu mundo particular.<br />

Fora de mim, eu só posso imaginar<br />

o que poderia ser.<br />

É como inventar poesia. A empatia<br />

poética não quer nada com a raiva<br />

e a pressa dos tolos que idealizam um<br />

mundo de fantasia, e sim com o cuidado<br />

empático que respeita o ritmo dos<br />

processos, das chegadas e das partidas...<br />

das diferenças.<br />

Empatia não pode ser confundida<br />

com simpatia. Enquanto simpatia é perceber<br />

que o outro sofre ou se alegra,<br />

O nosso problema é que, como bebês velhos, exigimos<br />

que o mundo nos responda como gostaríamos de ser<br />

compreendidos, sem nos darmos conta dos milhões<br />

de universos pensantes e sensíveis que são aqueles<br />

que chamamos amigos, colegas, pais, amores.<br />

empatia nos permite<br />

imaginarmos<br />

a personalidade do<br />

outro.<br />

Criamos uma personagem<br />

das pessoas para<br />

melhor as compreendermos.<br />

Para sentimos a empatia, devemos<br />

nos aproximar ao máximo da outra<br />

vida sem, no entanto, nos<br />

confundirmos com ela. É<br />

preciso existir um distanciamento<br />

amoroso.<br />

Precisamos<br />

respeitar a distância<br />

saudável. Tomar<br />

a distância<br />

gentil é necessário<br />

para compreendermos<br />

as diferenças.<br />

É preciso<br />

ter sempre o cuidado<br />

de não invadir a<br />

vida alheia.<br />

A empatia é úmida como o amor.<br />

Para se ajudar aos sentimentos dos outros,<br />

é preciso estar aberto para os corações,<br />

mesmo os mais estranhos a<br />

nós. Nosso tempo, marcado pela ansiedade<br />

grosseira e pelo olhar invasivo<br />

das pornografias televisivas, carece da<br />

empatia do ouvido que escuta e dos lábios<br />

que dizem o que importa.<br />

Mikhail Bakhtin, famoso linguista<br />

russo, ao falar sobre<br />

a criação literária<br />

de uma personagem,<br />

elucida sobre os limites<br />

entre o próprio<br />

corpo e o<br />

corpo do outro<br />

para o estabelecimento<br />

da empatia.<br />

Diz-nos o autor<br />

que “Quando<br />

contemplo no todo<br />

um homem situado<br />

fora e diante de mim, nossos<br />

horizontes concretos efetivamente<br />

vivenciáveis não coincidem. Quando<br />

olhamos, dois diferentes mundos se refletem<br />

na pupila dos nossos olhos.”.<br />

É somente por meio de um ato<br />

empático que eu posso me aproximar<br />

do estranho a minha frente.<br />

Para compreendermos o outro,<br />

Bakhtin nos fala que é preciso “vivenciar<br />

empaticamente os seus estados interiores”.<br />

É contemplando que podemos vivenciar<br />

as personagens em nós. A fim<br />

de agirmos empaticamente na vida,<br />

precisamos fazer alianças, e não nos<br />

confundirmos simbioticamente com os<br />

outros.<br />

O filósofo questiona: “Que vantagem<br />

teria eu se o outro se confundisse<br />

comigo? Ele teria e saberia apenas<br />

o que eu vejo e sei, ele somente reproduziria<br />

em si mesmo o impasse de<br />

minha vida; é bom que ele permaneça<br />

fora de mim, porque dessa sua posição<br />

ele pode ver e saber o que eu não sei<br />

a partir da minha posição, e pode enriquecer<br />

substancialmente o acontecimento<br />

da minha vida”.<br />

Desse modo, é preciso haver a<br />

aceitação fatal do fervilhante silêncio<br />

que existe entre um corpo e outro,<br />

essa zona de desconhecimento eterna<br />

do outro que deve estar sempre<br />

ADOBE STOCK/<strong>NBE</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!