Exposição Gonçalo M. Tavares + Os Espacialistas
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GONÇALO M. TAVARES +
OS ESPACIALISTAS
093 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 58 x 61 cm
FIDO Delfim Sardo
Atlas do corpo e da imaginação em exposição é um título
antigo. Por um lado, tem uma reverberação de gabinete de
curiosidades, de maravilha do mundo agora finalmente
em exposição, isto é, possível de, por todos, ser vista. Por
outro lado, o que está em exposição é um Atlas, isto é, uma
organização em imagens de um conhecimento indexal e
não definitivo, colocado agora sob a forma que melhor lhe
convém, a forma expositiva. Na forma expositiva, a visão
das imagens e a leitura dos textos, das legendas ou dos
comentários não se faz numa sequência pré-definida,
como num livro, mas de forma espacial, o movimento
guiado pelo ritmo que as pernas lhe concedem, numa
posição completamente anti-natural: o corpo um pouco
baixado, o visitante virado para as imagens na parede,
todas um pouco baixas demais ou demasiado altas, os
óculos para a hipermetropia que focam na parte inferior
provocando uma torção do pescoço associada a uma
ligeira flexão das pernas e o enrolar das omoplatas. Um
atlas e um corpo torcido, dorido e disciplinado, eis a
garantia de que o processo proposto de consulta – é esse o
termo, médico e inquiridor –, torna o visitante (o utente, vá)
num sujeito consciente do seu próprio corpo ou, pelo
menos, das suas limitações físicas. Numa imagem ao lado
da outra, qual alternativa à sucessão temporal de Stephen
Dedalus (mas aqui era o som dos passos no cascalho
irlandês), o atlas aparece como Nebeineinander, oposto à
sucessão temporal de Nacheinander, uma-coisa-a-seguir-
-à-outra, lá na meditabunda praia irlandesa. Uma coisa ao
lado da outra é uma série de coisas apresentadas
na parede para serem uma série-de-coisas.
Um atlas é, então, uma série. John Coplans que, para além
de artista com um único tema (todo o seu trabalho consiste
de fotografias de fragmentos do seu próprio corpo
captadas a partir dos 65 anos de idade até à sua morte), foi
também crítico de arte e fundador da revista Artforum,
escreveu um texto em que define o que se pode entender
como «uma série». Nesse texto, originalmente publicado
em 1968, o (então) crítico define a serialidade, ou a
imagética serial, como também lhe chama, como um
conjunto unido por uma macroestrutura que, no entanto,
não exclui a necessária capacidade autoportante de cada
um dos elementos que a compõem. Fazendo um périplo
histórico que, na pintura, possui a raiz em Monet e se
estende até Joseph Albers e Ad Reinhardt, Coplans
reivindica que a consistência da macroestrutura é a garantia
da serialidade – o que nos suscitará a pergunta, um pouco
mais adiante, pela macroestrutura deste Atlas –, mas admite
que podem existir diferentes tipos de séries, seja pela
forma regular ou não como admitem a sua progressão, seja
pela estrutura (aberta ou fechada, com princípio ou
fim ou sem qualquer dos dois), seja ainda como as séries se
podem suceder em cascata no interior de uma estrutura
serial. Um atlas, este Atlas e qualquer atlas, é, portanto, uma
estrutura serial, na medida em que aquilo que acolhe, o
que o compõe, está reunido sob uma denominação,
admitindo que, neste caso específico de série, a
incompletude é inevitável, quanto mais não seja pela
possibilidade desmultiplicadora da série no seu
interior, em subséries.
Excerto do texto publicado no livro Gonçalo M. Tavares e Os
Espacialistas
FIDO Delfim Sardo
Atlas of the body and the imagination in exhibition is an
ancient title. On the one hand, it is evocative of a cabinet of
curiosities, of some wonder of the world that is now finally
on display, i.e. visible to everyone. On the other hand, what
is being exhibited here is an Atlas, i.e. an organisation into
images of a learning that is indexical and non-definitive,
now presented in the form that better suits it: the exhibitive
form.
In the exhibitive form, the viewing of images and the
reading of texts are not carried out in a predefined
sequence, as in a book, but in a spatial manner: the
movement is led by the legs’ cadence, in a completely antinatural
posture: the body slightly stoops, as the viewer faces
the pictures on the wall, all of them displayed a little lower
than they should be or too high, while the hypermetropia
glasses that focus on the lower section trigger a twisting of
the neck, accompanied by a slight flexion of the legs and a
rolling of the shoulder blades. An atlas and a twisted, sore,
disciplined body: tangible signs that the proposed process
of examination – such is the term, clinical and inquisitive –
turns the visitor (say, the user) into an individual who is
aware of their own body, or at least of its physical
limitations. As one image stands beside another, like a
variation on Stephen Dedalus’ temporal succession
(replacing the sound of steps over Irish pebbles), the atlas
manifests as Nebeineinander , the opposite of the temporal
succession of Nacheinander , one-thing-after-another, as in
the meditative Irish beach. One thing beside another is a
series of things that are displayed on the wall, thus
becoming a series-of-things. An atlas is, then, a series.
John Coplans, who was, besides a single- subject artist (all
of his artistic work consists of photographs of parts of his
body taken from the age of 65 until his death), an art critic
and the founder of Artforum magazine, wrote a text in
which he defines what can be considered “a series”. In that
text, originally published in 1968, the (then) critic describes
seriality, or serial imagery, to use his other name for it, as a
whole that is kept together by a macro-structure that,
however, does not rule out the necessary self-supporting
quality of each of the elements that compose it. While
carrying out a tour through the history of painting that
begins in Monet and reaches as far as Joseph Albers and
Ad Reinhardt, Coplans claims that the macro-structure’s
consistency is what ensures seriality – and this will, a little
ahead, cause us to wonder about this Atlas’ macro-structure
–, but he admits that there may exist different types of
series, be it in terms of their regular or irregular
progression, of their structure (open or closed, with a
beginning or end or neither of them), or even of how
various series can cascade within a serial structure.
An atlas, this Atlas and any other atlas, is consequently a
serial structure, insofar as all that it incorporates, all that
makes it up, is assembled under one denomination,
admitting that, in this specific instance of series,
incompleteness is inevitable, if for no other reason than the
fact that the series can unfold into sub-series within itself.
The Atlas , the one that concerns us here,
however, describes itself as an “atlas of the
body and the imagination”.
Excerpt of the text published in the book about Gonçalo M.
Tavares + Os Espacialistas
170 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 108 x 46,5 cm
068 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 65,5 x 46,6 cm
075 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 95 x 110 cm
368 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 65 x 60 cm
106 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 65 x 60 cm
343 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 156 x 110 cm
298 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 85,5 x 60 cm
379 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 94 x 31,5 cm
049 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 60 x 52 cm
476 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 51,5 x 60 cm
137 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 67 x 80 cm
368 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 58 x 60 cm
280 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 85,5 x 60 cm
287 | 377 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 58 x 60 cm
323 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 51,5 x 60 cm
301 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 95 x 110 cm
266 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 153 x 110 cm
301 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 58 x 60 cm
280 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 85,5 x 60 cm
469 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 85,5 x 60 cm
025 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 65,5 x 46,5 cm
400
Sim.
400 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 64 x 46 cm
147 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 80 x 46,5 cm
450
Encontrando o livro certo.
450 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 51,6 x 60 cm
397
Mercedes.
397 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 95 x 110 cm
A mão metálica está presa à parede. A mão entra nessa outra mão como se calçasse uma luva.
106
106 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 95 x 110 cm
Um olho que se leva no bolso.
Em vez de relógio de bolso. Olho-de-bolso.
Uma máquina para recordar o que se vê.
029
029 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 80 x 46,5 cm
343 da série from the series "Atlas do Corpo e da Imaginação", 2021
Inkjet print, 60 x 52 cm
Imagens da exposição Atlas do Corpo e da Imaginação em Exposição | 21/04 - 04/09 2021
Carlos Carvalho Arte Contemporânea, Lisboa
Imagens da exposição Atlas do Corpo e da Imaginação em Exposição | 21/04 - 04/09 2021
Carlos Carvalho Arte Contemporânea, Lisboa
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Carlos Carvalho Arte Contemporânea, Lisboa
Imagens da exposição Atlas do Corpo e da Imaginação em Exposição | 21/04 - 04/09 2021
Carlos Carvalho Arte Contemporânea, Lisboa
Gonçalo M. Tavares nasceu em 1970. Desde
2001 publicou livros em diferentes géneros
literários, traduzidos em cerca de 60 países.
Os seus livros receberam vários
prémios em Portugal e no estrangeiro.
Com Aprender a rezar na Era da
Técnica recebeu o Prix du Meuilleur Livre
Étranger 2010 (França), prémio atribuído antes a
Robert Musil, Orhan Pamuk, John Updike, Philip
Roth, Gabriel García Márquez, Salman Rushdie,
Elias Canetti, entre outros.
Alguns outros prémios internacionais: Prêmio
Portugal Telecom 2007 e 2011 (Brasil), Prêmio
Internazionale Trieste 2008 (Itália), Prémio
Belgrado 2009 (Sérvia), Grand Prix Littéraire du
Web – Culture 2010 (França), Prix Littéraire
Européen 2011 (França).
Foi por diferentes vezes finalista do Prix Médicis
e Prix Femina.
Uma Viagem à Índia recebeu, entre outros, o
Grande Prémio de Romance e Novela APE
2011.
Os seus livros deram origem, em diferentes
países, a peças de teatro, dança, peças
radiofônicas, curtas-metragens e objetos de
artes plásticas, dança, vídeos de arte, ópera,
performances, projetos de arquitetura, teses
académicas, etc.
Os Espacialistas é um projecto laboratorial de
investigação teórica e prática das ligações
transdisciplinares entre Arte, Arquitectura e
Educação com início de actividade em 2008.
Substituem o lápis pela máquina fotográfica,
enquanto dispositivo de desenho, de
pensamento, de percepção e de diagnóstico do
espaço natural e construído, cujas acções são
reguladas pelo Diário do Espacialista e auxiliadas
pelo “Kit Espacialista Por/táctil” que transportam
consigo.
Entre os trabalhos realizados destacam-se:
Projectos de arquitectura, de assistência
arquitectónica e artística a obras de arquitectura
e arte, exposições de fotografia, vídeos,
instalações, espaços cénicos, performances,
colaborações literárias, ilustrações fotográficas,
oficinas, seminários e publicações.
Apresentados em locais tão diversos como o
Museu da Electricidade (2008), Galeria Lagar de
Azeite (2008), Galeria de Arte Contemporânea
Paulo Amaro (2008), Ordem dos Arquitectos –
OASRS (2008), Feira de Arte Internacional de
Lisboa (2008), Laboratório de Actividades
Criativas (2009), Centro Cultural das Caldas da
Rainha (2009), Centro Cultural de Belém
(2009/2011), Coreto do Jardim da Estrela (2009),
Jardim da Torre de Belém (2009), Universidade
Artes do Porto (2010), Teatro do Campo Alegre
Universidade Lusíada de Lisboa (2009), Centro
Nacional de Cultura (2009), Auditório dos
Oceanos (2010), Teatro da Trindade (2010),
Universidade de Belas(2010), Teatro São Luís
(2010/2011), Red Bull House Of Art (2011),
Circuito Aberto de Arte Pública de Paredes
(2012), Faculdade de Arquitectura da
Universidade do Porto – FAUP (2013), 17ª
Bienal de Vila Nova de Cerveira (2013), livro
“Atlas do Corpo e da Imaginação” de Gonçalo
M. Tavares, Fundação Calouste Gulbenkian
(2014/2015), Fábrica da Moagem de Tomar
(2014), Galeria Espaço Mira, Porto, (2015),
Palácio do Marquês em Oeiras (2016), “LAR –
Laboratório de Arte e Arquitectura” na
Universidade Lusíada de Lisboa (2016/----), na
Loja do Espacialista no Centro Cultural de Belém
( 2017/ ----), na Feira do Livro de Madrid (2017),
na Chicago Architecture Biennial 2017 com Aires
Mateus (2017), Univates, Brasil (2017) na Cidade
Europeia do Vinho, Torres Vedras / Alenquer
82018), no MAAT - Museu de Arte, Arquitectura
e Tecnologia de Lisboa (2019), no MAM - Mês da
Arquitectura da Maia (2019), na BoCA- Biennial
of Contemporary Arts (Lisboa, Porto, Braga,
Águeda, Santiago do Chile, Buenos Aires,
2019-20), no Museu Colecção Berardo
(2019-20), no Museu Del Crudo, (Itália, 2019), no
Atelier d`Arquitectura (RTP2) e no Colégio das
Artes da Universidade de Coimbra (2020-21).
Gonçalo M. Tavares
Portuguese writer, is the author of a vast work that
is being translated in around sixty countries. His language
in rupture with Portuguese lyrical traditions
and the subversion of literary genres make him one of
the most innovative European writers today.
His books gave rise, in different countries, to plays,
radio plays, short films and plastic art objects, art
videos, opera, performances, architectural projects,
academic theses, etc.
Os Espacialistas
Laboratorial collective of theoretical and practical
investigation of the connections between Art, Architecture
and Education. It replaces the pencil with the
photographic camera, as a drawing, thinking, perception
and natural and built space diagnosis device.
Among the works done the highlights are: exhibitions,
installations, artistic assistance to works of architecture,
architecture projects, scenic spaces, performances,
fotográficas, oficinas, seminários, publicações, etc.
literary collaborations, photographic illustrations,
workshops, seminaries, publications, etc.
Carlos Carvalho Arte Contemporânea
Rua Joly Braga Santos, lote f r/c
1600-123 Lisboa | Portugal
carloscarvalho-ac@carloscarvalho-ac.com
www.carloscarvalho-ac.com
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