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toda uma sorte de ordens e movimentos religiosos entre homens e mulheres.
Também acompanhamos de perto a solidão de Jesus e Maomé. O primeiro,
um humano divino, alguém cônscio de sua missão, mas nem por isso imune
ao seu sofrimento e dor. Jesus, estoicamente, mas muito humanamente,
aceitou a dor e a morte, preparando-se para ela com seu retiro, sua ascese.
Ainda assim, sentiu-se só e abandonado. Uma solidão para o equilíbrio, outra
solidão do desamparo, do abandono. Uma por opção, outra por absoluta falta
dela. Cristo, talvez por se lembrar dessa experiência humana última da morte
e do sofrer sozinho, visitou ou mandou consolo a santos e outros mortais em
momentos de isolamento provocado por doenças, como foi o caso de Inácio
de Loyola e Francisco de Assis, não por acaso ambos fundadores de ordens
religiosas profundamente cristocêntricas.
Maomé tremeu, sofreu, foi arrebatado, ridicularizado. São várias as
passagens corânicas que nos mostram quanto o povo em Meca e nas
imediações zombou de suas recitações e cobrava que ele realizasse milagres
ou experiências extáticas diante de todos. Diziam-no possuído por demônios
ou ensandecido. Depois de décadas triunfou, pois voltou a Meca como O
Profeta. Morreu em 632, sem que nenhum de seus fiéis duvidasse daquela fé
que nasceu solitária, apenas fruto das visões de um único homem. Uma
década depois de sua morte, toda a Península Arábica estava, pela primeira
vez, unificada. Inimigas mortais, politeístas, as tribos árabes constituíam a
Ummah, “a nação” dos crentes. Em um século, um imenso império, que se
estendia da Pérsia, passando por todo o norte da África e findando-se nos
Pireneus, constituiria essa comunidade de fieis, o Dar al-Islam, o território em
que a maioria da população é muçulmana e pode praticar sua fé sem
restrições.
De todos esses exemplos, mas também da iluminação de Sidarta ou do
isolamento de outras religiões, podemos perceber como é na solidão que se dá
a busca por algo maior que si mesmo. No deserto, no isolamento, na toca
forja-se, silenciosamente, um renascer, uma regeneração, uma nova
identidade. Os iluminados, à medida que se despojam de si próprios e de seus
bens, seus apegos mundanos, enfrentam seus demônios e, se perseverarem,
encontram paz, Deus, luz ou a si mesmos.