Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
que crê que o mundano deve ser abandonado. É a renúncia do mundo para
viver o sagrado, caso que analisamos na maior parte deste capítulo. A outra
ascese, a de Santo Agostinho ou a dos quakers nos Estados Unidos, se dá “no
mundo”, ou seja, quando a pessoa não abdica totalmente da vida em
sociedade e de seu cotidiano, mas permanece em vigília para evitar certos
aspectos que considera errôneos ou pecaminosos.
Essa busca da solidão ascética excede o Cristianismo. Iogues a praticam
com frequência. Na Índia, os homens santos, os sadhus, levam vida solitária e
de mortificação e, dependendo do Ashrama em que alguém se encontra, é
provável que passe seus últimos anos como um anacoreta. Lao Zi e Sidarta
abandonaram o mundo para, na solidão, encontrarem sabedoria, equilíbrio e
iluminação. O Buda e seu caminho do meio são uma rejeição do ascetismo
extremo e também uma busca pelo equilíbrio e o fim do sofrimento que tem
na solidão seu fundamento principal. Ninguém pode ajudá-lo na busca pela
iluminação. Apenas você pode fazer isso por você. O que não implica não
poder ajudar os outros, mas não é apenas servindo e se mortificando que se
atinge essa paz interna. Os métodos variam para cada época e corrente dos
muitos tipos de budismo. De forma geral, a solidão no budismo é encarada
como algo positivo, longe de ser algo ameaçador ou temido. A ideia central de
não se apegar a nada, da meditação, criaria o que algumas vertentes chamam
de “solidão serena”, uma postura contemplativa e disciplinada, sem
excessos, vazia de desejos e excessos. Na formulação da monja Pema
Chödrön, “somos fundamentalmente sós, e não há nada, em lugar algum, em
que possamos nos agarrar. Além do mais, isso não é um problema. Na
verdade, isso nos permite finalmente descobrir uma maneira de ser
totalmente desconstruída. Nossas premissas habituais – todos os nossos
conceitos sobre como as coisas são – impedem-nos de ter uma visão nova e
aberta. [...] Relaxar [na solidão] representa um bom exercício para perceber a
profundidade das situações mal resolvidas de nossa vida. Estamos nos
enganando quando fugimos da ambiguidade da solidão”.
E o Islamismo, a terceira e mais recente das religiões abraâmicas? Como
ela lida com a solidão – e será que Alá também é um Deus que a preza e a
incentiva? A resposta é fácil para o solitário leitor ou a atenta leitora que me