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O Dilema do Porco Espinho - Leandro Karnal

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que crê que o mundano deve ser abandonado. É a renúncia do mundo para

viver o sagrado, caso que analisamos na maior parte deste capítulo. A outra

ascese, a de Santo Agostinho ou a dos quakers nos Estados Unidos, se dá “no

mundo”, ou seja, quando a pessoa não abdica totalmente da vida em

sociedade e de seu cotidiano, mas permanece em vigília para evitar certos

aspectos que considera errôneos ou pecaminosos.

Essa busca da solidão ascética excede o Cristianismo. Iogues a praticam

com frequência. Na Índia, os homens santos, os sadhus, levam vida solitária e

de mortificação e, dependendo do Ashrama em que alguém se encontra, é

provável que passe seus últimos anos como um anacoreta. Lao Zi e Sidarta

abandonaram o mundo para, na solidão, encontrarem sabedoria, equilíbrio e

iluminação. O Buda e seu caminho do meio são uma rejeição do ascetismo

extremo e também uma busca pelo equilíbrio e o fim do sofrimento que tem

na solidão seu fundamento principal. Ninguém pode ajudá-lo na busca pela

iluminação. Apenas você pode fazer isso por você. O que não implica não

poder ajudar os outros, mas não é apenas servindo e se mortificando que se

atinge essa paz interna. Os métodos variam para cada época e corrente dos

muitos tipos de budismo. De forma geral, a solidão no budismo é encarada

como algo positivo, longe de ser algo ameaçador ou temido. A ideia central de

não se apegar a nada, da meditação, criaria o que algumas vertentes chamam

de “solidão serena”, uma postura contemplativa e disciplinada, sem

excessos, vazia de desejos e excessos. Na formulação da monja Pema

Chödrön, “somos fundamentalmente sós, e não há nada, em lugar algum, em

que possamos nos agarrar. Além do mais, isso não é um problema. Na

verdade, isso nos permite finalmente descobrir uma maneira de ser

totalmente desconstruída. Nossas premissas habituais – todos os nossos

conceitos sobre como as coisas são – impedem-nos de ter uma visão nova e

aberta. [...] Relaxar [na solidão] representa um bom exercício para perceber a

profundidade das situações mal resolvidas de nossa vida. Estamos nos

enganando quando fugimos da ambiguidade da solidão”.

E o Islamismo, a terceira e mais recente das religiões abraâmicas? Como

ela lida com a solidão – e será que Alá também é um Deus que a preza e a

incentiva? A resposta é fácil para o solitário leitor ou a atenta leitora que me

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