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primeiro servidor dos comandados. A lição é permanente e ainda não
aprendida. Pedro, sempre cheio de arroubos teatrais, pede para ser lavado por
completo. Jesus deve ser paciente. O Pescador de Homens está em formação.
Pedro é um herói ainda imperfeito, que afunda na água quando tem medo,
que nega o Mestre, que cochila enquanto Jesus agoniza e que, ao final, vira a
pedra sobre a qual toda a obra seria edificada. Pedro, a “pedra”, é humano.
Jesus não escolheu anjos, mas seres humanos. Conhece seus discípulos e,
curiosamente, ama-os do mesmo jeito. Amar conhecendo é um dom único e
uma generosidade épica.
A cena mais tocante da última Páscoa de Jesus é dada pelo afeto de João, o
mais novo. Ele pousa a cabeça no peito do Mestre. É o benjamim do grupo e
será o último a morrer. Ao redor daquela mesa, estavam sentados o tema
principal e cinco autores do Novo Testamento: Mateus, João, Pedro, Tiago e
Judas Tadeu. Foi um encontro notável. Gosto de imaginar que ali perto, numa
cerimônia mais ortodoxa, estava o maior autor individual do Novo
Testamento: Saulo de Tarso, sem saber que sua vida seria mudada pelos
acontecimentos que transcorriam no cenáculo. A ceia foi a última alegria de
Jesus nas terríveis horas seguintes.
Como funciona a cabeça de alguém que sabe o futuro? Eu me casaria tendo
previsto todos os desentendimentos futuros? Conversaria com alguém que me
causaria decepção anos mais tarde? Talvez por isso seja vedado aos homens o
conhecimento do futuro. Não aguentaríamos a dor da verdade pela frente. É o
mito do eterno retorno como no aforismo de Nietzsche, na Gaia ciência, ainda
que às avessas. O filósofo alemão escreveu: “E se um dia ou uma noite um
demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: ‘Esta vida,
assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e
ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer
e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e
de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e
sequência”. Diante dessa oferta, ficaríamos amedrontados diante da
pequenez de nossa existência e do tédio ou horror de nossos próprios
sofrimentos revividos mil vezes? Ou algum instante, de tão imorredouro e
brilhante, nos diria que aquela era a mais divina proposta já ouvida, pois a