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apenas um empregado negro muito fiel, vê sua vida isolada mudar após
conhecer um forasteiro do norte, aventureiro que quer apenas divertir-se
com a solitária mulher. Criticada severamente pelos guardiães de sua moral,
indiferentes à sua solidão brutal, forçada a mandar embora o amante e a
receber a visita de primas para salvaguardar os bons costumes, parece aceitar
o controle da cidade sobre sua vida amorosa. Depois de um tempo, serenados
os bisbilhoteiros, as parentes partem. Determinada, recebe de volta o amante,
que é visto, pela última vez, entrar na casa para nunca mais sair. Logo depois,
Emily compra na farmácia local, à revelia do vendedor, arsênico (única pista
para a ocorrência de algo sinistro). Anos se passam, Emily finalmente morre,
quando então se descobre a verdade grotesca e lúgubre: Emily passara
décadas com o cadáver, depois transformado em esqueleto, do aventureiro do
norte, em sua cama. A solidão primeiro imposta pelo pai e depois
autoimposta enlouqueceu Emily. Para horror de todos, a sua necrofilia
tornou-se evidente. Com medo de perder o amante, devastada pelo medo da
solidão decorrente, preferira assassiná-lo e conviver a vida toda com seus
restos. Macabro ao extremo...
“Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas
tempestivas, nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro
da noite.” A autora do depoimento é Chaya Pinkhasovna, a nossa Clarice
Lispector. Versátil em seus conhecimentos, estudou línguas (francês,
hebraico, inglês, iídiche), antropologia e formou-se em direito. Muito nova,
publicou seu primeiro romance, Perto do coração selvagem. Abraçou o
jornalismo com ardor, tendo trabalhado no Correio da Manhã, no Diário da
Noite e na Agência Nacional. Brilhou com uma escrita intimista, permeada de
fluxos de consciência e profunda introspecção. É compreensível que “sua
força estivesse na solidão” para produzir intensamente obras que dialogam
com as angústias e os conflitos existenciais: seus livros leem o leitor de forma
visceral, provocando verdadeira epifania (palavra tão apreciada por ela!) do
ser. De perto, todo coração é selvagem.
O romance A paixão segundo G.H. é a trajetória de uma mulher madura,
solitária, escultora nas horas livres, sem problemas financeiros, que parece
entorpecida para a realidade, até que um fato aparentemente banal, a decisão