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vida. Emocionalmente delicada, teve depressão com a morte precoce da mãe e
de uma irmã muito querida. Considerava a solidão condição fundamental para
a produção literária. São suas as palavras tiradas de seu diário escrito na casa
que ela e o marido haviam comprado em Sussex: “Com frequência aqui, entro
em um santuário [...] de grande agonia, pelo menos uma vez; e sempre de
algum terror; tal é o medo sentido na solidão; o [medo] de enxergar o fundo
do poço. Essa é uma das experiências que tive aqui em alguns meses de
agosto; tive então a consciência daquilo que chamo de ‘realidade’: algo com
que me deparo: algo abstrato; mas vivendo aqui embaixo ou no céu; ao lado
do qual nada importa; algo no qual eu deverei descansar e continuar a existir.
Eu chamo isso de realidade. E imagino, às vezes, que isso é a coisa mais
necessária para mim, aquilo que busco”. A solidão de Virginia Woolf era mais
uma solidão interior, e não física, dolorosa, às vezes, mas
extraordinariamente frutífera. Infelizmente, a depressão constante acabou
por levá-la ao suicídio. Marcou indelevelmente a literatura inglesa. Seu
romance Orlando: uma biografia é a história do aristocrata Orlando
percorrendo mais de trezentos anos de aventuras iniciadas na época da
rainha Elizabeth I e terminando em 1928. Orlando é um personagem solitário,
ainda que constantemente se veja enredado em relações apaixonadas que
parecem afastá-lo de seus propósitos literários: escrever o poema “O
carvalho”. Desiludido pelo amor frustrado que dedicava a uma nobre russa,
embarca rumo a Constantinopla em missão diplomática, durante o declínio
do Império Otomano. É bem-sucedido em suas embaixadas, vive novos
romances arrebatadores, até que lá, naquele cadinho de raças, religiões e
culturas diferentes, de repente, após dias e dias de sono contínuo, acorda
transmutado em mulher. Aceita seu novo corpo de forma natural e, levado
pela busca de aventuras, sua característica marcante, junta-se a um grupo de
romani[*] que aceita a sua mudança de gênero. Consciente das diferenças que
separam ela, inglesa, dos errantes romani, premida pela saudade da terra
natal, volta à Inglaterra, envolve-se em novos romances, decepciona-se
através das idades, mas sempre tentando terminar a escrita de seu poema
inacabado. Orlando, em sua solidão, percebe que, embora tenha mudado de
sexo, continua o mesmo ser internamente, ser este que é composto de vários