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sua condição feminina. Esse é o caso de Charlotte Anna Perkins Gilman,
nascida em 1860 em Hartford, Connecticut. Foi escritora, conferencista,
editora, socióloga e ativista feminina incansável. Além de produção literária,
deixou também obras de não ficção, Women and Economics [Mulheres e
economia], The Man-Made World [O mundo feito pelos homens], para citar
algumas. As referidas obras não foram traduzidas para o português. Lutou
pelos direitos da mulher sem temor e indiferente à opinião pública
tradicionalista. Em sua própria vida, foi exemplo de mulher consciente de
seus direitos, de espírito indômito e fraterno em relação às irmãs de gênero.
Casou-se duas vezes, teve uma filha, sofreu de depressão pós-parto, com
todas as decorrências de seu estado. Submetida à terapia usual da época, isto
é, isolamento, regime alimentar saturado de gordura, ausência de exercícios e
isolamento social, escreve “O papel de parede amarelo”, que é um libelo
contra o tratamento imposto a mulheres em tal condição. A personagem (não
tem nome na história), casada, tem depressão após o parto, incapacitada de
abster-se do tratamento imposto para sua recuperação, uma vez que o
próprio marido é seu médico, isolada em um quarto com barras nas janelas,
sem possibilidade de contato com o mundo externo, passa a conversar com as
figuras que vê no papel de parede. A personagem é oprimida pelo consenso da
época e reprimida na manifestação de sua vontade. A fuga para a loucura é a
sua maneira de escapar à prisão, à solidão forçada.
Como vemos, graças à literatura, a mulher foi, aos poucos, enfrentando o
preconceito vigente, dando voz à sua solidão. A inglesa Virginia Woolf, filha
de um historiador e de uma enfermeira que também fora modelo para
pintores pré-rafaelitas como Edward Byrne Jones, teve mais sorte em poder
expressar sua capacidade de escritora sensível e talentosa. Nasceu em um lar
economicamente estável e seus pais eram bem relacionados em termos
sociais e artísticos. Como era comum na Inglaterra, os filhos homens
receberam educação universitária, as filhas foram educadas em casa e, em
virtude da mente aberta dos pais, puderam ler intensamente livros que
despertaram sua curiosidade e motivaram o aprendizado. Virginia teve de
conviver com sequelas emocionais de abuso sexual que sofreu por parte de
dois meios-irmãos no início da adolescência, e isso a marcou para o resto da