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anos, não procura mais grandes feitos. Não “sonha mais com tempestades,
mulheres, grandes peixes, nem mesmo com a esposa”. Está em paz. Agora,
ele “sonha com leões numa praia, brincando como gatinhos”. A natureza
representada pelos pássaros, pelo mar, pelos peixes é uma natureza amistosa
para Santiago. Ele tem genuíno respeito por ela. A luta que o velho pescador
trava com o grande peixe é disputa em que, segundo ele, deve vencer o
melhor. Em nenhum momento, Santiago sente raiva de seu oponente, chega a
considerá-lo quase como um “irmão”. Sabe que sairá vitorioso no final,
lamenta ter de matar, dar o golpe derradeiro na cabeça do marlim. Admira o
peixe até o último instante de luta. Após prendê-lo ao barco, para levá-lo de
volta à praia, empenha-se ao máximo para afastar os tubarões que seguem a
trilha de sangue deixada pelo animal ferido. Considera uma indignidade o
enorme peixe ser devorado pelos predadores incansáveis. Convém salientar
que o fato de o velho estar sozinho no barco e lutar por dias com o enorme
peixe confere grandeza à façanha de Santiago. Ao voltar para casa, a única
coisa que sobrou do peixe foi a grande carcaça, mas o pescador acredita que
ele foi “destruído”, mas não “derrotado”. Santiago também, pois os anos lhe
roubaram o vigor, destruíram seu corpo, seu rosto, mas os olhos cor de
esperança continuaram vivos, sem indício algum de derrota; a solidão
imposta pelo tempo, pelas circunstâncias, tornou-o vitorioso, no final. Ele
consegue recuperar a admiração dos outros pescadores, e o menino Manolin
lhe é devolvido para sair em novas pescarias.
Claro, existe a refinada solidão filosófica. É o caso da solidão buscada por
Ralph Waldo Emerson, filósofo, ensaísta e poeta norte-americano. Um dos
criadores do movimento transcendentalista na literatura que brotou na Nova
Inglaterra acreditava que “é na solidão que se encontra o trabalho da criação,
porque o homem, embora ainda novo, mas tendo já provado a primeira gota
da taça do pensamento, acha-se por isso dissipado, enquanto as árvores e
avenças parecem incorruptas” (tradução de Carolina Nabuco). A observação
do particular, uma folha, pode, pela intuição, levar à complexidade do todo,
do macrocosmo? A solidão da floresta é criadora, motivadora de insights
inspiradores. Emerson é encantado com o trabalho de criação da Divindade.
“A delicadeza de um floco de neve caindo silenciosamente, simplesmente