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O Dilema do Porco Espinho - Leandro Karnal

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seguirão em um fluxo circular incessante, numa espécie de eterno retorno

nietzschiano. A saga da família Buendía tem como pano de fundo a própria

história da América Latina, os personagens ensimesmados, atendendo a

solicitações egoístas de suas personalidades. Quase todos são prisioneiros de

situações que se repetem em Macondo, cidade dos espelhos. O sentimento

altruísta, gerador de alegria, traria a redenção da solidão egoísta que domina

a família Buendía há cem anos. Ao final, surge uma maldição sobre todos,

despertando a ideia de um século solitário, sem compreender ou ser

compreendido.

Macondo tinha solidão com muitas pessoas. Vamos para a solidão mais

isolada. O romance Robinson Crusoé, de Daniel Defoe, exemplifica o

isolamento forçado imposto ao personagem em decorrência de um naufrágio.

O jovem Crusoé, à revelia de seu pai, parte em busca de autonomia e vê-se

preso durante anos em uma ilha, onde inicia um processo de

amadurecimento imposto pelas vicissitudes que terá de enfrentar para

sobreviver. Forçado pelo isolamento, Crusoé aprende a defender-se dos

perigos, das intempéries e da falta de alimentos. Usando a razão e a lógica,

passa a fazer um registro minucioso de tudo o que observa na ilha para tirar

proveito em seu favor. Ele não é um sonhador nem se deixa impressionar pela

natureza ao seu redor, mas assume um viés prático e objetivo para poder

permanecer vivo. A “Ilha do Desespero” também é testemunha de seus

questionamentos religiosos, ao desobedecer à vontade paterna. Em seu desejo

por liberdade e aventuras, o jovem, de certa maneira, desobedece a Deus e

considerará como castigo o naufrágio e tudo o que decorre dele. Ele sente que

precisa expiar sua culpa mediante sofrimentos. Finalmente, após dolorosos

embates, consegue apaziguar sua consciência e tornar-se, em seu entender,

verdadeiro cristão.

A solidão física de Crusoé é aplacada quando, para sua alegria, constata

que seu papagaio Poll também sobreviveu ao naufrágio e passa a lhe fazer

companhia sonora. O divertido na história de Robinson Crusoé é o surgimento

de outros dois papagaios, originários do Brasil, a quem o náufrago passa a

ensinar a falar, mas como “estrangeiros” serão inferiores ao seu Poll! Outros

companheiros de solidão são um cão, um gato e uma cabra domesticada.

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