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CAPÍTULO 3
Solidão, solitude e livros
A solidão humana abunda em toda criação literária. Os livros poderiam ser
agrupados em duas grandes famílias: aqueles que falam sobre encontros e
aqueles sobre desencontros, ou seja, estar só ou estar acompanhado. De
alguma forma, a literatura é a história da solidão. Dante sozinho na floresta,
perdido e com medo, inicia a Divina comédia. A viagem de Ulysses vai ficando
cada vez mais solitária com a morte dos companheiros, e, isolado, retorna a
Ítaca para, enfim, ao final da Odisseia, terminar com sua solidão. O novo
Ulysses de James Joyce troca os mares povoados de monstros por uma
jornada dublinense ao seu universo de solilóquios. Encontrar e perder,
encontrar-se e perder-se, isolamento e abertura, enfim, quase tudo sai ou
parte da solidão. E o dado mais curioso sempre: mesmo que a obra não
analise solidão, o leitor que a busca, ao ler, estará, necessariamente, solitário.
O que existe nos livros que arrasta o leitor para o universo da consciência
solitária? A literatura é o retrato de uma dada cultura; na verdade, as lentes se
ampliam e registram também matizes do espectro universal, isto é, as
personagens em um conto, um romance, uma tragédia podem e devem
extrapolar fronteiras e representar instantâneos não apenas das caraterísticas
de determinado povo, mas, sim, das várias faces que compõem a raça
humana. Amor, ódio, paixão, ambição, poder, solidão são temas recorrentes
na literatura mundial e facilitam esteticamente a identificação do leitor com o
“eu” dos personagens. A literatura pode ser uma chave para o