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nem a intimidade densa e até conflituosa da relação humana. Não ganho a
paz nem enfrento a diferença.
A internet como exercício de relação (diferente de ferramenta de
conhecimento) não concede a paz e o isolamento suficientes por ser um fluxo
incessante de dados e mensagens, fotos e anúncios. Não existe o deserto na
rede. O clique rápido, a barra de rolagem infinita, a mudança de tela, o aviso
de mais coisas entrando e de novas piadas e fotos são as sereias irresistíveis
que jogam meu barco isolado nas rochas do movimento perpétuo. Assim,
redes sociais não trazem a ponderação isolada e produtiva que facilitaria a
paz.
Não sendo favorável à paz interior em função da sua dinâmica interna, a
internet, mesmo navegada de forma solitária, tem pouco potencial de
iluminação e muita força de passatempo amortecedor do tédio.
Se não podem ser o deserto da iluminação, ao menos as redes poderiam
ser o desafio da alteridade pela convivência? Poderiam, sim, futuro do
pretérito, mas não são. Por quê? Já apontei antes os muitos recursos que
tornam meu dedo, ao clicar, juiz, júri e advogado. Carrasco, até. Deletando,
bloqueando, apagando ou procrastinando a resposta, domino de tal forma a
comunicação que raramente fico fixado na resolução de um conflito.
Uma linha para pensar: as redes são suficientemente agitadas para
impedir a reflexão isolada e suficientemente autoritárias para ser um desafio
útil ao meu narciso. Volto ao que levantei antes. Seria a minha conclusão
válida apenas para uma geração que identifica valor maior ao contato real do
que ao virtual? Todo o caminho feito de argumentos seria inválido para
analisar a massa de jovens na rede? Eis um bom desafio para o qual não
tenho resposta clara, apenas intuições. Talvez cada pessoa, independente da
geração/idade, possa dar resposta a algo aberto: seu momento de maior
crescimento foi o contato com alguém em carne e osso ou foi em um contato
virtual? Eu só tenho a minha resposta. A sorte está lançada.