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pergunta sem resposta: o que veio primeiro, o ovo ou a galinha? Usamos as
redes sociais para suprir um vazio, uma sensação de solidão anterior à
existência delas ou as redes criaram e alimentam esse sentimento, que pode
levar à compulsão e ao vício? Eu não tenho a resposta (embora tenha um
palpite) e, aparentemente, tampouco os especialistas a têm. Elizabeth Miller,
diretora da Divisão de Medicina para Adolescentes e Jovens Adultos da
Universidade de Pittsburgh, uma pesquisadora do tema, declarou no ano
passado, em matéria publicada no jornal O Globo, que não sabia: “É possível
que adultos jovens que se sentiam isolados socialmente tenham se voltado
para as redes sociais. Ou pode ser que o aumento no uso das redes sociais, de
alguma forma, os tenha levado ao sentimento de isolamento do mundo real.
Também pode ser uma combinação. Mas mesmo se o isolamento social veio
primeiro, ele não parece ter sido aliviado pelo investimento de tempo online”.
Se a busca pela solidão nas redes é, no fundo, uma busca pela anulação da
dor ou uma tentativa de controle sobre o outro e suas reações, nem tudo sai
sempre conforme o programado. Também há nas redes sociais aquele que não
exclui, mas é excluído, o que posta, mas ninguém dá like, o que não está na
foto. O sentimento de exclusão porque não estava no evento ou festa que todo
mundo postou ou porque se deixa ludibriar pela exposição massiva da vida de
colegas nas redes sociais, sempre uma idealização, pode alimentar inveja,
ferir o Narciso e machucar a vaidade: acabo remoendo, em minha triste e
segura solidão, a crença distorcida de que a grama do vizinho é sempre mais
verde, de que meu colega de trabalho é mais bem-sucedido ou de que meu
amigo de infância, que não vejo há décadas, é mais feliz do que eu.
Trocando em miúdos: tenho certeza de que algumas pessoas encontram
conforto e pertencimento na internet. São realmente felizes, têm amigos e
vivem de forma real no mundo virtual. Para cada uma delas, contudo, existe
outra (talvez dezenas ou centenas de outras) que mergulhou numa solidão
perniciosa e nefasta. E o problema de um pode ter impacto e ser o problema
de todos. Dominique Wolton, sociólogo da comunicação e diretor do Centro
Nacional de Pesquisa Científica de Paris, é taxativo ao afirmar que a internet,
em especial os programas de trocas de mensagens e as redes sociais, só