You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
interessante está meu momento. Controle absoluto das relações pelos dedos.
Não preciso negociar. Não prolongo a existência de chatos. Não preciso
suportar ninguém. Desagradou? Clico e pronto. Agrediu? Bloqueio e pronto.
Não desejo dar a resposta pedida? Ignoro. O mundo virtual instalou uma
catraca na caverna de Platão. Não apenas opto pelo real lá fora ou pelas
imagens bruxuleantes da caverna. Posso até decidir tornar as imagens parte
do meu real. Sou eu que decido onde o sol exterior brilhará. Posso até
melhorar o sol platônico com um bom Photoshop.
No final da sua carreira, Shakespeare escreveu a peça A tempestade. Na ilha
comandada pelo poder do duque Próspero, seres mágicos como Ariel
produzem ilusões como fazer crer que existe uma mesa de banquete onde
nada há. A filha do duque, a doce e ingênua Miranda, ao ouvir falar de lugares
além do seu isolamento insular, pensa no “admirável mundo novo” que ela
ainda desconhece.
No século XX, Aldous Huxley pega a frase de Miranda para batizar sua
distopia. No mundo do livro, existe uma droga feita para impedir a tristeza.
Todos possuem funções predeterminadas, e a droga impede qualquer tom de
cinza na vida. Uma sociedade intoxicada quimicamente para parecer feliz: a
profecia de Huxley é assustadora.
A internet encontrou as duas coisas para nós: a magia ilusionista de
Próspero e a droga da felicidade de Huxley. Aí está um admirável mundo novo
que poderia eliminar toda solidão. Será?
Livre para bloquear, livre para fantasiar e livre para insultar, a
comunicação virtual deveria ter libertado a todos da solidão ou dos riscos dos
espinhos. Deveríamos todos ter um grau de felicidade muito grande,
especialmente entre jovens que usam esse recurso para escapar da solidão. Há
magia, poder, ilusão de primeira qualidade e muita droga feliz. Deveríamos
estar cobertos de felicidade.
O que notamos entre tantos sorrisos e vidas plenas das redes? Vivemos
uma perigosa epidemia de suicídio entre jovens. A depressão está se tornando
um mal mais forte na nossa era. Já indiquei o crescimento assombroso da
farmacopeia contra a tristeza. O que pode explicar esse paradoxo?
Para responder a essas perguntas, analisemos um debate que existe desde