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justa e equilibrada.
Buscarei outra diferença importante: o mundo virtual é mais controlável,
em média, do que o físico presencial. Você está sozinho e chega um chato. A
definição mais clássica de um chato é a que diz que se trata de um sujeito que
lhe retira da solidão sem oferecer companhia. É difícil escapar dele em casa,
no trabalho ou na rua. Os chatos são onipresentes. Agora, nas mensagens
virtuais, você pode ignorar o chato, fazer de conta que não leu, alegar que o
firewall barrou algo, você pode bloquear ou deletar.
Eu disse antes que o real e sua percepção podem variar muito. O que
mudou e não é tão relativo ou subjetivo é o poder que o mundo virtual
confere. A autonomia do internauta é maior do que a de alguém que recebe
uma visita física em casa. Assim, preciso negociar menos na internet, posso
manter minha vontade mais altiva e soberana. Sem o esforço de burilar
minha paciência, meu eu soberano pode flanar vitorioso nos circuitos da rede.
Meu dedo é um demiurgo e, a um simples clique, redefine meu círculo de
amigos. Curto, descurto, interrompo, bloqueio, deleto: tudo faz parte de uma
dinâmica nova.
Há um poder do dedo e do narciso enorme. Há outro dado interessante:
por mais que eu possa usar roupas, maquiagem, disfarces e cortinas de
fumaça, no encontro real eu estarei lá. No virtual, posso assumir uma
fantasia completa, mudar de gênero, criar perfil falso e redefinir-me de
acordo com meus desejos e medos. Esse é o segundo grande poder do
relacionamento virtual.
O terceiro poder é o mais sutil: a diluição da responsabilidade. Tenho o já
referido poder libertador do dedo, assumo a fantasia sem limites e, por fim,
posso insultar, gritar, espernear sem medo: não existe risco físico. Existe
cyberbullying, sim, porém que ataque um avatar fantasma pode sofrer? A
internet possibilita a inimputabilidade em grau maior do que o que
conhecíamos até aqui.
Liberdade para entrar e sair da solidão pelo recurso das redes. Fotos minhas
fluindo em selfies incessantes exibindo como exulto com a vida e que