21.11.2021 Views

O Dilema do Porco Espinho - Leandro Karnal

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

alguém solitário, porém não isolado. Partimos daqui: seria o acesso às redes a

solução aos dilemas humanos?

Precisamos pensar de forma mais específica. Alguém que faz a clara

distinção entre amigo virtual e amigo real provavelmente pertence a um

grupo mais velho. Falar e sentir que alguém real é somente um ser de carne e

osso que está na minha frente, e que isso é muito superior a alguém que só

existe no Instagram, é juízo emitido por uma pessoa que nasceu e foi criado

sem a tecnologia. Desde cedo, minha geração costuma destacar a solidão dos

jovens ou o vazio de adolescentes que digitam o dia todo. Nós, os baby

boomers, somos aqueles nascidos logo depois da Segunda Guerra Mundial até

meados dos anos 1960. Eu, por pouco, faço parte do grupo. Quem tem, hoje,

entre 50 e 70 e poucos anos, compôs uma geração numa intensa

transformação cultural em relação à anterior. A maioria de nós cresceu com a

TV como grande mobilizadora de comportamentos. Líamos jornal e íamos ao

cinema. Comprávamos discos e ouvíamos rádio. Mas a televisão foi o eixo, a

principal ferramenta de comunicação. Algum leitor poderá afirmar que não

tinha TV quando criança ou adolescente. Mas disse isso logo depois de

desligar momentaneamente a sua para ler um pouco deste livro.

Para minha geração, a afirmação de “vazio” nos jovens que vivem na

internet fala de mim, não do adolescente. Nossos pais ou nossos cônjuges,

filhos e amigos talvez já tenham nos acusado de vivermos em frente à TV.

Jamais o leitor ou leitora deste livro, claro. Eu tampouco. Mas, à exceção de

nós, claramente conhecemos solitários televisivos. Claro: a maneira com a

qual eu lido com meu tédio ou resolvo minha sociabilidade é a melhor e mais

sábia basicamente... por ser a minha. Entre os baby boomers e os jovens de

hoje, há a geração X, que viu a internet nascer, mas não a utilizou quando

jovem, e a geração Y, que nasceu nos anos 1980 e 1990. Essa nasceu sem a

rede, mas a incorporou no seu cotidiano ainda muito jovem ou no início da

vida adulta, fosse em casa, fosse no trabalho. Hoje, quem nasceu no milênio é

maior de idade e não compreende o mundo sem redes sociais e smartphones.

Terão LER (lesão por esforço repetitivo) nos dedos da mão e dores no pescoço

com mais frequência, acredito, e colecionam amizades virtuais às centenas ou

milhares.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!