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CAPÍTULO 2
A solidão entre milhões: redes e mundo virtual
Estou sozinho em casa. Pego meu smartphone depois de uma hora sem tê-lo
visto. Você imaginou corretamente: essa é uma pequena concessão ao
discurso ficcional (afinal, uma hora inteira sem acessar o smartphone? Pura
fantasia). Voltemos ao ponto. Os ícones demonstram que tenho muitas
mensagens. São de todos os tipos e de todos os apps do celular. A caixa de e-
mail está lotada, a maioria é de propaganda. Redes sociais congestionam o
tema com suas marcações de interações não lidas. O WhatsApp está inundado
por mensagens de grupos familiares, de amigos, de trabalho. Muita bobagem,
santo do dia, bons dias e boas noites em meio a mensagens afetivas e que
requerem real atenção. Recados de aplicativos me sugerem o que comer, o
que comprar ou o que visitar, placares de jogo de futebol, clipping de notícias.
Em pouco tempo, vários mundos, afetivo, anônimo e comercial,
estabeleceram pontes comigo. Muitas imagens, dezenas de memes, textos
esparsos, piadas, produtos exóticos: tudo veio a mim.
Há cinquenta anos, provavelmente, a pessoa solitária tinha ao seu alcance
o telefone fixo (pouca gente possuía), um livro, um rádio ou TV para lhe fazer
alguma companhia. Ou dar a ilusão de companhia. Não quisesse ou não
pudesse acessar essas opções, restava, simplesmente, ficar em silêncio.
Voltando ao porco-espinho de Schopenhauer, fazia mais frio. O animal
humano estava mais isolado. O oposto desse isolamento, a vida em família,
teria a desvantagem da proximidade dos espinhos, mesmo aquecendo com o
calor dos corpos. O mundo virtual, como já afirmei, talvez seja o mais
próximo de um equilíbrio entre calor-dor. O primeiro parágrafo descreveu