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O Dilema do Porco Espinho - Leandro Karnal

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CAPÍTULO 2

A solidão entre milhões: redes e mundo virtual

Estou sozinho em casa. Pego meu smartphone depois de uma hora sem tê-lo

visto. Você imaginou corretamente: essa é uma pequena concessão ao

discurso ficcional (afinal, uma hora inteira sem acessar o smartphone? Pura

fantasia). Voltemos ao ponto. Os ícones demonstram que tenho muitas

mensagens. São de todos os tipos e de todos os apps do celular. A caixa de e-

mail está lotada, a maioria é de propaganda. Redes sociais congestionam o

tema com suas marcações de interações não lidas. O WhatsApp está inundado

por mensagens de grupos familiares, de amigos, de trabalho. Muita bobagem,

santo do dia, bons dias e boas noites em meio a mensagens afetivas e que

requerem real atenção. Recados de aplicativos me sugerem o que comer, o

que comprar ou o que visitar, placares de jogo de futebol, clipping de notícias.

Em pouco tempo, vários mundos, afetivo, anônimo e comercial,

estabeleceram pontes comigo. Muitas imagens, dezenas de memes, textos

esparsos, piadas, produtos exóticos: tudo veio a mim.

Há cinquenta anos, provavelmente, a pessoa solitária tinha ao seu alcance

o telefone fixo (pouca gente possuía), um livro, um rádio ou TV para lhe fazer

alguma companhia. Ou dar a ilusão de companhia. Não quisesse ou não

pudesse acessar essas opções, restava, simplesmente, ficar em silêncio.

Voltando ao porco-espinho de Schopenhauer, fazia mais frio. O animal

humano estava mais isolado. O oposto desse isolamento, a vida em família,

teria a desvantagem da proximidade dos espinhos, mesmo aquecendo com o

calor dos corpos. O mundo virtual, como já afirmei, talvez seja o mais

próximo de um equilíbrio entre calor-dor. O primeiro parágrafo descreveu

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