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O Dilema do Porco Espinho - Leandro Karnal

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CONCLUSÃO

Solitários do mundo, afastai-vos

Ao reunir diversos artigos no livro Reinvenção da intimidade: políticas do

sofrimento cotidiano, Cristian Dunker trata do nosso tema no primeiro

capítulo: “Solidão, modo de usar”. O livro é muito bom, e esse capítulo, em

particular, faz pensar. Começo parafraseando alguns argumentos de Dunker.

A ideia do francês Rimbaud é um ponto de partida: Eu é um outro. O poeta

completa em carta a um amigo: azar da madeira que se descobre violino, azar

do cobre que desperta clarim. Entre matéria e forma, existe o atrito da

transformação. Sou a matéria ou serei a forma? Onde estaria meu eu e meu

outro?

A solidão é “experiência simbólica por excelência, ela traz consigo não a

separação para com os outros, mas a distância e o estranhamento com

relação a si mesmo. Solidão não é apenas introspecção ou introversão, mas

dissolução da própria solidez do ser”.

Ao longo deste livro, tratei várias vezes do poder de consciência que a

solidão poderia trazer. Aqui a reflexão vai além, pois trata-se de dizer não ao

mundo e não a si mesmo, transformando solidão em solitude.

Dunker relembra que a solidão pode ser experiência enriquecedora. O

processo de estranhar a si mesmo e sobreviver à sua própria imperfeição

ocorre na filosofia; em espaços arquitetônicos (claustros, criptas, jardins em

labirintos), nas pinturas de paisagens, nas poesias com temas como a

saudade ou o desterro e na literatura, como Brás Cubas de Machado.

Isolamento nem sempre é bom, claro. O extremo são os chamados

hikikomori, jovens japoneses que ficam trancados no quarto com a internet

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