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O Dilema do Porco Espinho - Leandro Karnal

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Por outro lado, é patente que o isolamento, em si, não traz ganho algum à

recuperação e é danoso à saúde. Gradações de solitária foram criadas na

Europa, que considera o isolamento completo, incluindo sensorial, acústico e

de luz, como uma forma de tortura. Países como a Itália ainda usam em

razoável escala; os Estados Unidos, em larga escala; ao passo que a Inglaterra

praticamente não utiliza mais.

Quando digo larga escala para os Estados Unidos e pequena para a

Inglaterra, vale citar números. O país britânico usou o sistema para quarenta

presos, em 2004, numa população carcerária de 75 mil pessoas (somando a

do País de Gales). Em 2012, um relatório do Gabinete de Estatísticas da Justiça

norte-americano falava que mais de 81 mil prisioneiros eram mantidos em

solitária. Além disso, estudos mostram uma maioria de negros aprisionada

nesse esquema. O caso extremo é o de Herman Wallace, que permaneceu 41

anos em confinamento solitário. Ele foi preso no início dos anos 1970,

envolvido em atividades irregulares. Fugiu, entrou para o Panteras Negras e

foi novamente capturado e preso. Na cadeia, foi acusado da morte de um

guarda. Como punição, foi levado a viver numa cela de 6 metros quadrados.

Em tratamento de um câncer, foi solto. O crime nunca ficou comprovado.

O caso de Wallace pode ser extremo, mas é comum. Um estudo feito desde

1993 pelo psicólogo Craig Haney resultou em dados estarrecedores. Ele visitou

uma supermax, um novo tipo de prisão de segurança máxima, chamada

Pelican Bay, para estudar os efeitos psicológicos do isolamento. Voltou vinte

anos depois e viu que muitos dos entrevistados originais continuavam em

solitárias. Foi a primeira análise sistemática sobre presos isolados do contato

humano normal durante grande parte de sua vida adulta. Os presos na

unidade de isolamento não estão autorizados a fazer telefonemas pessoais, e

o contato físico durante as visitas também é proibido. Estão lá não por seus

crimes originais, mas por um suposto envolvimento com quadrilhas, o que,

na lei da Califórnia, é motivo para solitária. Alguns nunca receberam visitas.

Prisioneiros desorientados começaram a questionar sua própria existência e a

falar sozinhos ou não querer sair das celas. As celas, sem janelas, são de

concreto e têm 2,3 por 3,5 metros. Os mais conservadores poderiam

argumentar que não são gente boa, por isso, estão presos. Ainda que esse

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