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Monotonia e previsibilidade são sintomas dessa solidão a dois. Outro é o amor
apenas na distância. Amar intensamente a pessoa, desde que ela esteja longe.
Por mensagens de celular, demonstrações públicas de carinho, o amor é
impávido colosso. Tão logo a campainha toca, tudo o que era sólido se
desmancha no ar. O único desejo é que nossa cara-metade suma, pois
vivemos melhor sem ela. Se dedicação e entrega viram exigência e obrigação,
podemos estar acompanhados, mas nossa condição é de solidão profunda.
Abrir a boca para que, se isso gerará briga e (mais) rancor? Se estar sozinho
pode ser bom, a solidão a dois é terrível, uma prisão autoimposta. Paradoxos
da vida conjugal, vivemos numa solitária em companhia indesejável.
O casal nessa situação vive situações de solidão acompanhada em qualquer
lugar. Vá a um restaurante e certamente encontrará pessoas assim. Estão
sentadas uma diante da outra, mas não trocam palavras. Seguem sozinhas,
comendo, vendo o cardápio, a TV ou o celular. Sim, essa situação existe desde
que existem restaurantes e casais, mas se intensificou. Na verdade, os
relacionamentos muitas vezes já começam sem um estar com o outro
efetivamente. Estamos ao lado de, mas não com alguém. Isso é sintoma de
algo maior, da maneira como nos relacionamos com tudo e todos. Você
conhece alguém que não conversa? Alguém que, no lugar de prestar atenção
no tema, refletir sobre o que lhe é dito, de se pôr no lugar do outro, palestra
sobre si próprio o tempo todo. Largos monólogos diante de outras pessoas.
Há gente que tem amigos sobre os quais nada conhece, colegas de trabalho
com quem nunca trocou palavras (porque não ouve, apenas fala). Pessoas
assim são incapazes de se relacionar. Quando cansam de falar, enjoam da
pessoa à frente. O casamento ou o namoro é apenas mais um capítulo na
mesma forma ensimesmada de ver o mundo, um reflexo da solidão em tudo o
que se faz. Se alguém assim encontra – por ironia – sua efetiva cara-metade,
outra pessoa idêntica na incapacidade de se relacionar, uma solidão soma-se
a outra. Temos dois solitários que não se ajudam. Aliás, se falamos em filhos:
há quem os tenha apenas para assegurar-se de que não estará sozinho, de
que assegura plateia para si... ledo engano. “Tanto eu quanto ela conhecemos
a arte da reticência”, resume de forma precisa a personagem Aldo, quando
fala de seu relacionamento com a esposa, Vanda, no romance Laços, de