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Viva e Deixe Viver - Histórias de quem conta histórias - Recife PE 18 anos

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VIVA<br />

E DEIXE VIVER<br />

HISTÓRIAS DE QUEM CONTA HISTÓRIAS<br />

<strong>Recife</strong>-<strong>PE</strong> - <strong>18</strong> <strong>anos</strong><br />

Pesquisa e Seleção <strong>de</strong> <strong>Histórias</strong>:<br />

Ana Inês Pina<br />

Ilustração: Paulo Zilberman - Coor<strong>de</strong>nação Geral: Valdir Cimino


Dados Internacionais <strong>de</strong> Catalogação na Publicação (CIP)<br />

<strong>Viva</strong> e <strong>Deixe</strong> <strong>Viver</strong> – <strong>Recife</strong> – <strong>Histórias</strong> <strong>de</strong> <strong>quem</strong> <strong>conta</strong> <strong>histórias</strong> / Ana Inês<br />

Pina ... [et. al]; ilustrações <strong>de</strong> Paulo Zilberman; coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Valdir Cimino. – São<br />

Paulo : Edições <strong>Viva</strong> e <strong>Deixe</strong> <strong>Viver</strong>, 2021.<br />

46 p. : il.<br />

ISBN: 978-65-994682-1-6<br />

1. Coletânea/Miscelânea. I. Ziberman, Paulo (il). II. Cimino, Valdir. III. Titulo.<br />

CDU: 82-8<br />

Ficha catalográfica elaborada por: Adriana Aparecida da Luz - CRB: 8/9360<br />

Índices para catálogo sistemático<br />

Coletânea/Miscelânea B869.8


Coor<strong>de</strong>nação Geral<br />

Valdir Cimino<br />

Diagramação<br />

Luana Mesquita<br />

Assistente<br />

Ana Paula Monteiro<br />

Coor<strong>de</strong>nação Editorial<br />

Ana Inês Pina<br />

Revisão<br />

Eliane Souza<br />

Ilustrações<br />

Paulo Zilberman<br />

Impressão<br />

Fasa - Fundação Antônio dos Santos Abranches<br />

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte <strong>de</strong>sta edição po<strong>de</strong> ser utilizada ou<br />

reproduzida, em qualquer meio ou forma, mecânico ou eletrônico, sem prévia<br />

autorização da Associação <strong>Viva</strong> e <strong>Deixe</strong> <strong>Viver</strong>.


Dedicado à todas as crianças e adolescentes que em momentos tão<br />

especiais <strong>de</strong> cuidados com a sua saú<strong>de</strong>, e afastadas do seu âmbito<br />

familiar e social, acolhem o voluntário da <strong>Viva</strong> com o seu carinho e<br />

o seu sorriso e contribuem para que nos tornemos pessoas<br />

melhores.<br />

“Não <strong>de</strong>vemos permitir que alguém saia da nossa presença sem se<br />

sentir melhor e mais feliz.” Madre Tereza <strong>de</strong> Calcutá


<strong>Viva</strong> <strong>Recife</strong><br />

A Fênix que vem se reinventando há <strong>18</strong> <strong>anos</strong>.<br />

Em 2002 quando a Associação <strong>Viva</strong> e <strong>Deixe</strong> <strong>Viver</strong> completava 5 <strong>anos</strong> <strong>de</strong> vida,<br />

produzimos com apoio da Editora Globo, da escritora Maria Helena Gouveia e<br />

do ilustrador Paulo Zilberman, o livro “<strong>Histórias</strong> <strong>de</strong> Quem Conta <strong>Histórias</strong> “.<br />

Uma homenagem aos nossos voluntários <strong>conta</strong>dores <strong>de</strong> <strong>histórias</strong> que com seu<br />

trabalho qualificado na promoção da literatura e do brincar para crianças,<br />

adolescentes, suas famílias e os profissionais da saú<strong>de</strong>, vêm transformando as<br />

horas <strong>de</strong> dor em amor, cultura, conhecimento, diminuindo o cortisol e dando<br />

asas à imaginação da ocitocina.<br />

Esta edição <strong>de</strong> <strong>18</strong> <strong>anos</strong> da <strong>Viva</strong> em <strong>Recife</strong>, Pernambuco, resgata a linda i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

valorizar, todos que um dia participaram, participam ativamente e que virão a<br />

ser <strong>conta</strong>dores <strong>de</strong> <strong>histórias</strong>.<br />

As <strong>histórias</strong> aqui narradas, trazem pedacinhos <strong>de</strong> momentos agradáveis, que<br />

com muita empatia os voluntários vivenciaram junto ao público hospitalar:<br />

conhecimento, informação, momentos alegres, comoventes, inspiradores e<br />

transformadores.<br />

A arte sempre nos dará vida, sonhos e possibilida<strong>de</strong>s, logo, agra<strong>de</strong>ço aos<br />

autores <strong>de</strong>stas <strong>histórias</strong> e da curadoria da nossa coor<strong>de</strong>nadora Ana Inês, que<br />

sempre coloca o profissionalismo e amor em tudo que toca.<br />

Agra<strong>de</strong>ço, também, a todos os profissionais da saú<strong>de</strong> que atuam nas instituições<br />

que semanalmente abrem as portas para lindas <strong>histórias</strong>, e pôr fim aos<br />

cidadãos que implantaram esta i<strong>de</strong>ia em <strong>Recife</strong> (*) que a Fênix nunca <strong>de</strong>ixou<br />

morrer.<br />

<strong>Viva</strong> e <strong>Deixe</strong> <strong>Viver</strong>.<br />

Valdir Cimino<br />

Fundador<br />

(*) Fabio Silva, Renata Falcão, Lucas Cruz, Anelise Renda e Ana Inês Pina


Quando o voluntário da <strong>Viva</strong>, <strong>conta</strong>dor <strong>de</strong> <strong>histórias</strong>, se prepara para ir<br />

atuar na instituição por ele escolhida e abraçada, um mundo novo <strong>de</strong> encontros<br />

e reencontros se abre para ele, e como forma <strong>de</strong> registrarmos momentos<br />

poéticos e memoráveis neste ano <strong>de</strong> 2021, em que a <strong>Viva</strong> <strong>Recife</strong> celebra em<br />

novembro <strong>18</strong> <strong>anos</strong> <strong>de</strong> atuação nesta praça, selecionamos <strong>18</strong> relatos <strong>de</strong><br />

encontros que ficaram cingidos na vida dos nossos voluntários e,<br />

consequentemente, na nossa história, e que agora se eternizam neste pequeno<br />

livro homenagem. Assim, outras pessoas po<strong>de</strong>rão conhecer a grandiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

sentimentos que experenciamos durante as nossas visitas às crianças e<br />

adolescentes atendidos pela equipe da <strong>Viva</strong>, e serem também tocadas pelas<br />

narrativas <strong>de</strong>sses lindos e emocionantes encontros.<br />

Acreditamos que este livro, também, será fundamental para o acolhimento<br />

e perfeita compreensão do entendimento dos conteúdos teóricos dados no nosso<br />

curso <strong>de</strong> formação para novos voluntários, e que a partir <strong>de</strong>le, po<strong>de</strong>rão viajara<br />

um mundo mágico <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> e encantamento, cheio <strong>de</strong> emoções: alegres,<br />

engraçadas, tristes, inesperadas, impactantes... enfim, <strong>de</strong>ixaremos que você,<br />

leitor, viaje conosco e tenha uma boa leitura!<br />

“Em paz com a vida<br />

E o que ela me traz<br />

Na fé que me faz<br />

Otimista <strong>de</strong>mais<br />

Se chorei ou se sorri<br />

O importante é que emoções eu vivi.”<br />

Emoções, Erasmo Carlos / Roberto Carlos<br />

Afetuosamente,<br />

Ana Inês Pina<br />

Coor<strong>de</strong>nadora da <strong>Viva</strong> e <strong>Deixe</strong> <strong>Viver</strong> - <strong>Recife</strong>


Assombração.................................................................... 06<br />

Atitu<strong>de</strong>............................................................................... 08<br />

Compaixão ......................................................................... 10<br />

Conflito ............................................................................. 12<br />

Desabrochar..................................................................... 14<br />

Despertar ......................................................................... 16<br />

Estreando ......................................................................... <strong>18</strong><br />

Gratitu<strong>de</strong>........................................................................... 20<br />

Metamorfose .................................................................... 22<br />

Percussão......................................................................... 24<br />

Propósito ........................................................................... 26<br />

Renovação ....................................................................... 28<br />

Respeito ........................................................................... 30<br />

Sensibilida<strong>de</strong> ................................................................... 32<br />

Sonorida<strong>de</strong> ...................................................................... 34<br />

Superação ........................................................................ 36<br />

Suspiro ............................................................................. 38<br />

Transformação ................................................................ 40


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Hoje eu vou <strong>conta</strong>r sobre uma atuação bem atípica, mas intrigante e engraçada<br />

ao mesmo tempo. Não recordo ao certo o ano, mas foi quase no início do meu<br />

voluntariado – iniciei em 2012. A criança <strong>de</strong> nome Wesley, era por todos da enfermaria<br />

apelidado <strong>de</strong> Wesley Safadinho; em homenagem a Wesley Safadão, cantor <strong>de</strong> forró<br />

bem popular.<br />

Logo quando entrei na enfermaria, ele nem me <strong>de</strong>u bola, achava história coisa <strong>de</strong><br />

meninas, um sotaquezinho interiorano, franzino, aloirado e acompanhado da mãe. Ele<br />

não saía da janela, on<strong>de</strong> a vista não era muito agradável, pois a visão era para o<br />

cemitério do bairro <strong>de</strong> Santo Amaro, on<strong>de</strong> se localiza o hospital.<br />

Quando me aproximei <strong>de</strong>le, a mãe bem atenta as minhas <strong>histórias</strong> <strong>conta</strong>das para<br />

seu coleguinha do lado, foi logo falando: Wesley gosta <strong>de</strong> <strong>histórias</strong> <strong>de</strong> TERROR. E <strong>de</strong>u<br />

uma bela risada. E agora? Geralmente não é o que costumamos ter na nossa sacola<br />

literária que levamos para o hospital. Wesley tinha por volta dos sete <strong>anos</strong>, muito<br />

educado, falante e apegado na mãe, me perguntou meio irritado por que eu já havia<br />

gasto todo meu acervo naquela enfermaria: A senhora não <strong>conta</strong> <strong>histórias</strong> <strong>de</strong> terror?<br />

Tem medo? E ele lá na sua janela, só ficava relatando as coisas que via nela, o<br />

movimento daquele dia.<br />

Sem nenhuma história <strong>de</strong> terror pra <strong>conta</strong>r, lembrei que meu marido achou uma<br />

cabecinha <strong>de</strong> caveira que se movia, coincidência ou não, nada acontece por acaso, ela<br />

estava comigo neste dia, daí contei a história que minha querida mãe sempre me<br />

<strong>conta</strong>va a DA CAVEIRA QUEM TE MATOU??? Wesley adorou tanto, que pediu minha<br />

"caveira" ,mas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>volveu dizendo que era pra eu <strong>conta</strong>r para outras crianças.<br />

Até hoje lembro muito <strong>de</strong>ste garoto, <strong>de</strong> comportamento atípico, hahaha. Também<br />

lembrei agora, que o avô <strong>de</strong> Wesley <strong>conta</strong>va esse tipo <strong>de</strong> <strong>histórias</strong> pra família e as<br />

vezes o garoto ouvia. Eram memórias <strong>de</strong> um avô querido. Bom, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> este dia,<br />

nomeei minha caveirinha <strong>de</strong> Wesley, ela me acompanha nas minhas atuações e não<br />

sai muito da mala, pois vai que uma hora aparece outra criança querendo ouvir<br />

<strong>histórias</strong> fantasmagóricas, já estou preparada.<br />

Nyna (Severina Nascimento)<br />

HUOC-Hospital Universitário Oswaldo Cruz<br />

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08


Várias cenas vieram à minha mente, quando <strong>de</strong>cidi relatar esse momento especial<br />

e marcante. Iniciei minha atuação no hospital pela enfermaria São José, sábado pela<br />

manhã, como <strong>de</strong> costume, e na semana anterior, havia conhecido várias crianças e<br />

entre elas Raquel, que tinha 3 <strong>anos</strong> e morava no interior.<br />

Conversei bastante com a mãe <strong>de</strong>la e vi que Raquel tinha gostado <strong>de</strong> um<br />

passarinho rosa que eu tinha e resolvi <strong>de</strong>ixar com ela, como lembrança daquele nosso<br />

encontro, já que ela estava meio enjoadinha e segundo a mãe, efeitos recentes da<br />

pós-anestesia.<br />

Na semana seguinte, fiquei sabendo pela enfermagem, que Raquel estava há vários<br />

dias na UTI. No corredor, encontrei Ana Inês, cabeça <strong>de</strong> chave do grupo, e resolvemos<br />

passar no posto <strong>de</strong> enfermagem da UTI para ter notícias <strong>de</strong>la e se possível, falar com<br />

sua mãe.<br />

Para nossa surpresa, sugeriram que entrássemos e para mim, seria a primeira vez<br />

que iria conhecer aquele ambiente. Cumprimos os protocolos <strong>de</strong> segurança hospitalar<br />

para esse local e entramos, sem livro, sem fantoche… enfim, o <strong>de</strong>safio estava posto. A<br />

médica muito receptiva fazia exames em Raquel. Iniciamos cantando músicas bem<br />

conhecidas, como a da dona aranha e do sapo não lava o pé, bem baixinho e com<br />

movimentos suaves das mãos, daí lembrei e contei uma historinha usando as mãos e<br />

<strong>de</strong>dos e foi maravilhoso. A mãe <strong>de</strong> Raquel ficou comovida e agra<strong>de</strong>cida com a nossa<br />

iniciativa <strong>de</strong> procurá-las, o que fez o nosso coração encher <strong>de</strong> alegria com aquela boa<br />

ação.<br />

Juliane Oliveira<br />

Hospital Maria Lucinda<br />

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Uma manhã <strong>de</strong> sábado, 3 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2011, um dia <strong>de</strong> sol lindo, iniciei minha<br />

atuação na recepção do hospital usando fantoches, que sempre fazem sucesso com a<br />

criançada.<br />

Visitei primeiramente a enfermaria, on<strong>de</strong> geralmente as crianças são submetidas às<br />

intervenções cirúrgicas - pavilhão São José, e na sequência a enfermaria São Vicente,<br />

que neste dia estava com muitas crianças.<br />

Quando já estava me preparando para encerrar a visita, bem próximo à porta da<br />

saída, encontrei Sara, um lindo bebê, cerca <strong>de</strong> oito meses, cabelos claros e<br />

encaracolados, olhos cor <strong>de</strong> mel, sentada no colo da mãe, sem aceitar que colocasse a<br />

máscara <strong>de</strong> nebulização que a mãe tentava segurar e ela chorava muito e mexia a<br />

cabeça recusando o procedimento.<br />

Diante daquela cena, aproveitei aquele encontro tão especial e ali cantei, dancei,<br />

pulei, usei o fantoche da calopsita ver<strong>de</strong>, que emitia o som semelhante ao do pássaro,<br />

e ela com olhar fixo nas minhas aventuras, foi ficando calma, concentrada e<br />

finalmente com a máscara, <strong>de</strong>ixou-se vencer e tomou toda a medicação.<br />

Foi cerca <strong>de</strong> uma meia hora nessa maratona, até encerrar totalmente o<br />

procedimento, e a mãe muito grata, comentou que foi uma bênção, pois <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia<br />

anterior que ela estava com muita dificulda<strong>de</strong> para fazer a nebulização na Sarinha.<br />

Encerrei a atuação bem mais tar<strong>de</strong> do que <strong>de</strong> costume, mas com o coração<br />

transbordando <strong>de</strong> alegria. Aqueles olhinhos brilhantes e cor <strong>de</strong> mel, fixos nas minhas<br />

aventuras e os sorrisos que ganhei naquele momento, ainda permanecem vivos até<br />

hoje na minha memória. Gratidão por aqueles momentos tão mágicos.<br />

Ana Inês Pina<br />

Hospital Maria Lucinda<br />

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Era uma quarta-feira, meu dia habitual <strong>de</strong> atuação, por volta das 11h30 quando<br />

entrei na enfermaria e lá estavam aqueles olhos redondos e brilhantes! Seu nome é<br />

Gabriel, igual ao nome do meu filho. Tinha três <strong>anos</strong> e alguns meses, cabelos escuros<br />

bem baixinhos, falante e simpático.<br />

Eu estava terminando meu horário, pois ia trabalhar em seguida, mas Gabriel<br />

quase me fez per<strong>de</strong>r a hora. Naquele dia, tinham três crianças nessa enfermaria e eu<br />

tentava <strong>conta</strong>r uma história para cada uma, mas Gabriel não <strong>de</strong>sgrudava e pedia<br />

mais, e mais e mais!<br />

Voltei pra perto da cama <strong>de</strong>le e contei mais uma. Por distração, não percebi que<br />

ele tirou <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro da minha bolsa, outro livrinho e quis que eu <strong>conta</strong>sse a terceira<br />

história, falando: "agora essa do jacaré".<br />

Quando precisei realmente sair, Gabriel caiu num berreiro, não queria que aquele<br />

momento acabasse. Veio em mim uma sensação estranha, me senti culpada por não<br />

po<strong>de</strong>r ficar mais tempo e feliz por saber que o fiz feliz naquela manhã.<br />

Ana Alcântara<br />

Hospital Maria Lucinda<br />

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Certo dia na Associação <strong>de</strong> Assistência à Criança Deficiente (AACD), uma terçafeira<br />

pela manhã, em 2019, Isabella, que tinha cerca <strong>de</strong> oito <strong>anos</strong>, uma menina calma,<br />

meiga e muito tímida, mas que costumeiramente estava presente na área da<br />

recreação, na qual os voluntários da <strong>Viva</strong> atuam, após ouvir nossa <strong>conta</strong>ção <strong>de</strong><br />

<strong>histórias</strong> com os livros e <strong>de</strong>pois com o jogo <strong>de</strong> cartas EU CONTO, tomou a iniciativa <strong>de</strong><br />

pedir para criar e <strong>conta</strong>r sozinha uma história para os seus colegas, que também<br />

estavam ao redor da mesa da recreação, participando das ativida<strong>de</strong>s daquele dia.<br />

Foi uma surpresa ver o <strong>de</strong>sabrochar daquela menina, <strong>de</strong> forma espontânea,<br />

motivada, criativa na construção das cenas com o uso das cartas e até bem solta<br />

diante dos colegas.<br />

Certificar, ao vivo, que como voluntários estamos contribuindo para o crescimento<br />

<strong>de</strong>ssas crianças, dá muita satisfação e incentivo para permanecermos firmes com a<br />

missão abraçada.<br />

Itamira Santos<br />

AACD <strong>Recife</strong><br />

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Uma manhã normal <strong>de</strong> sábado, 01 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2020. Saí <strong>de</strong> casa muito<br />

animada e estava usando uma bela tiara na cabeça e óculos gran<strong>de</strong>s e bem coloridos,<br />

quando cheguei ao hospital para atuar.<br />

Havia preparado com muito carinho na noite anterior, a minha sacola recheada <strong>de</strong><br />

bons livros e disposta a encantar e ter ótimas vivências. Atendi várias crianças nesta<br />

manhã, mais uma <strong>de</strong>las me chamou a atenção em especial e foi a que escolhi para<br />

lhes <strong>conta</strong>r.<br />

Ela estava com sua mãe, meio chorona, um pouco <strong>de</strong>bruçada e parecia sentir<br />

alguma dor ou <strong>de</strong>sconforto. Seu nome era Alice, tinha sete <strong>anos</strong>, olhos castanhos e<br />

cabelos encaracolados. Aproximei-me perguntando se ela queria que eu <strong>conta</strong>sse algo<br />

para ela, pois tinha lindos livros e fui mostrando alguns. Alice reagiu <strong>de</strong> forma<br />

simpática e carinhosa, e então o seu pequeno rostinho mudou e passou a mostrar<br />

curiosida<strong>de</strong>.<br />

Ela perguntou se eu tinha alguma <strong>de</strong> princesa. E eu respondi que sim. E tirei da<br />

sacola um livro da Bela Adormecida que tinha lindas ilustrações.<br />

Enquanto eu lia e mostrava as figuras, ela tocava nos <strong>de</strong>senhos e sorria. Cada vez<br />

mais, eu percebia os olhinhos <strong>de</strong>la interessados e brilhantes, parecendo estar<br />

gostando muito do que via e ouvia. E assim ela foi se acomodando melhor, mudando<br />

o semblante choroso, sorrindo e disse que gostou muito quando terminou. Eu disse<br />

para ela que ela também era uma princesa! Então ela bateu palmas, pareceu ter<br />

gostado do que ouviu e me perguntou se eu iria voltar no dia seguinte. Eu disse que<br />

estaria lá no próximo sábado. E assim, quando a <strong>de</strong>ixei parecia que a dor havia<br />

amenizado ou momentaneamente fora esquecida, e ela parecia tranquila.<br />

Animada e um tanto aliviada, a mãe me agra<strong>de</strong>ceu muitíssimo e comentou que<br />

estava muito cansada, morava no interior do estado e tinha passado duas noites sem<br />

dormir bem junto com Alice.<br />

Nesta noite, eu dormi pensando em todas as crianças com <strong>quem</strong> eu tinha estado,<br />

lido e brincado naquele dia. A lembrança daqueles olhos espertos e o sorriso<br />

encantador <strong>de</strong> Alice me fizeram ter bons sonhos. Na semana seguinte, Alice já não<br />

estava mais no hospital e como sabemos, a vida segue seu rumo, surgem novos<br />

encontros, que colecionamos na mente e no coração. São vivências, que tiram o pó e<br />

o estresse da semana <strong>de</strong> trabalho e engran<strong>de</strong>cem a nossa alma e ativa o sentimento<br />

<strong>de</strong> muita gratidão.<br />

Maricelia Moura<br />

Hospital Maria Lucinda<br />

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<strong>18</strong>


No ano <strong>de</strong> 20<strong>18</strong> comecei minha atuação como <strong>conta</strong>dora <strong>de</strong> <strong>histórias</strong> da<br />

Associação <strong>Viva</strong> e <strong>Deixe</strong> <strong>Viver</strong>. Era o mês <strong>de</strong> junho, e minhas colegas e eu, estávamos<br />

ansiosas para <strong>conta</strong>r <strong>histórias</strong> para as crianças. Vestimos nossos jalecos, nos<br />

produzimos com tiaras coloridas e era só animação.<br />

Chegando às enfermarias do 3º andar no hospital, <strong>de</strong>parei-me numa <strong>de</strong>las com<br />

uma menina. Ela era loira, oito <strong>anos</strong> <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e muito receptiva com relação a<br />

<strong>conta</strong>ção <strong>de</strong> história. Prestava atenção a história que ouvia. E como eu estava com<br />

minhas colegas no primeiro dia, fazíamos um rodízio e cada uma <strong>conta</strong>va a sua<br />

história para as crianças daquela enfermaria.<br />

Para todas nós foi gratificante po<strong>de</strong>r encontrar a Maria tão receptiva a <strong>conta</strong>ção <strong>de</strong><br />

<strong>histórias</strong>, já que era a nossa primeira experiência como <strong>conta</strong>doras em um hospital e<br />

<strong>de</strong> certa forma, estávamos inseguras.<br />

Maria estava tomando soro, mas aparentemente bem. Perguntei se estudava,<br />

on<strong>de</strong>, a turma e se estava sentindo sauda<strong>de</strong>s da escola. Ela respon<strong>de</strong>u direitinho,<br />

cursava o 3º ano do Ensino Fundamental e estava na companhia da mãe, que ficou<br />

muito feliz por estarmos ali.<br />

Para a nossa surpresa, na semana seguinte ela ainda continuava internada. Ficou<br />

alegre quando nos viu. Dessa vez, não estava tomando soro, então sentou-se na cama<br />

e ficou receptiva a <strong>conta</strong>ção <strong>de</strong> <strong>histórias</strong>. Ela gostava <strong>de</strong> todas as <strong>histórias</strong> e quando<br />

terminávamos, sempre pedia outra.<br />

Voltamos ao hospital 15 dias <strong>de</strong>pois, e novamente encontramos a Maria. Ela não<br />

estava no quarto, mas andando no corredor e nos acompanhou para ouvir as<br />

<strong>histórias</strong> em cada uma das enfermarias que visitávamos. No final, ela pediu que<br />

fôssemos ao quarto <strong>de</strong>la, <strong>conta</strong>r pra ela. Quando questionamos, mas tu já não ouviste<br />

todas? Ela simplesmente disse que estávamos <strong>conta</strong>ndo para outras crianças e não<br />

para ela. Achamos engraçado e fomos <strong>conta</strong>r <strong>histórias</strong> para ela, aten<strong>de</strong>ndo a seu<br />

<strong>de</strong>sejo.<br />

No sábado seguinte, estávamos animadas, queríamos encontrar a Maria, mas ao<br />

chegarmos a enfermaria, soubemos que ela havia tido alta hospitalar. Ficamos felizes e<br />

tristes ao mesmo tempo, pois Maria foi muito receptiva conosco <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro dia<br />

em que fomos <strong>conta</strong>r <strong>histórias</strong> pela primeira vez.<br />

Ana Maria Castelo Branco<br />

Hospital IMIP<br />

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Foi em uma terça-feira pela manhã, meu dia habitual <strong>de</strong> voluntariar. Preparei<br />

minha sacola, com recursos ilustrativos, que enriqueceriam o mundo encantado da<br />

<strong>conta</strong>ção. Nove horas já a postos, com <strong>histórias</strong> <strong>de</strong> bichinhos para os menores, <strong>de</strong><br />

Aladim para os maiores, com direito até a lâmpada mágica e um mini tapete voador. A<br />

história do Coelho e a Tartaruga, também presente e com os seus personagens para<br />

as crianças com ida<strong>de</strong> na faixa do meio.<br />

Esse dia foi mágico, lá estava na enfermaria Murilo, tinha oito <strong>anos</strong> e queimadura<br />

pelo corpo. Logo tirei do saco encantado a história <strong>de</strong> Aladin, seus olhos brilhavam e<br />

logo percebi que ele iria flutuar comigo no tapete mágico da imaginação. Conclui a<br />

história e no final perguntei se havia gostado e ele respon<strong>de</strong>u contun<strong>de</strong>nte: ninguém<br />

nunca contou história para mim. Fiquei sem reação imaginando como po<strong>de</strong> uma<br />

criança nunca ter escutado <strong>histórias</strong>.<br />

Aproveitei aquela oportunida<strong>de</strong> e logo, do saco fiz sair o livro: O coelho a<br />

tartaruga e outras <strong>histórias</strong> <strong>de</strong> bichinhos on<strong>de</strong> ele se divertiu e participou, fazendo os<br />

sons do cachorro, do gato e do passarinho.<br />

Já estava próxima a porta, me <strong>de</strong>spedindo quando ele falou: Quando você voltar<br />

eu vou estar aqui; aí eu disse: Não, volto na próxima semana e você já <strong>de</strong>verá estar<br />

em casa. Diante daquele encantamento com as <strong>histórias</strong>, <strong>de</strong>i um livro para aquele<br />

menino tão meigo e interessado, e ele prometeu <strong>conta</strong>r as <strong>histórias</strong> para outras<br />

crianças.<br />

Ser a primeira pessoa a <strong>conta</strong>r uma história para uma criança <strong>de</strong> oito <strong>anos</strong>,<br />

<strong>de</strong>ixou-me sensibilizada e achando que foi um privilégio divino ser contemplada com<br />

essa oportunida<strong>de</strong>.<br />

Anaísa Ramos<br />

Hospital Helena Moura<br />

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Era meados do mês <strong>de</strong> junho, do ano <strong>de</strong> 2013. Eu havia me formado no curso da <strong>Viva</strong><br />

recentemente e iniciado a atuação no mês <strong>de</strong> março do mesmo ano no HUOC - Hospital<br />

Universitário Oswaldo Cruz, aos sábados pela manhã e havia um paciente, Gabriel, <strong>de</strong> sete <strong>anos</strong><br />

<strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />

Gabriel tinha uma doença <strong>de</strong>generativa, ele vivia cheio <strong>de</strong> aparelhos. Não andava, não<br />

falava, não apresentava nenhum tipo <strong>de</strong> interação. Todas as vezes que entrava no quarto em<br />

que ele estava, eu <strong>conta</strong>va <strong>histórias</strong> para outras crianças próximas, mas tinha muito receio <strong>de</strong><br />

chegar em seu leito, por não saber como lidar e isso me <strong>de</strong>ixava muito frustrada.<br />

Ele estava a muitas semanas internado, então eu sempre o encontrava no mesmo leito. Até<br />

que um dia eu criei coragem e fui até ele. Nesse momento, a mãe <strong>de</strong> Gabriel, me recebeu com<br />

um sorriso acolhedor e disse: “Que bom que você veio! Geralmente os voluntários se esquivam<br />

pela condição <strong>de</strong> Gabriel! Essas palavras foram como flecha em meu coração. Percebi o quão<br />

importante era meu papel naquele momento. Quebrei todas as barreiras em meu coração e<br />

não hesitei em <strong>conta</strong>r-lhe uma bela história. A partir daí, eu vivia numa busca constante <strong>de</strong><br />

<strong>histórias</strong> diferentes e interativas para tentar chamar a atenção <strong>de</strong> Gabriel.<br />

Como falei anteriormente, Gabriel tinha uma condição clínica bem <strong>de</strong>licada e a família lutava<br />

na justiça pela instalação <strong>de</strong> uma UTI domiciliar para que ele tivesse alta do hospital. Mas sua<br />

alta só seria possível se tivesse essa UTI em sua casa.<br />

Um belo dia, eu visitava uma feira <strong>de</strong> livros e lá achei um livrinho <strong>de</strong> tecido, num formato <strong>de</strong><br />

uma lagarta. Esse livrinho <strong>conta</strong>va a história da transformação da lagarta numa bela borboleta,<br />

e no final do livro, tinha cordinha que a gente puxava e a lagartinha vibrava e andava na<br />

superfície. Pronto, pensei eu: Gabriel vai amar essa historinha!<br />

No sábado seguinte fui toda empolgada e feliz ao hospital ansiosa por mostrar a nova<br />

historinha para Gabriel. Como <strong>de</strong> costume, ao chegar ao hospital fui ao posto <strong>de</strong> enfermagem<br />

para saber se havia alguma restrição. A enfermeira me informou que não. Corri imediatamente<br />

a enfermaria <strong>de</strong> Gabriel, e qual foi minha surpresa, o leito estava vazio.<br />

Voltei ao posto <strong>de</strong> enfermagem toda feliz e contente por imaginar que Gabriel havia<br />

conseguido voltar pra casa. E nesse momento a enfermeira se vira pra mim e diz: Sim, Gabriel<br />

voltou pra casa. Para casa do Pai! Eu não sabia o que fazer, o que dizer, nem consegui sair do<br />

lugar on<strong>de</strong> estava. Com o livrinho em minhas mãos, eu só conseguia chorar<br />

<strong>de</strong>scompensadamente. Eu não conseguiria continuar minha atuação naquele dia, pois estava<br />

verda<strong>de</strong>iramente muito abalada com aquela notícia.<br />

Nesse momento eu liguei para nosso coor<strong>de</strong>nador na época, eu chorava muito. E ele disse:<br />

“Vanessa, estamos nesse momento num treinamento dos novos voluntários e o tema <strong>de</strong> hoje é<br />

“Morte” venha para cá, precisamos ouvir seu relato”. Eu falei que não ia conseguir falar, pois<br />

estava muito abalada. Mesmo assim, eu fui ao treinamento e fiz meu relato. Quando terminei,<br />

meta<strong>de</strong> do auditório estava chorando, assim como eu. Como eu estava no comecinho da minha<br />

atuação como voluntária, a perda <strong>de</strong> um paciente tão querido, com essa história <strong>de</strong> superação<br />

<strong>de</strong>le (Gabriel) e minha esse fato me marcou <strong>de</strong>mais.<br />

A morte <strong>de</strong> crianças é algo bastante difícil <strong>de</strong> superar. Mas naquele dia eu percebi o meu<br />

papel nesse projeto tão lindo e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então não tem um leito a qual eu hesite em <strong>conta</strong>r<br />

<strong>histórias</strong>. Já não enxergo mais a enfermida<strong>de</strong>, apenas um rostinho que precisa por alguns<br />

minutos ser transportado, através das <strong>histórias</strong> para um mundo encantado.<br />

Vanessa Brissantt<br />

HUOC – Hospital Universitário Oswaldo Cruz<br />

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Quando entrei na enfermaria naquela manhã, estávamos em 2014, eu conheci o<br />

Emanoel Lucas, três aninhos, o meu pan<strong>de</strong>irista, pois foi assim que eu passei a<br />

chamá-lo durante os nossos próximos encontros.<br />

O fato marcante ocorreu quando eu tirei um pan<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> plástico, amarelo bem<br />

chamativo, da minha mala <strong>de</strong> <strong>conta</strong>ção e ele tomou-o da minha mão e começou a<br />

tocar, parecendo um pago<strong>de</strong>iro.<br />

A mãe <strong>de</strong>le comentou que as suas tias tinham uma banda e por isso ele tocava tão<br />

ritmado. Eu fiquei muito emocionada e foi isso que nos aproximou. Quando penso<br />

nele, consigo lembrar-me dos seus olhos castanhos, vivos e brilhantes. Meu<br />

pan<strong>de</strong>irista precisava <strong>de</strong> um transplante <strong>de</strong> fígado e felizmente conseguiu.<br />

Todos os sábados, quando eu chegava no hospital já corria para enfermaria on<strong>de</strong><br />

ele ficava. Foi um caso <strong>de</strong> amor e muita conexão, pois eu via felicida<strong>de</strong> nos olhos <strong>de</strong>le.<br />

A mãe <strong>de</strong>le me disse, que ele não costumava se aproximar tanto assim das pessoas<br />

com facilida<strong>de</strong>, tinha um certo medo, e que comigo tinha sido muito especial.<br />

Não tinha como não criar vínculos com aquele pequenino. Nossos encontros<br />

duraram bastante e até mesmo quando ele foi para a UTI, atendi a solicitação da sua<br />

mãe e com autorização do setor <strong>de</strong> enfermagem, fui visitá-lo.<br />

Porém um certo dia, quando cheguei ao hospital, a enfermeira disse que ele tinha<br />

ido ouvir <strong>histórias</strong> no céu. Esse momento é sempre um impacto, é aquela notícia que<br />

torcemos para nunca receber, mas que nos faz apren<strong>de</strong>r a valorizar com intensida<strong>de</strong>,<br />

os momentos que fazem a diferença na vida <strong>de</strong> uma criança e <strong>de</strong> lembrar com<br />

carinho, respeito e compromisso, do nosso gran<strong>de</strong> e importante papel no contexto da<br />

saú<strong>de</strong>.<br />

Cristhiane Teixeira<br />

HUOC- Hospital Universitário Oswaldo Cruz<br />

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Após a formação no curso <strong>de</strong> <strong>conta</strong>ção <strong>de</strong> história em 20<strong>18</strong>, fiz a escolha <strong>de</strong> ficar como<br />

<strong>conta</strong>dora no Hospital Maria Lucinda. Assim, é lá que essa história se passa, durante o segundo<br />

semestre <strong>de</strong> 20<strong>18</strong>.<br />

Era uma terça-feira à tar<strong>de</strong> e a enfermaria São Vicente estava com muitas crianças na faixa<br />

etária <strong>de</strong> 3 a 7 <strong>anos</strong>.<br />

No final da enfermaria tinha uma menina já mocinha que se encontrava só, sem interagir<br />

com as outras crianças e nem com as mães. Contei historinhas para aquelas criancinhas e<br />

cheguei, por fim, na última cama on<strong>de</strong> ela se encontrava. Seu nome era Michelle, ela parecia<br />

triste e apática, tinha apenas 13 <strong>anos</strong>, mas era bem alta em relação a sua ida<strong>de</strong>.<br />

Assim, <strong>de</strong> imediato, achei que o livro pelo qual sou totalmente apaixonada, "A árvore<br />

generosa" <strong>de</strong> Shel Silverstein, era i<strong>de</strong>al para interagir com ela. O problema seria se ela <strong>de</strong>ixaria<br />

eu me aproximar... Contudo, perguntei-lhe se po<strong>de</strong>ria <strong>conta</strong>r a minha história predileta <strong>de</strong>ntre<br />

tantas outras que eu carregava naquele carrinho e ela, sem jeito, disse que sim!<br />

No livro, a árvore ensina o valor do afeto, carinho e amor. A árvore e o menino tinham uma<br />

relação <strong>de</strong> troca sincera e mútua, sem interesses materiais, e com muito amor. Assim, eles se<br />

divertiam juntos, e eram muito felizes. Com o tempo, o menino cresceu e os seus <strong>de</strong>sejos e<br />

valores mudaram, e assim a árvore não cabia mais na sua vida corrida, e o menino só aparecia<br />

quando precisava <strong>de</strong> algo. Como homem, ele <strong>de</strong>sapren<strong>de</strong>u o calor do afeto e da amiza<strong>de</strong>, e<br />

carregava as exigências da vida adulta, mas a árvore o amava acima <strong>de</strong> tudo e assim fez <strong>de</strong> tudo<br />

por aquele menino (que já era um adulto, mas não aos olhos da árvore). A árvore entregava tudo<br />

que possuía ao menino, apenas para vê-lo feliz!<br />

Ao fim, a árvore se entrega por inteira: suas folhas, galhos e tronco não lhe restando mais<br />

nada além <strong>de</strong> um "toco". Até o dia que o menino aparece, e ela se <strong>de</strong>sculpa por não ter mais<br />

nada para lhe oferecer. O menino, já idoso, diz que tudo que ele precisa naquele momento é um<br />

"toco" para <strong>de</strong>scansar, e apenas ficar ali com ela é tudo que ele <strong>de</strong>seja!<br />

Depois que contei a história a Michelle, ela já era outra menina, o seu olhar triste <strong>de</strong>u espaço<br />

para um lindo sorriso e me agra<strong>de</strong>ceu. Eu, surpresa com a reação, a elogiei, disse que amei<br />

conhece-la, apesar que gostaria <strong>de</strong> tê-la conhecido em outro lugar, mas tive a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>conta</strong>r aquela linda história e presenciar seu belo sorriso, e assim me <strong>de</strong>spedi e percebi o quanto<br />

estávamos emocionadas.<br />

Como ela era a última criança no quarto, fui andando <strong>de</strong> volta me <strong>de</strong>spedindo das outras<br />

crianças e das suas mães. Quando cheguei no outro lado do corredor Michelle estava lá a me<br />

esperar e, tímida ao mesmo tempo que confiante, me perguntou: "eu posso lhe abraçar?"<br />

Foi muito forte para nós e, naquele dia, tive a certeza do po<strong>de</strong>r da <strong>conta</strong>ção <strong>de</strong> história,<br />

principalmente a uma criança que se encontra enferma, e do quanto a minha escolha neste<br />

trabalho foi assertiva. Sai <strong>de</strong> lá leve e muito feliz!<br />

Cláudia Vilar<br />

Hospital Maria Lucinda<br />

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Manhã <strong>de</strong> sábado, em meados do ano <strong>de</strong> 2019, acor<strong>de</strong>i cansada e triste não<br />

lembro bem o motivo, mas fui para o hospital atuar. Após passar pelo setor pósoperatório,<br />

pavilhão São José, segui a rampa para a enfermaria pediátrica do andar<br />

superior. Ao entrar em um dos quartos, me <strong>de</strong>parei com dois meninos, Pedro e<br />

Natanael, que tinham cerca <strong>de</strong> seis <strong>anos</strong> <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Ambos acompanhados por suas<br />

mães visivelmente cansadas.<br />

Pedi licença e perguntei se eles gostariam <strong>de</strong> escutar a história do Diego, um<br />

peixinho dourado, e seus amigos que exploram uma misteriosa caverna no fundo do<br />

mar. Pedro, bem esperto, logo se interessou pela oferta. O outro, Natanael, apesar <strong>de</strong><br />

interessado, parecia se dispersar mais facilmente, enquanto eu <strong>conta</strong>va a história.<br />

No momento que eu fazia perguntas, estimulando-os a adivinhar a próxima etapa<br />

da aventura Pedro, com muito interesse, respondia e apresentava teorias sobre a<br />

jornada dos amigos no fundo do mar. Natanael, por sua vez, interagia alegremente,<br />

porém pu<strong>de</strong> então perceber que eu não conseguia compreen<strong>de</strong>r nada do que ele<br />

dizia.<br />

A mãe, nesse momento, me explicou sobre a condição especial <strong>de</strong>le, que tentava<br />

acompanhar a história, mesmo eu não tendo noção do quanto estava sendo<br />

compreensível para ele. Ao mesmo tempo em que eu tentava enten<strong>de</strong>r o que ele<br />

dizia, ela automaticamente “traduzia”, da sua forma, o que ele queria dizer. Eu me<br />

esforcei muito, pois no fundo, quis acreditar que mesmo não conseguindo me<br />

comunicar com ele, ele saberia que eu estava ali para <strong>conta</strong>r uma história para ele e<br />

seu coleguinha <strong>de</strong> quarto.<br />

Eram dois meninos com ritmos completamente diferentes. Segui <strong>conta</strong>ndo a<br />

história, e por fim, finalizei, agra<strong>de</strong>ci e me <strong>de</strong>spedi. As mães me agra<strong>de</strong>ceram, assim<br />

como o Pedro. Estava prestes a sair do quarto, quando senti minhas pernas presas, e<br />

vi que estava envolvida pelos braços do Natanael. Ao olhar para ele, foi o único<br />

momento que pu<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o que ele dizia e escutei: “Obrigado, tia”.<br />

Foi quando me <strong>de</strong>i <strong>conta</strong> que mesmo não nos enten<strong>de</strong>ndo pela comunicação por<br />

palavras, nos enten<strong>de</strong>mos por outras formas <strong>de</strong> comunicação: a do coração. E ele<br />

estava ali o tempo todo, apesar <strong>de</strong> achar que não. Fiquei tão emocionada que<br />

rapidamente respondi e precisei sair do quarto para chorar e retomar meu controle<br />

emocional. Eu cheguei ao hospital cansada e triste naquele dia. Eu estava, e não fiquei<br />

mais. Saí revigorada com aquela simples <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> gratidão e afeto.<br />

Débora Santos<br />

Hospital Maria Lucinda<br />

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Sempre tive a certeza que ao sair <strong>de</strong> casa para <strong>conta</strong>r <strong>histórias</strong>, seria eu que no<br />

final da manhã voltaria para casa enriquecida com o que teria escutado. Não seria<br />

diferente <strong>de</strong>ssa vez.<br />

Naquela manhã <strong>de</strong> sábado, um menino <strong>de</strong> 6 <strong>anos</strong> me ensinou que às vezes<br />

respeitar o <strong>de</strong>sejo do outro é o melhor que po<strong>de</strong>mos fazer. Seu nome era Daniel.<br />

Quando entrei no seu quarto, que ficava na ala <strong>de</strong> oncologia infantil do IMIP, e me<br />

aproximei <strong>de</strong> sua cama encontrei Daniel escondido embaixo do lençol.<br />

Aproximei-me e perguntei se ele queria ouvir uma história. Escutei um belo e<br />

sonoro Não!<br />

Expliquei que estava tudo bem. Lembrei do nosso treinamento <strong>de</strong> voluntariado,<br />

quando discutimos sobre a importância <strong>de</strong> dar espaço para a criança manifestar o seu<br />

<strong>de</strong>sejo, principalmente num ambiente que para ela não existe a chance <strong>de</strong> dizer<br />

outros nãos. Aproximei-me da outra criança que estava no quarto e fiz a mesma<br />

pergunta. Dessa vez recebi um sim.<br />

Então tirei da minha bolsa a lenda da mula sem cabeça e comecei a <strong>conta</strong>r. Aos<br />

poucos vi o lençol da cama ao lado sendo abaixado e um menino todo acuado<br />

olhando atento querendo o livro enxergar. Contei mais uma história para a criança<br />

que estava no quarto e me <strong>de</strong>spedi. Vendo a curiosida<strong>de</strong> estampada no rosto <strong>de</strong><br />

Daniel resolvi insistir. Dessa vez recebi um sim.<br />

Daniel pediu-me que <strong>conta</strong>sse as mesmas <strong>histórias</strong>, pois queria ver <strong>de</strong> perto como<br />

essa tal <strong>de</strong> mula sem cabeça era. No meio das <strong>histórias</strong>, Daniel comeu seu lanche. A<br />

mãe do lado explicava que o menino não estava querendo se alimentar. Conversamos<br />

um pouco e disse a ele para comer e ficar forte para po<strong>de</strong>r voltar para casa. Despedime<br />

com um sorriso no rosto e no peito aquela sensação <strong>de</strong> <strong>de</strong>ver cumprido. Feliz por<br />

ao me <strong>de</strong>spedir ver um menino mais leve, bem diferente do Daniel que encontrei<br />

quando cheguei ali.<br />

Carmem Tavares<br />

Hospital IMIP<br />

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Minha história com a <strong>Viva</strong> se dá em dois capítulos. Primeiramente, fiz o curso <strong>de</strong><br />

formação em 2013, atuei na AACD por um tempo e optei por essa instituição para<br />

superar uma dificulda<strong>de</strong> que tinha em ver pessoas com <strong>de</strong>ficiências físicas severas.<br />

Como não foi possível conciliar trabalho, estudos e família, precisei <strong>de</strong>ixar o<br />

voluntariado. Entretanto, no início <strong>de</strong> 20<strong>18</strong>, já concluído o curso <strong>de</strong> psicologia, falei<br />

com a coor<strong>de</strong>nadora da <strong>Viva</strong>, Ana Inês, para retornar minha atuação na instituição.<br />

Participei do curso <strong>de</strong> formação em 20<strong>18</strong>, pois precisava fazer uma reciclagem<br />

para po<strong>de</strong>r retomar o voluntariado. Conheci Sonia Sotero, cabeça <strong>de</strong> chave do<br />

voluntariado no IMIP, e me encantei com sua doçura e carinho no trato com as<br />

pessoas, o que foi fundamental para que eu escolhesse atuar em tal instituição.<br />

Gostaria <strong>de</strong> pontuar como momento marcante na minha trajetória, o fato <strong>de</strong> ter<br />

conhecido Lucas, uma criança <strong>de</strong> oito <strong>anos</strong>, lindo e sapeca, que usava óculos e não<br />

parava. Sua voz ainda ressoa em meu ouvido: “Tia, Tia, Tia, <strong>conta</strong> essa história, e essa,<br />

e essa...”. Era um papa-<strong>histórias</strong>!<br />

As suas preferidas eram A Vaca Que Botou um Ovo e João e o Pé <strong>de</strong> Feijão. Um<br />

menino como ele, que <strong>de</strong>u asas a sua imaginação e, no seu pé <strong>de</strong> feijão, pô<strong>de</strong> subir e<br />

subir para viver os seus sonhos sem as limitações do corpo.<br />

Nesse ambiente, com inúmeras crianças com “limitações”, aprendi com o Lucas e<br />

com as <strong>de</strong>mais que elas são lindas, únicas e po<strong>de</strong>m vencer as adversida<strong>de</strong>s com<br />

encantamento e alegria, po<strong>de</strong>ndo brincar, rodopiar, dançar e até apostar corridas em<br />

suas ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> rodas.<br />

Diana Oliveira<br />

Hospital IMIP<br />

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Quando conheci a Juju, ela tinha cerca <strong>de</strong> quatro <strong>anos</strong> <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, estava em uma<br />

das enfermarias que costumeiramente eu visitava.<br />

Juju tinha <strong>de</strong>snutrição e não queria ouvir <strong>histórias</strong>, nem brincar, mal se movia na<br />

cama, ela tinha um olhar distante e bem triste.<br />

Toda semana que eu ia atuar, a Juju sempre estava lá, bem quieta. Eu ia com a<br />

minha parceira Chiquinha, uma fantoche bem querida pela criançada, mas mesmo<br />

assim, Juju não queria papo e nem nada comigo. Até que uma vez, especificamente<br />

em 1º <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 20<strong>18</strong>, numa manhã <strong>de</strong> sábado eu não lembro bem o motivo,<br />

mas o fato é que simplesmente aconteceu.<br />

Eu coloquei a música da Galinha Pintadinha, que diz: pula, pula pipoquinha, pula,<br />

pula sem parar..., para fazer a introdução <strong>de</strong> uma história que iria <strong>conta</strong>r, e foi uma<br />

festa só! Juju se sentou e movia os bracinhos e até tentava cantar junto comigo.<br />

Foi uma alegria imensa! Nesse dia, eu me senti <strong>de</strong> fato, uma super Rafa, e naquele<br />

momento encantado, <strong>de</strong>sabrochou um sentimento gostoso <strong>de</strong> realização, que faz<br />

com que o retorno do que doamos seja extremamente prazeroso.<br />

Rafaela Ramirez<br />

HUOC – Hospital Universitário Oswaldo Cruz<br />

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Durante meus 5 <strong>anos</strong> <strong>de</strong> percurso com <strong>conta</strong>ção <strong>de</strong> <strong>histórias</strong>, aconteceram muitos<br />

momentos marcantes, emocionantes, incríveis e inesquecíveis, pelos quais tenho<br />

gratidão, mas gostaria <strong>de</strong> relatar um que muito me impactou.<br />

Em julho <strong>de</strong> 20<strong>18</strong>, em uma manhã ensolarada e na área <strong>de</strong> atendimento, havia<br />

bastante crianças. Algumas sentadas ao redor da mesa da recreação, outras bem<br />

próximas nas suas ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> rodas e também algumas no tapete esborrachado no<br />

chão.<br />

Em certo momento, com o intuito <strong>de</strong> abranger todas as crianças que ali estavam,<br />

comecei a <strong>conta</strong>ção tocando um pan<strong>de</strong>irinho <strong>de</strong> plástico, toda <strong>de</strong>sengonçada e sem<br />

muito ritmo para tocar o instrumento, ouvi uma vozinha suave e mansinha dizendo:<br />

”Tia eu quero tocar", "me dá", então perguntei, você sabe tocar? Ela respon<strong>de</strong>u que<br />

sim. Quando fixei meu olhar, era uma menininha <strong>de</strong> aproximadamente cinco <strong>anos</strong>,<br />

pele morena, cabelos encaracolados e com dois pitozinhos e olhos pretos brilhantes.<br />

O que mais me surpreen<strong>de</strong>u foi que ela não tinha as mãos, seus antebraços eram<br />

bem curtinhos. Naquela hora, com minha ignorância pensei: como ela vai pegar o<br />

pan<strong>de</strong>irinho e tocar sem as mãos? Para minha surpresa, ela pegou com os seus<br />

bracinhos e tocou com certo ritmo, cantando uma música que falava do "amor <strong>de</strong><br />

Deus".<br />

Fiquei estarrecida, uma coisa que eu não tinha feito bem com as minhas mãos, e<br />

pu<strong>de</strong> sentir uma gran<strong>de</strong> emoção que invadiu todo o meu ser e precisei conter o choro<br />

diante <strong>de</strong>la.<br />

Confesso que até hoje essa cena me emociona ao relatar e mostra o quanto<br />

aprendi com a lição, para nunca mais fazer prejulgamentos sobre a capacida<strong>de</strong> das<br />

pessoas e foi preciso uma criança iluminada ensinar como <strong>de</strong>vemos lidar com as<br />

diferenças.<br />

Esse encontro serviu para me mostrar a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rever minhas atitu<strong>de</strong>s e<br />

ações como voluntária e na minha vida cotidiana. Costumo dizer, o que faço é muito<br />

pouco, mas se <strong>de</strong>ixo uma criança feliz ou se faço sorrir, a felicida<strong>de</strong> retorna para mim<br />

e a cada reencontro ou novo encontro aprendo uma nova lição.<br />

A<strong>de</strong>nilza Calado<br />

AACD <strong>Recife</strong><br />

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Em 2017, eu estava caminhando pelos corredores do Hospital Maria Lucinda,<br />

quando fui abordada por uma freira, atuante pela pastoral neste local, que me<br />

orientou a ir na UTI, explicando-me que uma garotinha estava há dias internada com<br />

pneumonia e que seria interessante a minha visita para <strong>conta</strong>r-lhe uma história.<br />

Prontamente, atendi a solicitação e me dirigi ao portão da UTI. Cumpridos os<br />

procedimentos <strong>de</strong> higiene obrigatórios para essa ala do hospital, que só visitamos à<br />

pedido dos gestores <strong>de</strong> lá, avistei a garota, mas não fui até ela, pois, um pequeno ser<br />

<strong>de</strong> seis meses <strong>de</strong>sviou minha atenção com um choro estri<strong>de</strong>nte e contínuo.<br />

Sophia era o seu nome e estava numa incubadora sendo assistida pela enfermeira<br />

que tentava acalmá-la. Mexe pra cá, mexe pra lá e nada. Perguntei se eu po<strong>de</strong>ria<br />

ajudar e a enfermeira prontamente se afastou um pouco, sinalizando caminho livre<br />

para eu atuar.<br />

Observando o cenário, <strong>de</strong>cidi cantar. Naquele momento especial, veio-me à cabeça<br />

um repertório <strong>de</strong> músicas cantadas durante a minha gravi<strong>de</strong>z e nascimento do meu<br />

filho, que soaram no tom leve, mansinho e doce <strong>de</strong> minha voz. E, incrivelmente,<br />

Sophia arregalou os olhos, conectou-se com a musicalida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>u um suspiro e<br />

acalmou-se.<br />

Com o coração quentinho e a cabeça leve, segui meu percurso e atendi a garotinha<br />

que me aguardava bastante curiosa.<br />

Jenny Rocha<br />

Hospital Maria Lucinda<br />

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Era agosto <strong>de</strong> 20<strong>18</strong>, Laurinha era o seu nome, tinha apenas três <strong>anos</strong> <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>,<br />

sempre alegre, mesmo nos momentos que sentia algum <strong>de</strong>sconforto pelo seu quadro<br />

clínico. Com temperamento forte e mandona assim era conhecida por todos do setor<br />

<strong>de</strong> oncologia pediátrica do hospital.<br />

Quando entrávamos na enfermaria, já se ouvia a voz <strong>de</strong>la, muitas vezes brincando<br />

numa mesinha ou dando orientações as copeiras sobre qual lanche queria comer.<br />

Sabia todos os nomes complicados e até <strong>de</strong>sconhecidos por nós dos exames que<br />

realizava. Seu jeito doce e ao mesmo tempo mandão nos encantava. Queria sempre<br />

ouvir a mesma história: Quem será? texto <strong>de</strong> Anton Poitier, com ilustrações <strong>de</strong> Sophia<br />

Touliatou, e o livro tinha que ser bem apresentado.<br />

Certo dia, levei um livro <strong>de</strong> história infantil, que escrevi pra minha filha há muitos<br />

<strong>anos</strong> e logo me veio o pedido: Faz uma história pra mim! Aceitei o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> imediato,<br />

mas não <strong>de</strong>u tempo. Na semana seguinte, quando chegamos, a sua voz mandona já<br />

não se ouvia <strong>de</strong> longe. Imediatamente nos dirigimos ao posto <strong>de</strong> enfermagem e<br />

perguntamos: On<strong>de</strong> está Laurinha? A resposta foi dolorosa: Na UTI, esperando o<br />

momento porque não há mais nada a fazer!<br />

O chão se abriu, a voz travou e paralisamos. Então a enfermeira solicitou que<br />

fossemos até à UTI, porque éramos importantes pra ela e precisávamos nos <strong>de</strong>spedir.<br />

Foi difícil e muito triste. Uma mistura <strong>de</strong> sentimentos tomou <strong>conta</strong> <strong>de</strong> nós. Um<br />

consolo divino nos encheu <strong>de</strong> forças, porque sabíamos que nossa pequena mandona<br />

não sofreria mais, e que <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> poucos instantes aquela criaturinha cativante se<br />

tornaria uma linda estrelinha.<br />

O livro com a história que ela gostava tanto <strong>de</strong> ouvir, ficou fechado por vários<br />

meses. Apren<strong>de</strong>mos que é preciso saber respeitar o tempo do luto.<br />

Obrigada Laurinha, por ter feito parte da nossa história e por permitir que nossos<br />

encontros tenham sido tão importantes para nossas vidas.<br />

Sônia Sotero e Robson Sotero<br />

Hospital IMIP<br />

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Essas emocionantes <strong>histórias</strong> só foram possíveis <strong>de</strong> acontecer, porque um dia o Valdir<br />

Cimino sonhou e concretizou a Associação <strong>Viva</strong> e <strong>Deixe</strong> <strong>Viver</strong>, que completou 24 <strong>anos</strong> <strong>de</strong><br />

fundação neste ano e expandiu-se por várias capitais do país, permitindo que outras<br />

pessoas <strong>de</strong>spertassem para a importância <strong>de</strong> levar a leitura, o lúdico, a compaixão e o<br />

afeto, e assim, também contribuírem para uma maior humanização na saú<strong>de</strong>. Atualmente,<br />

85 instituições no país abraçam com louvor os voluntários da <strong>Viva</strong> e <strong>Deixe</strong> <strong>Viver</strong> e<br />

acreditam na importância e na transformação que o nosso trabalho provoca. A todos, o<br />

nosso muito obrigado e especialmente, aos parceiros no <strong>Recife</strong>: AACD, IMIP, IFP, HUOC,<br />

Maria Lucinda e Helena Moura, bem como aos voluntários que participaram <strong>de</strong>sta<br />

iniciativa e resgataram da memória, momentos tão marcantes e poéticos, que permitiram<br />

tecermos juntos, com tanto afeto e cuidado - como po<strong>de</strong>m ser observados em cada<br />

narrativa, recebam o nosso carinho e a gran<strong>de</strong> gratidão. O que inicialmente, seria apenas<br />

um livro homenagem pelos <strong>18</strong> <strong>anos</strong> da <strong>Viva</strong> no <strong>Recife</strong>, marcou imensamente a minha vida,<br />

pela oportunida<strong>de</strong> que tive em conhecer algumas <strong>histórias</strong>, relembrar outras das quais<br />

participei efetivamente, organizá-las e ajudar a construir os textos <strong>de</strong>sses encontros tão<br />

ricos e prazerosos que resultaram em uma po<strong>de</strong>rosa construção coletiva.<br />

Ana Inês Pina<br />

Coor<strong>de</strong>nadora da <strong>Viva</strong> e <strong>Deixe</strong> <strong>Viver</strong> –<strong>Recife</strong><br />

Novembro,2021


A<strong>de</strong>nilza Calado<br />

História: Superação<br />

Ana Cláudia Alcântara<br />

História: Conflito<br />

Ana Inês Pina<br />

História: Compaixão<br />

Anaísa Ramos<br />

História: Gratitu<strong>de</strong><br />

Ana Maria Castelo Branco<br />

História: Estreando<br />

Carmem Tavares<br />

História: Respeito<br />

Cláudia Vilar<br />

História: Propósito<br />

Cristhiane Teixeira<br />

História: Percussão<br />

Débora Santos<br />

História: Renovação<br />

Diana Oliveira<br />

História: Sensibilida<strong>de</strong><br />

Itamira Santos<br />

História: Desabrochar<br />

Jenny Rocha<br />

História: Suspiro<br />

Juliane Oliveira<br />

História: Atitu<strong>de</strong><br />

Maricelia Moura<br />

História: Despertar<br />

Nyna Nascimento<br />

História: Assombração<br />

Rafaela Ramirez<br />

História: Sonorida<strong>de</strong><br />

Sônia e Robson Sotero<br />

História: Transformação<br />

Vanessa Brissantt<br />

História: Metamorfose


WWW.VIVAEDEIXEVIVER.ORG.BR<br />

@vivae<strong>de</strong>ixeviver_pe<br />

@vivae<strong>de</strong>ixeviverrecife


Este livro é composto por uma<br />

seleção <strong>de</strong> <strong>18</strong> relatos <strong>de</strong> encontros,<br />

que ficaram marcados na vida <strong>de</strong><br />

alguns voluntários da <strong>Viva</strong> <strong>Recife</strong>, e<br />

agora ficam eternizados na nossa<br />

história. Também presta uma<br />

homenagem pela celebração dos <strong>18</strong><br />

<strong>anos</strong> da <strong>Viva</strong> nesta cida<strong>de</strong>. As<br />

narrativas fazem o leitor viajar em um<br />

mundo mágico <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong><br />

encantamento, cheio <strong>de</strong> emoções:<br />

alegres, engraçadas, tristes,<br />

inesperadas e impactantes, <strong>conta</strong>das<br />

por <strong>quem</strong> faz história viva.

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