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Edição 2º semestre

Edição 2º semestre

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R$25,00<br />

CASA ZISSOU (SÃO PAULO)<br />

FLUXOS DE PENSAMENTOS | RICHEMONT (SÃO PAULO) | RESTAURANTE KOTORI (SÃO PAULO) | RESIDÊNCIA<br />

FAZENDA MORRO ALTO (SÃO PAULO) | ESTÚDIO JAC LEIRNER (SÃO PAULO) | FOTO LUZ FOTO: MAÍRA ACAYABA


LED Lighting Solutions<br />

Dot<br />

Line


SUMÁRIO<br />

2˚ semestre 2021<br />

edição <strong>81</strong><br />

46<br />

50<br />

56<br />

62<br />

66<br />

74<br />

82<br />

8<br />

¿QUÉ PASA?<br />

46<br />

FLUXOS DE PENSAMENTOS<br />

Ensaio de Diana Joels<br />

50<br />

RICHEMONT<br />

56<br />

62<br />

66<br />

74<br />

82<br />

CASA ZISSOU<br />

São cinco os sentidos?<br />

RESTAURANTE KOTORI<br />

Imersão em cenários luminosos<br />

RESIDÊNCIA FAZENDA MORRO ALTO<br />

Casa, galeria, natureza e harmonia<br />

ESTÚDIO JAC LEIRNER<br />

Visita ao Atelier de Jac Leirner<br />

FOTO LUZ FOTO<br />

Maíra Acayaba<br />

4


EDITORIAL<br />

CAPA<br />

Iluminação: Foco Luz & Desenho<br />

Foto: André Klotz<br />

PUBLISHER<br />

Thiago Gaya<br />

EDITOR-CHEFE<br />

Orlando Marques<br />

EDITORA<br />

Débora Torii<br />

AOS POUCOS<br />

Aos poucos os espaços voltam a ser ocupados. O dia a dia ganha cores,<br />

sorrisos, calor, abraços. Aos poucos retomamos mesmo que nada mais seja<br />

como antes.<br />

Neste espírito trazemos nesta edição o segundo ensaio da lighting<br />

designer e educadora Diana Joels, “Fluxos de Pensamentos” – o mesmo<br />

nome dado ao bate-papo aberto realizado como desdobramento de seu<br />

primeiro ensaio, publicado na edição 80 da <strong>L+D</strong>, e que provocou novos fluxos<br />

e pensamentos.<br />

Essa energia de renovação também nos inspirou a convidar a equipe da<br />

LD Studio para contar, no ¿Qué Pasa? duplo, um pouco sobre os bastidores<br />

do projeto para a renovação do teatro do Hotel Belmond Copacabana Palace,<br />

recém reinaugurado.<br />

Apresentamos também o projeto de iluminação da Foco Luz & Desenho<br />

para a loja de colchões Zissou, capa desta edição; o escritório da Richemont<br />

em São Paulo, iluminado pelo Estúdio Carlos Fortes; o restaurante Kotori, com<br />

projeto de iluminação do Castilha Iluminação; a residência na Fazenda Morro<br />

Alto, no interior de São Paulo, iluminada pelo studio ix; e o relato da visita ao<br />

Estúdio Jac Leirner, com projeto de iluminação assinado por franco+berriel.<br />

Esta edição da <strong>L+D</strong> circula concomitantemente à realização do<br />

LEDforum.21, em formato digital. Esperamos que em 2022 possamos nos<br />

reunir pessoalmente.<br />

O retorno acontece aos poucos, mas a expectativa é perene.<br />

DIAGRAMAÇÃO<br />

Maria Fraga<br />

PROJETO GRÁFICO<br />

Thais Moro<br />

REPORTAGENS DESTA EDIÇÃO<br />

Débora Torii, Diana Joels, Diogo de Oliveira,<br />

Emilia Ramos, Equipe LD Studio, Fernanda<br />

Carvalho, Gilberto Franco, Orlando Marques<br />

REVISÃO<br />

Débora Tamayose<br />

CIRCULAÇÃO E MARKETING<br />

Márcio Silva<br />

T 11 3062.2622<br />

PUBLICADA POR<br />

Lumière Mídia<br />

Rua Catalunha, 350, 05329-030<br />

São Paulo SP, T 11 3062.2622<br />

www.editoralumiere.com.br<br />

Boa leitura!<br />

6<br />

experience room: avenida dos tajurás, 152 cidade jardim são paulo | 11.3062 7525 | goelight.com.br


¿QUÉ PASA?<br />

BIOCÊNTRICO<br />

TORN<br />

GAP<br />

© 2021 Olafur Eliasson, Mark Niedermann, Pati Grabowicz.<br />

C<br />

M<br />

Y<br />

CM<br />

MY<br />

CY<br />

CMY<br />

K<br />

8<br />

A Fundação Beyeler apresentou em Base, na Suíça, a<br />

primeira instalação in situ do artista Olafur Eliasson, intitulada<br />

Life. O trabalho une o espaço do museu, o parque onde está<br />

localizado, a paisagem urbana e a natureza de tal forma que<br />

se apresenta como algo que se desenvolve constantemente,<br />

gerando um diálogo entre todas essas esferas e esmaecendo a<br />

separação entre cultura e natureza.<br />

“Nos últimos anos, tenho cada vez mais me interessado nos<br />

esforços para considerar a vida não de uma perspectiva centrada<br />

no ser humano, mas de uma perspectiva ampla e biocêntrica.<br />

Eu me peguei transformando substantivos em verbos – quando<br />

analiso minha exposição, tento fazer uma árvore, por exemplo –<br />

a fim de tomar consciência de perspectivas que vão além do que<br />

nós, humanos, podemos imaginar adequadamente.”<br />

Life é o modo de o artista abrir mão do controle sobre as<br />

obras de arte e passá-lo, de certa forma, aos visitantes humanos<br />

e aos não humanos, incluindo plantas, microrganismos, clima<br />

etc. Em outras instalações, esses elementos são mantidos<br />

isolados das obras de arte para não danificá-las. Aqui não há<br />

como separá-los. (O.M.)<br />

Atelier Jac Leirner<br />

Lighting Design: Franco + Berriel lighting design<br />

Arquitetura: MMBBB Arquitetura<br />

Fotografia: Nelson Kon<br />

@omega_light<br />

www.omegalight.com.br


¿QUÉ PASA?<br />

BELEZAS APAGADAS<br />

NIX-M T-FLEX<br />

projetor orientável para trilho<br />

eletrificado, led IRC≥92 é uma<br />

característica do nosso padrão de<br />

fornecimento.<br />

Letícia Poyares, Lucas Schwab e Amanda Silveira<br />

fotografia Leonardo Finotti<br />

CCBB - Exposição “A Terceira”<br />

São Paulo<br />

Marcia de Moraes, artista plástica<br />

Estúdio Carlos Fortes<br />

apoio Lightsource<br />

SIGMA<br />

sistema de perfil para acabamento<br />

e iluminação de sanca.<br />

BETA<br />

A lighting designer e artista baiana Priscila Pacheco transitou<br />

nos últimos anos entre Brasil e Chile, em escritórios e escolas<br />

de arquitetura e iluminação, e atualmente cursa mestrado em<br />

Arte e Design para o Espaço Público na Universidade do Porto,<br />

em Portugal.<br />

Desse curso surgiu o desafio de criar um projeto artístico<br />

em área pública. O desafio maior, no entanto, viria a seguir: a<br />

pandemia da covid-19 alastrada pelo mundo, o Brasil entre os<br />

líderes mundiais de mortes por milhão de habitantes, muitas<br />

evitáveis, e a população dividida por uma severa crise ética e<br />

coletiva, vivendo um luto disforme.<br />

Como criar qualquer coisa nesse contexto? Como se<br />

contrapor à paralisia diante da crise, diante da morte? Como<br />

sublinhar o fato de que cada perda significa afetos, memórias e<br />

relações interrompidas?<br />

Dessas angústias surgiu a obra, uma instalação performativa<br />

que usa a luz do fogo para ativar memórias afetivas e lançar luz<br />

sobre as vidas perdidas, para ser montada em espaço público,<br />

coletivo e compartilhado como o sentimento que o trabalho<br />

provoca, de dor pelas mortes em massa dos mais vulneráveis,<br />

uma a uma.<br />

A instalação consiste em cem lanternas de vidro e vela que<br />

refletem no chão, ao redor, palavras que nomeiam as relações<br />

entre os mortos e os que ficam.<br />

Irmão. Mãe. Amigo. Avó...<br />

Cada chama será apagada durante a performance, tendo<br />

seu oxigênio cortado, em uma referência à respiração.<br />

O trabalho foi apresentado em junho deste ano, na<br />

Praça Cívica de Vila Nova de Gaia, ao entardecer, ao som da<br />

canção “Lágrimas negras”, de Jorge Mautner, que diz: “Belezas<br />

são coisas acesas por dentro, tristezas são belezas apagadas<br />

pelo sofrimento”. (D.O.)<br />

fotografia Maíra Acayaba<br />

perfil com difusor para fita led.<br />

VEGA-LINE-D<br />

pendente linear com iluminação<br />

difusa downlight.<br />

Escritório Richemont do Brasil<br />

São Paulo<br />

Cafcalas Estúdio<br />

Estúdio Carlos Fortes<br />

10<br />

São Paulo SP Brasil www.lightsource.com.br @lightsource_lighting


por Studio Luxion<br />

James Newton<br />

Uma peça portátil e com diferenciais<br />

marcantes: a luz pode ser controlada<br />

através da mobilidade de sua cúpula,<br />

revelando e alterando sua forma,<br />

tornando a luminária uma<br />

coluna iluminada.<br />

¿QUÉ PASA?<br />

ABADIA DE BATH<br />

A história de abadia beneditina de Bath, situada na Inglaterra,<br />

remonta ao século VI, mas o edifício com a aparência que tem<br />

hoje data do século XV. Em 2021, o mais recente restauro desse<br />

que é um dos principais exemplos da arquitetura gótica inglesa<br />

foi concluído, em um projeto com custo próximo a 20 milhões<br />

de euros.<br />

Além de abrigar os fiéis com conforto e segurança<br />

renovados, o projeto de restauro e de iluminação abre a abadia<br />

para usos mais flexíveis, como turismo e eventos. Para isso, foi<br />

instalado um sistema de aquecimento hidráulico, baseado em<br />

princípios sustentáveis, sob o piso do edifício.<br />

O projeto de iluminação, a cargo do escritório Michael Grubb<br />

Studio, ao mesmo tempo que destaca os elementos históricos da<br />

arquitetura, possibilita os novos usos, com cenas diversas para<br />

eventos, sem perder a atmosfera de devoção própria da catedral.<br />

Nos níveis mais altos, pontos de luz situados logo abaixo das<br />

janelas destacam os ornamentos: coroas e abóbadas em forma<br />

de leque, que são a marca dessa abadia. No nível intermediário, a<br />

iluminação sublinha os adornos em pedra de Bath. Monumentos<br />

e tumbas ganham luz específica para suas formas, assim como<br />

o lustre vitoriano, atualizado com LED. Todo o sistema de<br />

iluminação é controlado digitalmente e permite operar cada<br />

lâmpada, uma a uma. (D.O.)<br />

12 @luxion_<br />

www.luxion.com.br<br />

contato@luxion.com.br


Marcella Campa<br />

¿QUÉ PASA?<br />

CHÁ E CENA<br />

A casa de chá e padaria théATRE reúne o chá e o teatro não<br />

apenas em seu nome, mas também no projeto do espaço. A<br />

casa, localizada em Xangai, China, foi projetada pelo escritório<br />

Ramoprimo, em uma área relativamente pequena: 50 m 2 de loja,<br />

mais 60 m 2 de área externa.<br />

Os elementos cenográficos começam no forro, preenchido<br />

por uma escultura de lâminas de aço em curva. O que o espaço<br />

da loja não oferece em área compensa em altura, em três<br />

níveis: o mais alto abriga o elemento escultórico, inspirado no<br />

movimento da água do chá e intensificado pelo caráter reflexivo<br />

do material, sensível à luz e às cores; o médio, com cozinha<br />

aberta cujos principais materiais são aço e cerâmica, simula um<br />

laboratório, no qual precisão e limpeza podem ser observados<br />

durante o processo de elaboração das massas; já o nível mais<br />

baixo é onde fica o salão, na mesma linguagem de cores e<br />

texturas, mas com acréscimo do mármore azulado, cuja textura<br />

granulada confere efeitos diversos de acordo com a variação<br />

da luz. Um pátio completa o ambiente da loja, inspirado nos<br />

terraços das fazendas de chá. (D.O.)<br />

14


¿QUÉ PASA?<br />

ENTRE REINOS<br />

O restaurante de frutos do mar XU JI (Land Kylin), com área<br />

de 1.256 m 2 , projeto do escritório de arquitetura Daxiang, fica<br />

em Changsha, na província de Hunan, China.<br />

No entanto, o partido desse projeto é esmaecer as fronteiras<br />

entre espaço e tempo, Oriente e Ocidente, realidade e fantasia,<br />

sono, sonho e vigília. Como em uma densa floresta, em que não<br />

se consegue distinguir claramente os elementos, o restaurante<br />

sugere um percurso imersivo, com experiências diversas<br />

vivenciadas por meio do design. Das atmosferas. Da iluminação.<br />

Localizado no quarto andar do W Hotel, a entrada da casa<br />

surge ladeada por pilastras que simulam troncos, iluminados por<br />

baixo e envoltos em luz azul, vinda da grande tela de LED, em que<br />

se projetam imagens marinhas, no centro do espaço. Os percursos<br />

possíveis para a adega, o bar, as salas de chá e outras salas<br />

ocorrem como narrativas, e parece ser esta a ideia: ambientes<br />

discursivos. O mobiliário é usado como suporte para pontos<br />

de luz difusa, de cores suaves, acoplados nele, o que favorece a<br />

experiência dos clientes: difusa, fragmentada, misteriosa. (D.O.)<br />

Chuan He, Haha Lu.<br />

16


divulgação<br />

¿QUÉ PASA?<br />

ESTAÇÃO P&B<br />

A estação de metrô Rotes Rathaus foi inaugurada em Berlim,<br />

Alemanha, com projeto do arquiteto Oliver Collignon e projeto<br />

de iluminação do escritório Licht Kunst Licht. Foram dez anos<br />

desde os primeiros planos até a abertura do equipamento, e<br />

o que se nota é a integração técnica do resultado construtivo<br />

com as soluções de iluminação. Em 2010, antes de o LED<br />

ganhar o mercado, esse foi o recurso sugerido, o que superou as<br />

expectativas na finalização, em virtude dos avanços tecnológicos<br />

do LED na última década.<br />

O partido arquitetônico foi claridade, amplidão e elegância,<br />

obtidos no contraste entre piso branco reluzente, colunas<br />

claras e paredes pretas, também com textura sensível à luz.<br />

O hall da plataforma, com 140 m de comprimento, tem uma<br />

escada rolante para acesso, e a iluminação marca a entrada no<br />

hall e as plataformas.<br />

Os pontos de luz por toda a estação foram inseridos com<br />

precisão no forro e calculados com base em seu reflexo nas<br />

superfícies do edifício, visando ao conforto visual dos usuários.<br />

Voltagens e angulações foram calibradas a partir das diferentes<br />

alturas do espaço. Nas extremidades das plataformas, de pédireito<br />

baixo, os pontos de luz foram inseridos no piso, em<br />

pares. (D.O.)<br />

Projeto da arquiteta Larissa Gomes - Casa Cor PR 2021<br />

18


Design, inovação e tecnologia<br />

em iluminação desde 1974.<br />

¿QUÉ PASA?<br />

FÍSICO DIGITAL<br />

20<br />

Lagranja design<br />

XAPO é um banco inteiramente digital, com serviços para<br />

criptomoedas. Para abrigar sua sede física principal, o escritório<br />

de arquitetura catalão Lagranja adaptou instalações militares<br />

inglesas do século XIX, na parte histórica de Gibraltar, vizinha<br />

às muralhas fortificadas da cidade, em meio ao agito urbano. O<br />

projeto de iluminação foi executado pelo escritório reMM.<br />

A sede da empresa ocupa área de 800 m 2 , entre os arcos<br />

estruturais das antigas instalações em pedra calcária e teto<br />

ainda com as vigas de madeira originais, material que foi todo<br />

restaurado. A manutenção dos materiais originais confere ao<br />

ambiente um clima de cofre de banco antigo, em referência<br />

quase irônica ao negócio da XAPO.<br />

Na entrada, o pé-direito baixo é compensado por espelhos<br />

d’água que ladeiam a circulação e ajudam a iluminar o espaço<br />

subterrâneo com seu reflexo durante o dia. À noite, iluminação<br />

cruzada de laser destaca os espelhos e a área de recepção, à<br />

vista do público. Paredes e elementos estruturais e de circulação<br />

são iluminados de modo a ganhar destaque e, ao mesmo tempo,<br />

manter a atmosfera original dos antigos quartéis. (D.O.)<br />

www.lightdesign.com.br<br />

St Marche – SP<br />

Arquitetura Espaço Novo Projeto luminotécnico Mingrone Iluminação Fotografia Ricardo Basseti


Tom Lee<br />

Perfecting light<br />

for a luminous<br />

future.<br />

¿QUÉ PASA?<br />

FRESHFIELDS BRUCKHAUS DERINGER,<br />

POR 18 DEGREES<br />

O escritório de advocacia Freshfields Bruckhaus Deringer<br />

transferiu recentemente sua sede para o edifício 100 Bishopsgate,<br />

no centro financeiro de Londres, Inglaterra, complexo conhecido<br />

pela eficiência energética e pelas políticas alinhadas com<br />

agendas sustentáveis.<br />

O projeto de iluminação do escritório 18 Degrees trabalhou<br />

em estreita colaboração com os arquitetos de interiores ID:SR.<br />

Assim, o projeto foi planejado para minimizar o impacto<br />

ambiental e proporcionar bem-estar aos ocupantes. Equipamentos<br />

de LED de baixo consumo e os controles associados ajudaram o<br />

projeto a alcançar a classificação de sustentabilidade BREEAM<br />

22<br />

Excelence e a SKA Gold. Os novos interiores resultaram em uma<br />

economia de energia de 30% em comparação com a sede anterior.<br />

A iluminação procurou atender a diversas faixas etárias e<br />

preferências, bem como proporcionar acesso à luz natural, de<br />

modo a garantir uma transição visual suave entre os ambientes.<br />

“Foi uma honra trabalhar em um projeto tão importante e<br />

emocionante. Foi uma combinação fantástica entre diversos<br />

atores que tornou esse projeto um sucesso: um cliente<br />

informado, uma gestão de projeto inteligente, uma equipe de<br />

design ampla e criativa e uma equipe de construção”, disse<br />

Christopher Knowlton, diretor do escritório 18 Degrees. (O.M.)<br />

Desenvolvemos avanços na qualidade<br />

da luz LED para alcançar resultados<br />

extraordinários em uma ampla gama<br />

de aplicações. Nossas soluções óticas<br />

de última geração são ferramentas<br />

para criar luz que melhora o<br />

bem-estar, funcionalidade, segurança<br />

e sustentabilidade. Juntos<br />

com nossos clientes e<br />

parceiros, fomentamos<br />

o fortalecimento do<br />

BRAND VIDEO ecossistema da iluminação.<br />

LEDiL ® é uma marca registrada da LEDiL Oy na<br />

União Europeia, nos E.U.A. e outros países.


¿QUÉ PASA?<br />

INTERNO – EXTERNO<br />

Luxo e praticidade<br />

na hora de escolher<br />

o seu controle de iluminação<br />

o2promo.com.br<br />

ALISSE<br />

Divulgação<br />

Botões touch<br />

Elegantes botões<br />

retroiluminados<br />

Acabamento feito a mão<br />

Usinado e finalizado<br />

artesanalmente<br />

O projeto do escritório Sirius Lighting Office para o edifício<br />

Toranomon Hills Business Tower em Tóquio, Japão, recebeu o<br />

prêmio Radiance for Excellence in Lighting Design concedido<br />

pelo IALD Awards deste ano.<br />

O ambiente do edifício de escritórios procurou funcionar ao<br />

mesmo tempo como espaço de motivação para colaboradores e<br />

espaço de apreciação, para todo tipo de visitante.<br />

O projeto de iluminação teve o desafio de harmonizar com a<br />

luz natural, em área ampla de circulação composta de vegetação,<br />

fontes de água e obras de arte. Os revestimentos foram<br />

cuidadosamente iluminados para evitar reflexos excessivos e,<br />

ao mesmo tempo, destacar as texturas, por meio de pontos de<br />

luz inseridos no piso ou no forro.<br />

Sistemas de controle garantem a transição orgânica da cena<br />

de luz diurna para a cena noturna, calma e com cores amenas.<br />

Na fachada e na área de acesso ao edifício, a iluminação se dá<br />

por linhas horizontais que ora conduzem os visitantes à entrada,<br />

ora, nos níveis mais altos, criam animação em referência às<br />

pinturas japonesas com nanquim. (D.O.)<br />

Gravações persolizadas<br />

Sua experiência ainda<br />

mais pessoal<br />

24<br />

Fone: +55 11 3079-7339 | www.steluti.com.br


¿QUÉ PASA?<br />

MEMORIAL<br />

CENOGRAFADO<br />

Divulgação<br />

O projeto de iluminação do escritório L’Observatoire<br />

International para o Memorial Dwight D. Eisenhower, em<br />

Washington, Estados Unidos, foi um dos contemplados com o<br />

Merit Award na premiação do IALD deste ano.<br />

O projeto de iluminação incide sobre o edifício, as áreas de<br />

circulação e outras abertas à rua. As intervenções demarcam<br />

as linhas do edifício e do passeio, sua tridimensionalidade,<br />

definindo espacialmente o monumento urbano e conferindo<br />

sensação de interioridade ao espaço aberto. Ao iluminar<br />

desde baixo o mobiliário urbano e desde dentro equipamentos<br />

de apoio, como corrimãos, a circulação ganha destaque.<br />

A fachada do memorial é tomada por uma estrutura plana<br />

de aço que mede 122 m de comprimento e traz imagens<br />

abstratas da costa do Normandia, em referência à região da<br />

França em que se deu o desfecho da Segunda Guerra Mundial,<br />

sob o comando de Eisenhower, em 1944. Cada fio que compõe a<br />

imagem é iluminado desde baixo, acendendo cada contorno do<br />

desenho, feito cenário. (D.O.)<br />

26


Kai Piippo<br />

C<br />

M<br />

Y<br />

CM<br />

MY<br />

CY<br />

CMY<br />

K<br />

¿QUÉ PASA?<br />

TRADIÇÃO E EFICIÊNCIA<br />

Um dos parques públicos mais antigos de Estocolmo, capital<br />

da Suécia, o Kungsträdgården ganhou nova iluminação pelas<br />

mãos da equipe do Light Bureau. As novas luminárias fazem uma<br />

releitura contemporânea da iluminação tradicional de parques<br />

e substituem os antigos postes, dotados de globos equipados<br />

com lâmpadas nuas de vapor metálico, com iluminação difusa<br />

e ofuscante.<br />

Compostas de dois cilindros concêntricos com acabamento<br />

em cobre, as luminárias contam com acendimento em duas<br />

etapas: no final da tarde, ainda sob a presença da luz natural,<br />

o módulo de luz cálida e indireta do cilindro interno se acende,<br />

tornando presentes as lanternas na paisagem do parque;<br />

durante os 30 minutos seguintes, a iluminação direta do módulo<br />

externo se intensifica gradualmente, iluminando as circulações e<br />

as copas das árvores.<br />

O sistema de controle cria uma ponte suave entre a<br />

claridade do dia e a escuridão da noite e contribui para<br />

a redução de aproximadamente 50% no consumo energético<br />

da iluminação do parque, decorrente também da substituição<br />

por módulos de LED. O conceito final do projeto levou sete<br />

anos para ser definido e implantado e demandou a realização<br />

de inúmeros protótipos e testes, acompanhados de perto pelo<br />

cliente (a municipalidade de Estocolmo) e por especialistas em<br />

patrimônio histórico. (D.T.)<br />

28


w<br />

Noshe<br />

¿QUÉ PASA?<br />

KUNSTHAUS ZÜRICH<br />

O novo edifício da ampliação do Museu de Zurique,<br />

finalizado no ano passado, tem arquitetura do escritório alemão<br />

David Chipperfield Architects Berlin e projeto de iluminação do<br />

escritório suíço Matí Lighting Design.<br />

O conceito do projeto de arquitetura é motivado pela<br />

implantação de um volume de geometria acessível, com forma<br />

inspirada por uma escola vizinha, de 1842, ao norte do terreno.<br />

Os ambientes internos são organizados como uma casa, com<br />

cômodos de diferentes tamanhos, orientações, materialidade e<br />

luz, conferindo-lhes personalidade.<br />

Desenvolvido em colaboração com os arquitetos, o conceito<br />

do projeto de iluminação definiu uma paleta enxuta de efeitos<br />

luminosos e luminárias que permitisse apresentar a arte das<br />

com versatilidade. (O.M.)<br />

APRESENTAMOS ATHENA<br />

O sistema de controle de iluminação dinâmico que traz<br />

a magia da luz aos momentos do dia a dia<br />

Solução flexível, simples e tudo-em-um para controlar qualquer fonte<br />

de luz com cortinas inteligentes<br />

30


SMAR architecture, quatrecaps.<br />

¿QUÉ PASA?<br />

TORRE DE LUZ<br />

Os arquitetos Fernando Jerez e Belen Perez de Juan, do<br />

escritório SMAR Architecture Studio, foram os vencedores do<br />

concurso mundial para a Torre de Luz de San Jose, Califórnia,<br />

no coração do Vale do Silício. O projeto pretende simbolizar a<br />

inovação da região e atrair turismo e negócios para a cidade,<br />

ao mesmo tempo que presta homenagem a San Jose Electric<br />

Light Tower, uma estrutura construída em 18<strong>81</strong> para celebrar a<br />

chegada da eletricidade à cidade,<br />

Batizada de Breeze of Innovation, a estrutura é composta de<br />

mil hastes criadas para balançar ao vento, gerando eletricidade<br />

para iluminá-la durante a noite.<br />

“Nosso objetivo foi capturar a magia em constante mudança<br />

do Vale do Silício e criar uma conexão com a comunidade de<br />

San Jose”, disse Fernando Jerez. (O.M.)<br />

32


Ziling Wang<br />

Yang Shi<br />

¿QUÉ PASA?<br />

WANG JING MEMORIAL HALL<br />

Yang Shi<br />

O Wang Jing Memorial Hall foi construído em homenagem<br />

ao acadêmico Wang Jing (1337-1408) na aldeia de Wang,<br />

localizada na província de Zhejiang, na China, onde o mestre<br />

nasceu. Usado também como espaço para as atividades<br />

da comunidade, o projeto do escritório chinês DnA_Design<br />

and Architecture se encaixa organicamente às construções<br />

existentes da vila, adquirindo um caráter linear.<br />

Tomando partido desse desenho, o memorial apresenta, em<br />

forma de percurso, 17 cenas esculpidas em pedra que ilustram<br />

a vida de Wang. Quase sem aberturas em suas fachadas, o<br />

edifício conta com acesso à iluminação natural através das<br />

claraboias posicionadas sobre cada uma das 17 imagens. Os<br />

lighting designers do One Lighting Associates, em parceria<br />

com a escola de arquitetura da Tsinghua University, incluíram<br />

também equipamentos para iluminação artificial em cada um<br />

dos vãos das claraboias, provendo o espaço com iluminação<br />

geral e mimetizando a iluminação natural das esculturas à noite.<br />

As fontes de luz ocultas contribuem para a criação de uma<br />

atmosfera meditativa e contemplativa no interior do espaço.<br />

Vistas do terraço – que também é acessível aos<br />

visitantes –, as claraboias refletem parte dessa luz, criando<br />

um efeito sutil de “brasa”, que remete ao caráter espiritual<br />

do memorial. (D.T.)<br />

EXTENDLIT<br />

Sistema de iluminação simples, direto e linear, suspenso somente pelas extremidades. Composto por uma tira ultrafina e<br />

resistente de aço inox, usando uma fonte de luz fita LED para uma luz contínua. Possibilidade de até 25 metros de extensão,<br />

a sua aplicação pode ser de parede a parede ou do teto ao piso, tanto para iluminação direta ou indireta.<br />

34<br />

www.lemca.com.br


¿QUÉ PASA?<br />

CENTENAS E<br />

MILHARES<br />

O parque linear The Tide, às margens do rio Tamisa, é palco<br />

da mais recente instalação da artista Liz West, feita a convite<br />

da comunidade de Greenwich Peninsula, região da cidade de<br />

Londres, Inglaterra, em crescente valorização e modernização.<br />

Hundreds and Thousands envolveu 700 metros lineares<br />

das balaustradas de vidro do parque com milhares de faixas<br />

coloridas ondulantes, que se comportam como relógios de sol,<br />

permitindo aos visitantes interagir e acompanhar o movimento<br />

da luz natural ao longo dos dias e das estações por meio de seus<br />

reflexos e suas sombras.<br />

A artista teve como inspirações a proximidade do parque<br />

do meridiano de Greenwich e a fluidez dos percursos dos<br />

visitantes: maneiras diversas de vivenciar a instalação, em<br />

caminhos e passarelas. “A visualização da obra ao longo do<br />

caminho proporciona aos visitantes uma experiência rica e<br />

caleidoscópica, que, espero, possa desencadear sentimentos<br />

de bem-estar e alegria”, conta West, que selecionou a paleta<br />

de cores buscando justamente encorajar associações e<br />

memórias positivas.<br />

A instalação simboliza um encontro físico e metafórico entre<br />

cores e pessoas, o que intensifica sua experiência espacial (D.T.).<br />

Charles Emerson<br />

36


©Nacása & Partners Inc./Courtesy of Fondation d’entreprise Hermès<br />

¿QUÉ PASA?<br />

AS CORES DE<br />

JULIO LE PARC<br />

Les Couleurs en Jeu é a primeira exibição solo no Japão do<br />

artista argentino Julio Le Parc, em cartaz até o final de novembro<br />

na galeria Le Forum, sede da Fondation d’entreprise Hermès<br />

(braço artístico e educacional da maison francesa) no distrito<br />

de Ginza, Tóquio.<br />

Radicado na França desde 1958, Le Parc foi um dos<br />

precursores das artes ópticas e cinéticas, encorajando a<br />

amplificação de uma abordagem experimental da arte, sempre<br />

permeada por seu viés político e questionador. Após uma fase<br />

de pinturas monocromáticas, o artista embarcou em uma longa<br />

série de obras geométricas e vibrantes, buscando, por meio do<br />

uso de 14 cores concebidas por ele, explorar diferentes efeitos<br />

e sensações, como ritmo, contraste, variação, vertigem e<br />

movimento.<br />

A exibição da Maison Hermès Ginza tem foco justamente no<br />

uso das cores na vasta obra do artista, a começar pela fachada<br />

de tijolos de vidro do edifício que sedia a galeria – projetado por<br />

Renzo Piano –, tomada pela intervenção La Longue Marche ,<br />

composta de 1.421 peças coloridas de PVC.<br />

Também são exibidos aos visitantes alguns dos<br />

emblemáticos móbiles suspensos criados por Le Parc, feitos<br />

de milhares de peças metálicas ou de acrílico , além de<br />

algumas pinturas de sua fase monocromática . (D.T.)<br />

38


LUMINACRIL<br />

Tecnologia em Iluminação<br />

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Included<br />

Divulgação<br />

ECLIPSE<br />

RGBW<br />

¿QUÉ PASA?<br />

TRANSPARÊNCIAS ACESAS<br />

Luminária RGBW com<br />

32W - 40°<br />

Nitto Denko é uma empresa japonesa criada em 1918 que<br />

se dedica, entre outras atividades, ao desenvolvimento de<br />

materiais de alta performance. Na Semana de Design de Milão<br />

2021, a empresa participa pela primeira vez e apresenta uma<br />

tecnologia inovadora, a RAYCREA, com a exposição Search<br />

for Light, em consonância com sua missão de criar valor para<br />

clientes por meio da inovação.<br />

Em parceria de criação com o lighting designer japonês<br />

Kaoru Mende, do escritório Lighting Planners Associates<br />

– LPA, RAYCREA apresenta-se como uma possível direção<br />

de mudança na indústria de iluminação. Trata-se de uma<br />

tecnologia de controle de luz que abre possibilidades de<br />

linguagem: uma película sobre vidro ou acrílico com LED nas<br />

extremidades permite que a superfície acenda. Sem limite de<br />

comprimento. Com controle de intensidade. Com manutenção<br />

da transparência. Em superfícies planas ou curvas. (D.O.)<br />

Obra Centro Comercial do Castelo<br />

Arquiteto Gustavo Buzelim<br />

Lighting designer Lumani Dani Meireles<br />

Fotos Jean Assis<br />

40


JUNTOS!<br />

Divulgação<br />

¿QUÉ PASA?<br />

SAMBA-M POR<br />

SHIRO KURAMATA<br />

A ideia original para Samba-M surgiu em 1988, no<br />

vernissage da exposição In-Spiration, quando o renomado<br />

designer japonês Shiro Kuramata (1934-1991) surpreendeu os<br />

convidados, incluindo Ron Arad e Zaha Hadid, ao colocar uma<br />

luz vermelha brilhante em sua taça de champanhe. Com esse<br />

gesto lúdico e performático, Kuramata afirmava que o design<br />

tem lugar entre os objetos e a arte.<br />

Samba-M está sendo reeditada pelo fabricante japonês<br />

de luminárias Ambientec e foi lançado em 2021 no Salone del<br />

Mobile, em Milão, Itália. A luminária, que funciona com bateria,<br />

foi produzida em camada dupla de vidro fino e integrada com<br />

LED vermelho, que muda de tom com o toque. (O.M.)<br />

18 e 19 de agosto de 2022<br />

Tivoli Mofarrej Conference Hotel<br />

São Paulo | Brasil<br />

Semana da Luz 2022<br />

Daan Roosegaarde<br />

Holanda<br />

Confira os palestrantes<br />

já confirmados:<br />

Prof. Jan Blieske<br />

Alemanha<br />

Mary-Anne Kyriakou<br />

Austrália / Alemanha<br />

Ricardo Hofstadter<br />

Uruguai<br />

Rafael Leão<br />

Brasil | EUA<br />

Wim aan de Stegge<br />

Holanda | India<br />

42<br />

Inscrições abertas<br />

ledforum.com.br<br />

@ledforum<br />

#ledforum22


¿QUÉ PASA?<br />

TEATRO DO HOTEL BELMOND<br />

COPACABANA PALACE<br />

Mauro Samagaio<br />

É um enorme privilégio fazer parte do renascimento do teatro<br />

do Hotel Belmond Copacabana Palace, que ficou fechado desde<br />

1994. Principalmente neste momento em que equipamentos<br />

culturais como esse são tão importantes para assegurar nossa<br />

sanidade como indivíduos pensantes e criativos.<br />

É mais privilégio ainda participar de uma equipe colaborativa,<br />

composta do cliente e de profissionais da arquitetura, dos<br />

interiores, da programação visual, da iluminação, da automação,<br />

das instalações, do gerenciamento e da execução, que trabalhou<br />

apaixonadamente para trazer de volta esse ícone carioca.<br />

Nossa contribuição foi atuar silenciosamente, procurando<br />

revelar com muita sutileza a joia criada pela arquitetura, trazendo<br />

toques de personalidade, com luminárias desenhadas a quatro<br />

mãos com a arquitetura.<br />

Com muita emoção, convidamos todos a experimentar o<br />

nosso trabalho, ainda a ser desvendado pelo público, assim que<br />

for possível!<br />

O espetáculo precisa continuar! (Equipe LD Studio)<br />

44 45


FLUXOS DE<br />

PENSAMENTOS<br />

Texto, ilustração e fotos:<br />

Diana Joels<br />

“Num presente em que precisamos urgentemente nos<br />

entender como parte da natureza e genuinamente deixar de<br />

buscar na tecnologia soluções para problemas gerados pela<br />

própria tecnologia, não vejo assunto mais relevante à nossa<br />

profissão do que a luz natural.” Esse foi o mote para a finalização<br />

do ensaio que escrevi para a <strong>L+D</strong> 80. Nessa frase há implícita<br />

uma concepção do termo “humanidade”. Ao escrever na<br />

primeira pessoa do plural, a quem me referia? Quem somos os<br />

que “precisamos nos entender como parte da natureza”?<br />

Certamente somos uma parcela de humanos que o “guru”<br />

de muitos de nós Ailton Krenak define como aqueles que<br />

estamos nos dirigindo para determinado lugar, numa ideia<br />

prospectiva de progresso, e nesse caminhar deixando de lado<br />

tudo o que não interessa. Ainda de acordo com Krenak, esse<br />

“tudo que deixamos de lado” denomina-se sub-humanidade. E<br />

inclui muitos humanos.<br />

Eu não pretendo aqui escrever um ensaio sobre tema tão<br />

amplo e tão profundo, até porque não seria capaz, tampouco<br />

este seria o lugar. No entanto, qualquer reflexão sobre o<br />

presente nos conduz à reflexão sobre o próprio conceito de<br />

humanidade e, consequentemente, à ideia de insustentabilidade<br />

do Antropoceno – termo usado por cientistas para denominar<br />

esse período em que vivemos, para o qual não há consenso<br />

sobre quando se iniciou –, marcado pelo impacto determinante<br />

e dominante das atividades humanas sobre o planeta.<br />

Como nos ensina outro guru, Davi Kopenawa Yanomami, o<br />

resultado do inevitável colapso resultante dos impactos da ação<br />

humana sobre a Terra não será a extinção do planeta em si, que<br />

é sábio e sobrevivente, mas sim o fim da tal humanidade, nesse<br />

caso com a inclusão da sub-humanidade.<br />

Estou compartilhando este fluxo de pensamentos para<br />

admitir uma encruzilhada ideológica com que deparei em meus<br />

próprios pensamentos recentemente: a insustentabilidade do<br />

Antropoceno versus a essência do DESIGN, como “abordagem<br />

de um problema a partir dos mais diversos pontos de vista<br />

possíveis e relevantes (multidisciplinaridade e integralidade)<br />

com o objetivo de desenvolver uma solução em que o usuário/<br />

experienciador esteja no centro da equação (humanista)”.<br />

Eu me pergunto até que ponto a defesa do design como<br />

disciplina humanista, com o usuário no centro da equação, que<br />

abordei no último ensaio (sim, constrangida, assumo que as<br />

aspas anteriores são uma autorreferência), é coerente com o<br />

entendimento de que não podemos mais sustentar um modelo<br />

em que os humanos estejam no centro de nada.<br />

IMAGENS<br />

1 Ilustração para a turma de meu filho do 1º ano do ensino<br />

fundamental, após um bate-papo na escola sobre as cidades à<br />

noite, dentro de projeto pedagógico sobre cidades sustentáveis.<br />

2 Panorâmica: Luz essencial. Monte Claro, Trajano de Moraes,<br />

Rio de Janeiro.<br />

3 GEDDES, Linda. Chasing the Sun: How the Science of Sunlight<br />

Shapes Our Bodies and Minds. 1ª Edição. Nova York, EUA:<br />

Pegasus Books, 2019.<br />

4 ALBERT, Bruce; KOPENAWA, Davi. A queda do céu. 1ª<br />

Edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2015<br />

5 HANH, Thich Nhat. Love letter to the earth. 2ª Edição.<br />

Berkeley, EUA: Paralax Press, 2013<br />

6 COCCIA, Emanuele. Metamorfoses. 1ª Edição. Rio de Janeiro:<br />

Dantes Editora, 2020.<br />

7 KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. 2ª Edição.<br />

São Paulo: Companhia das Letras, 2020<br />

KRENAK, Ailton. A vida não é útil. 1ª Edição. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 2020.<br />

8 RIBEIRO, Sidarta. O oráculo da noite. 1ª Edição. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 2019.<br />

9 KËHÍRI, Tõrãmü; PÃRÕKUMU, Umusï. Antes o mundo não<br />

existia. 3ª Edição. Rio de Janeiro: Dantes Editora, 2019.<br />

10 ZAJONC, Arthur. Catching the Light: The Entwined History<br />

of Light and Mind. 2ª Edição. Nova York, EUA: Oxford University<br />

Press, 1995.<br />

Essa encruzilhada é quase retórica, pois o futuro que<br />

dela emerge depende de uma humanidade que não se separe<br />

da natureza nem exclua povos e seres. Acredito, sim, numa<br />

compatibilização entre as escalas do fazer que garanta a<br />

manutenção do foco da experiência no usuário em harmonia com a<br />

urgência de um novo paradigma metodológico, necessariamente<br />

regenerativo. Será denominado Design Ecocêntrico?<br />

Sustentável, além de um termo cansado e muitas vezes<br />

vazio, já não dá conta. Mesmo que um projeto ou um produto<br />

seja verdadeira e amplamente sustentável, estará em deficit<br />

globalmente, pois chegamos a um ponto do impacto em que<br />

precisamos não apenas não deixar uma pegada de destruição,<br />

mas também regenerar.<br />

Nos sistemas de produção de alimento, esse modelo já existe<br />

e foi batizado de sintrópico, em referência ao princípio de sintropia,<br />

caracterizado na ciência por integração, equilíbrio organizacional<br />

e preservação de energia no ambiente. A partir da agricultura<br />

sintrópica ou agroflorestal, é possível hoje produzirmos alimentos<br />

e simultaneamente promovermos a regeneração da terra, das<br />

águas, dos microclimas, dos ecossistemas. A agrofloresta,<br />

sistematizada e difundida pelo suíço radicado na Bahia Ernst<br />

Götsch, inspira-se na dinâmica natural dos ecossistemas<br />

virgens para o manejo regenerativo da Terra, acelerando os<br />

processos de sucessão e gerando alimentos de forma ecológica<br />

e economicamente viável, inclusive do ponto de vista da escala.<br />

46 47


Nota dos Editores<br />

As capas dos livros que ilustram este ensaio, são sugestões de<br />

leitura que inspiraram os fluxos de pensamentos do texto da autora.<br />

Será então “Design Sintrópico” o nome e o caminho do<br />

paradigma metodológico que necessitamos desenvolver?<br />

Assim como na agricultura, nos inspiraremos em dinâmicas<br />

naturais para reorganizar nossa abordagem na atividade protejual?<br />

Se em meu último ensaio “Em louvor do Design” compartilhei<br />

a sistematização de muitas questões de forma objetiva e discuti<br />

caminhos a partir de sólidas certezas, o presente ensaio abraça<br />

o espírito de fluxo de pensamentos que se seguiu ao primeiro e<br />

vem carregado de muitas perguntas e algumas ideias coletadas<br />

na busca por respostas.<br />

Na minha forma de pensar, não resta dúvida que o caminho<br />

é olhar para as origens. É na ancestralidade que encontraremos<br />

o análogo aos “ecossistemas virgens” no campo do design.<br />

Não por acaso, até onde eu conheço, na visão ancestral de<br />

todas as culturas do planeta, a relação homem-natureza é<br />

indissociável, como fica evidente no lindo e objetivo livro Love<br />

letter to the Earth, do ativista pela paz e mestre budista Thich<br />

Nhat Hanh.<br />

Recuperando o tripé da essência do DESIGN como<br />

abordagem que abarca integralmente um problema na busca<br />

de solução com foco na experiência humana: se precisamos<br />

urgentemente enfatizar a dimensão ecológica do aspecto<br />

humanista, a multidisciplinaridade e a natureza integral são<br />

fundamentais para essa re-definição em si.<br />

O design existe para sistematizar diferenças (não para<br />

construí-las) e, para tal, necessita gerar muitas perguntas, de<br />

forma que o projeto no fim de um longo processo seja o conjunto<br />

de respostas simples que dão conta ao máximo daquelas<br />

complexas perguntas.<br />

O entendimento sistêmico é, portanto, um desdobramento<br />

natural da essência integral do design e certamente nos ajudará<br />

a expandir ainda mais nossas atitudes e reflexões em nosso<br />

fazer profissional e cotidiano, se aplicarmos esse entendimento<br />

para além de nossos projetos em si. Vamos lá?<br />

É um fato que nos últimos 20 anos está havendo uma<br />

revolução científica no campo da cronobiologia. Como<br />

todos sabemos, a biologia circadiana tem sido aplicada pela<br />

Nasa, pelas Forças Armadas americanas e por atletas de alta<br />

performance, assim como sistemas de iluminação artificial<br />

inspirados pelos ciclos circadianos têm sido utilizados em<br />

hospitais, escolas e espaços corporativos, para acelerar a<br />

recuperação de pacientes, potencializar o foco de estudantes e<br />

o rendimento de trabalhadores, respectivamente.<br />

De acordo com Linda Geddes, jornalista inglesa especialista<br />

em ciências, biologia, medicina e tecnologia, o que temos<br />

testemunhado no campo científico atualmente é uma cada<br />

vez mais clara e profunda compreensão da nossa vital relação<br />

biológica com o sol.<br />

A ciência contemporânea nos fornece dados e fatos que<br />

explicitam quão fundamental é essa relação. A indústria se<br />

apropria de parte desses dados para produzir tecnologia<br />

alinhada com essas “descobertas”.<br />

Esse entendimento, no entanto, é também natural e<br />

ancestral. Na História, nas religiões e nas mitologias, há<br />

inúmeros simbolismos em torno da figura do sol. Nossos<br />

ancestrais não apenas reverenciavam o sol de uma perspectiva<br />

espiritual, como tinham consciência de seus benefícios para<br />

a saúde. Romanos, gregos, egípcios e babilônios – para falar<br />

dos povos antigos que temos muito bem documentados no<br />

Ocidente –, todos reconheciam as propriedades curativas do sol.<br />

Há diversos registros nesse sentido, como o enorme solário que<br />

havia no centro de tratamento que Hipócrates, conhecido como<br />

pai da medicina moderna, tinha na ilha grega de Kos.<br />

Da mesma forma que Hipócrates pregava que se<br />

observassem as variações das estações para ajustes de<br />

comportamentos e hábitos na Grécia Antiga, em uma mesaredonda<br />

online a que assisti no ano passado sobre luz e<br />

saúde, Anna Wirz-Justice, Ph.D. e professora emérita no<br />

Centro de Cronobiologia da Universidade de Basel, advogou<br />

pela necessidade de nos conectarmos com a natureza e nos<br />

permitirmos viver as estações com suas especificidades. Ela<br />

propôs a dissolução das barreiras entre espaços internos e<br />

espaços externos como estratégia de melhoria da qualidade<br />

de vida a partir dos conhecimentos da cronobiologia aplicados<br />

à arquitetura. Finalmente, sugeriu que a cronobiologia fosse<br />

rebatizada de “cronoecologia”.<br />

Claramente, nosso “Design Eco-cêntrico” ou “Design<br />

Sintrópico” não se baseará num retorno às cavernas, para<br />

estabelecimento de uma relação mais saudável com a luz. No<br />

entanto, sem dúvida, abraçará o reconhecimento de que tanto o<br />

excesso de luz artificial à noite como a abstinência de luz solar<br />

durante o dia têm implicações negativas para a vida. No fim das<br />

contas, trata-se de reconhecer que evoluímos em uma Terra<br />

redonda que gira em torno de seu eixo inclinado, produzindo os<br />

dias e as noites, e precisamos urgentemente nos reconectarmos<br />

com esses extremos. Tão básicos.<br />

Para além de nos reconectarmos com a natureza, acredito<br />

que, numa perspectiva ecológica, precisamos nos reconectar<br />

com a nossa natureza ancestral. Com orgulho, citei aqui<br />

pensadores contemporâneos indígenas brasileiros, os que<br />

mais leio atualmente, mas não consegui fugir de Hipócrates,<br />

representando as culturas antigas que mais estudei na<br />

minha formação escolar. Sim, me faltam referências sólidas<br />

dos povos originários de nossa terra, apesar de saber que<br />

está nos conhecimentos desses povos o caminho para o<br />

desenvolvimento do tal paradigma que nos norteará na aplicação<br />

de novas tecnologias e adventos decorrentes dos mais recentes<br />

desenvolvimentos científicos de forma sistêmica e sintrópica.<br />

Neste sentido, quero finalizar com uma provocação. No<br />

Clube de leitura do Women in Lighting Brasil, decidimos ler um<br />

texto chamado “Pytun Jera - Desabrochar da Noite”, transcrição<br />

de uma fala do líder indígena Carlos Papá Mirim, publicado em<br />

forma de caderno, pela editora Dantes. Dentre muitas outras<br />

coisas, Carlos Papá diz que o escuro é uma energia muito forte e,<br />

sendo energia feminina, o escuro é a mãe do Universo. Em uma<br />

retrospectiva dos termos que sua língua utiliza para nomear<br />

elementos da natureza, menciona água, terra, ar, árvore, sangue<br />

e o escuro, responsável por todo o Universo. Simultaneamente,<br />

eu estava fazendo uma outra leitura que me levou ao Cântico do<br />

Irmão Sol, em que São Francisco de Assis elenca como criaturas:<br />

o sol, a lua e as estrelas, a água, a terra, o vento e o fogo. Me<br />

chamou muito a atenção esse contraponto entre o escuro como<br />

mãe do Universo e o fogo como a luz que espanta o escuro na<br />

ausência do sol.<br />

Sem entrar no mérito de qualquer questão religiosa, essa<br />

dualidade me parece explicitar a necessidade de expandirmos<br />

nossos conhecimentos mais basais e aprendermos,<br />

aprofundarmos e incorporarmos a visão de mundo de<br />

nossos povos originários à nossa cultura, inclusive em nosso<br />

entendimento da luz. E da escuridão.<br />

48 49


RICHEMONT<br />

Texto: Orlando Marques<br />

Fotos: Maíra Acayaba<br />

Richemont é uma empresa suíça de artigos de luxo do<br />

conglomerado de negócios fundada pelo magnata sul-africano<br />

Anton Rupert. A empresa é dona de diversas marcas, incluindo<br />

Piaget, Van Cleef & Arpels, Chloé, Baume & Mercier, Alaïa,<br />

entre outras.<br />

Em São Paulo, a Richemont abriu escritório de representação<br />

de duas de suas marcas, a alemã Montblanc e a francesa Cartier,<br />

que tem, dentre suas maiores criações, o relógio Santos, de 1906,<br />

o primeiro relógio de pulso da marca, feito a pedido do aviador<br />

brasileiro Santos Dumont para ver as horas durante o voo.<br />

O projeto de arquitetura da sede das marcas foi desenvolvido<br />

pelo escritório Gingaa Estúdio, de Alexandre Cafcalas, e o<br />

projeto de iluminação é do escritório Estúdio Carlos Fortes, do<br />

arquiteto Carlos Fortes.<br />

Os mesmos princípios de simplicidade e praticidade<br />

aplicados no relógio Santos são observados nos projetos dos<br />

arquitetos. Os espaços são marcados por acabamentos naturais,<br />

madeira e mármore e detalhes de iluminação integrados no<br />

tecido da arquitetura.<br />

A recepção é destacada por nichos verticais iluminados, de<br />

piso a teto, distribuídos esparsamente, que desaparecem em<br />

outro nicho luminoso, na linha do forro. O balcão da recepção,<br />

um prisma retangular de mármore, é sublinhado por iluminação<br />

indireta que destaca o piso de madeira, sendo iluminado por<br />

arranjo de pendentes tubulares de latão.<br />

Os nichos verticais da recepção possuem perfil de LED com<br />

difusor translúcido, 9,6 W/m, 912 lm/m, 3.000 K, escondidos<br />

em ambos os lados dos nichos. Na linha do forro, o sistema<br />

compostos de perfil estrutural de borda infinita abriga perfis de<br />

LED com difusor translúcido, 10,8 W/m, 1.200 lm/m e 2.700 K.<br />

50 51


52 53


O layout dos espaços corporativos é segmentado em<br />

dois ambientes, cada qual para o uso de uma marca. A paleta<br />

de acabamentos segue com tonalidades sóbrias e mobiliário de<br />

linhas simples e ortogonais. Nas áreas de staff, o desenho do<br />

forro, de nuvens acústicas suspensas sob a laje, é ordenado pela<br />

distribuição das bancadas de trabalho. Intercalados entre elas e<br />

diretamente sobre as bancadas, pendentes lineares as iluminam<br />

de maneira difusa e uniforme.<br />

Nas salas executivas e de reuniões, alinhadas em toda<br />

a extensão do staff, as paredes do fundo foram destacadas<br />

por detalhe de iluminação indireta, e os planos de trabalho,<br />

por luminárias embutidas com fonte luminosa recuada ou por<br />

pendentes decorativos. As salas de reuniões maiores seguem os<br />

princípios dos demais ambientes, com iluminação para destaque<br />

das paredes, por meio de sancas, luminárias embutidas e<br />

pendentes decorativos.<br />

Nas áreas de descanso e copa, luminárias pendentes<br />

de diferentes diâmetros flutuam sob a laje com instalações<br />

aparentes, pintados na cor da Richemont. Sobre as mesas altas<br />

da copa e do break room, pendentes decorativos de meia esferas<br />

luminosas completam o projeto.<br />

RICHEMONT<br />

São Paulo<br />

Projeto de iluminação:<br />

Estúdio Carlos Fortes<br />

Projeto de arquitetura:<br />

Gingaa Estúdio<br />

Fornecedores:<br />

Ana Neute (Itens Collections),<br />

Lightsource, Lumini, Luxion e Stella<br />

As salas de reuniões são iluminadas por luminárias embutidas<br />

no forro 12,5 W, 38°, 974 lm, 2.700 K, iluminação periférica<br />

na linha do forro, por meio de sancas para iluminação difusa,<br />

semelhante à das salas da recepção, e pendentes decorativos.<br />

Na sala de staff, sistema linear pendente de LED com 2.240 mm<br />

de comprimento, 68 W, 5.808 lm, 3.000K.<br />

Nas áreas de descanso foram especificadas luminárias circulares<br />

com 600 mm, 800 mm e 1.200 mm de diâmetro e 5.040 lm,<br />

10.080 lm, 16.800 lm de fluxo, respectivamente, e 3.000 K.<br />

54 55


SÃO CINCO<br />

OS SENTIDOS?<br />

Texto: Diogo de Oliveira<br />

Fotos: André Klotz<br />

A loja de colchões Zissou abriu recentemente nos Jardins,<br />

em São Paulo, e trouxe algumas direções para questões centrais<br />

do nosso tempo. Qual é a função de uma loja física em tempos<br />

de comércio eletrônico e de medidas de distanciamento social.<br />

Como oferecer ao cliente envolvimento com a marca, vivido<br />

apenas presencialmente e com o produto. Como a experiência<br />

do sono e do sonho nos conecta com a natureza, com nossa<br />

realidade sensorial e metabólica, com o autocuidado e com<br />

nossa saúde. E finalmente, como os projetos de arquitetura e<br />

de iluminação lidam com essas questões na produção de um<br />

espaço–experiência.<br />

56 57


Um pouco como uma das etapas do sono, não tão acessível,<br />

no fundo do pavimento térreo há um quarto reservado “para<br />

sonhar”: uma instalação imersiva de luz, realizada em parceria<br />

com o coletivo de arte Modular Dreams, que é composta de<br />

colchão, som e piso de palha contra o carpete, o que resume a<br />

intenção do projeto e da experiência com a marca.<br />

Nos percursos de experiência dos clientes pela loja estão<br />

expostos produtos derivados dos colchões, além das camas<br />

dispostas para que o público se deite e aprecie suas densidades.<br />

A vista do teto faz parte da fruição, com retângulos de papelão<br />

ou luminárias de acrílico, no mesmo formato.<br />

A LOJA<br />

Em uma casa típica da região, um sobrado singelo que,<br />

assim como os vizinhos, já serviu um dia de residência familiar,<br />

o espaço foi organizado pelo escritório de arquitetura Estúdio<br />

Guto Requena, baseado em percursos de experiência de clientes,<br />

um a um. Entramos sem sapatos, o primeiro sinal do partido do<br />

projeto: o apelo sensorial ampliado.<br />

As cores da marca organizam a divisão dos dois espaços à<br />

primeira vista: o pavimento térreo é pintado do piso às paredes<br />

na cor coral, e o superior e o teto, em azul. Os revestimentos, no<br />

entanto, acentuam o contraste de tons: o coral no carpete e nas<br />

caixas de papelão desniveladas de parte das paredes; e o azul nas<br />

caixas de papelão até cobrir todo o teto. Papelão, vale lembrar,<br />

como as caixas em que os colchões chegarão à casa dos clientes.<br />

São apresentados na loja dois tipos de colchão: o coral e o blue.<br />

Logo na entrada, a primeira cama, do tipo coral, está ali<br />

para que o cliente deixe seu peso ao deitar comunicar sobre<br />

a densidade das camadas do colchão. E a posição deitada é<br />

também contemplada no campo de visão, com a extensa<br />

composição de retângulos ora de papelão, ora de luminárias<br />

de teto.<br />

Uma escada branca nos eleva ao mezanino azul, onde está o<br />

colchão do tipo blue, e novos ângulos deitados de visão podem<br />

ser apreciados, agora mais próximos das composições do forro<br />

e com acesso à vista mais ampla do conjunto da loja.<br />

No percurso, os produtos derivados dos colchões seguem<br />

o mesmo apelo aos sentidos: travesseiros, fronhas com suas<br />

camadas e seus tecidos, aromas de ambiente, tudo ao alcance<br />

das mãos e da face.<br />

58 59


A ILUMINAÇÃO<br />

O projeto de iluminação executado pelo escritório Foco Luz<br />

& Desenho atendeu a três desafios principais: prazo curto, custo<br />

restrito e inovação ampliada.<br />

Os objetivos eram dar o devido destaque tanto aos produtos<br />

que são carros-chefes da marca, as camas, quanto às mesas<br />

de atendimento, o que foi alcançado por meio de luminárias<br />

pontuais; e produzir iluminação difusa, em consonância com o<br />

conforto dos percursos de experiência dos clientes.<br />

A iluminação difusa parte de alguns recursos principais:<br />

linhas minimalistas de perfis de LED sobrepostos ao forro que<br />

direcionam os clientes desde a entrada da loja até o fundo dela (e<br />

ao Quarto para sonhar); iluminação linear integrada nos volumes<br />

retangulares das paredes; luminárias retangulares nas mesmas<br />

dimensões no teto, também de perfil de LED, aqui embutido no<br />

acrílico branco; nichos iluminados por perfis de LED embutidos<br />

na parte superior dos expositores; e, finalmente, a escada, cuja<br />

iluminação vem de perfis integrados nos corrimãos.<br />

SENTIDOS<br />

Desse modo, os percursos conduzidos pelos consultores<br />

de experiência na Casa Zissou tornaram-se possíveis pelas<br />

arquiteturas física e de iluminação, atualizando os sentidos do<br />

varejo e a relação de clientes com a marca e de produtos com a<br />

natureza dos clientes. Com sua fisiologia. Com seu metabolismo.<br />

A iluminação em perfis de LED integrados nos corrimãos da<br />

escada é um dos recursos para produzir luz difusa e confortável.<br />

No Quarto para sonhar, uma instalação imersiva resume a<br />

intenção do projeto e da experiência com a marca.<br />

CASA ZISSOU<br />

São Paulo<br />

Projeto de iluminação:<br />

Foco Luz & Desenho<br />

Projeto de arquitetura:<br />

Estúdio Guto Requena<br />

Instalação ‘Quarto para sonhar’:<br />

Modular Dreams<br />

Cenografia e obra:<br />

GTM Cenografia<br />

Fornecedores:<br />

LD Arti<br />

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Quem passa pela Rua Cônego Eugênio Leite, em Pinheiros,<br />

São Paulo, quase não percebe uma água de telhado feita de<br />

tábuas enegrecidas e justapostas, cobrindo a discreta entrada<br />

do restaurante Kotori.<br />

Inaugurado em fevereiro deste ano, o local teve sua<br />

ambientação baseada numa ideia de “imersão no imaginário<br />

cultural do Japão”, nas palavras do arquiteto Guile Amadeu,<br />

um dos autores do projeto. Conjuntos de peças em pinus,<br />

amarradas e encaixadas entre si conforme a técnica japonesa,<br />

são montados como cenários num palco. O washi, papel<br />

especial feito de fibras dos arbustos Kozo, Gampi e Mitsumata,<br />

foi também inspiração para o desenho de alguns elementos<br />

de fechamento do mobiliário do salão, incorporando a ideia de<br />

leveza dessa técnica milenar.<br />

Mas é a luz o outro elemento importante da composição<br />

dos interiores, seja ao valorizar as superfícies desse jogo de<br />

armar, seja se infiltrando através do papel washi, ou mesmo<br />

atendendo à expressa demanda do proprietário e chef<br />

Thiago Bañares, de manter os pratos dos clientes facilmente<br />

fotografáveis, conforme explica o arquiteto Marcos Castilha,<br />

lighting designer desse projeto.<br />

IMERSÃO EM<br />

CENÁRIOS LUMINOSOS<br />

Na página anterior, perfis de LED 4,8 W/m, 2.700 K, IRC > 80<br />

iluminam os painéis inclinados em madeira. Atrás dos sarrafos,<br />

uma barra de LED 800 lm/m, 2.700 K, IRC > 80, dimerizável<br />

ilumina de baixo para cima.<br />

Abaixo, a entrada do estabelecimento.<br />

Texto: Gilberto Franco<br />

Fotos: Rubens Kato<br />

62 63


Logo à entrada vemos um pequeno salão com duas mesas<br />

e um conjunto de pendentes de papel plissado, dando boasvindas<br />

aos clientes. À direita, um balcão defronte ao vidro da<br />

fachada abriga os primeiros comensais, que podem desfrutar a<br />

vista externa. Em seguida, o sushi bar, composto de um balcão<br />

em “U”, coberto por duas fileiras de prateleiras, e de onde já se<br />

pode avistar o salão maior, este coberto por uma interessante<br />

estrutura de planos em “V” invertido, tudo sempre em madeira<br />

pinus. O fundo do lote abriga a cozinha, exposta aos clientes,<br />

bem como as demais áreas operacionais.<br />

Sobre o balcão da fachada, um perfilado metálico abriga<br />

microprojetores teatrais com luz para baixo, que garantem<br />

a iluminação do tampo. Já as prateleiras sobre o sushi bar<br />

iluminam umas às outras, sempre da mais baixa para a mais alta,<br />

por meio de barras de LED apontadas para cima e nunca visíveis.<br />

As prateleiras inferiores, por sua vez, recebem luminárias de<br />

espessura mínima incrustadas na madeira, destinadas a iluminar<br />

o tampo do balcão do bar.<br />

No salão do fundo, os “V” invertidos são iluminados por<br />

iluminação indireta, formando um delicado conjunto luminoso.<br />

O recurso de se utilizar fontes de luz lineares aninhadas na<br />

própria madeira é, aliás, um tema encontrado ao longo de todos<br />

os cenários. Nos vértices, um microprojetor de teatro igual ao já<br />

descrito garante a iluminação – e a boa foto – dos pratos servidos.<br />

No sentido horário: além da iluminação indireta, microprojetores<br />

do tipo “cênico”, para lâmpadas MR16 7 W, 15°, 3.000 K,<br />

IRC > 80, dimerizáveis iluminam os tampos de mesa, tornando<br />

os pratos “instagramáveis”.<br />

Luminárias difusas 2 W, 120 lm, 3.000 K embutidas na<br />

marcenaria iluminam balcão e prateleiras. Perfis de LED<br />

4,8 W/m 2.700 K, IRC > 80 iluminam a frente do balcão. Os<br />

quadros foram intencionalmente deixados sem luz. Toda a<br />

iluminação é dimerizada manualmente, variando de intensidade<br />

entre o almoço e o jantar.<br />

As paredes laterais, que têm na parte superior um painel<br />

de papel washi, estruturado por sarrafos verticais de madeira,<br />

recebem iluminação backlight de uma barra de LED. Abaixo<br />

dessa estrutura, as obras de arte são percebidas apenas pela<br />

luz refletida do ambiente, o que as deixa livres de clarões ou<br />

sombras indesejadas. Os interstícios que separam os diferentes<br />

cenários são sempre complementados por perfilados que<br />

sustentam microprojetores, ora iluminando o piso com fachos<br />

mais abertos, ora focados em pontos de interesse.<br />

Ao fundo, a cozinha – exposta aos clientes – constitui-se de<br />

uma ilha central com coifa e reflete “todo o processo de concepção<br />

do chef”, nas palavras de Guile. Uma linha de luminárias em “O”<br />

em 3.000 K em torno dessa coifa traduz essa clareza funcional.<br />

Todo o conjunto foi dimerizado, de forma a permitir a<br />

adequação aos diferentes momentos do dia, sejam almoços<br />

movimentados, sejam jantares tardios.<br />

RESTAURANTE KOTORI<br />

São Paulo<br />

Projeto de iluminação:<br />

Castilha Iluminação<br />

Marcos Castilha (arquiteto titular)<br />

Brenda Lelli (arquiteta coordenadora)<br />

Projeto de arquitetura e interiores:<br />

Coletivo de Arquitetos<br />

Arquiteto Guile Amadeu e Rodrigo<br />

Lacerda (arquitetos titulares)<br />

Luna Viana (arquiteta coordenadora)<br />

Cliente:<br />

Thiago Bañares<br />

Fornecedores:<br />

Finder, Interligh, Ledplus, Mecalux,<br />

Mel Kawahara e Stella<br />

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CASA, GALERIA, NATUREZA<br />

E HARMONIA<br />

Texto: Débora Torii | Fotos: Maíra Acayaba<br />

Se todos os projetos fluíssem assim tão bem...<br />

Quando o lighting designer Guinter Parschalk foi convidado<br />

por um cliente amigo de longa data para mais um projeto,<br />

não imaginava que a experiência seria tão rica e prazerosa. O<br />

projeto de iluminação para a nova residência de férias da família<br />

na Fazenda Morro Alto, no interior de São Paulo, tinha tudo<br />

para ser complexo: a parceria inédita com o arquiteto Alfredo<br />

Barbosa, autor do projeto; o programa extenso, que incluía um<br />

estúdio de música, uma cozinha industrial e uma biblioteca,<br />

relacionados às áreas de atuação dos três filhos do proprietário<br />

(música, gastronomia e administração); uma vasta coleção<br />

de obras de arte a ser exposta por toda a casa – incluindo nas<br />

áreas externas – e, por fim, o desejo de que fosse um projeto<br />

sustentável e energeticamente eficiente.<br />

Deu tudo certo. E a integração entre todas as equipes de<br />

projeto, incluindo a designer de interiores Lucia Ravache e o<br />

paisagista Luciano Fiaschi, foi essencial para o bom resultado.<br />

A confiança do cliente no trabalho de Guinter e da equipe do<br />

escritório studioix, do qual é titular, também fez toda a diferença.<br />

Praticamente com carta branca em mãos, os lighting designers<br />

puderam aplicar soluções não convencionais para esse tipo de<br />

projeto, como o uso de equipamentos com tecnologia branco<br />

dinâmico, para controle da temperatura de cor nas áreas sociais,<br />

e a iluminação RGB no home theater.<br />

A linguagem limpa da arquitetura favorece a integração com<br />

a natureza por meio das aberturas amplas e dos extensos<br />

panos de vidro.<br />

A iluminação sutil do paisagismo no entorno imediato da<br />

casa contribui com sua inserção na paisagem da fazenda.<br />

66 67


A premissa da sustentabilidade – motivada pelo perfil<br />

ambientalista de um dos filhos do proprietário – evoluiu para o<br />

desejo de certificar o projeto por meio do Selo Aqua, levando a<br />

equipe do studioix à realização de cálculos luminotécnicos de<br />

praticamente todos os ambientes da residência, o que também<br />

não é um procedimento comum para essa tipologia de projeto.<br />

Além da eficiência energética, outro elemento determinante<br />

para a escolha dos equipamentos de iluminação das áreas<br />

sociais foi a materialidade do forro, constituído de ripas de<br />

madeira com diferentes tonalidades, seções e espaçamentos.<br />

Os lighting designers optaram por uma linha de equipamentos<br />

miniaturizados, que se encaixasse no menor espaçamento<br />

existente e oferecesse variedade em opções de fachos e fluxos<br />

luminosos. Ainda assim, foram necessários ajustes finos in loco,<br />

para evitar a ocorrência de sombras ou manchas por causa da<br />

configuração irregular do forro.<br />

As áreas sociais da residência foram iluminadas<br />

predominantemente por projetores miniaturizados com<br />

LED 6 W, 50˚, 2.700 K, embutidos entre as ripas de madeira<br />

do forro. Em alguns ambientes optou-se por equipamentos com<br />

tecnologia tunable white, com temperatura de cor ajustável<br />

entre 2.700 K e 5.700 K.<br />

Para o destaque das obras de arte foram utilizados projetores<br />

orientáveis fixados em trilhos eletrificados, aplicados entre ripas.<br />

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O projeto de arquitetura é marcado pela estrutura metálica<br />

esbelta e pelos amplos beirais de madeira, priorizando a<br />

conexão com a natureza por meio da predominância dos planos<br />

de vidro – o que também favorece a ventilação natural dos<br />

ambientes. Dessa forma, o cuidado com a iluminação do espaço<br />

externo foi essencial, de forma a criar vistas agradáveis durante<br />

a noite, porém sem destoar da escuridão natural da paisagem do<br />

restante da fazenda, ao fundo.<br />

A linguagem limpa da arquitetura permite que as obras<br />

de arte sejam as protagonistas. A vasta coleção de pinturas,<br />

esculturas, mobiliário e outros itens predominantemente<br />

brasileiros – incluindo três “cavaletes de cristal” originais do<br />

Masp – levou à escolha de sistemas de iluminação flexíveis,<br />

como projetores orientáveis em locais estratégicos, para<br />

ambientes em que as obras seriam definidas somente após a<br />

conclusão do projeto.<br />

O terreno contava originalmente com uma grande quantidade<br />

de pedras e rochas de grande porte que foram incorporadas<br />

ao projeto de arquitetura e ao de paisagismo.<br />

Dentre as inúmeras obras de arte em exibição, diversas<br />

luminárias decorativas compõem os interiores da residência.<br />

Um dos destaques é o pendente-escultura Coordinates,<br />

criado pelo designer Michael Anastassiades para a Flos.<br />

A configuração da peça instalada na sala de jantar foi<br />

desenhada especialmente pelo próprio designer para esse<br />

projeto, adaptada para a aplicação – até então inédita – em<br />

um ambiente residencial.<br />

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RESIDÊNCIA FAZENDA<br />

MORRO ALTO<br />

São Paulo<br />

Acima, a escultura 30-45, criada por Guinter Parschalk, cujo<br />

título apresenta os ângulos de rotação da chapa espelhada de<br />

aço inox fixada dentro do espelho d’água.<br />

À direita, a escultura de mármore inspirada na lua, cujo relevo<br />

foi ressaltado por meio de dois projetores orientáveis com LED<br />

de facho concentrado, dotados de filtros para diferenciar suas<br />

temperaturas de cor.<br />

Projeto de iluminação:<br />

studio ix<br />

Guinter Parschalk (arquiteto titular)<br />

Thais Longhini Barbeiro<br />

(arquiteta coordenadora)<br />

Projeto de arquitetura:<br />

Alfredo Barbosa Arquitetura e Urbanismo<br />

Alfredo Barbosa (arquiteto titular)<br />

Projeto de interiores:<br />

Lucia Ravache Arquitetura e Interiores<br />

Lucia Ravache (arquiteta titular)<br />

Projeto de paisagismo:<br />

LF Arquitetura Paisagística<br />

Luciano Fiaschi (arquiteto titular)<br />

Execução:<br />

Atai Engenharia<br />

Certificação:<br />

Inovatech Engenharia<br />

Automação:<br />

Steluti Engenharia<br />

Execução escultura 30-45:<br />

Móveis Fenix<br />

Fornecedores:<br />

Dimlux (DCW éditions), e:light<br />

(Artemide, Davide Groppi, Embraluz,<br />

Erco, Flos, Foscarini, Moooi, Tensoflex,<br />

Vibia), Fasa Fibra Ótica, Lightsource,<br />

Lutron, Luxion, Osvaldo Matos (iGuzzini,<br />

O/M), Varuzza (Carl Thore)<br />

Algumas esculturas, no entanto, foram escolhidas<br />

previamente, como a escultura de mármore que remete à<br />

lua, iluminada por meio de dois projetores orientáveis com<br />

diferentes temperaturas de cor, com o objetivo de destacar o<br />

relevo da peça, simulando um efeito de luz e sombra por meio<br />

da diferença de cor da luz em sua superfície.<br />

Resgatando o início de sua vida profissional como artista<br />

plástico, o próprio Guinter assina uma das esculturas exibidas<br />

na área externa da residência. A obra 30-45 remete à ideia de<br />

movimento por meio de uma grande placa revestida de aço<br />

inox espelhado, cravejada no espelho d’água, que reflete o<br />

movimento do sol e das nuvens ao longo do dia.<br />

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VISITA AO ATELIER<br />

DE JAC LEIRNER<br />

Texto: Emilia Ramos e Fernanda Carvalho<br />

Fotos: Nelson Kon<br />

Foi uma visita para conhecer o trabalho de iluminação de Gil<br />

Franco para o ateliê de Jac.<br />

A artista Jac Leirner é conhecida por seu trabalho meticuloso,<br />

quase obsessivo, de coleções de coisas peculiares e particulares.<br />

Era noite. Na chegada, abriu-se a porta de ferro grande da<br />

calçada, e entramos em um ambiente com piso escuro de pedra<br />

iluminado apenas pelas sobras de luz da rua. Uma segunda<br />

porta se abriu para outro ambiente, branco.<br />

No pé-direito duplo do galpão, uma linha que estrutura dois<br />

efeitos luminosos: luz indireta linear banhando a cobertura<br />

metálica e luz direta, por meio de projetores em trilho<br />

eletrificado, reforçando os planos de trabalho e banhando<br />

as paredes.<br />

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Ficamos um tempo no espaço, criado como um grande galpão<br />

único, com telhado metálico de duas águas, descentralizado,<br />

com um shed que ventila e ilumina naturalmente. Não tivemos<br />

a oportunidade de ver o espaço banhado pela luz natural. Esse<br />

lugar branco abriga um móvel-ambiente-mezanino de madeira.<br />

Exploramos o móvel, observando de perto, de longe, por dentro,<br />

por cima, contando e encontrando detalhes. Lembrava o interior<br />

de um avião, talvez pelos carrinhos “roubados” e apropriados pela<br />

artista, ou talvez pelo desenho detalhado dos usos planejados.<br />

Perguntamos a Jac o que ela queria daquele espaço, e ela<br />

sorriu. Disse que era tudo o que queria, estava feliz com o seu<br />

espaço, e a luz era exatamente como imaginou. Era perceptível<br />

na fala de Jac uma confiança linda no trabalho do amigo Gil.<br />

Contou-nos que o ateliê é lugar de trabalho e de receber gente.<br />

E foi exatamente isso que aconteceu.<br />

Ficamos ali sentados, conversando da vida e envolvidos<br />

pela luz calma e, ao mesmo tempo, curiosa. Os objetos,<br />

meticulosamente criados e colocados na parede, não tinham<br />

sombras definidas; pareciam flutuar na luz. Ficamos acolhidos<br />

e à vontade ali.<br />

O galpão branco recebe luz em toda a sua casca, e os<br />

elementos da ocupação interna – móvel-mezanino, mesa<br />

de trabalho e outros mobiliários – estão soltos no espaço. A<br />

luz difusa e homogênea contribui para essa flutuação, sem<br />

enfatizar nenhum dos elementos.<br />

Foi uma surpresa: ao entrar, vimos a luz. Simples. Sofisticada.<br />

Delicada.<br />

Um veludo de luz clara com poucos brilhos e destaques.<br />

Invisível, escondida atrás das estruturas do telhado, e integrada<br />

às terças de aço, iluminando o teto e o ar. Tudo foi resolvido em<br />

um ponto do corte. “Tudo aqui é clareza, a luz é muito clara, a<br />

arquitetura é muito clara. E isso de resolver tudo de um ponto só<br />

é muito minha cara!”, fala Gil.<br />

Uma linha de luz linear direta complementa a iluminação na<br />

parte de cima do móvel-mezanino. O encontro entre os três<br />

efeitos de luz no teto é equilibrado, integrando os espaços.<br />

A colocação dos equipamentos de luz e dos demais elementos<br />

de instalações no teto é bem resolvida. Não há competição<br />

ou interferência visual de um elemento sobre o outro. São<br />

independentes e autônomos.<br />

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Acima, o belo contraste entre o branco e o preto, a luz e a<br />

sombra.<br />

Ao lado, vemos como Gil resolveu de forma extremamente<br />

simples a luz dos ambientes.<br />

Na conversa, que passou por assuntos dos mais diversos,<br />

Gil nos contava que a luz foi criada para integrar o espaço, e não<br />

para aparecer. Os ângulos da peça linear foram meticulosamente<br />

desenhados para a justa inclinação… Tudo tem uma incrível<br />

precisão. Mas ele mesmo pareceu surpreso ao ver o resultado de<br />

seu projeto de luz, contornando as obras de forma tão mágica.<br />

Um dia desses ouvimos de um amigo arquiteto que “luz tem<br />

opinião”, e aqui ela parece estar totalmente à vontade, decidindo<br />

seus caminhos.<br />

Foi um prazer conhecer a luz de Gil para Jac.<br />

Sob o móvel-mezanino, uma única linha preserva a fresta entre<br />

o móvel e a parede e deixa a aba de madeira livre, ressaltando a<br />

laje em balanço. Dessa posição, ilumina a circulação e espaços<br />

de apoio de forma direta e difusa.<br />

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ESTÚDIO JAC LEIRNER<br />

São Paulo<br />

Projeto de iluminação:<br />

franco+berriel<br />

Gilberto Franco e Livia Berriel<br />

(arquiteto e arquiteta titulares)<br />

Gabriela Pera (arquiteta coordenadora)<br />

Projeto de arquitetura:<br />

MMBB<br />

Marta Moreira (arquiteta titular)<br />

Cliente:<br />

Jac Leirner<br />

Fornecedores:<br />

Interlight e Omega Light<br />

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FOTO LUZ FOTO<br />

MAÍRA ACAYABA<br />

Escolhi esta foto pois a iluminação é protagonista na imagem.<br />

Procuro sempre fazer enquadramentos frontais, a fim de não<br />

distorcer os ambientes e centralizar motivos importantes, como<br />

a bancada de mármore, nesse caso.<br />

Sempre trabalho na temperatura de cor da imagem e<br />

também retiro elementos que criam ruídos e podem desviar<br />

o olhar do que importa: o que é o projeto em si. Nesse caso,<br />

retirei uma barreira acrílica para a proteção contra a covid-19<br />

e os alarmes de incêndio.<br />

Um dos desafios para a realização desta imagem foi bloquear<br />

a porta automática de vidro da entrada, para que eu pudesse me<br />

posicionar de frente para a bancada.<br />

Utilizei uma câmera Canon EOS 5D Mark IV, objetiva<br />

17 mm, Tilt Shift.<br />

Maíra Acayaba, 1980, vive e trabalha em São Paulo.<br />

Ao longo dos últimos 15 anos, construiu um sólido trabalho<br />

como fotógrafa de arquitetura brasileira. A preocupação com o<br />

enquadramento formal, a perspectiva de um ponto de fuga e a<br />

eliminação de qualquer ruído para que permaneça o elemento<br />

arquitetônico principal dão a tônica ao seu trabalho.<br />

É convidada a ministrar cursos e palestras em universidades,<br />

no Sesc e em museus, como o Masp. Em 2016, publicou o<br />

livro Bold and Bright – casas brasileiras, pela editora inglesa<br />

Ryland Peters & Small.<br />

Publicou o guia online de arquitetura em São Paulo SP2014.<br />

net, que foi apresentado na X Bienal de Arquitetura, com o<br />

Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH Zurich).<br />

Seu trabalho pode ser acompanhado em diversas publicações<br />

nacionais e internacionais, revistas e livros, em websites e em<br />

exposições pelo mundo.<br />

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