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Vence-demanda: educação e descolonização

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“Somos seres inconclusos e

estamos a atravessar a existência na

relação com tudo que aqui faz

morada”. Essa é uma das fortes

reflexões que atravessam as

páginas do livro do professor Luiz

Rufino. Uma reflexão urgente em

tempos de acirramento da violência

e das desigualdades no mundo.

Há uma batalha em curso. A ardilosidade

colonial do passado e que se

arrasta no presente passou a ser

mais desvelada e os movimentos

sociais e ações coletivas estão mais

alertas e prudentes. Quando a sabedoria

ancestral é o eixo central da

nossa forma de ver o mundo,

passamos a enxergar a vida como

ela é e não como as forças opressoras

desejam que a vejamos.

Nesse processo de acirramento das

tensões em torno de projetos de

vida, de sociedade e de Estado,

emergem com força saberes, experiências

e tecnologias ancestrais

que nos mantêm de pé e vivos.

É nessa confluência de forças antagônicas

que a educação se realiza e

os diferentes projetos de educação

disputam espaço e lugar. Àquelas e

àqueles que lutam por justiça social

e cognitiva se demanda uma

postura firme, uma escolha consciente

e responsável diante de um

projeto de educação que se quer

realizar. Uma educação comprometida

com a vida e com direitos.


Luiz Rufino

VENCE-

DEMANDA

educação e

descolonização


Copyright © Luiz Rufino.

Todos os direitos desta edição reservados

à MV Serviços e Editora Ltda.

revisão

Natalia von Korsch

ilustrações

Ana Flávia Baldisserotto

projeto gráfico

Patrícia Oliveira

cip-brasil. catalogação na publicação

sindicato nacional dos editores de livros, rj

Bibliotecária Meri Gleice Rodrigues de Souza — crb 7/6439

R865v Rufino, Luiz

Vence-demanda : educação e descolonização / Luiz

Rufino. – 1. ed. – Rio de Janeiro : Mórula, 2021.

84 p. ; 19 cm.

Inclui bibliografia

isbn 978-65-86464-56-6

1. Educação – Aspectos sociais. 2. Cultura. 3.

Antropologia educacional. 4. Sociologia educacional. I.

Título.

21-73458 CDD: 306.43

CDU: 316.74:37

Rua Teotônio Regadas 26 sala 904

20021_360 _ Lapa _ Rio de Janeiro _ RJ

www.morula.com.br _ contato@morula.com.br

/morulaeditorial /morula_editorial


s u m á r i o

Vence-demanda 5

Qual é a tarefa da educação? 8

Desaprender do cânone 17

Descolonizar é um ato educativo 26

Exu e Paulo Freire 38

A gira descolonial 49

A escola dos sonhos 58

Guerrilha brincante 69

r e f e r ê n c i a s 79


angiospermae

acanthaceae

Justicia gendarussa Burm.f.

nome popular: vence-demanda

área de distribuição natural: Ásia

etnobotânica: medicinal, ritualístico

Erva ereta de pequeno porte, com caule verde-escuro,

ramificado, podendo chegar a 1,5m de altura. Inflorescências

axilares, tipo espiga, com flores de tonalidades rosa a

arroxeada, com pétalas possuindo linhas roxas destacadas.

Nativa do continente asiático, é cultivada em algumas regiões

da África e principalmente nas Américas do Sul e Central,

por conta de suas propriedades medicinais e seus atributos

místicos, que lhe conferem o status de planta mágica ou

planta de poder.


Vence-demanda

educação | radical vivo que monta, arrebata

e alumbra os seres e as coisas do mundo.

Fundamento assentado no corpo, na palavra,

na memória e nos atos. Balaio de experiências

trançado em afeto, caos, cisma, conflito, beleza,

jogo, peleja e festa. Seus fios são tudo aquilo que

nos atravessa e toca. Encantamento de batalha

e cura que nos faz como seres únicos de inscrições

intransferíveis e imensuráveis. Repertório

de práticas miúdas, cotidianas e contínuas, que

serpenteiam no imprevisível e roçam possibilidades

para plantar esperanças, amor e liberdade.

descolonização | atos paridos nos vazios

daquilo que se arroga o único curso possível.

Defesa, ataque, ginga de corpo, malandragem

que contraria, esculhamba, rasura, transgride,

desmente e destrona o modelo dominante.

Folha que se canta para extrair o remédio e o

veneno. O remédio para recuperar sonhos, firmar

a liga, fechar o corpo, irmanar o velho e o novo

que farão guarda de proteção à palmeira que

sustenta a aldeia. Veneno para azeitar o ferro,

soprar pó e fumaça que quebram a maldição.

Prática cotidiana implicada com a diversidade e

o caráter ecológico das existências. Capacidade

de responder com vida a um sistema de mortandade.

Atos guerreiros que honram e comungam

das aspirações de liberdade e justiça, e combatem

o esquecimento.

5


“Não basta catar a folha, é preciso saber cantá-la”.

Para cada uma delas que brota, um trato. Com o devido

pedido de licença aos moradores do lugar, a folha

se cata, macera, seca, queima, e se sopram palavras

de força que despertem o que nela habita. As folhas

nos ensinam, porém havemos de silenciar profundamente

para ouvi-las. Encapsulados em um tempo

do quebranto, assediados pelo olho grande e pela

obsessão dos agentes contrários à vida, o que nos resta

é nos munirmos de repertórios guerreiros. É possível

afugentar o assombro, invocar espiritualidades que

façam minguar as forças da demanda cuspida por bocas

assassinas? Sim, é possível. A aposta está na educação,

que é aqui lida como força de batalha e cura. Esse

caráter duplo riscado nessas folhas, ao ser despertado

pelo hálito e pelo ritmo do diálogo, saltará feito encantaria

que dá corpo e caminho para a invocação de outros

atos. Ao longo do folhear, serão despertadas sensações

de cisma, implicação, rebeldia, amor, fúria e liberdade.

Cantarei a educação com respeito e compromisso com

as aprendizagens que foram plantadas nessa terra por

muitas e muitos que vieram antes — os que fazem

junto essa travessia e os que irão confiar a zelação

das defesas compartilhadas. Dessas aprendizagens

foi feito um plantio que une diversos corpos, memórias

e saberes. Um roçado de esperanças que semeia

nesse chão a aposta da educação como prática que

tem como principal tarefa responder de forma responsável

às injustiças produzidas pelo contínuo colonial.

6


Da mesma folha se fazem o remédio e o veneno.

Dosaremos, então, a medida para o cuidado e a defesa

das aldeias da margem, a emenda das histórias, o

porto das memórias, a vivacidade do corpo, o estímulo

à alegria, o cultivo da beleza, o reconhecimento

dos ciclos e a sensibilidade com as múltiplas formas

que compreendem a existência como ecologia. Que

possamos preparar nossas artes de cura e batalha e

nos sagrarmos vencedores dessa demanda que insiste

em nos espreitar.

7


1ª edição outubro 2021

impressão rotaplan

papel miolo pólen bold 90g/m 2

papel capa cartão triplex 300g/m 2

tipografia new york


Uma educação descolonizadora,

emancipatória e antirracista que

não nega nem acoberta os

conflitos, mas enfrenta-os. E, por

isso, posiciona-se ao lado daqueles

e daquelas que sofrem, que são

oprimidos e discriminados.

Como nos alerta o professor Luiz

Rufino, “o que cruza e imanta a

educação e a descolonização é a

emergência de parir seres capazes

de cumprir os ciclos, avivar a

memória e libertar o corpo em

toda sua amplitude do jugo dessa

plataforma instalada há mais de

quinhentos anos”.

NILMA LINO GOMES

PROFESSORA TITULAR EMÉRITA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO (UFMG)

LUIZ RUFINO é carioca, filho de pai

e mãe cearenses, pedagogo e doutor

em Educação. Desenvolve pesquisas

sobre culturas brasileiras e tem nas

esquinas, rodas, ruas, brincadeiras e

matas suas principais fontes de interlocução.

É professor da Faculdade de

Educação da Baixada Fluminense

(Febf) da Universidade do Estado do

Rio de Janeiro (Uerj) e autor de

diversos livros, entre eles “Pedagogia

das Encruzilhadas” (Mórula, 2019).


A educação, aqui lida como força de batalha

e cura, é a aposta para afugentar o assombro

das injustiças produzidas pelo contínuo

colonial. Ao ser despertada pelo hálito e pelo

ritmo do diálogo, a educação desperta

sensações de cisma, implicação, rebeldia, amor,

fúria e liberdade. Aqui a educação é tratada com

respeito e compromisso com as aprendizagens

que foram plantadas nessa terra por muitas

e muitos que vieram antes. Que possamos

preparar nossas artes de cura e batalha

e nos sagrarmos vencedores dessa demanda

que insiste em nos espreitar.

ISBN 978658646456-6

9 786586 464566

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