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horas de diálogo dos criminosos, com 120 páginas de transcrição.
O jovem acusado de assassinato e seus dois amigos foram levados para
uma chácara alugada na zona rural da cidade, assim como as duas moças que
estavam na moto e testemunharam a cena. Também estavam presentes pelo
menos cinco integrantes do PCC da região. Na chácara, os telefones foram
ligados aos celulares dos representantes do PCC que estavam dentro de
presídios paulistas. Eles seriam os juízes informais do caso durante a
“conference call”. O pedido do julgamento tinha partido de Agnaldo, irmão
da vítima, que já havia sido preso. Agnaldo queria a pena de morte para os
três envolvidos no assassinato de Adriano. Os debates sobre a pena que
deveria ser aplicada se estenderiam ao longo de dois dias.
Nas gravações feitas pela polícia durante o julgamento, um dos
representantes do PCC, que estava na chácara e havia sido o responsável pela
apuração do caso em Pirassununga, explicou aos demais a responsabilidade
dos “juízes do caso”: “A situação envolve vida. Nem que nóis tenha que
ouvir aí dez vez, irmão. É situação de vida, ele [Fabrício] já errou. Nóis não
pode errar em cima do erro deles, entendeu? Se nóis têm alguma dúvida aí,
nóis vai ter que tirar elas, irmão”. Um dos integrantes do grupo tinha a tarefa
de anotar todos os testemunhos em um caderno, como um taquígrafo. “O
falecido era um menino bom, pai de família, deixou três filhos”, completa.
Depois do vaivém das falas das testemunhas e dos réus, que confirmaram
a narrativa inicial sobre o crime, os três acusados admitiram o erro e pediram
perdão. Fabio e Marcelo, que acompanhavam Fabrício na hora dos disparos,
foram chamados ao telefone para receber a sentença, vinda do celular de
dentro de uma cela do presídio: “Veja bem, cara. Aí, você vai ter uma
oportunidade de vida, entendeu, cara?”. Os dois cúmplices sobreviveriam,
mas teriam que deixar o bairro e a cidade. Marcelo aceita a sentença:
“Entendi”. Outro preso complementa e faz um alerta para que não haja
nenhuma retaliação: “Se ocorrer algum tipo de situação, tanto com a exmulher
do menino que faleceu ou com qualquer pessoa que faz parte da
família dele ou dela, nóis vai cobrar você radicalmente, entendeu, Marcelo?”.
Eles tranquilizam os integrantes do debate de que as pessoas que os acusaram
não sofreriam retaliações.