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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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horas de diálogo dos criminosos, com 120 páginas de transcrição.

O jovem acusado de assassinato e seus dois amigos foram levados para

uma chácara alugada na zona rural da cidade, assim como as duas moças que

estavam na moto e testemunharam a cena. Também estavam presentes pelo

menos cinco integrantes do PCC da região. Na chácara, os telefones foram

ligados aos celulares dos representantes do PCC que estavam dentro de

presídios paulistas. Eles seriam os juízes informais do caso durante a

“conference call”. O pedido do julgamento tinha partido de Agnaldo, irmão

da vítima, que já havia sido preso. Agnaldo queria a pena de morte para os

três envolvidos no assassinato de Adriano. Os debates sobre a pena que

deveria ser aplicada se estenderiam ao longo de dois dias.

Nas gravações feitas pela polícia durante o julgamento, um dos

representantes do PCC, que estava na chácara e havia sido o responsável pela

apuração do caso em Pirassununga, explicou aos demais a responsabilidade

dos “juízes do caso”: “A situação envolve vida. Nem que nóis tenha que

ouvir aí dez vez, irmão. É situação de vida, ele [Fabrício] já errou. Nóis não

pode errar em cima do erro deles, entendeu? Se nóis têm alguma dúvida aí,

nóis vai ter que tirar elas, irmão”. Um dos integrantes do grupo tinha a tarefa

de anotar todos os testemunhos em um caderno, como um taquígrafo. “O

falecido era um menino bom, pai de família, deixou três filhos”, completa.

Depois do vaivém das falas das testemunhas e dos réus, que confirmaram

a narrativa inicial sobre o crime, os três acusados admitiram o erro e pediram

perdão. Fabio e Marcelo, que acompanhavam Fabrício na hora dos disparos,

foram chamados ao telefone para receber a sentença, vinda do celular de

dentro de uma cela do presídio: “Veja bem, cara. Aí, você vai ter uma

oportunidade de vida, entendeu, cara?”. Os dois cúmplices sobreviveriam,

mas teriam que deixar o bairro e a cidade. Marcelo aceita a sentença:

“Entendi”. Outro preso complementa e faz um alerta para que não haja

nenhuma retaliação: “Se ocorrer algum tipo de situação, tanto com a exmulher

do menino que faleceu ou com qualquer pessoa que faz parte da

família dele ou dela, nóis vai cobrar você radicalmente, entendeu, Marcelo?”.

Eles tranquilizam os integrantes do debate de que as pessoas que os acusaram

não sofreriam retaliações.

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