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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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punição dos autores do crime contra seus familiares, Vera foi condenada. Sua

história de vida, sua conduta, as dívidas do Estado e da Justiça para com ela,

o testemunho de pessoas que confirmavam sua honestidade, o histórico de

suspeitas de flagrantes forjados pela polícia, as recorrentes violências

praticadas por policiais contra famílias pobres em Santos, nada disso foi

suficiente para comover a Justiça. Vera foi condenada por tráfico e passou

três anos e dois meses na prisão.

“Antes de tudo isso acontecer comigo, eu acreditava na Justiça. Achava

que só iam para a cadeia pessoas que eram culpadas de algum crime. Por isso

me senti humilhada com a prisão. Sabia que um monte de gente ia achar que

eu era culpada. Precisei conviver com isso, mesmo sem dever nada a

ninguém”, diz. Vera ficou na Penitenciária Feminina de Franco da Rocha por

dois anos e seis meses. Quando conseguiu o semiaberto, foi para Piracicaba.

Nesse período, ela se recusou a receber a visita dos familiares, que também

foram proibidos de lhe enviar comida e produtos que a ajudassem a se manter

no duro cotidiano da prisão. “Eu tinha medo que eles plantassem alguma

droga ou outra coisa lá dentro e incriminassem minha família”, conta.

Para passar o dia e conseguir dinheiro para comprar mercadorias do

comércio no presídio, Vera fazia as unhas e os cabelos das presas na véspera

dos dias de visita. Amigos, parentes, pais e filhos são os frequentadores mais

recorrentes nos presídios femininos. Poucas presas recebem a visita do

marido, pois os homens costumam abandonar a mulher nas prisões. Vera

estava quase sempre sozinha. Saiu novamente mudada. Apesar de tantos

motivos para desanimar, Vera seguia firme por causa da religião, que a

ajudava a afastar os piores pensamentos quando a dor apertava. “Sou

espírita”, ela contou, em uma de suas últimas entrevistas, a um dos autores

deste livro.

Eu não acho que a Ana Paula, minha neta e meu genro morreram. Não é

assim que eu vejo. Digo para mim mesma que eles foram viajar. E que um

dia eu vou viajar também. Vamos nos encontrar em outro lugar e

mataremos a saudade.

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