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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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da vizinhança que não poderia velar os mortos. “Minha filha tinha família e

vou fazer”, decidiu Vera. A cerimônia foi realizada na mesma Santa Casa em

que a neta nasceria. De repente, um carro de polícia estacionou em frente ao

portão e passou a revistar os presentes, pedindo documentos. O carro foi

embora. Sassá e Tico, dois amigos da família, se despediram e foram para

casa. Uma hora depois, foram atingidos por disparos. Tico morreu tempos

depois, em decorrência do ferimento, após ser preso sob acusação de tráfico

de drogas. Sassá virou evangélico e continua em Santos.

Perder a família, ter os amigos perseguidos, ser obrigada a aceitar o

massacre em silêncio para não morrer assassinada, encontrar diariamente os

assassinos da família trabalhando na vizinhança… Vera precisava de

respostas e lidava com o descaso da polícia. Ela ouviu testemunhas, que

temiam contar a verdade para as autoridades. Fez o papel de investigadora,

mas nunca deu nomes. Era preciso juntar forças, pedir ajuda.

Conheceu Débora Silva, que também teve o filho morto em Santos e a

visitou em casa junto de outras mães. Elas se juntaram na cobrança por

punição aos assassinos. Começava a se formar o Movimento Mães de Maio.

O movimento ganhou visibilidade e exposição na imprensa. A resposta dos

policiais aos ataques de maio de 2006 passou a ser discutida nos jornais e em

debates públicos. As mães vinham de Santos a São Paulo pedir apoio e

mobilizar atores para a luta. Em 2008, depois de uma série de entrevistas, ao

voltar para a Baixada Vera teve a casa invadida por policiais, acusada de

tráfico de drogas. Revistaram o imóvel, quebraram móveis, tiraram as roupas

do armário. Vera estava em casa com uma amiga, o genro e um amigo do

genro. Foram todos levados à delegacia.

No dia seguinte, Vera soube que a polícia a acusava de tráfico alegando

que drogas haviam sido encontradas dentro do tanque de sua moto.

Atordoada, negou. Os quatro acabaram presos e acusados de tráfico. O

marido da amiga presa arrumou um advogado para tentar livrá-las. Vera

soube depois que era um ex-policial, que acabou atrapalhando a defesa dela

no caso e impediu que um defensor público a ajudasse. Débora e as Mães de

Maio tentaram defendê-la, sem sucesso. Dois anos depois de perder a filha, a

neta e o genro e ter iniciado um movimento que não conseguiu promover a

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