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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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abalasse o clima festivo do apartamento de Vera, que compartilhava com a

família uma alegre expectativa. No dia seguinte, 16 de maio, Ana Paula, sua

caçula de vinte anos, grávida de nove meses, daria à luz Bianca na Santa Casa

da cidade, a alguns quarteirões dali. A cesariana já havia sido marcada.

Durante a tarde, Vera, a filha e amigos assistiram aos filmes de vídeo que

o genro, Eddie Joey de Oliveira, descendente de um marinheiro filipino,

alugou na locadora. Perto das 19 horas, Ana Paula sentiu vontade de tomar

uma vitamina. Sugeriu que ela e o companheiro fossem na padaria beber o

suco e buscar o leite de sua outra filha, Ana Beatriz, que tinha pouco mais de

um ano. O casal estava acompanhado do compadre, que seria padrinho de

Bianca, e do cunhado.

Os quatro passaram na frente de um bar. Homens que tomavam cerveja

saíram de lá, entraram em um carro e seguiram o grupo de perto. Também

eram quatro. Os boatos sobre revanche da polícia e toques de recolher

estavam fortes nos bairros com comércio de drogas dominados pelo PCC. O

compadre do casal, ao ver um carro vindo lentamente atrás deles, ainda falou:

“Vai ter geral”. Joey o tranquilizou. “Não estamos devendo nada. Vamos

para a padaria.” Como os quatro não tinham ligação com o crime, não

imaginaram que seriam importunados. Antes que eles chegassem, os homens

saíram de dentro do carro com touca ninja. E atiraram. O compadre e o

cunhado do casal conseguiram correr, fugindo das balas. Ana Paula achou

que a barriga a salvaria e ficou. Joey não abandonou a mulher e a filha. “Sou

trabalhador”, chegou a dizer antes de tomar um tiro. Ana Paula entrou na

frente e levou um disparo no braço. Caiu no chão. Ao se levantar, puxou a

máscara do criminoso e o reconheceu. Joey começou a gritar o nome do

assassino e a pedir que soltasse a mulher grávida. “Ela está grávida”, dizia.

O assassino deu uma chave de braço em Ana Paula e colocou a arma em

sua cabeça. Antes de disparar, disse: “Estava”. Joey se jogou sobre a mulher

morta e tentou acordá-la. Foi metralhado pelas costas e também morreu. Uma

mulher grávida e seu marido foram mortos no centro de Santos.

A chacina de uma família pobre da região das docas na véspera do

nascimento de uma criança não foi o bastante para os assassinos. No dia

seguinte, Vera organizou o velório. Ainda desnorteada com a tragédia, ouviu

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