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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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Dias antes, dezessete presos haviam morrido em diferentes unidades num

período de 72 horas. O movimento que vinha ocorrendo continuava obscuro.

A impressão era de que o PCC estava por um fio. Marcola, Geleião e Cesinha,

os três líderes principais, continuavam vivos, mas o grupo parecia

desgovernado e sem rumo.

As disputas continuariam ao longo de todo o ano de 2002, resvalando para

familiares dos presos. Em outubro, a ex-mulher de Marcola, Ana Olivatto, foi

morta a mando da esposa de Cesinha. Em uma das versões da polícia, Ana

vinha colaborando com as autoridades para conter a onda de atentados

planejada por Geleião e Cesinha, que incluía bombas na Bolsa de Valores.

Ana morreu a tiros quando saía de casa, na periferia de Guarulhos. A força de

Marcola na liderança do grupo começaria a ficar mais clara depois da morte

de sua ex-mulher. Em novembro, Geleião e Cesinha, os dois nomes que

vinham liderando o PCC, foram expulsos e jurados de morte. A morte dos

fundadores, uma após a outra, havia deixado os dois isolados e abriu espaço

para a ascensão de Marcola. Geleião, percebendo que estava com os dias

contados, decidiu colaborar com as autoridades em troca de proteção para ele

e sua mulher. Em depoimento ao Ministério Público e à polícia, descreveu

como o PCC funcionava, como se financiava e quais eram as principais

lideranças.

A sucessão de boas notícias para as autoridades levou o governo a cantar

vitória antes do tempo. “O PCC é uma organização falida e desmantelada”,

afirmou em uma coletiva de imprensa, em novembro de 2002, o diretor do

Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado, Godofredo

Bittencourt. “Presos do PCC choraram aqui porque estavam próximos de

receber uma progressão de pena e vão ficar mais alguns anos na cadeia. Se o

PCC tinha uma boca cheia de dentes, agora tem um dentinho ali e outro lá.

Não morde mais ninguém.”

Demorou apenas dois meses para Bittencourt morder a língua. O PCC não

estava morrendo, mas se preparando para a nova fase que transformaria a

facção. Os ladrões – sempre valorizados no mundo do crime paulista,

chamados também de 157 – perderiam espaço. O crime organizado de São

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