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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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movimento desse tipo na história. Jornalistas, autoridades, população e

acadêmicos foram pegos de surpresa. A articulação dos presos, que já era

uma realidade, foi impulsionada pela introdução dos telefones celulares. A

rebelião se tornou viável graças ao funcionamento das centrais telefônicas,

que organizavam a comunicação entre os diversos aparelhos e davam

condições para que a ordem dos presos fosse compartilhada rapidamente. As

duas principais lideranças da facção à época, Geleião e Cesinha, estavam fora

do estado, assim como Marcola, que começava a crescer na hierarquia do

grupo. Sombra e Jonas Matheus, que na ausência dos líderes haviam

assumido a condição de pilotos gerais do sistema, deram o salve geral após o

aval dos chefões.

O motivo para a revolta havia sido a transferência de cinco presos da

cúpula da facção, entre eles o próprio Sombra, para o anexo da Casa de

Custódia de Taubaté, o Piranhão, cuja desativação era definida como

“prioridade do Comando”. O 14 o artigo do estatuto afirmava que cabia aos

integrantes do PCC “pressionar o Governador do Estado a desativar aquele

Campo de Concentração anexo à Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté,

de onde surgiu a semente e as raízes do comando, no meio de tantas lutas

inglórias e a tantos sofrimentos atrozes”. Os cinco presos do PCC seriam

transferidos para lá em razão de mortes praticadas contra integrantes de uma

facção rival, conhecida como Seita Satânica, no Carandiru. Após a rebelião,

dezesseis presos considerados inimigos do PCC estavam mortos. Um deles

teve a cabeça decepada e espetada em uma vara de bambu.

Aparentemente, o governo foi duro com os rebelados e evitou negociar.

Manteve a transferência indesejada e reagiu com força. Processou os cinco

presos como coautores dos dezesseis assassinatos. Em maio de 2001, criou o

Regime Disciplinar Diferenciado (rdd), na Penitenciária de Presidente

Bernardes. No novo regime, os presos não teriam direito a visita íntima,

acesso a tv, rádio ou jornal, ficariam isolados, seriam mais vigiados e não

falariam no celular, teriam direito a duas horas de banho de sol por dia, contra

as quatro ou cinco horas das outras cadeias paulistas. Era tudo o que o PCC

tentava evitar. Ainda assim, a facção conseguiria se fortalecer e continuar se

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