04.10.2021 Views

A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O ano de 1999 chegava ao fim com os presídios em polvorosa. As

rebeliões haviam diminuído para cerca de setenta casos anuais, mas a

instabilidade no sistema penitenciário seguia preocupante. Além das

rebeliões, as fugas eram excessivas. Entre 1995 e 2000, segundo dados de

uma Comissão Parlamentar de Inquérito do Sistema Prisional Paulista, 1,1

mil traficantes escaparam das prisões e delegacias de polícia, que não tinham

estrutura física para manter os presos e testemunhavam fugas quase diárias. O

sistema, contudo, não parava de crescer e já havia dobrado de tamanho, com

62 unidades e 55 mil presos. Para evitar mais estragos, o jeito foi trazer novos

ares para a política penitenciária paulista, trocando o titular da secretaria.

O então governador Mario Covas decidiu mudar primeiro o chefe da

pasta. Para o lugar de Azevedo Marques, chamou um outsider, o juiz Nagashi

Furukawa, que ele havia conhecido seis anos antes em Bragança Paulista, no

interior de São Paulo. Como magistrado, Nagashi tinha estimulado os

moradores a se envolver na administração da cadeia da cidade. Era a primeira

experiência de uma associação civil voltada para o cuidado dos presos,

chamada Associação de Proteção e Assistência Carcerária. Nagashi

acreditava que era preciso compartilhar com a sociedade o compromisso na

“recuperação” dos presos. Covas gostou da postura humanista daquele

descendente de japoneses, sem a cultura nem as certezas daqueles que

estavam enfurnados na história do sistema. O novo secretário mudaria

substancialmente a forma de administrar o dia a dia das prisões. Antes disso,

precisaria medir forças com o coordenador da Coespe. Num livro de

memórias, ele lembrou que, ao assumir o cargo, ouvia comentários maldosos

nos corredores do sistema de que o secretário era uma “rainha da Inglaterra”.

Lourival Gomes, o coordenador e, portanto, supostamente subordinado ao

secretário, seria o “primeiro-ministro” e se dizia o “único homem em São

Paulo com condições de negociar uma rebelião”. Logo de cara, dez dias

depois de assumir, o poder e a determinação de Nagashi começaram a ser

testados pelos presos e pela máquina burocrática da secretaria.

Uma primeira rebelião estourou na Penitenciária de Presidente Venceslau.

Os rebelados haviam matado um preso na frente do juiz corregedor, Antonio

José Machado Dias, com 180 estocadas de estilete. Exigiam a transferência

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!