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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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tumultos, Gomes passou a mexer as peças de seu xadrez, transferindo as

lideranças para desarticular o poder de grupos que se formavam nas unidades.

Funcionava da seguinte maneira: os presos se revoltavam e exigiam

mudanças para outras unidades. Gomes transferia as lideranças e a rebelião se

encerrava, para alívio do secretário e dos governos. As transferências, no

entanto, em vez de desmobilizar o poder dos pequenos grupos, acabavam

também ajudando a facção a divulgar sua ideologia nas unidades que estavam

sendo criadas.

Depois de 1993, um único grupo começaria a avançar e dominar um

número crescente de unidades. Para o secretário e seu braço direito, esse

problema aparentemente não existia. A mobilização dos presos e sua

capacidade de articulação eram vistas com desdém. Durante anos, o PCC seria

descrito pelos dois chefes do sistema como algo sem importância, que eles

podiam controlar sem a ajuda de ninguém. “[O PCC] É uma ficção. Uma

bobagem. Estou absolutamente convencido disso. Sou secretário há quase

dois anos e nunca vi qualquer manifestação desse grupo”, afirmou Azevedo

Marques, numa entrevista à Folha de S.Paulo em maio de 1997.

No dia 30 de dezembro daquele mesmo ano, numa rebelião no presídio em

Sorocaba, dezessete agentes foram feitos reféns num dia de visita, junto com

familiares. Faixas e bandeiras do PCC foram filmadas durante o tumulto,

forçando o governo a responder sobre a facção à imprensa. Naquela época, os

dezesseis itens do Estatuto do PCC, com o lema “Paz, Justiça e Liberdade”,

haviam sido publicados no Diário Oficial do Estado por deputados estaduais

que queriam cobrar do governo transparência sobre a realidade do quadro

prisional, marcado por uma explosão de rebeliões. Os burocratas dos

presídios seguiram negando a existência da facção. O Departamento de

Inquéritos Policiais da Capital (Dipo) instaurou uma sindicância para saber

mais sobre o crime organizado nos presídios. A própria Justiça paulista não

parecia mais acreditar no que diziam seus colegas do Executivo. Na primeira

oitiva ao delegado, Lourival Gomes negou a existência do PCC. Um promotor

de Justiça, Gabriel Inellas, diante de mais uma negativa, chegou a denunciar

Gomes por falso testemunho, tamanha a obsessão em negar os fatos.

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