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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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ajudava a torná-la mais forte – o PCC era “aquilo que não devia ser nomeado

nem discutido”. Enquanto isso, dentro das penitenciárias, nas sombras, o PCC

consolidava seu poder.

Apesar do silêncio sobre os movimentos da facção, o PCC nasceu, cresceu

e se fortaleceu. Na realidade, o desinteresse em debater o significado e o

modus operandi da facção foi fundamental para seu desenvolvimento.

Segundo a história contada pelas próprias lideranças do grupo, o nascimento

do PCC deu-se em 31 de agosto de 1993, no anexo da Casa de Custódia de

Taubaté, chamado de Piranhão, considerado na época o presídio com as

regras mais duras do estado. Oito fundadores que pertenciam a um grupo de

futebol se uniram para matar dissidentes daquela cadeia. Depois do sucesso

no primeiro embate, outros ocorreram, e com o tempo eles foram

conseguindo arregimentar apoio em outras unidades.

O fortalecimento do PCC deu-se paralelamente à transformação do sistema

penitenciário, depois da criação da Secretaria de Administração Penitenciária,

em 1993. Um ano antes, São Paulo havia testemunhado a maior chacina de

sua história. Do lado dos presos, o massacre deu o mote de que o PCC

precisava para fortalecer o discurso de paz entre os bandidos e a união contra

o Estado opressor e a polícia. No 13 o artigo do estatuto de fundação do

Partido, o Massacre do Carandiru era apontado como fonte de inspiração:

Temos que permanecer unidos e organizados para evitar que ocorra

novamente um massacre, semelhante ou pior ao ocorrido na Casa de

Detenção em 2 de outubro de 1992, onde 111 presos foram covardemente

assassinados, massacre este que jamais será esquecido na consciência da

sociedade brasileira. Porque nós do Comando vamos sacudir o sistema e

fazer essas autoridades mudarem a prática carcerária desumana, cheia de

injustiça, opressão, tortura e massacres nas prisões.

A tragédia, por outro lado, serviu também para pressionar o governo paulista

a reformar o sistema penitenciário, começando pelas mudanças na dimensão

do sistema: em vinte anos, entre 1993 e 2013, o número de presos aumentaria

mais de sete vezes. Até 1993, havia 36 unidades e 32 mil presos, quase

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