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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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dele estava o primeiro secretário de Administração Penitenciária de São

Paulo, o desembargador José de Mello Junqueira. Ferreira Pinto, que vinha

do Ministério Público e era amigo de Fleury, tornou-se secretário adjunto da

pasta. A parceria profissional de Ferreira Pinto com Lourival Gomes

começava ali. Em 1995, quando o governador Mario Covas assumiu, chamou

para a secretaria o procurador João Benedito de Azevedo Marques, que havia

trabalhado na Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do

Brasil para investigar o Massacre do Carandiru, fazendo denúncias duras

contra os policiais. Lourival Gomes continuaria a comandar a Coespe.

Azevedo Marques, com o tempo, abandonaria o barco e se distanciaria do

assunto.

Gomes, com sua bagagem de carcereiro e diretor de presídios, parecia

vocacionado. Era visto como o grande conhecedor do sistema, aquele que

sabia movimentar as peças, assumindo com gosto uma tarefa desprezada

pelos poderosos. Tanto conhecimento acumulado parecia dar a ele um

sentimento de autossuficiência, como se os presídios formassem um mundo

paralelo que só ele e sua equipe de diretores seriam capazes de governar e

controlar. Desde que assumiu os postos-chave da secretaria, sempre trabalhou

arduamente para manter o cotidiano das prisões distante dos debates e do

conhecimento público.

A obsessão em manter seu feudo longe dos holofotes se tornou ainda

maior depois que o PCC nasceu e começou a crescer. Veio de Gomes a

iniciativa de negar insistentemente a existência da facção, mesmo quando o

grupo já tremulava bandeiras, cortava cabeças e escrevia seus lemas em

rebeliões constantes. O coordenador dos presídios não parece ter

compreendido essa nova geração que vinha para tomar as prisões e o que o

PCC significava. “Quando o PCC nasceu? Ninguém sabe a data, o nascimento

ninguém sabe. Mas o batismo dele foi quando a mídia começou a divulgar e

deu ênfase”, disse na entrevista. Para depois concluir com seu argumento

padrão: “Cada vez que [a imprensa] fala [sobre o PCC], glamoriza, divulga,

nacionaliza, internacionaliza o crime organizado”. Gomes e Ferreira Pinto

continuariam batendo nesta tecla: falar sobre a organização criminosa

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