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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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As prisões costumavam ser relegadas ao segundo plano no sistema de

segurança pública porque funcionavam como depósito de tipos indesejados,

para onde eram varridos aqueles que as polícias capturavam. Até 1991, não

havia uma secretaria encarregada de administrar o setor. O sistema

penitenciário paulista ficava sob a responsabilidade da Secretaria de Justiça.

Uma coordenadoria organizava o entra e sai dos presos, com a ajuda dos

diretores e carcereiros responsáveis pelo dia a dia nos raios – que

correspondem a um pavilhão de presídio – e nas celas. A vida dura e

insalubre das penitenciárias se encerrava atrás de seus muros, que a maioria

preferia esquecer. Era preciso aprender a se virar para sobreviver do lado de

dentro. Foi nesse ambiente distante dos interesses dos políticos que se forjou

a personalidade de um homem público que viria a se tornar uma das figuras

centrais para entender as mudanças na Segurança Pública e na cena criminal

brasileira.

Discreto, avesso a entrevistas, Lourival Gomes se tornou o mais longevo

secretário de Administração Penitenciária de São Paulo. Considerando todas

as instituições de segurança e de Justiça, ninguém chegou perto de ficar tanto

tempo em um cargo de comando como ele, que entrou no sistema

penitenciário paulista em 1971 como escriturário. Com quase cinco décadas

na burocracia estadual, Gomes conhece como poucos a evolução dos

presídios e seu dia a dia, conforme relatou em rara entrevista, em 2013, a um

dos autores deste livro. O mundo atrás das grades era outro quando ele

começou a trabalhar: “Havia a Penitenciária do Estado, Avaré, Presidente

Venceslau, Bauru, Casa de Custódia de Taubaté, Casa de Detenção Flamínio

Fávero, Tremembé. Eram 9 mil ou 10 mil vagas, muito menos do que hoje.

Só na Detenção eram 7 mil presos”, disse. Com seu jeito formal, cabelos

brancos e linguagem antiquada – em vez de “homossexualidade”, por

exemplo, ele usa o termo “pederastia” –, Gomes gostava de falar do passado.

Recordava-se do número do protocolo de presos antigos. Mas evitava se

aprofundar sobre o presente, principalmente quando o assunto era o PCC, que

o deixava desconfortável. A cada menção pela imprensa, ele argumentava, a

facção ficava mais forte porque era glamorizada. Contudo, nunca uma facção

prisional estabeleceu um poder tão estável como no período de sua gestão.

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