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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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Corcel foi preso em fevereiro de 2008, quando trazia consigo um relatório

que descrevia em detalhes sua viagem à Bolívia para tratar de negócios da

“Família”, ou seja, do PCC. Ele era então o tesoureiro do Partido e sua ida ao

país vizinho tinha como objetivo estabelecer um canal direto com

fornecedores de cocaína e armas e estabelecer um fluxo contínuo e regular de

abastecimento, com a definição de fornecedores e preços.

Primeiro, Corcel encontrou-se com uma família de bolivianos na cidade

fronteiriça de Puerto Quijarro, onde teria acertado o fornecimento de

cinquenta a setenta quilos mensais de cocaína – o que, ainda de acordo com o

relatório do representante do PCC, indicaria uma capacidade de fornecimento

abaixo do desejado pela Família.

Em seguida, eles viajaram para Santa Cruz de la Sierra, onde foram

recebidos por alguém de apelido Velhote e por Capilo, “o careca que é

paraguaio”, conforme relatório escrito por Corcel. Capilo é Antonio Carlos

Caballero, que se tornaria um personagem importante na história do PCC no

Paraguai. O encontro na Bolívia parece ter sido o contato inicial entre o PCC –

como entidade “coletiva”, “pessoa jurídica” – e o paraguaio Capilo. Essa

relação se intensificaria rapidamente. Mas, antes disso, ainda no documento

que detalha a viagem ocorrida no início de 2008, Corcel afirma que também

se juntou ao grupo o boliviano William, “alguém muito bem estruturado que

há muito tempo faz negócios com irmãos”. William prometia fornecer uma

tonelada de cocaína por mês, além de armas, especialmente fuzis, obtidos de

um conhecido que pertenceria às Forças Armadas Revolucionárias da

Colômbia (Farc e que também tinha estado no local onde eles se reuniram.

No documento produzido pelo tesoureiro do PCC em 2008 está claro que já

existiam integrantes da facção com acesso a vários personagens que atuavam

na Bolívia e no Paraguai. A novidade dessa visita era a tentativa estratégica

de estabelecer um canal direto da organização PCC com os fornecedores dos

países vizinhos. A esse respeito, o relatório de Corcel já deixa transparecer

certa tensão entre os negócios individuais e os coletivos – ou seja,

institucionais – do PCC. Primeiro, no encontro em Puerto Quijarro: “Por aqui

a gente escutou que muitos irmãos já foram lá fazer negócio dizendo que é

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