04.10.2021 Views

A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

guerra, conclama a união dos presos e, assumindo o papel de líder espiritual,

faz uma oração do crime rezada entre os presentes. “Aqui, diretamente da CPP

L3, QG do 15 [PCC]. Tamo vencendo mais uma batalha, contra CV, FDN e

Sindicato RN. Aí, pessoal, estamos numa grande guerra e vencemos hoje

nossos maiores inimigos do Nordeste na região do Brasil. Sindicato do RN.

Não existe mais”, ele começa. Os presos batem palmas. Ele pede silêncio

antes de continuar. “Só um minuto. Nós aqui nesse estado temos que dar a

volta por cima, com inteligência, sabedoria e disciplina”, continua.

Trovão puxa em seguida uma oração. “Ouve, Senhor, a Justiça. Ouve o

meu clamor. Dá ouvidos a minha oração que não é feita por lábios enganosos.

Saiam as minhas sentenças. Perante o teu rosto e a razão. Provaste o meu

coração. Propus que o meu coração não predestinasse quanto ao trato dos

homens quanto a sua palavra. Me guardei da avareza do destruidor. Dirijo os

meus passos no teu caminho. Para que minhas pegadas não vacilem. Eu te

evoquei, ó Deus. Pois quero te ouvir. Guarda-me como a menina que dá seus

beijos a suas crianças. Quanto a mim, contemplarei a tua face na justiça

quando eu acordar. Amém, meus irmãos?”, ele grita. Os presos devolvem o

“amém” do fundo dos pulmões, antes de começar o coro. “Qual o nosso

lema?”, pergunta Trovão. “Paz, justiça, liberdade, igualdade e união para

todos”, respondem os presos do PCC. “Crê em Deus porque Ele é…”, ele

pergunta à massa, que grita em resposta: “justo!”.

A violência continuava do lado de fora, em assassinatos ligados aos

conflitos entre facções. Alguns desses episódios foram igualmente filmados e

compartilhados. Em fevereiro, um menino magricela, com traços indígenas,

aparece num matagal dizendo suas últimas palavras, antes de ser executado.

“Tô falando pra todo mundo, todo CV que está aí em Campo Grande, na

penitenciária aí, na rua, pra sair tudo jogado [fugir]. O que aconteceu comigo

aconteceu com vocês também”, ele diz, sabendo que vai morrer. “Vai dar o

primeiro?”, pergunta um dos homens atrás da câmera de celular. O menino

baixa a cabeça, passivamente, enquanto espera os disparos, que começam.

“Vamos cortar o braço”, diz o outro, antes de chegar com a faca e fazer os

cortes. Em outro vídeo, uma pessoa é torturada. Tem as orelhas cortadas e é

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!