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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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O mais correto, se estivesse em jogo uma alteração qualitativa na política

de Estado e de Segurança Pública, seria nominar as UPPs de Unidades de

Políticas Públicas, por se tratarem de uma necessária mudança cultural em

territórios nos quais a presença do Estado não ocorre na completude. […]

O que ocorre é uma propaganda geral pela paz, na qual a polícia, e não a

política, ocupa lugar central. […] A abordagem das incursões policiais nas

favelas é substituída pela ocupação do território. Mas tal ocupação não é

do conjunto do Estado, com direitos, serviços, investimentos, e muito

menos com instrumentos de participação. A ocupação é policial, com a

caracterização militarista que predomina na polícia do Brasil.

Marielle foi eleita vereadora do Rio de Janeiro em 2016 com uma campanha

inspirada no Ubuntu, filosofia sul-africana que em 1994 serviu de base para

que Nelson Mandela e o bispo Desmond Tutu costurassem um novo pacto

social para a reconstrução do país no pós-apartheid. “Eu sou porque nós

somos”, era um dos slogans da candidata carioca, que pregava o

entendimento político entre as partes em contraposição à guerra. As

transformações, contudo, levam tempo. Depois do assassinato de Marielle,

seu desabafo continua a ressoar. Poderia servir de alerta para que a sociedade

e as autoridades reflitam sobre os erros cometidos há décadas – para ficar

apenas na história recente. Afinal, não custa perguntar novamente: quantos

mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?

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