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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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começamos a entrar numa estimativa razoável.” Depois do cálculo, ele

arrematava com uma reflexão contundente.

Pensem então o seguinte. Por causa de mais ou menos quinhentas pessoas

ou 0,5% da população, mais de 99 mil habitantes precisam se submeter a

todo tipo de violência produzido pelas forças de segurança do Estado.

Pessoas que são humilhadas pelo estigma que carregam, como se a morte

de seus parentes e amigos não importasse para o resto da cidade.

A diversidade de jornalistas das comunidades no Rio cresceu depois de junho

de 2013, quando os protestos de rua se espalharam pelo Brasil. Em cerca de

cinco anos, surgiram mais de 150 jornais virtuais, boa parte deles de

organizações formadas por moradores das comunidades. O desaparecimento

do ajudante de pedreiro Amarildo Dias de Souza, segundo diversas fontes na

internet, no dia 14 de julho daquele ano, produziu uma mobilização que se

espalhou pelo Brasil a partir do slogan “Cadê o Amarildo?”. No dia de seu

desaparecimento, ele tinha sido levado para averiguação em uma viatura dos

policiais da UPP da Rocinha para nunca mais ser encontrado. Três anos

depois, treze policiais das UPPs seriam condenados pelo crime. Era o começo

do fim do governo Sérgio Cabral, que renunciaria ao cargo em abril de 2014

para depois ser preso, em fevereiro de 2017.

A força dessas redes de informação ajudaria na eleição de Marielle Franco

para o posto de vereadora em 2016, com quase 50 mil votos. Depois dos

protestos, da Copa do Mundo e das Olimpíadas, a crise política e fiscal no

Rio levou ao abandono das UPPs e produziu a sensação de desamparo e

suspensão das leis. O jornal Extra, para coroar a sensação de retrocesso, criou

uma Editoria de Guerra. “A criação da editoria de guerra foi a forma que

encontramos de berrar: isso não é normal! É a opção que temos para não

deixar nosso olhar jornalístico acomodado diante da barbárie”, explicava o

editorial.

O debate produzido pelo jornal, dessa vez, teria resposta à altura, vinda

dos meios das comunidades pobres, como a página do Maré Vive, ONG do

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