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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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nos morros do Complexo do Alemão. A euforia era tamanha que bandeiras

do estado eram sempre hasteadas depois da ocupação. A ideia parecia

promissora, mas foi desmoronando aos poucos.

O auge do otimismo veio em novembro de 2010 com a ocupação da Vila

Cruzeiro, no Complexo do Alemão, apresentada como divisor de águas. Era

como se a partir daquele momento no Rio de Janeiro as instituições

democráticas se fizessem presentes e os traficantes deixassem de dar as

ordens. Depois da ocupação, imagens captadas pelo helicóptero da Rede

Globo registraram dezenas de traficantes em fuga, simbolizando o triunfo

governista. A cobertura do Jornal Nacional ganhou o Prêmio Emmy na

categoria notícia, o mais importante da televisão mundial. O comentarista

Rodrigo Pimentel, ex-capitão do Bope e modelo para o personagem Capitão

Nascimento, no filme Tropa de elite, não disfarçava o orgulho ao comentar a

tomada do morro.

Mas havia vozes dissonantes. O jornalista Renê Silva, morador do Morro

do Adeus, também no Complexo do Alemão, de apenas dezessete anos,

começou a tuitar sobre o que testemunhava durante a ocupação. Renê era um

dos idealizadores do Voz da Comunidade, jornal mensal voltado para a

população local. Ele não sabia, mas era seguido por celebridades que

divulgaram a cobertura em suas redes. Renê foi dormir com 180 seguidores e

acordou com 22 mil. A visibilidade conquistada durante o episódio e a

possibilidade de escrever de dentro dos morros serviram de incentivo para

que outros grupos se manifestassem a partir das favelas.

Durante um debate sobre jornalismo ao lado de um dos autores deste livro,

Renê Silva falou sobre o efeito da “guerra nos morros” no cotidiano das

favelas. “Qual o tamanho da população do Alemão? Quantos moradores

vocês acham que vivem no Alemão”, iniciou, voltando-se para a audiência.

“São mais ou menos 100 mil moradores”, ele mesmo respondeu, para depois

questionar. “Qual seria a porcentagem de traficantes? Podem chutar. Dez por

cento? Com certeza não é tudo isso”, ele mesmo respondia. “Isso significaria

10 mil traficantes, o que daria quase um traficante por rua da favela. Vamos

pensar em um por cento? Também seria muito porque daria mil homens, bem

acima da realidade. Talvez haja quinhentos homens, pra menos. Aí

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