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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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Marighella, nem do passado, nem do comunismo, nem do movimento

operário. É uma metáfora sobre a revolta presente, a raiva contra as injustiças

do sistema, contra a perseguição aos jovens nas quebradas, protagonistas de

uma vida sem sentido ou futuro, que morrem de cabeça erguida sem fugir da

luta.

Esse espírito antissistema, que parecia restrito aos jovens do Rio de

Janeiro e de São Paulo, foi se espalhando pelas quebradas brasileiras

conforme as táticas de guerra eram reproduzidas nos demais estados. A raiva

de ser visto como inimigo público chegaria a outras partes do Brasil. O

Batalhão de Operações Especiais (Bope) do Rio de Janeiro, por exemplo, que

tem a faca encravada na caveira como símbolo da corporação, se tornou

modelo para outras polícias, e está presente em catorze estados de norte a sul

do Brasil, como Acre, Alagoas, Amapá, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Mato

Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Piauí, Rio Grande do Norte, Roraima e

Santa Catarina. O aprisionamento também cresceu em todas as unidades da

federação, a partir das prisões em flagrante nos bairros pobres, mesmo sem

espaço ou pessoal para garantir o cumprimento adequado da pena. Estados do

Norte e do Nordeste, que prendiam pouco e se esforçaram em reproduzir o

modelo das grandes cidades do Sudeste, num aparente paradoxo, viram

também a violência explodir. A disseminação da política de guerra

reproduziria a sensação de raiva e revolta dos jovens dos guetos brasileiros,

facilitando a vida das organizações criminosas.

***

No Rio de Janeiro, a roda continuou girando. Depois das mortes no Alemão e

das críticas à ineficiência das incursões nos morros, o governador achou por

bem experimentar um novo modelo de segurança pública. Em dezembro de

2008, a primeira upp foi instalada no Morro Dona Marta, em Botafogo. A

ideia era criar um laboratório para conquistar as populações das comunidades

pobres. Primeiro, seria restabelecida a autoridade do Estado e inibida a tirania

dos traficantes, para depois entrar com equipamentos e investimentos sociais.

Até 2014, depois do Dona Marta, foram instaladas 37 unidades, oito delas

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