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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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jornalista da Rede Globo Tim Lopes tinha sido morto por traficantes na Vila

Cruzeiro, uma das comunidades do Alemão, as redações fizeram um pacto

para não entrar nas favelas e assim preservar a vida de seus profissionais. A

cobertura no Rio sempre foi atípica, diferentemente da que é feita em outras

cidades. Por causa dos tiroteios, os arredores dos morros exigiam dos

jornalistas colete à prova de bala e capacete. Cabia às entidades de direitos

humanos denunciar os abusos contra os moradores da região. Durante quase

dois meses, morreram nessas operações ao menos 23 pessoas. “Tudo que

gostaríamos era ganhar essa guerra sem derramamento de sangue. Mas temos

uma criminalidade militarizada, muito bem armada, por razões históricas que

não cabe aqui avaliar”, justificava Cabral.

O governo apostou numa ofensiva final. Foi preparado um efetivo de 1350

policiais para subir o morro, entre civis, militares e integrantes da Força

Nacional, enviados pelo governo federal. O momento era crítico para as

pretensões do governador. Faltavam pouco mais de duas semanas para o

começo dos Jogos Pan-Americanos, que seriam sediados no Rio e serviriam

como teste para a cidade pleitear as Olimpíadas. A invasão das tropas ocorreu

numa manhã de quarta-feira. Ao longo da operação, dezenove pessoas foram

mortas e nove ficaram feridas. Pela primeira vez, as autoridades alcançaram

pontos no topo do morro aonde nunca haviam chegado. Apesar da violência,

o governo comemorava nos jornais o resultado da invasão.

Os moradores do Complexo, no entanto, quase não eram ouvidos. As

redes sociais ainda engatinhavam e as versões dos fatos acabavam

dependendo do que era relatado pelos grandes jornais. Três dias depois, um

dos autores deste livro entrou no Alemão e percorreu o caminho seguido

pelos integrantes da operação. Como escrevia para um jornal paulista, estava

distante da tensão da cobertura cotidiana local. Nos cerca de cinco

quilômetros que percorreu entre a rua da Grota e o topo do morro, havia

paredes cravejadas de balas, carros incendiados e muita revolta entre os

moradores. As dezenove mortes e o trauma não haviam tirado os traficantes

do comando. No Largo do Coqueiro, três dias depois do massacre, cinco

garotos vendiam cocaína em pequenos sacos plásticos. Outro menino avisava

via rádio sobre a chegada de um jornalista. A caminhada foi acompanhada

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