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A Guerra_ a ascensao do PCC e o - Bruno Paes Manso

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nevrálgico para atacar, combater e desmontar o batalhão. O exército não

tem sede, está esparramado em qualquer lugar, qualquer ponto do

território nacional. E o pior, no caso do narcotráfico e crime organizado,

nas fronteiras em outros países. Esses dois bandidos que foram mortos no

Ceará, de quinta para sexta, estavam operando no Paraguai. Foram ao

Ceará em férias e foram pegos. Na guerra assimétrica, você não tem

território, qualquer um pode ser inimigo, não tem uniforme, não sabe qual

é a arma. Você está preparado contra tudo e contra todos, todo o tempo.

Você não sabe nem quais são os recursos necessários, não sabe quantos

são necessários e usando qual arma. Quantos eu preciso para a Rocinha?

Não sei. Como você vai prevenir aquela multidão entrando e saindo de

todas as setecentas favelas? Tem 1,1 milhão de cariocas morando em

zonas de favelas, de perigo. Desse 1,1 milhão, como saber quem é do seu

time e quem é contra? Não sabe. Você vê uma criança bonitinha, de doze

anos de idade, entrando em uma escola pública, não sabe o que ela vai

fazer depois da escola. É muito complicado.

Menos de uma semana depois da intervenção, os publicitários do governo se

reuniram para discutir os dividendos políticos da medida. No dia 22, era

publicado um anúncio nas páginas do jornal O Globo com o slogan: “O

Governo, que está tirando o país da maior recessão da história, agora vai tirar

o Rio de Janeiro das mãos da violência”. O apelo da guerra ao crime entraria

nas discussões políticas e no calendário eleitoral. O teatro público das forças

de segurança, com tanques, soldados camuflados, fuzis nos arredores das

favelas, ajudaria a trazer sensação de alívio para uma grande fatia da

população brasileira, que apoiava majoritariamente a intervenção. Outra

pequena parte, alvo territorial da medida, sofreria o problema na pele, com

revistas, incursões e tiroteios cotidianos.

O roteiro “imaginado” pelo governo, no entanto, durou menos de um mês.

Foi interrompido, mais precisamente, na noite de quarta-feira, 14 de março,

data que entraria para a história da luta pelos direitos humanos no Brasil. A

vereadora Marielle Franco, de 38 anos, uma promissora liderança política da

cidade, nascida na Favela da Maré, foi assassinada com quatro tiros no centro

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